quinta-feira, 11 de agosto de 2011

CURTA PASSIONAL - Carlo Mossy


MAIS SOBRE O CURTA-METRAGEM

O curta-metragem é uma obra indivisível, única e singular, e não deve ser tratada como sendo apenas o inquestionável aperitivo (trampolim) de um longa. No meu mais humilde ponto de vista de cineasta experimentado e conseguintemente maturado devido aos meus quarenta e cinco anos viscerais de cinema existencial, quarenta e cinco anos que emolduram cada plano –às vezes desfocado- do meu eu fílmico, independentemente do gênero de fita em que atuei e ou realizei como cineasta passional, o curta, pra mim, sempre teve o sabor e significado de uma obra à parte, contexto e regra artisticamente subversiva, docemente ácida, delicadamente perversa e, last but not least , transgressora (pois é preciso ser e se tornar anticonvencional para ser e se tornar um curta-metragista). 

Serão sempre necessários à entusiástica primazia fílmica, elementos quiescentes que possam conduzir a famigerada estética da hora e o necessário timing, numa generosa colheita de expressões e sons, através da ousada sensibilidade explícita de uma câmera inteligente; uma câmera humana que se mova vivaz, ou, conscientemente acinética, mas jamais passiva; câmera que se alimenta captando vigorosas cenas de fotogramas advindos de curtas ou de longas, captados em dadivosos segundos contextuais. 

Serão esses os compassíveis fotogramas à legítima pessoal arte, fotogramas irrepreensíveis no seu conteúdo audiovisual, arte maior agregada à mágica teimosia de quem ama, adora, venera, respira e vive o cinema, de verdade, seja modernamente digital ou tradicionalmente celulóidico? 

Filme de Celular? Vale, não faz mal que seja uma fita hollywoodiana ou que represente a “carencialidade” tupiniquim de nossos sentimentos gloriosamente tupiniquins, pois cada fotograma capturado, revelado e editado representa o subjetivo poder de cada qual que se dispõe ser curta-metragista. 

O famigerado curta, pedra preciosa a ser lapidada, ocupa um lugar privilegiadíssimo no cinema brasileiro e mundial, garantindo não somente a legítima renovação de gerações de cineastas, mas favorecendo as experimentações formais e ou desafetadas as mais diversificadas. Para muitos preconceituosos de plantão, invejosos, o curta manifesta o que seria o específico e o indispensável à juventude fílmica: a - óbvia-imaturidade, a fraqueza de conteúdo, a ausência do controle contextual. Visão preconceituosa, ofensiva e desprovida de maturidade cognitiva. Pra esses, o curta sempre foi catalogado como sendo a criança do cinema, mais propriamente a criança do cineasta; todavia pequenino para se atracar e confrontar com o longa, pois sem o fôlego necessário para tanto. Diz-se, que os primeiros curtas servem como aprendizado, rascunho de uma obra a acontecer. Não raras vezes, volta-se aos primeiros filmes de um grande cineasta pela curiosidade a fim de compreender a gênese de sua obra. 

Carlo Mossy é diretor, ator, produtor, roteirista de cinema e colunista do blog Os Curtos Filmes.