quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Adilson Ruiz


Curta nas telas ou A hora e a vez dos curtas-metragens

Artigo de Adilson Ruiz 

Como se define o curta-metragem? Quais os caminhos para ampliar a distribuição de conteúdos audiovisuais de curta duração? 
Essas são algumas das perguntas que pautam as discussões de realizadores de curtas-metragens no Brasil atualmente. Diferentes olhares, origens e repertórios criam uma diversificada gama de opiniões a respeito desse tema, o que demonstra, entre os realizadores, produtores, exibidores, teledifusores, portais de Internet e empresas de telefonia a necessidade de que o conceito para definir uma obra de curta duração seja revisto imediatamente. 

A ideia de que um filme curto deve ser uma obra ficcional ou documental, de caráter estritamente autoral, com cerca de 15 minutos de duração, para ser exibida no circuito de salas de cinema, já não atende mais aos desafios do presente. Outro aspecto fundamental que se apresenta ao pensar no formato audiovisual de curta duração relaciona-se à oferta de obras. O Brasil é hoje um grande produtor de curtas-metragens no mundo. Não temos disponíveis pesquisas consistentes para assegurar exatamente o volume atual desta produção, mas arrisco estimar que seguramente são produzidas, no mínimo, cerca de 700 obras de curta-metragem por ano no Brasil. 

O financiamento dessas obras proveem de diversas fontes, disseminadas em quase todo o território brasileiro: inúmeros editais de fomento à produção em órgãos públicos federais, estaduais e municipais; escolas de formação audiovisual espalhadas em todo o território nacional, responsáveis por um grande número de obras de curta duração; projetos de formação audiovisual dos programas sociais do terceiro setor – outro grande fornecedor de curtas metragens; e, finalmente, a enorme disseminação de aparelhos de captação e tratamento digital de imagem e som, à mão da maioria dos usuários de computadores e telefones celulares, o que faz com que brote, de forma espontânea, inúmeras obras dos mais diversos formatos, gêneros e duração, que contribuem para esse quadro de abundância de produtos. 

A janela do cinema não é mais a única, nem mesmo a mais importante via de comunicação da produção audiovisual com o público em qualquer formato de duração. A convergência digital aproximou os processos de produção audiovisual e criou inúmeras possibilidades de circulação e consumo desses conteúdos, e as obras de curta duração tornaram-se os produtos mais visados pela cadeia de difusão comercial de conteúdos audiovisuais. 

Para as emissoras de televisão, principalmente para a cadeia de emissoras do campo público, além de programas dedicados aos filmes de curta-metragem, as obras de curta duração são muito versáteis no processo de ajuste da programação. Para além dos filmes comerciais, utilizam, cada vez com maior frequência, micro-metragens e interprogramas, que variam de 30 segundos a dois minutos de duração. São obras de grande interesse público com temas relativos ao meio ambiente, cidadania, esportes, aspectos históricos e turísticos, entre outros. 

Portais como o Curta-o-Curta, Porta Curtas, Blopix e Elo Company, dedicados à distribuição de conteúdos de curta duração, oferecem um cardápio de opções e de gêneros aos mais variados segmentos de atividades. São programas para apoio didático em escolas de primeiro, segundo e terceiro graus, para circuitos internos empresariais, companhias aéreas, estações, trens metropolitanos, terminais de ônibus e toda a sorte de circuitos fechados de televisão. 

Segundo os executivos da M1ND, empresa que desenvolve tecnologia para acesso de TV em telefonia móvel, um dos segmentos em mais rápida expansão no momento, o tempo de acesso de um usuário de TV por telefone é, no máximo, de oito minutos consecutivos. 

As empresas de telefonia móvel, por sua vez, buscam estimular cada vez mais a produção de conteúdos que possam ser oferecidos aos seus milhões de clientes. A Claro, por exemplo, tem realizado anualmente o Claro Curtas um certame voltado à produção com e para celulares, premiando os mais interessantes e criativos filmetes de um minuto. Na sua última edição, em 2010, foram inscritos cerca de 1900 produtos. A Oi vem patrocinando, desde 2008, junto a outras entidades, o CEL-U-Cine – Festival de Micro-metragens, revelando novos realizadores de obras para telefonia móvel com até três minutos de duração. 

Enfim, os conteúdos de curta duração ocupam hoje um lugar privilegiado no mercado audiovisual nacional e internacional. Resta aos atores da cadeia produtiva desse tipo de conteúdo ocupar, de maneira organizada, eficiente e criativa, a janela de oportunidades que este momento, de rápidas e profundas transformações, oferece. 

Adilson Ruiz: Cineasta, professor de Cinema e Audiovisual da Unicamp, Adilson Ruiz é consultor de Programas e Projetos Audiovisuais. Foi coordenador de conteúdo do Seminário Curta & Mercado, em São Paulo, em agosto de 2010, que tinha como objetivo a discussão sobre a comercialização de conteúdos audiovisuais de curta duração. 

Este artigo foi publicado no Portal SESC SP.