domingo, 7 de dezembro de 2008

Alcino Leite Neto

Alcino é editor de Domingo da Folha e editor da revista eletrônica Trópico. Foi correspondente em Paris e editor do caderno Mais! Escreve para a Folha Online quinzenalmente, às segundas.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Humberto Mauro, um dos pioneiros do cinema brasileiro, tem uma enorme produção de curtas-metragens, um verdadeiro patrimônio cultural do país. Os diretores do Cinema Novo redefiniram a linguagem do curta no Brasil, valeria se debruçar novamente sobre seus filmes. Os diretores do "udigrúdi" também fizeram inúmeros filmes curtos, alguns interessantíssimos, por sua radicalidade. Nos anos 70, se não me engano, uma lei obrigava a exibição de curtas-metragens antes dos filmes estrangeiros no país. Tive a oportunidade de ver vários filmes bem realizados nesta época, muitos deles documentários que abordavam a obra e a vida de escritores e artistas. Ao que eu saiba, nada disso _ou muito pouco destas produções_ está disponível em DVD. Uma coleção histórica do curta-metragem brasileiro (sejam eles mais comerciais, de vanguarda ou documentários) seria de grande importância. Esta coleção mostraria que os curtas não são apenas um trampolim para diretores que aspiram fazer longas-metragens. Eles são, em si mesmos, documentos da história e da cultura brasileiras ao longo do século 20. 

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que deveria ser desenvolvido um programa de exibição de curtas-metragens em escolas e universidades, confrontando a produção histórica e a contemporânea (por exemplo, para ficarmos num tema popular: curtas sobre futebol, de ontem e hoje). Penso também que uma mostra anual de curtas-metragens poderia percorrer as cidades brasileiras, as grandes e as pequenas, mas feita por uma curadoria inteligente, atenta ao interesse do público atual. Finalmente, acredito que a criação de um grande site que reunisse o principal da produção brasileira de curtas-metragens, antigos e recentes, seria fundamental para a sua difusão.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por dois motivos, na minha opinião. Primeiramente, porque os jornais têm pouco espaço e precisam concentrar sua atenção nos filmes de maior importância cinematográfica ou de maior impacto comercial. Em segundo lugar, porque a divulgação e a difusão dos curtas no Brasil é amadorística ou inexistente _não há como falar deles, se os curtas não ganham uma existência pública.

O senhor trabalha na ‘Folha de S.Paulo’ e no site ‘Trópico’, quais as perspectivas destes dois importantes veículos de comunicação darem mais espaço para os curtas?
Não posso responder pela "Folha", porque não estou atuando na cobertura de cinema do jornal, mas em outra área. No "Trópico", revista eletrônica da qual sou editor, o nosso interesse é por tudo que tenha relevância jornalística, importância cultural e seja capaz de provocar o debate público mesmo se for um curta-metragem.

Pensa em dirigir um curta-metragem futuramente?
Não, faz muito tempo que desisti de fazer cinema.