terça-feira, 29 de novembro de 2011

Wanessa Rudmer

Foto: Bob Sousa.

Wanessa é uma expoente das artes cênicas. Seu trabalho, atualmente, está mais ligado ao teatro. Pelo trabalho que realiza nos palcos, merece um olhar mais atento tanto do público quanto dos profissionais de cinema para eventuais convites.

O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
O roteiro.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que até têm, mas não suficiente. Acho que os curtas ainda são vistos como uma forma de experimentação, principalmente pelos profissionais de cinema. Graças à tecnologia de que dispomos hoje em dia, um grande volume de curtas é produzido e, talvez por isso, boa parte do que é produzido não receba a devida atenção da crítica e da mídia.

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Antes das exibições de longas nos cinemas. Seria mais bacana ainda se houvesse uma política que incentivasse empresas a patrocinarem produções de curtas, que poderiam substituir os anúncios convencionais veiculados nos cinemas. Já pensou?

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Cara, possível deve ser. Não temos grandes escritores de contos? Grandes atores que optam por um determinado gênero ou uma determinada linguagem? Agora, eu nem consigo imaginar um cineasta que não sonhe em fazer um longa, que de preferência seja bem sucedido. Torço para que nosso cinema continue caminhando no sentido de obter maior qualidade e que, se o curta for um trampolim, uma preparação, nossos cineastas possam dar vários e bons saltos nele.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não sei se marginalizado. Talvez posto nessa condição de preparação, experimentação.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim. Finalizei o roteiro e pretendo gravar no início do ano que vem.

Qual é o seu próximo projeto?
A mostra que comemora os 30 anos do grupo Cemitério de Automóveis. Durante o ano de 2012, apresentaremos 10 espetáculos escritos e dirigidos pelo Mário Bortolotto. A idéia da mostra é reunir vários artistas e literatos que tenham influenciado o trabalho do Mário e conseqüentemente o trabalho do grupo, para diversos debates e algumas cervejas. Preparamos, além dos espetáculos, uma vasta programação que envolverá exibições de longas e curtas seguidas de debates com os diretores, debates com grandes nomes da nossa literatura, saraus de poesia, shows com bandas de rock e blues, debates sobre histórias em quadrinhos e uma exposição de cartazes, fotos históricas e obras de artistas plásticos para o Cemitério de Automóveis.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

EU CURTO - Kassandra Speltri


Animação! “Aprender a aprender” de Josh Burton. 

Tenho certeza de que pra instituição tradicional de ensino não sou boa aluna, nunca fui… impaciente e muitas vezes preguiçosa, sem foco. Mas agora o foco é outro porque tenho certeza de que pra alguns professores eu fui exemplar, porque me identifico com a paixão por alguma coisa.

São os mestres que nos despertam e nos levam pra diante das incontáveis portas de mundos a serem desbravados, os mundos que se apresentam sempre que se aprende alguma coisa, e a gente fica entregue, abre os olhos, enxerga, desperta.

Há que se estar atento porque cruzamos mestres todos os dias e, se conseguirmos nos livrar de julgamentos e preconceitos nos daremos conta de que eles estão por toda parte, basta aprender a aprender e essa talvez seja a maior lição a que a humanidade deveria estar atenta, a aprender.

Com esforço e dedicação as pessoas se tornam “alguma coisa na vida”, porque a vida é instigante mesmo, porém não enxergamos isso em todas as pessoas, porque o bom aprendiz também tem magia e um dia se tornará um mestre, deveria ser assim, deveria ser instigante sempre, deveria ser devastador, é como estar caindo do penhasco e descobrir que se tem asas, e que com esforço e aperfeiçoamento a segurança aumenta e a sensação é a da liberdade, de salvação.

Sem paixão não existe ensinamento, a paixão é o primeiro passo para a descoberta do amor que vem com tempo pra maturidade. Sem paixão não se vive, não se ensina.

É vergonhosa a maneira como se trata os mestres neste país.

Muitos professores sem paixão, talvez a maioria. Triste realidade, porque todo potencial desperdiçado vira frustração e violência, porque existe energia, mas não existe foco, não existe caminho nem sinal de trilha, não existe orientação.

