segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Nonato Freire



Nonato Freire é ator. Participou de longas como ‘Nem Tudo é Verdade’, ‘Cidade Baixa’ e do curta ‘Doido Lelé’.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Não só no cinema brasileiro e sim no cinema internacional. O curta-metragem é a primeira possibilidade de um realizador ter contato com uma câmera, uma equipe, um roteiro, enfim, o universo do cinema. Tenho acompanhado, desde o seu nascimento, o projeto ‘Revelando os Brasis’, pra quem não sabe, esse projeto foi criado por Orlando Senna, durante sua gestão como Secretário do Audiovisual do Minc e atende cidades brasileiras com menos de 20.000 habitantes. Alguns realizadores já partiram para seus primeiros longas e muito em breve teremos novos cineastas reconhecidos pelo talento e pelo despertar do sonho de um dia ter conseguido realizar seu primeiro curta.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Antes da exibição de um longa nas salas dos cinemas, por exemplo.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Assim como o Canal Brasil outros canais poderiam dar espaço para nossos curtas. Alguns festivais brasileiros e internacionais já adotaram os curtas-metragens como mostras competitivas (vide Vitória Cine Vídeo e Goiânia Mostra Curtas).

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que não, ou melhor, nunca ouvi esse comentário.

Você já atuou em vários curtas. Como é o seu processo de escolha destes trabalhos? Como é a composição do seu trabalho?
Apenas atuei em alguns. Em todos os trabalhos que fiz, fui convidado por amigos que gostam do meu trabalho, seja produtor ou diretor. O único trabalho que fiz e nunca ví, foi "Anônimo e Incomum", de Rogério Sganzerla, vídeo sobre o artista plástico português, Manuel da Silva Oliveira. Gosto muito de compor um personagem, é o que me estimula, fazer alguma coisa fora do meu foco, do meu cotidiano. Acho que foi Leonardo da Vinci que disse: "Arte é um gesto de fé, uma possibilidade de estar mais perto de Deus". Sinceramente, é tudo que gostaria!

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Acho que gostaria, sim!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Alex Moletta



Dramaturgo, roteirista e diretor. Formado pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul, escreve para teatro, cinema e História em Quadrinhos. É fundador da Companhia Fatídicos de Teatro e Audiovisual na cidade de Mauá, no ABC Paulista.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Penso que o curta-metragem, e sobretudo a vídeo produção independente no Brasil, serviram de escola para realizadores que não tinham acesso aos meios de produção cinematográfica, até então, e viram neste formato a possibilidade de explorar linguagens inviáveis para se produzir com película. Os primeiros equipamentos de videotape começaram a ser importados, por entusiastas da nova tecnologia, e disponibilizados aos artistas plásticos e aspirantes a cineastas que utilizavam a câmera de vídeo como suporte para novas formas de linguagens artísticas e performáticas, dando voz a camadas excluídas da sociedade por meio de documentários em vídeo. Um grupo que marcou bem esse processo de transformação do audiovisual brasileiro no anos 80 foi o “Olhar Eletrônico”, formado por artistas como Marcelo Machado, Fernando Meirelles, Renato Barbieri, Paulo Morelli e Marcelo Tas.

O grupo “Olhar Eletrônico” começou realizando vídeos de curtas metragens (com três ou quatro minutos de duração) nos quais experimentava uma linguagem de extrema concentração e explorava de maneira inventiva aquilo que os americanos chamam de machine-gun (corte-metralhadora), uma técnica de montagem acelerada, com planos bastante breves e cortados em ritmos sincopados, introduzidos no Brasil por um pioneiro da videoarte, Roberto Sandoval, podemos observar que o resultado desse processo se revela no filme “Cidade de Deus” do mesmo Fernando Meirelles, com sua agilidade nos cortes das imagens e dinâmica de narrativa cinematográfica, que influenciou vários outros filmes posteriores e vai continuar influenciando.

