quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Eva Wilma

A premiada atriz tem em seu currículo uma série de atuações em filmes históricos do cinema nacional.

Em 1952, o diretor italiano Luciano Salce convidou-a para fazer um participação como figurante no filme ‘Uma Pulga na Balança’ na Companhia Cinematográfica Vera Cruz, simultaneamente, participou do documentário do IV Centenário de São Paulo ‘Se a Cidade Cantasse’, do diretor Tito Banini.

Eva Wilma, participou também do filme ‘São Paulo S/A’ do diretor Luiz Sérgio Person.

Conte sobre a sua relação com o cinema nacional.
Pois é, eu acho até que foi no cinema que eu falei pela primeira vez, ou seja, o trabalho de atriz. Porque eu programava uma carreira de bailarina clássica, tinha vivido uma grande vitória que foi ser aprovada nos exames para o ballet do ‘IV Centenário’, eu estava em plenas aulas, isso em 1953, porque o ballet se apresentaria só no fim de 1954, e então no começo de 53, eu já aprovada e fazendo aulas, amando o coreógrafo húngaro, foram 600 candidatos para 40 vagas, eram 40 bailarinas e 20 bailarinos, mais ou menos 600 candidatos do Brasil inteiro para 60 vagas, e eu fui aprovada, mas acho que a primeira grande vitória semi-profissional. Só que na época eu conheci esse jovem, pai dos meus filhos com quem eu fui casada durante 21 anos, o John Herbert que já tinha feito estudos cinematográficos, junto com o José Renato que foi o fundador do Teatro de Arena... E eu vou retroagir, antes do balé ‘IV Centenário’, quando o grupo de 14 moças da Madame Olenewa, que era a idealizadora do corpo de baile do teatro Municipal do Rio de Janeiro, que fundou, que organizou. Ai ela veio para São Paulo e eu era uma das alunas dela, nós fizemos uma viagem dançando de um navio do loide brasileiro que saiu de Santos e foi até Manaus. Nós fomos em todos os teatros pela costa brasileira, foi a primeira vez que eu tive a oportunidade de me apresentar nesses verdadeiros templos, nos quais eu voltei várias vezes. Só que naquela ocasião, nós fizemos como bailarinas, aí as 14 moças que tinham feito essa viagem com Madame Olenewa, que era um navio, acho que em 1949, levava uma exposição da indústria paulista a bordo, navio de ‘Don Pedro I’, e levava essa exposição. Meu marido conseguiu incluir uma pequena exposição de arte paulista que era o ‘São Paulo Ballet de Maria Olenewa’, quando nós voltamos depois de dois meses, nós gritamos liberdade ou morte e formamos o grupo experimental de ballet. Eu estava ensaiando os três espetáculos com esse grupo na qual nós nos apresentamos em três espetáculos no Municipal de São Paulo, e eu estava no palco ensaiando e na platéia havia uma filmagem, para o filme ‘Ângela’, do Tom Payne , Vera Cruz, ele foi casado com e Eliane Lage, que está viva e feliz, morando em Goiás. Bom eu sei que o Tom subiu no palco e me chamou para um pequeno papel nesse filme ‘Ângela’, e lá fui eu para Vera Cruz, e lá cheguei a filmar uma cena, e com muito medo do namorado repressor. Eu consegui um atestado médico e não voltei nunca mais para concluir o filme ‘Ângela’, causei um prejuízo para o produtor do filme. Só que posteriormente nesse momento, que eu estava começando nosso papo, eu estava novamente no Teatro Municipal, ensaiando novamente, não me lembro o que, e tem novamente um grupo de rapazes da faculdade de direito filmando na platéia e ao beber água no corredor um deles aproveita-se do filho do meu padrinho, padrinho de batismo mesmo. E é apresentado a mim e acaba conseguindo meu telefone, veja você. Isso restou fazendo exames para o ballet do ‘IV Centenário’, uma vez aprovada depois de três meses, esse jovem que continuou telefonando, me convidou para ir um domingo ver as filmagens, ele saia do centro do estúdio cinema dos Tráficos e já estava filmando ‘Uma Pulga na Balança’, do Luciano Salce, o diretor.

Vera Cruz novamente, e eu fui passear um domingo na Vera Cruz. Começou com Anselmo Duarte me pedindo para, se eu permitia fazer algumas fotos, eu fiquei meio tímida, mas deixei fazer essas fotos, eu tenho essas fotos. Depois durante as filmagens, os quatro irmãos, Paulo Autran, Maurício Barroso, Rui Affonso e John Herbert, o Salce me viu assistindo e pediu, perguntou se eu não topava fazer uma figuração, uma pequena fala, numa cena de um velório, veja você. Eu topei, me vestiram, eu tenho um chapeuzinho, eu tenho foto dessa personagem, da roupinha, do chapeuzinho, e a fala eu lembro muito bem, que foi a primeira vez que eu falei como atriz, a fala era, um dos quatro dizia assim:

Precisava meu pai morrer para eu rever minha linda priminha?

E eu respondia – mas agora eu sou uma mulher casada.

Essa foi minha primeira fala como atriz, paralelamente eu já começava a assistir os ensaios do teatro de arena, e o José Renato fez um teste comigo e eu comecei a representar mesmo dirigida pelo José Renato. Mas depois paralelamente, eu conheci e fui chamada por um sujeito fantástico, enorme, gordo, vermelhão, chamado Mário Civelli, e eu assinei o contrato de dois anos com a Multifilmes. O que se pode imaginar que tudo isso me fez pedir demissão do ballet do ‘IV Centenário’ que foi o primeiro passo dificílimo da minha vida, mas realmente eu deixei a bailarina quietinha dentro de mim e comecei a dançar representando e falando. Os três filmes da Multifilmes, o primeiro foi o “O Homem dos Papagaios”, e eu tive a oportunidade de contracenar e conviver com Procópio, o segundo foi “O Craque”, se eu não me engano, com Carlos Alberto, que foi um dos primeiros filmes sobre futebol, e o terceiro foi “A Sogra”, novamente com Procópio.

Isso são, digamos assim, a primeira figuração e os primeiros três filmes, de uma carreira de 21 para 22 filmes com um a ser lançado ainda. E desses todos, a minha experiência, que eu gosto muito de relembrar foi com “Cidade Ameaçada” de Roberto Farias. Eu acho que o Roberto é um grande cineasta, um grande diretor e para mim foi uma experiência maravilhosa o ‘Cidade Ameaçada’.

Depois disso, evidentemente é impossível não citar “A Ilha” do Khouri, Walter Hugo Khouri, eu acho que Máximo Barro está nesses aí. Um abraço para você Máximo.

Depois disso, eu falo disso no livro biográfico, porque o Khouri era um esteta antes de mais nada, ele tinha um prazer imenso do lado estético, e ele era muito delicado, muito exigente. Depois disso eu venho com o fabuloso artista cineasta, o teatrólogo, abriu o ‘Teatro Augusta’, ele morava em um sítio onde tinha uma placa – cuidado cachorro bravo e dono louco, e ele me convidou para um filme “São Paulo S.A.”.