Não sei direito quanto ganha um professor em nosso país, só sei que, como filha de uma nunca tive regalias e passei muito longe de ter uma vida de luxo ou uma condição digna de filha de mestra, não por mim, mas por ela que dedicou sua vida a educar os filhos de alguém que muitas vezes nem conhecia e sempre o fez com muita paixão. Um grande exemplo que trago comigo.

Por que isso acontece? Para mim, dessa maneira, o sistema perde totalmente a credibilidade, porque eu acho que professores deveriam sugerir muito respeito, porque eles nos despertaram do sono da ignorância. São os mestres que nos inspiram a ser, cada vez mais, nós mesmos, porque ao aprender fazemos escolhas que nos levam a andar sozinhos e depois conduzir alguém ao mesmo caminho, talvez.

Não gosto de pensar sobre a maneira como o estado trata a educação, tenho vergonha, ao invés de despertar tapa os olhos das pessoas, distorce valores e reduz a importância dos mestres a nada, e esses muitas vezes perdem a paixão por não ter tempo ou forças pra trazer `a tona energia pra conduzir. Compreensível do ponto de vista do estado que com certeza tem algo muito contra o aperfeiçoamento da civilização, talvez adorem o espetáculo da ignorância ganhar peso e vida diante de seus olhos colocando cabresto na população que fica sem escolha porque não tem poder de decisão por não se achar apto ou não tem consciência de que o poder é nosso, do povo!

Lembrei de todos os meus mestres… em especial a cerâmica que aprendí com Alice Yamamura, que nos deixou ainda sem assoprar a bola de barro tranzendo toda a magia que ela conquistou durante a jornada da vida, Moacir Chaves que me trouxe sentido pra vida artística, passou pela minha vida e hoje sei exatamente porque sou atriz e onde quero chegar com isso… me deu asas! O assopro da magia!

Talvez nenhum deles tenha muito dinheiro nessa vida, como minha mãe, talvez seus salários não condigam com sua posição de honraria, eu de minha parte me dedico a ser uma aprendiz atenta porque penso que talvez seja a única recompensa por tanta dedicação.

Aprendamos todos a aprender!

Link do filme: http://www.youtube.com/watch?v=Pz4vQM_EmzI

Kassandra Speltri é atriz, dramaturga, diretora, artista plástica e colunista do blog ‘Os Curtos Filmes’.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Nívea Stelmann



Nívea é atriz. No cinema participou das produções ‘A Última Onda’ e ‘Casamento Brasileiro’. Seu último trabalho na televisão foi na novela ‘Morde e Assopra’, da TV Globo.

O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
O que me faz participar de uma produção de um longa ou um curta é o roteiro, a direção e a produção.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Eu acho que tem espaço sim, um espaço bem menor é verdade. Mas quando fiz curtas eles foram divulgados. Talvez, sem hipocrisia ou egocentrismo.Por eu ser uma atriz conhecida conta um pouco na divulgação.

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Deveria ser exibido antes dos longas.As pessoas deveriam ir ao cinema sabendo que iam ver um curta e em seguida um longa.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Possível tudo é. Cada um tem sua carreira,sua sorte sei lá. Mas o sonho de todo cineasta é fazer um longa.(de preferência de sucesso, risos). Com certeza é um trampolim e uma escola fazer curtas antes.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Marginalizado acho uma palavra muito forte. Mas é lógico que deve existir competição, como em todas as áreas.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não, não é minha praia. Me formei em cinema, mas sempre quis ser atriz.Minha vida é na frente das lentes.

Qual é o seu próximo projeto?
Estarei na próxima novela das 19h da Globo e no Teatro em Janeiro com a peça "Comédia do Amor".

domingo, 20 de novembro de 2011

Homenagem

Prezados amigos,

é com grande prazer que no próximo dia 24/11, irei ao FIIK (em Rio Claro) para receber uma homenagem muito especial: o blog Os Curtos Filmes receberá uma menção honrosa do festival pelos seus serviços prestados à cultura cinematográfica nacional.

Divido essa homenagem com todos vocês!

Rafael Spaca.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

João Paulo Miranda



João é cineasta e curador do Festival de Cinema de Rio Claro.

