sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Imara Reis



Imara Reis é atriz e pós-graduada em Teatro pela Escola de Comunicação e Artes da USP, onde defendeu tese sobre o gênero popular pastoril, que resultou no estudo "Pastoril, o povo e o poder".

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Uma das opções seria ter sessões específicas para curtas; a outra seria ter um horário em cada uma das TVs abertas.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Pelo mesmo motivo que o teatro etc..., isto é, eu adoraria saber....

Você já participou de diversos curtas, entre eles ‘Ímpar Par’, ‘Mano a Mano’, ‘O Seqüestro’, ‘Obscenidades’, ‘Piccola Crônica’, ‘Três Moedas na Fonte’, entre outros,
o que te leva a aceitar um convite para atuar em curtas?
Intuição. Eu "sinto" o projeto e tento intuir se me vejo nele.

Como é o seu método de preparo, você que trabalha com teatro, com cinema, curtas e tudo mais. Tem alguma diferença de preparação do papel para o curta em relação ao teatro?
Sim, mas em todos o calque está na busca de compreender que personagem é essa, porque ela está ali, com que finalidade e como ela está.

Cada vez mais freqüente um ator ir para trás das câmeras e fazer um filme. Você pensa um dia, em gravar um curta, tem alguma idéia?
Tenho várias, mas para longa.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ester Fér



Ester Marçal Fér é produtora audiovisual e diretora de documentários. Atualmente cursa o mestrado na Cásper Líbero, na linha de pesquisa Processos Midiáticos.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta-metragem sempre foi tido como um formato de experimentação, exercício e aprendizado da linguagem cinematográfica. Historicamente, é através do curta-metragem que a grande maioria de cineastas inicia sua produção.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
É meio difícil identificar um porquê. Acredito que existe um modelo de negócios construído em torno do filme de longa-metragem pela indústria hollywoodiana, e importado pelo Brasil, que acabou por deixar o curta-metragem distante das salas comercias de cinema. A televisão poderia se constituir como "o espaço do curta-metragem", pois é um veículo que tem tudo a ver com o formato, tem a coisa dos intervalos, dos blocos de programas. O que acontece é que a tanto a televisão como o cinema estão comprometidos com o lucro, fazem parte de uma indústria cultural. E por ter uma produção mais independente, o curta-metragem possui uma diversidade que muitas vezes é vista como inadequada para os meios de massa. O que eu faço questão de discordar.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Então, é difícil viver só de curta, viu? Justamente pela própria sustentabilidade do modelo de negócio. Não existem investimentos e nem espaços de telas suficientes para que o curta seja um formato a ser adotado como único formato de produção. Não digo que é impossível... mas é uma luta!

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não digo que ele é marginalizado, pois acredito que quem gosta de cinema, tá sempre tentando acompanhar a produção de curtas, ver o que tem sido feito. É um formato que carrega uma força e um frescor grande. Agora, faltam ações para se pensar melhor o processo produção - distribuição - exibição. Muitos curtas bons são feitos e tem dificuldades imensas de chegar até o público. Os cineclubes são lugares fundamentais para que isso aconteça, é preciso articular melhor as escolas de cinema e grupos de realizadores audiovisuais com um circuito alternativo de distribuição e exibição cinematográfico.

Você já produziu diversos curtas como ‘A Miss e o Dinossauro’, ‘Florestan Fernandes: Evocações na Contramão’, entre outros. O que te faz aceitar participar destas produções?
Bom, o documentário Florestan Fernandes foi o meu trabalho de conclusão de curso (Bach. em Imagem e Som - UFSCar). Apesar de ser um curta de faculdade, ele foi veiculado em diversas TVs públicas e educativas, e ainda hoje é convidado a ser exibido (acredito que isso se deve muito à força do tema, que é a vida e a obra do sociólogo Florestan Fernandes, uma figura importantíssima para se entender o Brasil). "A Miss e o Dinossauro" foi um projeto lindo que surgiu no tempo em que tive a honra de trabalhar com Helena Ignez. É um filme feito a partir de um rico material de arquivo da Belair, produtora cinematográfica que na década de 70 produziu filmes incríveis e que foram censurados pela ditadura. Fizemos o curta sem nenhum apoio, totalmente com a parceria de amigos e colaboradores. Ambos os filmes são documentários, bem distintos em forma e conteúdo. Em ambos os casos, o motivo maior que me fez participar dessas produções foi uma vontade de investigar, de pesquisar, de ir construindo uma história a partir de textos, fotos, depoimentos... o documentário sempre me fascinou.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Na realidade, estou co-dirigindo um curta-metragem documental, que deve ser finalizado ainda este ano.

