sexta-feira, 15 de julho de 2011

Sandra Kogut



Sandra é especializada em video-arte e documentários, seu trabalho é caracterizado por experimentos de edição não-linear, abordando temas que visam criar alguma intervenção no espectador, em relação a questões sociais. Dirigiu filmes como ‘Mutum’ e ‘Um Passaporte Húngaro’.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Nos anos 80 a lei obrigava os cinemas a passarem um curta antes dos longas e isso criou uma visibilidade importantíssima para quem estava começando a fazer cinema. Surgiu uma atenção renovada em cima de uma geração que estava chegando. Historicamente os curtas representam um lugar da experimentação, da novidade, dos riscos. Em geral são feitos por jovens e a própria economia do filme torna mais possível arriscar. Além disso existem menos regras e dogmas, também em função da curta duração. Tudo isso faz com que muitas vezes os curtas sejam um sopro de ar novo.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Talvez as pessoas confundam o fato dos filmes terem uma duração pequena com eles serem obras “menores”. Não é nada disso. E apenas um outro formato, com a vantagem de ser bem menos formatado. Ter menos pressão e obviamente mais liberdade. Então, ao contrário, os curtas podem ser (e muitas vezes são) um caldeirão fervendo de novidades. Deveriam receber muita atenção. Mas para isso eles precisam aparecer em algum lugar, ter possibilidades de serem exibidos, vistos, chamarem a atenção.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Hoje em dia as possibilidades de exibição são tantas e tão variadas. Tenho certeza que se algumas pessoas se juntassem para pensar sobre isso milhões de idéias possíveis surgiriam. Deveria se organizar um grande debate sobre o assunto, e convidar pessoas que pensam e fazem isso há anos, como o Ailton Franco por exemplo.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Possível artisticamente é com certeza. O problema é que as pessoas entram numa economia de mercado, e o curta não tem uma economia da qual se possa viver. Mas isso artisticamente é uma tragédia. Da mesma maneira que muitos cineastas não deveriam estar fazendo um longa após o outro, porque não tem tanto assim a dizer. Mas quando se entra num plano de carreira, os filmes se tornam peças nessa engrenagem, e a máquina tem que andar pra frente. Por existe um excesso de filmes no mundo, muitos deles não precisariam ter sido feitos. Os melhores curtas são aqueles que são curtos porque o filme pede esse tamanho, é uma decisão orgânica, que vem de dentro do filme. Senão eles viram uma espécie de amostra grátis de um filme longo que não existe, ou um cartão de visitas meio caro para o diretor. Aí sim, o curta vira uma coisa “menor”.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não sei. Para alguns talvez. Mas tendo a achar que não. Todo mundo reconhece ali um terreno fértil para a criação. E muitos cineastas estabelecidos voltam a fazer curtas em algum momento. Porque se tem vontade de dizer algo curto, que pede aquela formato, de trabalhar de outro jeito. Conheço muita gente que faz ou está fazendo isso, paralelamente aos longas.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Por que não?