sábado, 13 de junho de 2009

Sérgio Roveri


Sérgio Roveri é roteirista, dramaturgo e crítico de teatro.

Tenho entrevistado algumas pessoas que escrevem textos, autores e tudo mais, e eles fazem uma comparação que o curta-metragem é um parente da crônica, ou a crônica é parente do curta, pelo poder de síntese que tem. Você acha que é por aí mesmo?
Eu acho que sim, foi engraçado você ter falado isso, porque eu nunca tinha feito essa associação, mas agora que você falou me parece bem lógica mesmo, pelo menos o que eu tenho acompanhado da produção de longas-metragens e o que eu tenho lido de crônicas, agora você vê que existe mesmo, acho que além da crônica se resolver num espaço pequeno, assim não é uma coisa que se estenda muito, e o curta-metragem também, eu acho que tem uma outra coisa em comum entre eles que é o olhar muito urbano sobre a vida, um olhar contemporâneo e eu acho que os cronistas que eu tenho lido, que escrevem pelo menos na imprensa diária estão se preocupando, não sei se é um fenômeno recente, mas que eu tenho sentido muito, que eles estão se preocupando em levantar fatos muito cotidianos, fatos quase banais e eu acho bacana esse olhar contemporâneo, esse olhar descompromissado com a cidade que eles estão levando para a imprensa , e que depois algumas delas acabam chegando aos livros também, então eu acho que há esses dois pontos em comum, que eu acho que é o fato de uma duração curta, de você ter pouco tempo para contar sua história no curta, e pouco espaço na imprensa para contar sua história na crônica, e esse olhar contemporâneo, eu acho que existe isso sim.

Você acha que dá para contar uma história em tão pouco tenho de linha ou de metragem?
Com certeza, eu acho que sim, porque eu escrevo para teatro, tenho escrito para teatro há algum tempo, mas a minha formação é o jornalismo, e eu venho do jornalismo impresso, trabalhei muitos anos no Estadão, e o jornalismo é esse exercício diário de você condensar, de você contar muita coisa em pouco espaço, e a cada vez o espaço tem diminuído, hoje eu não estou mais na imprensa diária como eu escrevo para revistas e para jornais, mas não com essa obrigatoriedade do dia, mas eu percebo que o espaço na imprensa escrita tem diminuído, então eu acho que esse exercício de você enxugar, de exercer um poder de síntese é uma coisa que rola todo dia, então eu acho que no fundo é prazeroso fazer isso, quando você percebe que conseguiu contar uma história em pouco tempo, que não precisou de mais, no primeiro momento você pode ficar um pouco contrariado, achar que precisa de mais coisas, mas quando você vê, nunca tive um curta metragem, não sei qual é a sensação de ter um curta pronto, mas eu já tive várias vezes na minha vida que enxugar uma história, você escreve e daí tem que transformar aquilo na metade, e quando você termina você fala, eu realmente não precisava de mais, foi possível e é melhor, eu acho que é mais direto assim, e tem uma coisa que se fala muito e que eu acho que não é folclore não, e que as pessoas tem realmente menos tempo, então elas têm menos tempo, e a atenção delas está sendo disputada diariamente por ‘N’ produtos, e o que eu estou falando é só como uma atividade cultural, não estou nem vendo o que ela tem que fazer para trabalhar e ganhar a vida mesmo, então se você puder ser breve na tua mensagem, eu acho que a chance de você atingir o público é bem maior.

