quarta-feira, 27 de maio de 2009

Etty Fraser

Etty Fraser é uma das atrizes mais carismáticas da dramaturgia brasileira.

Fale sobre o seu trabalho com curtas, você que fez um monte de curtas...
Pois é, depois que eu fiz o filme “Durval Discos” principalmente, ai começou a surgir muito convite, o pessoal pedindo para fazer curtas, pessoal de faculdade, de escolas e eu nunca soube dizer não, fiquei virgem até os 30 anos não sei como, porque nunca soube dizer não. Então dos vários que eu fiz eu achava muito gostoso o contato com os jovens ... fazendo com vontade, porque tudo que a gente faz na vida tem que ter vontade, porque de uma certa maneira eu estava ajudando esse pessoal jovem a fazer os curtas, eu achei muito gostoso, todos os que eu fiz eu achei muito gostoso de fazer, por que eu achei uma coisa muito proveitosa para mim também, não no ponto de vista financeiro, claro, vocês sabem. Mas do ponto de vista de prazer foi muito gostoso, muito prazeroso.

Você que trabalha com teatro, com TV, qual é o grande barato de fazer um curta, como é a sua preparação, o que te leva a fazer um curta?
Preparação... eu leio, claro, quando me mandam o curta, assim vejo se é uma coisa interessante, porque eu estou numa certa idade, faço 78 anos, faço agora, porque eu estou numa idade que eu não quero fazer coisas que me façam mal, compreende? A pouco tempo me ofereceram um curta que eu me neguei a fazer, porque era uma velha muito, que a que eu faço na peça, eu faço uma velhinha com Alzheimer, na última novela eu fazia uma velhinha esclerosada, por que nessa idade não dá mais para fazer a Julieta do Romeu, ou é esclerosada ou é com Alzheimer, mas essa aqui era uma velhinha que estava morrendo e por cima era com ela, e eu pedi muitas desculpas para pessoa que me convidou para fazer, mas eu falei “eu sinto muito”, e ele disse “não mas eu fiz pensando em você, se não fosse você não podia fazer”, mas eu falei “eu sinto muito” , mas não me dá prazer, tem que ser alguma coisa que me dê prazer e me dê uma satisfação de fazer o curta.

Para ter a satisfação de fazer um curta, a atriz tem também que ter a satisfação que o curta seja visto por bastante pessoas, e o curta é bem restrito, poucas pessoas tem acesso, as vezes até poucas pessoas sabem que você fez um curta, isso de certa forma não chateia na hora de aceitar um convite ou é mais pela experiência em trabalhar, fazer alguma coisa diferente?
Mais pela experiência em trabalhar e fazer alguma coisa diferente, porque nessa altura dos acontecimentos, em 48 anos de carreira você não está mais em apareceu, se não apareceu se deixou de aparecer, claro que é muito gostoso de saber que o negócio é um grande sucesso, mas é mais mesmo uma ajuda que eu estou fazendo eu acho, é alguma coisa que me dê prazer e ao mesmo tempo uma ajuda para pessoas que estão fazendo.

Os grandes cineastas começam com o curta, e acabam abandonando o curta quando tem um sucesso e as atrizes tem a grande chance de fazer alguma coisa diferente fora dos padrões de teatro e da televisão.
Eu vou dar um exemplo muito interessante: a mais ou menos uns sete, oito anos atrás a Muylaert me convidou para fazer Kiki em ‘Como nascem os Bebês’, como nascem os bebês de acordo com Kiki, era um curta que ela fez, muito engraçadinho, era uma menininha que vai explicar na sala de aula como nascem os bebês, então ela entendeu tudo errado, claro né, e eu fiz um papel de uma diretora de escola que dizia 3 frases, aí quando terminou o curta a Anna falou; “Ai você vai me desculpar que era tão curtinha, mas eu te prometo que o dia que eu tiver um filme grande você vai ter um papel ótimo”. E foi aí que eu fiz “Durval Discos”. Quer dizer, vai ganhando né. Então para mim “Durval Discos” foi um marco para mim, eu não fiz muita coisa em cinema, porque estamos mais aqui em São Paulo do que no Rio de Janeiro, e o cinema acontece mais no Rio de Janeiro, mas eu não fiz coisa muito boa de cinema, mas essa filme eu adorei fazer, e foi por causa de um curta que eu tinha feito.

Você acha que dá para contar uma história em pouco tempo de metragem?
Dá, conforme a maneira em que ela é contada dá. Eu fiz um não sei se era a São Carlos ou da FAAP, era o “Apartamento 21”, eles vão ficar bravos comigo que eu não me lembro, mas era muito interessante eu achei, contava uma história rapidinha e bem contadinha, gostei muito desse curta que eu fiz. Eu acho que dá, se o curta é bem feito, eu gosto de assistir curta também, eu gosto, eu curto.

Quais os curtas que você fez e que gostou e quais não foram legais?
Eu gostei muito desse “Apartamento 21”, eu gostei muito desse outro, não teve nenhum que eu não achei legal, todos eu achei muito legal, o pessoal... não teve nenhum que eu tivesse... aliás se você me perguntar qual é o nome de uma peça de teatro que eu não tenha gostado de fazer eu não saberia te dizer. E a mesma coisa com novela, eu curti muito fazer peça, e o curta também, as coisas que eu fiz eu curto de fazer.