terça-feira, 2 de junho de 2009

Ivam Cabral

Ivam Cabral é mais dos fundadores do Sátyros.


Os Sátyros faz um trabalho muito importante com o teatro, está ensaiando para ir para a TV, tanto é que fez um episódio na TV Cultura (Direções), acha que é um caminho que vocês vão seguir?
Eu sempre pensei, aliás a gente do Sátyros sempre pensou, desde o início que o cinema era nossa salvação, porque o trabalho no teatro é muito solitário, muito artesanal, embora o cinema também seja artesanal, não é tão solitário quanto é o teatro, enquanto linguagem, enquanto “produto”, então agente tem se preparado para produzir cinema, a gente tem umas incursões, e algumas coisas com audiovisual que a gente vem fazendo ao longo desses anos... e eu imagino que o futuro é mesmo a gente se aventurar para o cinema. Esse trabalho na TV Cultura agora que a gente foi convidado, que é experimentações, que é quase um curta, e a gente quis explorar muito mais uma linguagem cinematográfica do que teatral, e a gente tinha essa opção, até o nome prévio do programa era Teleteatro, e no primeiro momento se pensava que a gente fosse fazer um texto dramático, uma peça de teatro filmada, e a gente optou por uma linguagem cinematográfica, claro, com todas as limitações de equipamento da TV, com todas as limitações que a gente tem de disponibilidade de material da própria TV Cultura, agente tinha um período X para usar as coisas, aliás, um período super pequeno, mas o nosso trajeto nesse projeto foi sempre pensando no cinema quanto linguagem.

A linguagem do teatro é diferente do cinema, especificamente para o curta, porque o teatro não tem o poder de síntese muito grande quanto o curta exige. Você acha que para fazer um curta, não sei se é o caso, se vocês estão pensando em curtas ou longas, mas o que vocês acham que precisam fazer para se adequar a essa linguagem? Eu li uma vez o Rodolfo falando que se o cinema ou a TV gostaria de enquadrar o trabalho de vocês, vocês estariam fora.
Eu acho que sim, a gente é maldito, é contestador no teatro e da linguagem que a gente se apropriou, a gente tem realizado alguns curtas na nossa história e curiosamente a gente nunca mostrou isso para ninguém, gravamos um longa também que não foi montado. No primeiro momento porque a gente ainda não tinha os instrumentos digitais que tem agora, essas coisas todas quando a gente fez esse filme, então ele ficou por editar, em algum momento a gente vai fazer isso, mas interessava para nós muito mais a experimentação, muito mais a experiência do que verdadeiramente o resultado. Então a gente passou ao longo desses anos, dos últimos 10 anos, fazendo muita coisa, produzimos uma série para a televisão em Curitiba, que era de entrevistas, a gente biografou o teatro paranaense, em séries de entrevistas, ag ente biografou a literatura no Paraná através de entrevistas, esses programas foram exibidos em televisões lá em Curitiba, a gente fez uma memória cultural de Curitiba num videodocumentário que também foi exibido pela televisão em Curitiba, TV Educativa, então enquanto a gente pôde experimentar a gente foi experimentando, mas o nosso grande objetivo mesmo é produzir obviamente um cinema alternativo, obviamente um cinema que a gente pudesse dominar ou então com produção muito barata, caseira que pudesse resolver entre nós, mas estamos de olho nos longas, com histórias mais complexas, com roteiros mais elaborados, teve essa tentativa que foi esse longa que a gente fez, que é o “Terceiro Sinal” o nome desse filme, e na Cultura agora, embora fosse engraçado, você foi o primeiro a falar em curta, em nenhum momento me passou pela cabeça que a gente estava fazendo um curta, passava pela cabeça que agente estava fazendo um filme, e um filme muito grande, um filme poderoso, pelo menos foi com essa dedicação, com esse estímulo que a gente foi fazendo, mas a gente quer chegar nos longas, e é um projeto para os próximos anos.