Dessa forma, podemos perceber apenas um fragmento da importância da produção de curtas-metragens e de vídeo produção independente no cinema brasileiro, creio, sem sombra de dúvida, que esses formatos de produção audiovisual (vídeo de curta-metragem) serão responsáveis pela formação artística das novas safras de roteiristas, diretores, montadores e produtores do cinema nacional.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Hoje há muito mais espaço nesses veículos para o curta-metragem que antigamente. O curta-metragem sempre esteve relacionado à experimentação, boa parte dos primeiros trabalhos de curtas-metragens em vídeo nas décadas de 70 e 80, em virtude dessa liberdade de linguagem, eram vistos somente como obras videoarte, despertando pouco interesse da mídia direcionada ao cinema. Essa visão de que curta-metragem é só uma “experimentação” não existe mais, apesar do curta ainda servir como o melhor instrumento para “experimentar cinema e a arte” e mesmo tendo um movimento cada vez mais consistente com obras de videoarte e videoinstalação, o curta-metragem hoje é visto como obra cinematográfica, com espaços maiores de divulgação em festivais tradicionais de cinema e com milhares de mostras e festivais exclusivos para curtas-metragens no Brasil e exterior. Esse espaço na mídia especializada em cinema ainda não é o ideal, mas com a importância da internet na produção audiovisual e a crítica se alimentando cada vez mais da internet para pensar a arte, este espaço para o curta-metragem só tende a crescer.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Como está já sendo feito hoje: pela internet. Nunca houve, na história da arte, um espaço tão democrático e eficiente como a internet. Qualquer realizador, em qualquer lugar do mundo, pode realizar uma obra audiovisual de curta-metragem, postar na internet e este trabalho ser exibido no mundo todo! Aquele realizador que não tinha acesso aos meios de divulgação tradicionais, pode contar com o efeito multiplicador da rede mundial de computadores.

Um curta-metragem que seria visto normalmente por cem, duzentas pessoas, pode ser assistido por milhares. Quando a obra tem uma visão de mundo interessante, é narrada de forma eficiente e possui uma experiência humana, seu público será exponencialmente multiplicado, pois na internet quem assiste e gosta indica para seu amigo, que se também gostar vai indicar para outros e assim a divulgação “boca a boca” faz o sucesso do trabalho, que muitas vezes, acaba ganhando espaço fora da rede, na TV aberta e na mídia em geral. Portanto creio a exibição de curtas pela internet é a forma mais eficiente de divulgar uma obra audiovisual sem grandes custos e sem depender dos mecanismos tradicionais e onerosos de divulgação. Principalmente num momento de convergência da internet com a TV Digital, onde o conteúdo de uma interfere na outra.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É possível sim. Muitos desses cineastas são chamados também de curta-metragistas. São artistas que se dedicam exclusivamente à criação e realização de curtas-metragens por opção artística ou de logística. O formato curto no audiovisual reduz consideravelmente o tempo de gestação e realização de uma obra, também possui proporcionalmente um volume menor de investimento financeiro e humano. Enquanto um longa demora um, dois, três anos ou mais para ser realizado, um curta-metragem pode demorar apenas um, dois, três dias. Esse fator é decisivo para artistas que não querem esperar mais de um ano para começar a construir sua história na tela. É uma excelente forma de se “aprender a fazer cinema”, imaginemos a situação dificílima, em que muitos cineastas já passaram, de aprender dirigindo um primeiro longa-metragem, com a responsabilidade de milhões de reais em orçamento, contratos de distribuição e divulgação, centenas de profissionais envolvidos, sem nunca ter feito nada antes, apenas um aprendizado teórico? Esse é um dos grandes motivos dos diretores começarem suas carreiras dirigindo curtas-metragens, ganhando experiência, aprendendo a lidar com todo o aparato técnico e a se relacionar com os demais profissionais que uma produção audiovisual de grande porte exige. Nesse sentido o curta-metragem é um ótimo trampolim para quem sempre sonhou em dirigir um primeiro longa.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Creio que já foi, hoje em dia, não mais. Um diretor que realizou curtas-metragens que ganharam destaque em mostras e festivais é tratado como um diretor como qualquer outro pelos cineastas, porque o meio profissional audiovisual sabe da importância da produção de curtas-metragens para a arte do cinema, talvez o reconhecimento de crítica e público sim, ainda marginaliza pelo fato tradicional do longa ser exibido nas salas de comerciais cinema e o curta não. Como não há espaço para exibição nas redes de cinemas comerciais, ainda há essa distinção entre um diretor de longa-metragem ou de curta-metragem, talvez por esse motivo o curta-metragem ainda fique “à margem” do circuito tradicional de cinema.