Conte sobre o FIIK. Qual o seu conceito e a sua história?
A ideia surgiu através do prêmio internacional da CNN, que o grupo Kino-Olho ganhou. Assim outros realizadores independentes de diferentes partes do planeta entraram em contato conosco, surgindo o interesse de se unir por uma maior distribuição, exibição e divulgação. Assim nasceu o FIIK ( Festival Internacional de Cinema Independente Kino-Olho) para suprir uma necessidade e ainda estamos no começo, este ano é a terceira edição.

Você é um dos responsáveis pelo Kino-Olho. Como analisa a produção de curtas na região?
Está cada vez maior e mais diversificado. Vários estilos estão surgindo tanto na região como na própria cidade de Rio Claro após o Kino-Olho. Sempre estimulamos e nos unimos no interesse de coproduzir junto a outros grupos e realizadores independentes na região. Especificamente o nosso cinema, o chamamos de "Cinema Caipira", por ter um viés para o cotidiano do interior paulista, mas sem cair em clichês do caipira. A nossa matéria prima de produção e inspiração está ao nosso redor em cada rua e em cada esquina. Assim surge nossos filmes...

Quais as dificuldades e as vantagens de estar situado no interior de São Paulo e produzir cinema?
A vantagem é a liberdade de expressão, podendo produzir numa própria metodologia, sem precisar respeitar a mesma forma de produção nos grandes polos, pois estas produções têm suas burocracias e altos custos. Aqui a produção tem custo menor pelo forte interesse de se apropriar das condições que a própria realidade nos apresenta, sem manipular demasiadamente. Agora a desvantagem é a questão da visibilidade, mas que aos poucos através de festivais estamos cada vez mais conhecidos.

Como surgiu a revista do Cinema Caipira, ela é um contraponto das publicações especializadas no assunto?
A revista Cinema Caipira surgiu através dos debates e discussões estéticas que os integrantes do grupo têm a partir das reuniões semanais. Assim em 2008 nasceu a ideia. Num primeiro momento os artigos eram apenas escritos pelos integrantes do grupo, que mensalmente expressavam suas opiniões e análises através da escrita, compartilhando seus pensamentos. Porém a medida que a revista cresceu, novos adeptos e amigos surgiram, havendo agora a maioria da participação sendo de realizadores independentes, críticos e acadêmicos de todo Brasil e até já contamos com artigos estrangeiros. Diferentemente dos outros periódicos, o interesse da "Cinema Caipira" é cumprir um aprofundamento maior sobre cinema, nos afastando de alto teor publicitário e de "fofocas & curiosidades" do meio.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por estarmos fora do grande eixo de produção, como Rio, São Paulo, Porto Alegre e Paulínia. Porém aos poucos produtores destes centros vêm nos conhecendo e já existem contatos de parceria e coproduções.

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Para chegar ao grande público, o curta deve estar presente nos espaços de grande público, estando facilmente ao alcance e por se tratar de curta duração, os filmes podem ser assistidos rapidamente e por isso a possibilidade de estar presente em espaços físicos e virtuais de grande visibilidade da massa. Ai vale a criatividade de apresenta-los de forma inovadora e cativante.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Claro que sim, pois os curtas tem até uma maior forma de repercussão do que os longas, que pedem maior atenção e tempo. Hoje através do universo virtual da internet e dispositivos móveis, há novos meios de vincular conteúdos audiovisuais de curta duração. Aos poucos o preconceito sobre curtas se acaba, pois o público não é mais como de antigamente, que se reservava por horas para ver uma única obra. Agora todos lutam contra o tempo e sempre estão conectados a outros meios. Portanto, o interesse para o curta aumenta em contraposição aos longas.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Entre os cineastas não. Este preconceito está apenas no público conservador, que apenas vê como experiência cinematográfica entrar numa sala escura com tela grande e sentar por duas horas, agora há um novo público que procura a experiência cinematográfica em outros espaços e meios como a internet, televisão, celular e tablets.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Já dirigi mais de 60 curtas e 4 longas independentes.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Jonílson Montalvão



Jonílson é diretor do Centro Cineclubista de São Paulo e também coordenador do Cineclube Lunetim Mágico.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
É a importância e a necessidade de criar, da estética, da vanguarda (nem todos os curtas são isso) mas em suma o curta tem menos burocracia e não está tão apegado ao mercado, então os realizadores ficam mais tranqüilos para criar.

