domingo, 14 de setembro de 2008

Francisco César Filho

Cineasta e produtor cultural. Criou e organiza até hoje a Mostra do Audiovisual Paulista, e é programador associado do Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, e programador-adjunto do É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários.

Qual é a sua relação com o curta-metragem?
Não só comecei minha carreira trabalhando em curtas (e, posteriormente, dirigindo vários), como também foi nesse formato minha maior atuação como agitador cultural, criando pequenos eventos de exibição que se transformaram com o passar dos anos em importantes festivais (como a Mostra do audiovisual Paulista e o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, entre outros).

Você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Contar histórias, documentar fatos, desenvolver ensaios audiovisuais - a curta duração obriga à síntese (e abole aquela arquitetura dramática enfadonhamente repetitiva e previsível dos longas: apresentar personagem, instaurar conflito, resolver conflito) e, por isso, está muito mais em sintonia com a apreensão dos jovens na contemporaneidade.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
O curta não tem implicações comerciais em nenhum lugar do mundo - e isso é o que garante seu caráter de pesquisa de ponta da linguagem audiovisual. Por outro lado, ninguém vai sobreviver só na direção de filmes curtos. Vários autores praticam exclusivamente formatos de curta duração, com sucesso (como sobrevivem, não sei - mas não é da realização de curtas com certeza).

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Basta lembrar três momentos: os mais de 300 títulos feitos por Humberto Mauro entre as décadas de 1930 a 1960 no Instituto Nacional de Cinema Educativo (fundadores de um olhar cinematográfica brasileiro); os primeiros filmes do Cinema Novo (foram curtas! - "Aruanda", "Arraial do Cabo" - a partir dos quais foi cunhada a terminologia cinema novo brasileiro); e a larga produção independente dos anos 1970 (mais de mil documentários em 16mm que abordavam temas proibidos ao cineastas de longas em 35mm).

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Muito pelo contrário. Desde meados dos anos 1980 o curta-metragem ganhou prestígio inédito em todo o mundo. Atualmente é cult (vide nomes como Jorge Furtado voltarem sempre à sua prática).

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sempre que aparecer oportunidade.