Pensa em dirigir um curta futuramente?

Estou trabalhando num projeto de um curta-metragem de animação com estética de HQ. Um roteiro que escrevi para história em quadrinhos que vou adaptar para animação. O curta vai se chamar “A Fuga” e conta a história de uma detenta, Lúcia, condenada por duplo assassinato, que tenta fugir da penitenciária feminina. Quem tiver curiosidade pode assistir um pequeno trailer no link: http://www.youtube.com/watch?v=PMl6v3GdT6k Para conhecer melhor meu trabalho acesse nosso site: www.ciafatidicos.com.br

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Pico Garcez

Produtor executivo de cinema. Produziu curtas como ‘Até a Eternidade’, ‘Lembranças do Futuro’ e ‘A Origem dos Bebês segundo Kiki Cavalcanti’

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Creio que o curta sempre foi um grande laboratório onde pode-se experimentar e descobrir a si próprio, não somente como diretor mas a equipe como um todo. Pessoas fazendo curtas acabam por estimular a outras mais a entrar no cinema, paulistas, gaúchos, cariocas, mineiros e pernambucanos são testemunhas disso. O que acaba criando uma geração de novos realizadores sempre.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Pois essa é sempre a questão: distribuição. Não há planejamento de distribuição forte, o que gera uma certa desilusão...a não ser a participação festivais no mundo todo e a Internet ,o curta passa para um publico que vai atrás dele.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Internet,TV aberta,aeroportos,aviões, táxis, elevadores, etc..

É possível ser um cineasta só de curta-metragem?
Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...Curta metragem é uma fase e também uma cachaça pra quem realiza.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não sinto isso. Pode depender de a qual grupo você se refere.

Você já participou da produção de diversos curtas (‘A Origem dos bebes segundo Kiki Cavalcanti’, ‘Lembranças do Futuro’, Expresso, A Morrer, Mala Sangre, Elipse etc.) O que te faz (e fez) aceitar entrar nessas produções? Quais as motivações?
As mesmas de sempre - não importa se é um documentário, curta ,longa , DVD ou série de tv/internet – quando se faz se faz por uma razão maior .... com o coração nas mãos, paixão!

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Se alguém tiver um bom roteiro, por que não? Mande e vamos conversar.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Murilo Hauser



Diretor de cinema. Já dirigiu mais de sete curtas, entre eles "Outubro", "Entre Cão e Lobo" e "Montanhas não são Elefantes".

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Eu não saberia dizer a importância histórica do curta-metragem no Brasil, não sou a pessoa certa pra responder isso. Mas acho que o papel dele é muito parecido em países em que a produção de cinema é inconstante e em que a formação de profissionais não é acadêmica. Isto quer dizer que, no Brasil, especificamente, na época em que o cinema passou por sua fase mais difícil, antes das leis de incentivo, praticamente a única forma de produzir era fazendo curtas-metragens. O exemplo mais conhecido disto é o famoso ‘Ilha das Flores’ de Jorge Furtado, que conseguiu injetar vitalidade em toda uma geração de cineastas e consolidar uma linguagem de cinema, tanto que é um filme exibido e copiado até hoje. No meu caso, que não estudei cinema na faculdade, o curta-metragem serviu e serve como aprendizado e formação profissional mesmo, além de ser um campo vasto para experimentação de linguagens. Na produção de curtas metragens também é mais fácil transitar por funções diferentes, oferecendo uma visão mais completa do processo de produção de cinema, o que é absolutamente fundamental para quem quer dirigir filmes. Imagino que o meu processo de aprendizado seja muito parecido com o de muita gente que faz cinema no Brasil hoje em dia.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
A grande questão é o fato dos curtas metragens não moverem dinheiro, não gerarem nenhum tipo de lucro. Então eles não tem espaço na mídia ou nos jornais, evidentemente. O espaço de mídia é movimentado por interesses econômicos, e os curtas-metragens não se inserem neste contexto. Enquanto não houver uma maneira de distribuição consistente de curtas metragens eles nunca estarão neste circuito de jornais e revistas comerciais.Mas, pensado de outra maneira, os curtas tem cobertura sim, mas por meios alternativos. E o curta metragem sempre foi alternativo, nunca se tornou mainstream. Existem uma série de sites, blogs, revistas online e impressas que cobrem os festivais de cinema de curta metragem, que fazem entrevistas com realizadores e que discutem a produção e seu conteúdo. Afinal, você entrou em contato comigo pra fazer esta entrevista, não?