O cinema nacional, essa leva que está tendo a Retomada, ele tem um selo Made in Brazil, mas ele não tem muito a cara do Brasil, é uma coisa que segue até a estética americana de filmagem, e a idéia de fazer esses filmes, é meio que para contrapor esse cinema que está aí?
Eu acho que sim, a gente tem sentido uma necessidade de experimentar uma linguagem que é diferente e que a gente não domina, que a gente conhece pouco, não passa pela cabeça quebrar com a linguagem, ou no termo da pretensão de reinventar uma estética, putz, quiçá a gente consiga fazer tudo isso, mas a gente está insatisfeito com o que agente vê, eu acho que isso já é um bom sinal, porque nós artistas somos motivados por isso, pela insatisfação, acho que a insatisfação ela acaba determinando coisas muito bacanas, agente está insatisfeito e vai procurar uma linguagem que é nossa, que é da praça Roosevelt, que é dos travestis, que é das putas, que é do centro de São Paulo, que é do lugar que a gente conhece, obviamente que nada que a gente faria fugiria desse universo todo que a gente foi obrigado a pesquisar, agente foi obrigado a entender, porque quando a gente chegou aqui, a gente se quer imaginava que fosse encontrar o que encontramos, sempre queríamos vir para o centro de São Paulo porque a nossa linguagem é cosmopolita, somos urbanos, mas a gente foi trabalhar com o material que fomos encontrando, provavelmente isso vai refletir também nessa idéia de cinema, já refletiu nesse trabalho da cultura agora, a gente vai falar de travestis, a gente vai falar de coisas que agente conheceu aqui na praça, então motivado por isso, acho que deve surgir coisas, mas acho que a palavra legal não é nem, não temos a ambição de mudar nada, mas a gente está insatisfeito e a gente quer contar da nossa maneira.

Tem uma leva muito grande de curtas, principalmente no Youtube! prolifera o trabalho de muitas pessoas, e o curta, para o cineasta que está começando é uma maneira de experimentar, de fazer coisas diferentes, até pelo custo, não tem pressão do mercado, porque as vezes a pessoa com a própria câmera mesmo faz um curta. Então o que vocês tem que fazer para diferenciar o trabalho de vocês em relação ao curta, dessas levas de curta que tem por aí?
Eu acho que tem muita coisa ruim, mas tem muita coisa legal, até eu acho que os curtas que eu tenho visto ultimamente, eles tem muito mais a cara de um movimento, do que os longas, até mesmo isso que você falou, que a gente tem copiado uma estética, uma linguagem americana, ou iraniana, a gente vai sempre no oposto, ou vai para Hollywood as coisas, mas quando vai para o sertão, é aquela coisa do cinema iraniano, enfim, e os curtas, não, eu tenho visto muita coisa bacana produzida a partir da necessidade desse artista, coisas inteligentes, então viva ao Youtube! porque eu acho maravilhoso que exista um espaço onde a gente possa encontrar...

E o próprio teatro também se aproveita disso.
Com certeza, nós temos no Youtube! várias coisas e a tendência até a gente precisa colocar mais, porque é muito legal, é uma forma de divulgação imediata, você chega em lugares que você jamais sequer imaginou chegar, agora com relação a isso, eu não sei, talvez seja esse movimento que tem se criado através desses curtas que venham sendo produzidos ao longo desses anos. Talvez isso determine em um movimento muito bacana, porque eu acho também que a gente aqui no Brasil está concluindo, não chegou a conclusão de que é possível fazer. Porque até 10 anos você jamais poderia imaginar que, por exemplo, você ia produzir cinema, se você chegasse para alguém e falasse isso iam rir da tua cara, porque era um universo totalmente árido e sem perspectiva nenhuma.

Atualmente você já tem isso, é isso que você falou, tem uma câmera, tem uma idéia, bom voltou essa história, você tem uma câmera uma idéia na cabeça, talvez vai surgir alguma coisa, porque as câmeras hoje são baratas, você consegue ter um equipamento super bom, num preço que você poderia pagar, em algum momento. Eu vejo muito perspectiva, cara, os nossos novos artistas estão muito insatisfeitos, e eu acho que essa insatisfação faça com que alguma cosia aconteça, e a gente tem visto surgir aqui, a partir da praça, muitos experimentos, por exemplo Gero Camilo, que tem a produtora dele, que comprou uma câmera agora, uma câmera bacana que ele importou e tal, e essa câmera tem sido muito utilizada, porque quando ele não está filmando ele empresta para os amigos que vão fazer experiências, então direto a gente está vendo alguma coisa acontecer aqui no Sátyros, na rua, no meio do lixo, tem sempre alguém filmando alguma idéia. Eu acho isso muito, muito bacana.