Conte sobre as ações que o Centro Cineclubista de São Paulo realiza em torno do curta-metragem?
A divulgação (exibição) é umas das ferramentas mais fortes que temos para difundir esse tipo de filme

Quais as dores e as alegrias em manter um cineclube?
Dores pela parte burocrática de se manter uma entidade, no caso o centro cineclubista é uma ONG, então temos coisas para pagar (aluguel é um desses) e nem sempre temos grana. Alegria pela atividade em si, difundir e congregar, conhecer pessoas que, assim como você, também tem o cineclubismo como meio de vida, isso é prazeroso.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Da mídia em geral não digo, mas da grande mídia sim, aí não terão, assim como o cinema feito pela galera de coletivos (vide coletivo de vídeo popular, o próprio centro cineclubista) esse cinema mais "autônomo" existe e não precisa de mídia pra dizer que ele existe, basta ver as redes socias bombando de chamadas. Basta ver as pessoas se mobilizando e realizando seus filmes, o cineclube Lunetim Mágico (que eu ajudo a organizar) exibe em média 6 filmes por mês, há mais de 4 anos. E dificilmente repetimos filmes. Então por aí tem-se uma ideia da coisa, do montante desses filmes e a mídia (a grande mídia) ignora isso , então que se dane essa mídia.... temos que ter claro que não precisamos deles e ponto.

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Atrair público é uma questão complicada, eu acho, porque você tem publico para esses filmes, há diversos tipos de exibição, precisa (?) ter publico mais ligado com a questão, publico por publico tem um monte de gente, existe festivais, mas só isso também não resolve, de repente colocar os curtas em salas de aula (o pessoal do coletivo ‘Nossa Tela’ fez isso) colocar curtas em TVs, (horário nobre de emissoras) já que a concessão é pública, fazer circular os filmes entre amigos...

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Sim é, mas acho que tem uma gana por fazer um longa, que deve ser sensacional fazer um longa, então fica esse desafio, mas é plenamente possível fazer só curtas e ser feliz.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não, acho que não.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Já fiz alguns, nunca dirigi, quem sabe, na vida tudo é possível.

Quais são os projetos futuros do Centro Cineclubista?
Agregar mais pessoas, tirar ranços antigos da associação.

domingo, 13 de novembro de 2011

Marcelo Serrado



Marcelo é ator. Atualmente está interpretando Crô, um mordomo na telenovela das nove ‘Fina Estampa’.

O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
Não faço um há muito tempo, mas pra aceitar seria o roteiro.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sei.

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Antes dos filmes, sempre.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Não é necessário.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que não.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não, não penso.

Qual é o seu próximo projeto?
Agora só minha há peça: ’Não Existe Mulher Difícil’.

sábado, 12 de novembro de 2011

VAGA IDEIA



Xuxa e a ignorância

Criou-se um grande reboliço na imprensa nacional quando o The CineFamily, em Los Angeles, nos Estados Unidos, anunciou uma mostra de filmes da Xuxa.

Chamada de Xuxa-Palooza! (uma alusão ao festival musical Lollapalooza), Xuxa foi classificada de “linda atriz de filmes pornô-soft que se tornou apresentadora infantil e conquistou os adultos por três décadas por causa de sua alta tensão sexual”.

O texto fez a seguinte referência a apresentadora: “Em um mundo distante chamado Brasil, uma linda atriz pornô brasileira invade a televisão infantil... e permanece lá para sempre!”, diz o texto que apresenta o filme. Na descrição, é feito um retrato da brasileira como um ícone sexy do show bizz nacional. “Ostentando uma marca que combina atitude sensual e o universo das crianças, a apresentadora encanta tanto adolescentes como o público adulto masculino há três décadas.” E a história vai mais longe. Na tradução, o nome do filme, “Super Xuxa contra o Baixo Astral”, ficou como “Super Xuxa contra o Satanás”.

O longa, que segundo o site tem conotações sexuais, será apresentado em uma espécie de festa do pijama com dança, pintura de rostos, artesanatos e docinhos, assim como era o antigo programa da apresentadora, o Xou da Xuxa (TV Globo).

Pelo que vimos, é notória a falta de informação sobre o Brasil e principalmente sobre a filmografia da Xuxa. Pequena parte da imprensa internacional gosta de ridicularizar países como o Brasil.