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Existem alguns programas de distribuição de curtas metragens que poderiam dar certo, como o que existiu no Brasil algum tempo atrás de exibição de curtas antes dos longas metragens, por exemplo. A Petrobrás também tem sessões de curtas nos cinemas comercias, apesar de elas não terem uma grande procura são importantes. Outra opção seria exibir filmes curtos em aviões, apesar de eu achar que este meio restringe muito o tipo de filme e as condições nas quais a pessoa pode absorver o conteúdo do filme.Ainda acho que a saída, hoje em dia, é distribuir os filme online. É possível ver um filme com qualidade de som e imagem na internet, o que falta é descobrir uma maneira disso gerar algum lucro para o realizador.

Existem alternativas legais também como o www.shortfilm.com, um site alemão no qual você pode baixar o arquivo de DVD pra gravar e ver os filmes na sua televisão, com uma qualidade melhor.

São iniciativas diferentes que movimentam os filmes, eles precisam de pessoas capazes de criar e produzir estas outras alternativas, sabe? Por exemplo, meu último curta metragem,o Silêncio e Sombras, foi visto por mais de 50.000 pessoas já - isto é muita gente! tem uma porrada de longas metragens que não chegam a 5.000 espectadores. E isso foi possível por causa de um trabalho intenso de distribuição que eu fiz, mandando pra festivais, pra mostras, cineclubes...Ele passou agora em outubro no Dia Internacional da Animação, e foi exibido, no mesmo dia, em mais de 400 cidades no Brasil - teve uma resposta incrível, muita gente entrando no site, mandando emails. Acho que sempre tem um jeito de encontrar o público certo, sabe? É só uma questão de trabalho mesmo.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Claro que é possível, assim como existem autores que só escrevem contos ou poesias. Não é obrigatório escrever um romance, por exemplo, para se tornar um escritor. É claro que, no cinema, por movimentar muito dinheiro e muita gente, isto se torna um pouco mais difícil - quero dizer que um contista pode lançar um livro de contos, mas um diretor dificilmente lançaria um filme para ser exibido em circuito comercial composto de vários curtas (se bem que a idéia é ótima - como o Paris Je T'aime ou agora o New York, I Love , por exemplo). A linguagem do curta é única, própria - não necessariamente uma derivação do longa metragem não. Em um curta há muito mais liberdade narrativa, por exemplo, e muito menos compromisso comercial, é claro. Isto faz com que ele seja um campo aberto para tentativas e erros, para iniciativas descentralizadoras e, muitas vezes, absolutamente originais.Eu tento sempre experimentar pelo menos em um departamento de produção de cada curta que eu produzi até hoje. Ou é na fotografia, ou na interpretação dos atores, ou no roteiro, na edição...as vezes em todos juntos, porque não?

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não acredito que seja marginalizado não. Acho que ele tem um formato difícil de circular, fica muito restrito aos festivais de cinema. E, como nos festivais de cinema a maioria da platéia é formada por gente que trabalha com cinema, os filmes sofrem um pouco por essa falta de contato com o público mesmo, com as pessoas que vão ao cinema pra experimentar um filme por completo, sabe?

Outra coisa é que o curta-metragem, por ser uma forma mais fácil de produzir, muitas vezes até sem dinheiro algum, em digital, com um celular, editando em casa, acabou baixando a qualidade de produção (estou falando da qualidade das idéias, não da qualidade técnica). Não estou dizendo que sou contra democratizar a produção não, muito pelo contrário - acho isso ótimo e, confesso que uns dos filmes mais interessantes que eu vi nos últimos festivais nos quais fui eram os mais simples. Mas isso pode, muitas vezes, fazer com que algumas pessoas que não tem nada pra dizer pra ninguém acabem fazendo um filme só porque estão ali, com uma câmera e um computador. E isso sim me afasta do cinema, sabe? Ver um filme que não interessa pra ninguém fora o cara que fez, repetindo fórmulas, sendo óbvio, fazendo coisas que a televisão já faz o tempo todo, entende? O cinema tem que ser vivo, tem que ser pulsante, tem que te fazer pensar, te fazer ver as coisas de um jeito diferente, não? Caso contrário, bem, daí tanto faz...

