quarta-feira, 13 de julho de 2011

CURTA PASSIONAL - Carlo Mossy


O CURTA-METRAGEM

Olá turma do elementar foco dinâmico e do confundível diafragma cinematográfico. O meu eventualmente despropositado currículo fílmico, que me indica como sendo ator, produtor, roteirista e diretor, acusa cúmplice, 62 filmes, (caraca!) entre longas, curtas e, forçosamente, especiais às TVs. Quarenta e cinco anos visceralmente celulóidicos, (uma vida altiva escondido em latas semi enferrujadas) que serão comemorados de forma singela, filosoficamente íntima, talvez solitária a dois, e sem as estrambóticas festanças costumeiras que regem permeáveis e assimétricas esse pretensioso dia de 25 de julho, o que pode pressupor, talvez, um grandioso conjunto à soberba obra desse escritor-anfitrião sessentão. Nada disso. Apenas um ridículo existencial à obra audiovisual, denominada como sendo... vida/filme.

Quando alguém me diz convicto que se formou num curso de cinema, teatro, ou em qualquer outro departamento lúdico, digo artístico, ostentando orgulhoso um diploma de papel-couchê carimbado com o nome do curso e assinado pelo diretor do mesmo, sorrio à festiva convicção demonstrada, e arguo imediatamente, dizendo que, ninguém, mas ninguém mesmo se forma em absolutamente nada, apenas estagia a tudo. À única coisa que podemos dizer que nós nos formamos de fato, de fato, seria à vontade de sermos reconhecidos por algo que criamos subjetivamente à nossa concepção intelectiva, mesmo sendo, o que alguns podem considerar sendo uma grande merda. Quaisquer fotogramas criados são exponencialmente dadivosos.

O preciosíssimo elemento do curta-metragem representa um verdadeiro trampolim aos jovens realizadores talentosos e plenos de esperança. Obviamente, o curta requer muito menos investimentos que um longa, por essa razão, muitos diretores consagrados de longas iniciaram seus trajetos fílmicos através dos abusados curtas. (Spielberg, Godard e muitos outros). E, da mesma forma que a literatura romanesca exige de seus escritores um exaustivo trabalho de imaginação e paciência, o curta-metragem exige igualmente um conjunto de fatores que o obrigam a utilizar-se à forma, em romanesco princípio, como se fora um longa, só que com uma duração menor.

É nesse específico formato, o de curta-metragem, é que são desenvolvidos nas escolas famosas e de maior realce os filmes de animação, experimentais, documentários realistas, ficcionais, românticos, e o cinema de juvenil de ideológica militância. Qual é a da vossa categoria?

Aliás, o curta-metragem, não serve apenas como trampolim para os longas, mas sim, pode se tornar uma obra personalíssima e intransferível. Uma obra completa. Única. Na minha humilde porém experimentada opinião de um cara todavia "porreta" e jamais mentalmente aposentado, o formato de um curta o torna decisivo por si mesmo como tal, e deve ser pensado e realizado pelo assunto previamente autotratado, elaborado e dignificado sem medo dos preconceitos elitistas contrários. Dar-lhe importância contextual e glorificá-lo pelo seu subjetivo conteúdo, eis o código. Ousar e manipular mentes e corações através de sua obra, eis o outro código.

O fantástico e intuitivo universo do curta é específico naquilo que eventualmente o faz objeto de uma criação, sua criação particular, quero dizer com isso, que, não raras vezes, com pouco investimento, entre amigos que colaboram, uns com o empréstimo de uma locação (apartamento, barraco, casa ou mansão), outros com a comida e transporte, (mesmo que sanduíches de mortadela, canapés de caviar e bicicletas), outro com a câmera e a luz, enfim, numa camaradagem passionalmente cinéfila, realiza-se um belo filme. E mesmo que ele não gere receitas nos cinemas, (o que é (a)normal), sua exibição em cineclubes e festivais, atraindo curiosos espectadores fanzocas do seu comportamento contextual audaz, o curta faz as honras de seus realizadores e dos afins. Eu tô dentro!

Carlo Mossy é diretor, ator, produtor, roteirista de cinema e colunista do blog Os Curtos Filmes.