sábado, 13 de novembro de 2010

Armando Praça



Armando formou-se em Dramaturgia e Realização em Cinema e TV pelo Instituto Dragão do Mar e atualmente trabalha com Cinema.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta metragem em qualquer cinematografia, não somente a brasileira, historicamente é o lugar mais propício à experimentação, ao desenvolvimento de linguagens, de novas formas de expressão audiovisual, de novas dramaturgias. É o caminho trilhado por inúmeros cineastas que se firmaram em suas carreiras e na história do cinema brasileiro não tem sido diferente. No caso do Brasil especificamente há uma questão que posso acrescentar com relação a importância do curta metragem que é o fato de que muitos artistas de outras regiões do Brasil só terem conseguido se expressar em imagens através do curta. As políticas de produção audiovisuais no país ainda são muito concentradas ao eixo Rio / São Paulo, assim como o acesso à formação nessa área. Isso acontece por uma série de razões, mas tem sido através do curta metragem que temos tido acesso a imagens e expressões audiovisuais de todos os lugares do país. Recentemente pude assistir a filmes feitos no Norte do país, região cuja produção em longa metragem praticamente não existe. Isso também acontece com alguns estados do Nordeste e até mesmo do Sul do país. No Brasil, através do curta, temos acesso a essas expressões.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Hoje em dia a mídia tem se segmentado cada vez mais, existem jornais e revistas especializados em economia, saúde, celebridades, e até em cinema. Assim como a crítica de arte nos moldes com se conhecia há pouco também não têm sido mais comum em jornais e revistas de ampla circulação. Me parece que o curta metragem por ser um produto com menos espaço inclusive de exibição também "mereça" menos espaço na mídia em geral, não que eu ache isso correto, mas me parece natural dentro desse panorama que d escrevi. No entanto, em publicações relacionadas a cinema, sejam revistas e jornais impressos ou sites e blogs há espaço para críticas e notícias sobre curtas metragens e filmes em geral que não encontram ressonância na mídia por não estarem amparados por grandes estratégias de marketing e divulgação. Acho que isso é um reflexo desse tempo e não necessariamente um problema dos filmes e/ou da mídia. É uma questão muito mais complexa, afinal se você faz um filme sobre uma celebridade ou com alguém muito popular no elenco, se você ganha um prêmio importante, se teu filme passa em algum festival de cinema cuja assessoria de imprensa consegue bastante espaço nos grandes veículos de mídia o teu produto, seja ele curta ou não, fatalmente aparecerá. Tudo é fruto de uma grande construção em que muitos fatores estão envolvidos e nem sempre o que aparece é bom e o que não aparece é ruim, acredito que isso vale pra qualquer área. Quem se interessa por curtas metragens tem que pesquisar sobre o assunto, isso pode ser considerado ruim em algum aspecto, mas também pode ser muito bom se lembrarmos que a grande mídia por sua rapidez e generalização, tende a tratar tudo de forma muito superficial.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Me parece que o sucesso de público do curta metragem está diretamente vinculado a formação de platéias, a educação cinematográfica e ao hábito de ver filmes e isso é base para o sucesso de público de qualquer expressão, não é um problema apenas de maior freqüência de exibição e acesso. Acredito que o curta metragem ainda precisa encontrar uma forma de ser mais acessível, mais popular, no sentido de que mais pessoas desejem assisti-los. Vejo na internet uma bela possibilidade, no entanto o espaço do cinema, da sala escura, com boa qualidade de som e projeção seja fundamental para a melhor fruição e apreensão de alguns filmes. Por isso não deve haver apenas uma forma de exibição de curtas, acho que eles devem estar nos festivais, nos cinemas, nas TVs, na Internet e no que venha a surgir, no entanto não acredito que a melhor forma de aferição da importância e qualidade de uma produção seja a quantidade de pessoas que essa produção atingiu, seja ela em curta ou em longa metragem. Nessa armadilha o curta metragem não pode cair. Por suas características intrínsecas de lugar da experimentação, o curta não pode prescindir dessa qualidade vinculando-se a questões mercadológicas, é como dar um tiro no pé.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Na realidade em que vivo, no Ceará, Nordeste do Brasil é quase impossível ser cineasta, inclusive de longa metragem imagine ser apenas curta-metragista, por aqui fazemos um pouco de tudo nessa área para sobrevivermos e trabalhamos sempre em cooperação com outros artistas e amigos para viabilizarmos nossas produções. Felizmente em Fortaleza há dez anos a produção tem crescido bastante e as conquistas com relação a perenidade dessa produção são notáveis. A nossa história está muito associada a experiências de formação surgidas no Ceará de dez anos pra cá. Escolas de artes, como o extinto Instituto Dragão do Mar, onde fiz minha formação. O Curso de Extensão da Vila das Artes de Fortaleza, e os novíssimos cursos de audiovisual surgidos em universidades particulares e públicas tem criado uma demanda atendida por editais de produção de estado e da prefeitura e feito surgir uma classe de novos artistas e produtores, as coisas ainda não estão sequer perto de serem ideais, mas não vejo facilidades em nenhuma parte do Brasil e embora isso não seja exatamente um consolo, me faz acreditar que estamos realmente melhorando as condições e possibilidades de trabalho por aqui. O importante é persistir no que se deseja, e isso é em qualquer área da vida. Quanto ao curta ser o trampolim para um longa é uma maneira de encará-lo, isso acontece por parte inclusive de alguns cineastas, mas acho essa uma visão reducionista da questão. Alguns cineastas mesmo depois de terem feito longas continuam fazendo curtas, por uma série de motivos: por facilidade de produção, por considerarem que algumas idéias funcionam melhor num tempo curto ou como exercícios de experimentação.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Nunca senti nenhum tipo de marginalização por parte de colegas de profissão com relação ao curta-metragem, muito pelo contrário.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Penso em continuar sempre trabalhando, dirigindo curtas, médias, longas, etc, etc, etc. Cada projeto tem suas características e no que depender de momento farei muitos outros curtas, assim seja!