Estive conversando com o Ivam Cabral e ele falou que também está migrando para o vídeo, e ele está insatisfeito com o que ele está vendo. Você pensa em migrar também para um curta, ou começar com um curta e depois fazer o roteiro de um longa? Temos vários exemplos de jornalistas e autores de teatro que escrevem também para cinema. E outra pergunta: Você está insatisfeito com o texto que tem por aí no cinema ou no curta-metragem?
Olha, é engraçado porque assim, quando eu decidi fazer alguma coisa fora do jornalismo, além do jornalismo, eu sempre tive uma paixão similar entre teatro e cinema, sempre gostei muito das duas atividades e na maioria das vezes eu procuro equilibrar, eu tento ver a mesma quantidade de cinema que eu vejo de teatro, óbvio que o teatro me chama muito mais pelo lado profissional, mas agora eu estou falando como público, então eu divido meu tempo livre entre teatro e cinema porque eu gosto das duas mídias, quando eu achei que devia fazer alguma coisa além do jornalismo, e eu quis estudar para isso para não me atirar logo de cara, fazendo alguma coisa sem nenhuma técnica, eu fui estudar primeiro roteiro, roteiro de cinema lá na ESPM e fiz cursos, fiz um roteiro pequeno e tal, mas na seqüência comecei a estudar teatro e vi que pelo menos no meu caso, produzir teatro foi mais fácil, eu me aproximei mais rapidamente, porque eu acho que tanto teatro quanto cinema são atividades que você não faz sozinho, é uma coisa completamente grupal, teatro talvez mais do que o curta ainda, e como eu me aproximei muito rapidamente de quem faz teatro e esse acabou sendo meu círculo de amigos eu tive mais facilidade de dar vazão para minha produção teatral, agora eu tenho vontade sim, nunca apareceu nenhum convite, normalmente quando eu vou pensar numa história minha cabeça já pensa teatro, ela já vem com o palco, já vem com o cenário do palco, já vem com muita palavra, eu não tenho essa cultura de imagem, tenho como público, mas eu acho que eu teria um pouco de dificuldade no começo de saber que no cinema vou precisar de bem menos palavra do que eu usaria no teatro, mas eu tenho vontade sim, eu acho que é um caminho legal, eu tenho vontade as vezes de transformar algumas coisas que eu tenho para o teatro em cinema, para ver como seria,a s vezes até como brincadeira. Agora, você me perguntou de textos, eu acho que é relativo, talvez seja até um pouco antiético falar isso, não sei, mas eu acho assim você tem 110 peças em cartaz no momento e não sei quantos filmes, é óbvio que você não tem 110 bons textos, tem muita coisa que está em cartaz que não foi feita em cima e um bom texto, às vezes vai para outro lado, às vezes vai por uma interpretação bacana, às vezes vai por uma inovação tecnológica, eu acho que nem todos esses espetáculos em cartaz o que sustenta eles é o texto, mas eu acho que agente tem bons textos sim, tem muita coisa na cidade que dá para você ir ver sendo levado em primeiro lugar pelo texto, principalmente nesse circuito aqui, que eu circulo um pouco na praça Roosevelt tem muita coisa legal de texto aqui nos Sátyros, nos Parlapatões, nos Sátyros 2, eu acho que tem uma, porque eu senti que a gente está vivendo uma década em que o texto está sendo muito valorizado no teatro e de alguma maneira no cinema nacional também.

Você é um espectador de curtas? Qual é o grande barato de um curta-metragem?
Eu confesso que eu vejo curta quando existe algum... eu vejo curta menos do que eu deveria, porque eu acredito também que o mercado de curta também não está sendo tão bem explorado quando deveria, eu sei alguns amigos que eu tenho que fazem cinema eles reclamam muito da dificuldade distribuição para longa, eu acredito que para curta deva ser mais difícil ainda, então quando tem uma mostra ou quando tem algum festival, daí eu procuro ver, mas se eu disser que normalmente, que toda semana eu tenho acesso a curta, eu não tenho não, eu vou meio que na onda quando está rolando algum evento específico de curta, desses grandes eu digo. Eu sei que no CCBB está sempre rolando, mas eu acabo vendo menos do que deveria. Acho que o grande barato deles pelo que eu tenho percebido é um certo descompromisso com a linguagem formal, porque eu acho que no curta, eu acho que o autor do curta não está, não que ele não tenha o formalismo do cinema, não é isso, mas por ele estar na maioria das vezes lidando com uma produção que envolve menos recursos e que tem uma democratização da imagem da digitalização ficou mais fácil fazer um curta, então eu acho que esse compromisso formal caiu um pouco, então eu acho que o grande barato é essa democratização do formato.