Todo esse contexto de atriz pornô a acompanha desde o filme “Amor Estranho Amor” (de Walther Hugo Khouri) na qual a atriz principiante, no elenco com 16 anos na data da filmagem, tem relações sexuais com um garoto de 12 anos de idade. Logo depois disso, Xuxa é convidada para apresentar um programa infantil na TV Manchete e na sequencia parte para a maior emissora do país. Esse hiato – o filme foi produzido em 1979 e lançado em 1982 - dá pano pra manga até hoje.

Levados pela curiosidade, quando assistimos a “fatídica” cena, saímos “frustrados”. Não fosse uma criança seu parceiro, essa tão comentada fita poderia servir de enredo em qualquer novela das nove.

Xuxa contribuiu imensamente em despertar a cobiça pelo filme. Ao comprar os direitos e proibir sua exibição, fez um marketing às avessas. Hoje ele é uma lenda! Na filmografia de Vera Fischer, que estrelou o filme, esse título passa despercebido. Na da Xuxa não. É aquela velha história da pessoa que não gosta do apelido... em não gostando, o apelido pega.

No cinema, além dos dois filmes já citados, Xuxa estrelou “Lua de Cristal”, que levou mais de 5 milhões de pessoas ao cinema. De lá para cá, lançou um filme por ano, em comum, eles têm o fato de levarem o nome de Xuxa no título, serem um sucesso de bilheteria e apresentarem-na como heroína. A exceção ficou por conta de “Xuxa Gêmeas”, de 2006, onde a apresentadora interpretou sua primeira vilã.

Outro marco na carreira cinematográfica de Xuxa foi a parceria com o grupo Os Trapalhões, iniciada em 1983 com o filme O Trapalhão na Arca de Noé, assistido por mais de 2,5 milhões de pessoas e estrelado por Renato Aragão. Junto ao quarteto ela participou de outros filmes.

Seu último trabalho na sétima arte foi "Xuxa em: O Mistério de Feiurinha", inspirado em um livro do renomado autor infantojuvenil, Pedro Bandeira.

Xuxa possui uma das melhores médias de público desde a retomada do nosso cinema, comprovando que seu nome ainda atrai uma legião fiel aos cinemas. E aqui não cabe discutir a qualidade dos seus trabalhos no cinema, o que está em questão é que a apresentadora já fez mais de uma dezena de filmes e, ao seu modo, marcou história.
Para acabar com essa celeuma, seria interessante relançar e assumir esse filme como parte da sua filmografia, quem sabe assim a mídia sensacionalista e ranzinza parava de criar caso com uma história que não precisa ser mais noticiada. Só depende da Xuxa.

Rafael Spaca, radialista e autor do blog Os Curtos Filmes.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

BISTURI - Rejane K. Arruda



“Gianni Schichi em Irmãs Jamais", de Marco Bellocchio

O filme do Marco Bellocchio “Sorela Mai” ou, como foi traduzido para o português, “Irmãs Jamais“, trata de uma família: irmãs, irmãos, sobrinhos. A fotografia escura me lembrou as pinturas do Caravaggio: um vulto se destaca, de muito perto, o tom descontraído.

Quando fiquei sabendo que ele demorou nove anos para filmar, pensei: está explicado! Ano a ano, perseguiu o crescimento de uma criança, que se tornou uma moça, doce e terna - e que é a sua neta. Vou espiar na ficha técnica e grande parte dos atores tem o seu nome: Bellocchio.

Com um filme extraído do cotidiano de uma família, mesmo para aqueles que não o são, o significante “sou da família” fica boiando. Sabe-se que os atores extraem, das relações de bastidor, materiais. Um bom diretor faz o ator sentir a cena como uma confraternização. Não se trabalha sem afeto.

Quero falar de um ator entre eles, que não é um Bellochio, mas um Schichi (Gianni) cuja atuação me hipnotizou. Talvez pela multiplicidade das pequenas ações, que, ágeis, proliferam, pulverulentas, entre uma fala e outra.

O ator tem um roteiro nas mãos. Algumas indicações apenas. Ele está lá, com o corpo inerte, diante do escrito que lhe caiu do céu. Terá que viver aquilo como se tudo fosse seu, tomado por uma situação que é outra, que não é a sua no set de filmagem. Ele não tem escolha. Precisa deixar a fala penetrar na carne. Não só deixar, como depositar, nos intervalos, o gosto do passado. Como estes velhos atores que, de tantos Shakespeares, exalam uma multiplicidade de tremores.