Mas, como eu respondi acima, sempre tem um jeito de valorizar e divulgar o seu trabalho, e sempre tem gente pensando e produzindo com muita qualidade, com vitalidade.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Estou sempre pensando em dirigir um curta, isso passa pela minha cabeça quase que diariamente. Acho que o tempo que passei até hoje trabalhando com curtas me dá um certo fôlego pra começar um projeto e saber me orientar dentro dele com mais calma, com mais objetivo. No começo era tudo uma grande aventura na qual eu não conseguia visualizar com clareza para onde estava indo, era uma fome imensa de me comunicar, de realizar; agora eu consigo ser um pouco mais racional quando isto é importante, e, no cinema, isto é importante quase que 50% do tempo. Então tenho muita vontade de produzir porque tenho esta ambição de fazer um processo que seja 'perfeito', entende? Que a idéia esteja alinhada com a equipe e com o elenco, em que eu consiga alcançar os objetivos criativos com menos esforço, de maneira mais clara. Um projeto em que todos estejam envolvidos positivamente com o processo e com o resultado, em que a comunicação com o público aconteça, um filme que importe para as pessoas que o vejam tanto quanto importou para as pessoas que o fizeram.No momento estou finalizando um curta-metragem de animação no qual estou trabalhando há 2 anos e que é um projeto muito importante pra mim. É minha segunda parceria com o Henrique Martins e com o Frederido Machuca, e sinto que aprendemos muito desde que começamos a trabalhar juntos, há quase 7 anos. O filme se chama "meu medo" e estou muito envolvido no processo de finalização, que é, em animação, aonde você entende muito do que foi feito neste tempo todo de trabalho. Quando as peças todas se encaixam e você vê o resultado de muita pesquisa e dedicação é mesmo emocionante. A previsão é lançá-lo em março do ano que vem e começar o circuito de festivais.

Fora este filme tenho dois outros projetos de curta metragem em desenvolvimento: "olhos mortos de sono", que é mais uma parceria com o Henrique e o Frederico, mas que ainda está em fase de captação e sem previsão para começar, e outro curta metragem com uma nova parceria, este ainda em fase de criação e pesquisa, mas que é um projeto que tem me interessado muito e ocupado boa parte do meu tempo de trabalho criativo.

E, finalmente, tenho um longa metragem em fase de roteirização que já está em negociação para produção. Esperamos começar a produzir o filme ainda no ano que vem, mas isto depende muito de como vai ser o ano para captação de verbas. De qualquer maneira é o meu foco principal agora, me dedicar a escrever o primeiro tratamento do roteiro. É absolutamente excitante o processo de escrita, algo que sempre me interessou muito e que requer muita dedicação e energia. Mas é muito importante pra mim, este tempo que eu preciso pra colocar todas as idéias que eu vou acumulando ao longo do tempo no papel, de forma organizada e coerente. Pensar em linguagem, em referências, no que eu acredito no cinema (e na vida). Estou realmente feliz com estes projetos - lembro que quando comecei a fazer cinema as pessoas sempre me perguntavam se eu esperava viver disso, e hoje eu trabalho unicamente com arte, e isto é um grande motivo de orgulho pra mim.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Tuna Dwek



Tuna cursou Ciências Sociais na PUC-SP e Université Paris I Panthéon –Sorbonne. Atriz formada pela EAD- Escola de Arte Dramática/USP é também escritora e tradutora.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
A de que na impossibilidade financeira ou política de se produzir um longa, o artista não deixe de se manifestar e realizar sua obra. Antecipando a resposta à quinta pergunta, não vejo o curta como trampolim para fazer um longa, e sim resultado de uma urgência de se comunicar, de contar uma história, de exercer sua atividade. Muitas vezes o cineasta não tem os meios para fazer um longa, outras vezes, o que ele escreveu se destina a um curta. O curta não é um longa menor e sim a expressão de um desejo, de uma idéia e de um projeto em formato mais reduzido, mas o vejo como uma obra inteira, com início meio e fim e não como ensaio para um longa. Um cineasta que só realiza curtas pode ser uma opção. É possível que ele se realize dessa maneira independentemente se fará um longa no futuro.

