terça-feira, 27 de abril de 2010

Ângela Dip



Atriz, bailarina, escritora e diretora, Ângela Dip atuou nos filmes "Eliana e o Segredo dos Golfinhos", direção Eliana Fonseca; "Castelo Ra Tim Bum", direção de Cao Hamburguer; "Por Trás do Pano", direção de Luis Villaça; "Terremoto", direção de Beto Brant; "Efeito Ilha", direção de Luis Alberto Pereira; "Romance", direção de Sérgio Bianchi; "Lua Cheia", direção de Alan Fresnot; "Quanto Vale ou é Por Quilo"; "O Martelo de Vulcano"(2003).

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público? Adorava quando antes dos longas ,passava um curta.
Podia ser isto talvez...e mostras específicas sempre atraem um publico fiel.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque a mídia sempre tem espaço pra merchandising e coisas que dão grana,ou rendem fofoca.

Você já atuou em curtas, como o 'Expresso', o que te faz aceitar participar de um curta?
Se eu gostar do roteiro estou fazendo independente de qualquer outra questão. Pena que quase não me chamam.

A preparação para atuar em curtas é diferente em relação à sua preparação para uma peça ou um longa? Como procede?
A preparação é a mesma. Mas geralmente não se tem o tempo necessário. Lança-se mão da experiência, esperteza, truques e indicação da direção.

Pensa em dirigir um curta-metragem futuramente?
Tenho muitas idéias que dariam curtas e longas. Mas não sei roteirizar para este veículo; dirigir então, não faço a menor idéia de como é. realmente não entendo nada de direção de cinema. Sou imensamente criativa e é só.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Nuno Ramos



Nuno Ramos é considerado um dos maiores artistas, em seu termo mais amplo, da sua geração.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Não sou especialista, mas creio que cada vez maior. Acho que em outra época, tinha-se acesso mais imediato ao longa, que foi o formato de quase tudo o que fizeram os nossos maiores diretores (Glauber, Sgarnzela, Bressane, Nelson Pereira, etc.). Hoje em dia, acho bem mais difícil o sujeito ir direto ao longa. Eu diria, por isso, que a importância do curta é ainda maior hoje do que foi ontem.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que há um problema enorme de distribuição para o cinema brasileiro hoje, e o curta, que já de cara tem pouco público (não tem aquele formato “programa de sábado”), sofre enormemente com isso. A mídia em geral parece acompanhar essa síndrome. É curioso como uma arte tão cara e difícil como o cinema termina, muitas vezes, num circuito doméstico, só para parentes e amigos. Isso é bem chato, e triste. Há uma vocação pública no cinema que não consegue se ausentar completamente, mesmo da produção mais experimental e fora de formato padrão. Isso é fonte de crise, mas também de interesse. Algo no filme mais maluco pede para ser visto por uma multidão – isso me parece exclusivo do cinema.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho que sim. O curta, como qualquer obra pra valer, não é trampolim pra nada. Desenho não é trampolim para quadro (embora possa ser usado como estudo), curta não é trampolim pra longa. Qualquer obra de arte tem de se fazer valer em seu formato específico. Há uma riqueza em cada formato que é insubstituível.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Como freqüento pouco esse meio, não saberia dizer.

Você já dirigiu curtas que foram considerados de vanguarda. Conte como é o seu processo de criação, produção e direção.
Eu dirigi quatro filmes, com duração entre 5 e 35 minutos. Todos, de alguma forma, têm a ver com a produção de uma instalação. Em geral, o que ponho nos filmes é uma espécie de gerúndio daquilo que a instalação/ escultura apresenta já pronto; é o fazer daquilo, não no sentido “making off”, documental, mas uma tentativa de exploração poética deste fazer. Acho que minhas obras têm uma construção muito penosa e complicada, e nos filmes tento de algum modo tirar partido poético disso, que desaparece quando a obra está pronta. De todo modo, sempre procurei fazer cinema e não videoarte, embora haja tanto em comum entre as duas coisas. Não gosto muito de usar recursos típicos de vídeo (câmera lenta, distorções, inserções, trabalho em computador). Adorei ver os filmes em tela de cinema, com o público na poltrona, ao invés das projeções na parede, características das exposições (com o público em pé, etc.).

Quais as diferenças e/ou semelhanças que encontra na hora de fazer uma tela, escultura e um filme?
São tantas diferenças que não saberia enumerar. Mas gostaria de lembrar de uma, básica: cinema é um trabalho muito mais em equipe. Isso torna tudo muito diferente, numa situação e noutra. Para começar, sempre dirigi meus filmes com meus parceiros Eduardo Climashauska e Gustavo Moura.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim, tenho algumas idéias, ou pré-roteiros. Se alguém tiver curiosidade, no meu livro Ensaio Geral, de 2007, pela Editora Globo, há alguns pré-roteiros impressos. O problema é que cinema de fato é uma arte meio cara, e fazer um filme de 15 minutos tem quase sempre o mesmo custo de uma instalação inteira. É difícil, às vezes, renunciar a uma idéia do meu trabalho como artista plástico para fazer um curta. Mas assim que surgir outra oportunidade, gostaria sim de filmar mais.