Quando a fala vem, ela tem que pedir licença, porque o tempo é dele. Cada instante é a sua vida associada à infinitude de uma quase-reta. Superfície para a qual a frase faz ponte, faz estrela na circulação da massa corporal. (Se pudéssemos contar os sobressaltos, desvios do tecido adiposo.)

Porque o ator quando aproveita o tempo, é porque tem coisa pra sair do corpo, porque está, porque ele é velho. O ator tem uma coisa que é o corpo marcado. Uma vida que se torna cênica. Este corpo sabe que é bom estar lá. Que fazer cinema, não é sempre que se faz. E quando o diretor diz “ação” um mundo cai e outro sai: a gente vira do avesso.

Rejane Kasting Arruda, é atriz e pesquisadora. Atua em cinema e teatro. Faz pesquisa na Universidade de São Paulo junto ao Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator. Ministra aulas de atuação para cinema. Participou dos filmes Corpo, O Veneno da Madrugada, Tanta, Iminente, Edifício do Tesouro e Medo de Sangue, entre outros. É também colunista do blog Os Curtos Filmes, onde assina uma coluna mensal.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Flávia Garrafa



Flávia é atriz. Participou de diversas novelas e mais de 25 produções teatrais. É um dos nomes mais solicitados da nossa dramaturgia.

O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
Fazer cinema por si só já um motivo para aceitar, mas o roteiro para um ator é tudo. Roteiro bom, vale até desmarcar compromissos.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que temos muita demanda, muitos longas internacionais e comerciais que ocupam esse espaço. Somos um país colonizado onde as coisas de "fora" são mais "valiosas" e importantes que a de dentro. Isso é um fato que está mudando e pode mudar mas temos que encarar. Em relação ao cinema estamos caminhando e já caminhamos bastante. Mas aqui o que vende é o que é publicado, não tem jeito. E é uma pena. Mas como então entre filmes de grandes distribuidoras, anúncios pagos ( e bem pagos) em jornais e TVs, pessoas e celebridades da moda, deixar que um curta metragem tenha uma espacinho. Só se alguma BIG BROTHER estiver nesse curta e nua!!! hahhahha Desculpe, mas esse é o país que vivemos.

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Fui ao cinema outro dia assistir "Confissões de um Liquidificador "Aliás ótimo!!!! E lá, antes do filme, passou um curta e tinha uma atriz fazendo stand up. Sabe que eu achei uma ótima idéia? Porque assim o público vai se familiarizando com o curta. EU ADORO ASSISTIR CURTAS. E depois eu vi que a cada sessão tinha um curta diferente. E eu acho também que deveria ter sessões, em todos os cinemas de seleções de curtas. Numa cidade como São Paulo, a variedade é OBRIGATÓRIA. Por exemplo. Alguém poderia fazer uma seleção de curtas (por assunto, ou data, sei lá) para lançar em DVD. Alugar na locadora.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Eu acho que é possível sim. Se ele gosta do formato. Se identifica. OK. Assim como um ator só fazer teatro, ou só fazer TV, ou só fazer comédia no teatro. Acho que não necessariamente é um trampolim. Um curta é tão cinema quanto um longa. O Tempo que define essa classificação. Às vezes temos um ótimo curta, com um roteiro incrível e um péssimo longa com roteiro ruim .

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não sei te responder essa pergunta. Mas... eu acredito e desejo que não. Como disse acima. É um formato. Uma possibilidade. Arte igual. Os dois. Não vejo porque marginalizar.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Adoraria. Trabalho com adolescentes. Dirijo peça com eles e morro de vontade de fazer um curta sobre alguns assuntos que tenho pensado. Mas nossa!!! A vida de atriz anda corrida. Mas tenho certeza de que um dia vai rolar.Não sei se dirigir, mas escrever, eu vou...

Qual é o seu próximo projeto?
Tenho alguns. Mas ainda não posso falar. Ando lendo muitos livros para tentar uma coisa diferente no teatro. Quero fazer cinema. Me chamem!!!!! (risos) e tenho a minha peça "TPM Katrina" que já é um sucesso há um ano e o ano que vem vai continuar. E Tem sempre o inesperado. O que é um grande barato da nossa profissão. Amanhã o telefone pode tocar e a vida mudar totalmente.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Thais Scabio



Thais é uma das coordenadoras do JAMAC Cinema Digital, diretora e produtora de cinema.