O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
O talento, o frescor, o espírito de síntese e a contundência de um curta. Seja drama seja comédia, o curta exige uma concentração que me atrai Ir direto ao ponto, dosar emoção e razão, transformar pensamento em ação sem esquecer um aspecto lúdico, poético que me tem atraído nos curtas. Por exemplo tenho prazer em participar de curtas realizados tanto por profissionais quanto por estudantes de faculdade de Cinema e embarcar em projetos que vem imbuídos de vontade de fazer, de perseverança e prazer.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Se você observar de perto, não são somente os curtas que tem perdido espaço na mídia em geral. As manifestações culturais vêm sofrendo uma seleção muitas vezes aleatória.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Tenho visto um interesse crescente nos últimos anos em relação aos curtas . Veja o festival internacional de curtas da Kinoforum que lota as sessões. Exibir obrigatoriamente curtas antes do filme pode mais irritar do que atrair. É importante ter qualidade para ser apresentado , isso é mais eficaz do que a propaganda frenética ou campanhas como se o curta fosse um produto menor. O curta tem tanta dignidade quanto qualquer obra em outro formato. O que difere uma obra de outra é a qualidade, o acabamento, como qualquer produto cultural ou não. Nem tudo é uma obra de Arte.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acredito que sim. tenho o maior respeito pelos curta metragistas e se o cineasta achar que conta suas histórias em formatos mais curtos, isso não tira sua contundência. Não concordo que o curta seja trampolim. Pode ser ensaio e aprimoramento para obras futuras.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não saberia responder por não ser cineasta. Como atriz não vejo esse preconceito, repito se tiver qualidade, o respeito vem.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não tenho essa pretensão. Respeito quem estudou cinema! é preciso conhecer profundamente, técnica, elaboração de um roteiro e direção. Gosto de fazer direção de atores, mas dirigir um curta me pareceria pretensão por não ter preparo. Eu poderia contar uma história, um argumento a um cineasta e ele dirige, mas eu mesma não me sinto capaz. Há histórias que gostaria de ver dirigidas, livros que dariam lindos curtas, mas sou atriz e gosto muito de ser dirigida.

Qual é o seu próximo projeto?
Faço parte de três projetos para 2011. Em Teatro e Cinema em fase de captação de recursos e em TV farei uma participação em novela, mas até assinar o contrato não me atrevo a afirmar. E acabo de participar de um curta realizado pelos alunos formados este ano pela Faculdade de Cinema da FAAP, como TCC.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Maurice Capovilla



Maurice trabalhou na Cinemateca Brasileira, participando da organização de festivais de cinema. Representante da linha mais engajada do Cinema Novo dirigiu seu primeiro curta em 1962, ‘União’ e em 1963 fez ‘Meninos do Tietê’.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta-metragem foi um exercício de formação para os cineastas da década de 60 que começaram a fazer cinema. O ponto de partida foi uma série de curtas que surgiram nesse período, entre os quais, "Aruanda", de Linduarte Noronha, "Arraial do Cabo" de Paulo César Saraceni e Mário Carneiro, "Couro de Gato" de Joaquim Pedro de Andrade e que culmina com "Cinco Vezes Favela", uma reunião de cinco curtas que se transforma num longa metragem. A partir daí, sempre o documentário está na origem dos currículos da maioria dos cineastas desse período.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
O Curta não é visto como um produto comercial, portanto não se exibe nas salas tradicionais e por isso não é reconhecido pela crítica. O Curta, seja documentário ou ficção, abre espaço para a experimentação e a pesquisa de linguagem, por isso, no Brasil, é identificado como um produto cultural sem valor comercial. Fora do Brasil no entanto o Curta Metragem tem o seu espaço, em mostras, festivais e na televisão.