Qual é o seu próximo projeto?
Eu estou sempre tentando viabilizar algum projeto novo, não sei exatamente qual será o próximo. Eu dirigi quatro curtas e um média, gostaria sinceramente de experimentar e me aventurar na realização de um longa metragem, estou iniciando essa caminhada.

domingo, 7 de novembro de 2010

Thalita Ateyeh



Thalita Ateyeh é curadora e integrante da Associação Cultural Kinoforum.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Como o formato é relativamente barato, mesmo nas grandes crises a produção de curtas é expressiva. O que é muito bom, porque eu não consigo imaginar um país democrático sem garantir a sua produção cultural. Fora que o curta, por todas as suas características, permite uma liberdade criativa impensável para o longa. É só lembrar que o cinema nasceu curto, o vídeo chegou primeiro no curta, foi o formato que melhor se adaptou a internet, pesquisa de linguagem, exercício estético e tudo o mais que você imaginar, passou primeiro pelo curta.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Eu acho que o curta garante o seu espaço, o que eu percebo é uma mudança nos canais de comunicação. Caminhamos para a comunicação horizontal, ninguém mais detém a “informação” ela vem dos mais variados espaços e as pessoas selecionam e propagam o que querem. O seu blog é um bom exemplo disto.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Não é só o curta, o cinema precisa de mais espaço. Se não me engano, não há salas de cinema em 80% do território nacional. Isto é sério, enquanto não houver investimento publico sério e responsável as coisas não mudarão.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Não necessariamente, há diversos realizadores bem sucedidos que continuam produzindo curtas sem traumas ou frustrações. Parodiando Cortázar, o longa vence por pontos e o curta por nocaute.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que não. Eu pelo menos nunca vi nada que justificasse esta afirmação. Há pessoas que gostam e outras que não gostam.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Já fiz alguns exercícios, mas sem muita pretensão. Eu gosto de produzir e isto já ocupa bastante do meu tempo.