Qual é o seu próximo projeto?
Estou preparando “Mar Morto”, uma instalação de sabão, barcos e vozes, para a Galeria Anita Schwarz, no Rio, em março.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Miguel Borges



O cineasta enturmou-se com a trupe que engendraria o Cinema Novo- Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Paulo César Saraceni, Leon Hirszaman, dentre outros. Estreou na direção com Zé da Cachorra, episódio do filme coletivo Cinco Vezes Favela.

No decorrer das décadas de 1960, 1970 e 1980, dirigiu longas-metragens (Maria Bonita, Rainha do Cangaço, As Escandalosas, O Caso Cláudia, produziu outros (A Cartomante, Fogo Morto), escreveu roteiros (Tati, a Garota, A Noiva da Cidade) e também trabalhou como montador (Emboscada, Fogo Morto).

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Desde os tempos de Humberto Mauro e Zequinha Mauro no INCE - Instituto Nacional de Cinema Educativo - o curta teve reconhecida sua luz própria. Basta ver o fantástico e monumental Dicionário de Filmes Brasileiros - Curta e Média-Metragem, de Antônio Leão da Silva Neto. De 1897 a 2005, em película, são 17.774 filmes e 4.363 diretores. "Só" isto constitui uma grande cinematografia. O movimento dos curtas paraibanos, com Linduarte Noronha, João Ramiro Melo e Ipojuca Pontes, antecedeu e ajudou a fecundar o movimento do Cinema Novo no Rio. As ABDs de todo o Brasil estão aí em plena vitalidade. O curta tem sido também o campo de experimentação e ganho de experiência do cineasta brasileiro.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Nem sempre. Os curtas e médias são o melhor de Humberto Mauro, sem desmerecimento de seus longas. Foi graças ao prestígio acumulado com estes que H.M. recebeu o convite para dirigir INCE, onde realizou seus maravilhosos curtas e médias. Neste caso, os longas foram o trampolim para os curtas...

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A TV é o maior circuito exibidor de cinema. Um filme pode ter 100 mil espectadores nos cinemas, e 100 milhões na TV. Isto se refere ao longa, mas pode vir a se referir ao curta também. É tudo questão de hábito e organização do mercado. 

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Simplesmente, porque o curta ainda tem pouco espaço para difusão. Na hora em que ele entrar na corrente sanguínea da apresentação ao grande público, isso vai mudar. 

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não. Esse preconceito de uns e complexo de inferioridade de outros, se existe, não tem o menor cabimento. O curta é obra de arte, com plenitude. 

Como foi estrear como diretor no episódio "Zé da Cachorra", que fez parte do histórico filme coletivo "Cinco Vezes Favela"?
Em 1961, eu estava na redação da Prensa Latina quando me telefonou o Vianinha (Oduvaldo Vianna Filho), me comunicando que tinha saído uma verba do MEC para se produzir um filme no CPC na UNE, e me convidando para me integrar ao projeto que contou também com Marcos Farias, Leon Hirszman, Joaquim Pedro e Cacá Diegues. Junto comigo, Cacá é o cineasta remanescente desse grande grupo. 

Em 1974 o senhor fundou a Miguel Borges Produções Cinematográficas. Conte como foi essa experiência com a produtora.
Enquanto existiu, essa pequenina firma individual me instrumentalizou para fazer quatro ou cinco longas e alguns curtas. Não fiquei mais rico nem mais pobre, continuei lutando e sonhando. 

Conte como foi filmar "Os Sapatos", seu processo de criação, produção e direção.
O produtor Álvaro Pacheco tinha patrocínio da Petrobras e me chamou para dirigir. O processo de criação consistiu em procurar recriar no cinema a criação do poeta Mauro Mota na literatura. Não sei se consegui.

Conte como foi filmar "O Nadador do Infinito", seu processo de criação, produção e direção.
Completando a resposta anterior, é extremamente difícil recriar poesia literária cinematograficamente, de forma imitativa ou a título de transposição. São substâncias poéticas bem distintas entre si. Parece que "Os Sapatos" resultou menos mal que "O Nadador", porque o Mota não estava mais no mundo, enquanto o Pacheco estava presente, observando, embora em silêncio e muito discretamente , se o poema dele era bem observado na filmagem. Por mim, gosto desses dois curtas

Qual é o seu próximo projeto? Pensa em dirigir um curta futuramente?
Estou escrevendo com Odir Ramos um roteiro, "Razão Pura", livremente inspirado no livro dele, "Buquê Para Faceira". No início da vida, Odir foi gari e se tornou grande amigo da mula Faceira, com a qual ele trabalhava nas ruas do Rio. Quando a tração animal foi descartada na limpeza urbana, em 1961/62, Faceira e outros milhares de muares foram abandonados, num genocídio. Um dos moradores da área urbana coberta pela dupla era um nazista, criminoso de guerra foragido, ex-piloto de avião, participante do extermínio da população de Guernica em 1936. Paradoxalmente, o nazista se une ao gari para salvar a mula, e este é o menor dos paradoxos da história. Sobre curta-metragem, não tenho planos no momento.