O senhor foi representante da linha mais engajada do Cinema Novo, dirigiu o curta ‘União’. Conte como foi filmar ‘União’ seu processo de criação, produção, direção.
União foi resultado da minha militância no CPC de São Paulo. Os Centros Populares de Cultura do Rio e de São Paulo eram diferentes. No Rio era comandado pela UNE, em São Paulo pela UEE, na época dirigida pelo José Dirceu. Em São Paulo o CPC, que se reunia na Livraria Brasiliense, era constituído de três núcleos: o de teatro, artes plásticas e o de cinema. No caso do teatro era o Arena em peso com Guarnieri, Boal, Juca de Oliveira, Flávio Império e outros. O Núcleo de cinema era composto por Rudá de Andrade e eu, ambos funcionários da Cinemateca Brasileira. Nossa atuação era no Sindicato de Construção Civil onde montamos um cine-clube. A partir das reuniões do cine-clube surgiu a idéia de fazemos um filme para difundir, entre os operários, a função de um sindicato de trabalhadores. O ‘União’ na verdade é um filme didático que mostra, diante de um acidente de trabalho, a falta que faz ser sindicalizado. Utilizamos como atores um grupo de trabalhadores, filmamos em 16 mm. num prédio em construção na Avenida Paulista, cedido durante os fins de semana, pelo arquiteto da obra, Pedro Paulo de Mello Saraiva. ‘União’ era um filme amador feito por amadores. Foi exibido apenas uma vez e em seguida apreendido, apos uma greve, pelas forças de segurança que invadiram o sindicato.

Em 1963 o senhor fez ‘Meninos do Tietê’. Conte como foi filmar este curta, seu processo de criação, produção e direção.
"Meninos do Tietê" foi minha segunda experiência de realização. Fui financiado por um amigo, Victor da Cunha Rego, jornalista do Estado de São Paulo, que me proporcionou a oportunidade de filmar em 35 mm. O filme capta a vida dos meninos das favelas das margens do Rio Tietê e os confrontos que eles tinham com os soldados da PM que faziam o policiamento no local. Não considero um projeto feliz, pois a tanto câmara pesada quanto a falta do som direto, resultaram num filme um tanto forçado, sem a espontaneidade que se espera de um documentário.

Com produção de Thomas Farkas, o senhor dirigiu, em 1964, o documentário ‘Subterrâneos do futebol’. Ele pode ser considerado um curta? Se sim, como foi trabalhar neste filme?
"Subterrâneos dos Futebol" já é um média-metragem, com 30 minutos, filmado em 16mm e já em som direto. Esse filme foi realizado juntamente com outros três produzidos pelo Thomas Farkas e que são: ‘Viramundo’, de Geraldo Sarno, ‘Nossa Escola de Samba’, de Manoel Horárcio Gimenez e ‘Memõria do Cangaço’, de Paulo Gil Soares. O ‘Subterrâneos’ já era uma idéia antiga de documentar os bastidores do esporte mais popular do Brasil. Minha idéia era tentar revelar o que está por trás daquele jogo de 90 minutos, penetrar pelos bastidores daquele palco e daquela platéia para mostrar quem lucra com aquele espetáculo. O filme chega numa meia verdade. Peregrinamos com a câmera durante todo o campeonato paulista de 64 e mostramos muita coisa que nunca tinha sido objeto de um olhar documentarista fundo do poço não deu para chegar. Mas a estrutura de exploração continua funcionando cada vez melhor.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Hoje está difícil ser um cineasta de longa, no sentido da sobrevivência, quanto mais de curta. O curta sobrevive hoje, em grande quantidade de produção, graças à simplificação dos equipamentos técnicos da era digital, os editais de apoio ao curta e as escolas de cinema espalhadas por algumas capitais que estimulam a produção de curtas pelos alunos. 

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não se pode dizer marginalizado, melhor ignorado pelos cineastas "maiores de idade". Podemos dizer que o curta está na infância do cineasta... no sentido da pureza... quando ele chega à idade madura ele pensa que o curta ficou no primeiro ano do primário. Não é bem assim. Cineastas importantes como Joris Ivens, desde a década de 20 até os anos 70, depois de ser considerado um dos mais importantes documentaristas da época, nunca deixou de realizar curtas sem prejuízo.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Quem sabe? Porque não?