Qual é o seu próximo projeto?
Acho que terminar todos os meus projetos é um bom projeto. Produzi dois curtas que estão em fase de circular pelos festivais (“Tauri” e “Até o fim do dia”), em finalização de um outro curta que será lançado ano que vem (esperando Tim Maia), também assumi a tesouraria da ABD-SP (associação brasileira de documentaristas e curtametragistas de São Paulo) e tenho que me preparar para o próximo mês, o kinolounge voltou ao Museu da Imagem e do Som em edições mensais.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

André Weller



Cineasta, roteirista e diretor de Arte. "Domingo de Páscoa" e; "Asfixia" contam com a sua assinatura.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Não saberia responder esta pergunta. "No tempo de Miltinho" é a minha primeira experiência na direção de curtas. Apesar de ter feito vários curtas anteriormente como diretor de arte, nunca me aprofundei na história do gênero e no seu papel no desenvolvimento da cinematografia nacional. Poderia citar alguns exemplos pontuais que com certeza influenciaram a minha maneira de pensar o cinema.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Para mim existe uma distorção muito comum de que o curta é um espaço para a experimentação. Não sou cientista, mas sei que todo experimento dá margem ao acaso. Muitas vezes, o que se vê na tela não é exatamente o que o realizador imaginava. Esta visão contaminou a mídia, que vê o curta como uma obra em desenvolvimento, mal acabada, ou demasiadamente hermética. Às vezes fica difícil precisar o que era intenção do diretor e o que de fato fugiu ao seu controle. É claro que isso acontece em qualquer forma de manifestação artística, mas o curta criou esta auto-defesa, quase que uma desculpa. E desculpas não se filmam.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Pra mim já está sendo: a internet. Ela está mantendo e criando um público que passa a ter uma cultura do gênero, impregnando salas de festivais e cineclubes. Só a cultura, e não a obrigatoriedade, é capaz de levar o curta de volta ao circuito comercial.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
As possibilidades dependem de cada um. Posso responder que no meu caso o assunto principal é a música. O cinema, seja em curta ou longa-metragem, é a maneira que escolhi para tratar este tema.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
As hierarquias no cinema são muito fortes. Pra assinar uma direção de fotografia, você começa como vídeo assistente e lá se vão oito anos... É quase um sistema militar. O curta ainda é visto como a divisão de base do cinema, uma espécie de dente de leite. Mas convivo com muitos cineastas que reconhecem um bom trabalho do ruim, seja ele um curta-metragem ou não.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Estou conjugando minhas duas formações, a de músico e a de cineasta, nos meus próximos trabalhos. Percebo que a abordagem feita sobre músicos, salvo raras e belíssimas exceções, é superficial, caindo sempre no episódico e anedótico. Faço o que eu convencionei chamar de "investigação musical", que iniciei em "No tempo de Miltinho". Utilizo elementos básicos da linguagem cinematográfica para exemplificar um determinado estilo musical. Agora, estou na fase de edição do que eu chamo de irmão mais novo do "Miltinho": o meu próximo curta "No balanço de Kelly". Neste projeto, tive 'aulas' de piano com João Roberto Kelly, autor de "Cabeleira do Zezé", Mulata Bossa-Nova" entre outras. O resultado foi surpreendente...

Qual é o seu próximo projeto?
Um longa sobre um dos personagens mais cativantes e desconhecidos da nossa história: Ary Barroso.