quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Juliana Galdino

Juliana Galdino foi uma das principais atrizes do Centro de Pesquisas Teatrais (CPT) dirigido pelo renomado diretor Antunes Filho em São Paulo. Hoje é uma das grandes atrizes brasileiras.

Conte um pouco da sua experiência com os curtas.
Eu fiz um que se chama “Gasolina Comum” que eu não assisti, na verdade é que eu sei muito pouco, aliás, o que se trata é que foi meio um susto, um convite feito bem em cima da hora. E o outro chama “Maria Angélica”, do Cassiano Franz, que por eventualidade do destino acabou falecendo antes de concluir o próprio filme, que foi uma semana depois das filmagens, um cara de Londrina, que eu também não assisti. Então, essas foram as duas experiências que eu tive com curta na verdade.

Para você que é uma atriz mais de teatro, como foi trabalhar com essa linguagem do curta-metragem, processo de trabalho, de criação e tudo mais?
Achei fantástico, o cinema é incrível. O poder de síntese que um curta deve ter, que tem, eu acho impressionante, na verdade o apuro técnico, a qualidade, tanto do poder de síntese, quando dos elementos que são essenciais, quanto a elaboração de um roteiro, uma história para curta eu acho fascinante, eu sempre adorei as crônicas, os contos curtos, eu acho que eles não meio primos, irmãos, e são coisas que você tem meio uma célula de um todo e seu imaginário funciona fantasticamente dentro. Quando você tem só uma indicação do que a vida inteira de um universo muito mais elaborado que um filme inteiro, acho que o curta é possibilidade da gente viajar junto com o autor, com as idéias.

Qual é a analogia, se é que pode fazer alguma entre o teatro e o cinema, por exemplo?
Nenhuma eu acho, o teatro ele fica gravado na pupila, o cinema fica gravado numa fita, num DVD que você tem embaixo do seu aparelho de televisão, acho que a aceitação na hora, a atenção é sempre a mesma claro, mas o fato de você ter no cinema uma desordenação, de você não necessariamente filmar numa seqüência cronológica, numa seqüência dos fatos, eu acho que exige uma atenção maior, ou pelo menos uma preocupação de quem está fazendo pra criar uma lógica existente.

O teatro você ensaia muito antes, você sabe tudo que está acontecendo, eu acho que tudo tem a coisa do imprevisto, do imprevisível, mas o cinema ele, se existir, tem um editor que vai ajustar para você, o cinema você faz em equipe, o teatro você está sozinho, a verdade é essa, por mais que você tem alguém conversando com você, é ali na hora, ninguém vai entrar e consertar o que você está fazendo, tem a intenção.

Resumindo pra você: cinema tem edição e o teatro não tem.

Você acha que o teatro é muito mais interessante que o cinema?
Não que seja mais interessante, mas uma questão de gosto, tem gente que gosta de... sua pergunta é tendenciosa, não é questão de preferência é questão de tato mesmo, de saber lidar com o instrumento, quem não sabe fazer cinema acho que pena muito, ou tem muita vocação, se entrega muito na mão dos caras, olha sua pergunta é estranha, porque não é uma questão de interesse, para mim é porque eu gosto de teatro, mas eu adoro assistir cinema, acho que a questão de fazer um ou outro é que eu prefiro fazer teatro, e se tiver que assistir vou falar para você, as vezes prefiro assistir cinema, assim você pode sair da sala sem magoar ninguém.

O que te leva a ir assistir uma peça e te levaria a assistir por exemplo um curta, que é difícil até de ser encontrado?
Olha, são vários fatores, se você conhece a peça, você quer saber o que fizeram com ela, é como você ler um livro e conversasse sobre ele com alguém, como cada um aborda, o que cada um pensa sobre um tema, porque é como se você imaginasse eu correndo ali, antes de você ver a coisa se concretizar.

O cinema é a mesma coisa, se é um tema que te inspira, se já te sugere coisas, você quer ver como eles também trataram, agora você também vai pela atuação, pela direção, por um olho, alguém que você conhece, como foi o tratamento das pessoas, mas nesses, fundamentalmente, acho que outros transportes te colocam numa catapulta para outros lugares, tua percepção para outras coisas ou uma repetição da mesma coisa, e ai não me interessa muito não. Acho que toda arte visual, que o teatro também faz parte, porque a gente também está com o olho ali na pessoa, ou ele te impulsiona pra lugares que você ainda não conhece e hoje terá acesso, é uma espécie de chamado mesmo, ou te acrescenta ou vai estar ilustrando coisas, vai estar enfeitando uma realidade.

Eu acho que essa coisa de enfeitar mais do que aprofundar aquela temática teria mais a ver com uma moda, uma passarela, do que com o ser humano na transformação dele. Não me interessa muito nenhuma arte, nem cinema, teatro, nem literatura que fica só escrevendo em vez de dialogando com você, talhando a gente, tentando chegar em algum outro lugar a não ser previsível superficial, banal, não vejo por que fazer, acho que é perder tempo e dinheiro.