Você é uma das coordenadoras do Jamac. Fale sobre o seu trabalho à frente desta iniciativa.
Na Coordenação do projeto JAMAC Cinema Digital, somos eu, Gilberto Caetano e Jeronimo Vilhena. Coordenar o projeto significa pensar em toda a parte pedagógica do trabalho, sua metodologia, entrar em contato com os palestrantes (este parece fácil mas não é, talvez seja a parte de maior dificuldade pois, não pode ser qualquer pessoa, temos que pensar sempre em alguém que fale a linguagem do nosso público e que ajude no crescimento da qualidade das produções, que seja bom profissional e que conheça nossa realidade). A coordenação também é responsável por criar e proporcionar um ambiente agradável para que os trabalhos possam ser realizados da melhor forma possível. Também fazemos a orientação das produções e somos de um certo modo exigentes com a qualidade do que está sendo produzido aqui.

Vocês produzem muitos curtas. Qual a sua análise a respeito dos curtas produzidos pela equipe?
Em relação ao JAMAC as produções são realizadas geralmente por pessoas que estão tendo o primeiro contato com o audiovisual. Nossa filosofia sempre foi que não importa se você faça com celular ou com película, o importante é o cuidado, o respeito e o amor com o que se esta realizando, exigimos estudo do pessoal. Sem estudo você não cresce fica sempre produzindo as mesmas coisas e com os mesmos erros. O LEPE é uma forma de exigir e possibilitar este estudo. Não importa se é feito na periferia e com pouco ou quase sem dinheiro, o público quer ver algo diferente da televisão, que sejam bem produzidos e reflexíveis. Isso é o que aprendemos, acreditamos e multiplicamos aos nossos alunos. Acho que é por isso que as produções do JAMAC são bem aceitas nas comunidades. Houve uma vez em uma Mostra de audiovisual que recebemos uma crítica de que nossas produções não pareciam de periferia. Achei ótimo, porque surgiu uma discussão sobre o que é pensado sobre produções na periferia.

Fora as produções do JAMAC nossa equipe de coordenação também produz por fora. Eu e o Gilberto temos uma pequena produtora, a Cavalo Marinho Audiovisual, e o Jerônimo tem a Jerônimo Filmes, que produz mais documentários. A filosofia aplicada nas oficinas vem de nossas produções. Já participamos de Festivais que concorremos com curtas realizados com muito dinheiro, mas que não tinha a preocupação com o roteiro e a narrativa e que no final nossa produção com R$100,00 ganhou deles por ter essa preocupação (observação feita por críticos e jurados), como foi o caso do curta "Comportamento Kamikaze" que ficou em quarto lugar no Mapa Cultural Paulista 2005/2006.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito que as pessoas utilizam os curtas como uma forma de experimentação de suas ideias narrativas. As pessoas não dão muito valor para as experimentações, rsss... Mas no final são elas que mudam o mundo, né? Além disso, são muitos curtas-metragens produzidos no Brasil, graças a tecnologia que temos neste século, a produção de curta-metragem é mais que o dobro do que de longas - metragens e mesmo em menor escala, há muitos que não tem espaço na mídia, imagina para os curtas, iria rolar muito "jaba" se aparecesse uma mídia grande que abrisse esse tipo de espaço. Não estou justificando o descaso da mídia em relação aos curtas -metragens, apenas alertando quanto a má organização e distribuição destes espaços. Uma matéria sobre uma morte violenta tem muito mais espaço do que de uma atividade cultura, por exemplo. Ainda bem que agora temos as redes sociais, por enquanto acredito que seja a melhor divulgação para o curta-metragem e temos que utiliza-las.

Como deveria ser a exibição de curtas para atrair mais público?
Acredito que o curtas-metragens já atraiam o público. A programação da tv é em blocos. Imagina uma novela sem cortes, acho que as pessoas não aguentariam, rsss. A maioria dos festivais de curtas-metragens sempre tem um público grande. O problema é que estes curtas ficam no acervo da organização depois. Não temos acesso. Os festivais deveriam ser permanentes. Apesar dos Cineclubes já exercerem o papel de distribuidores, talvez deveria existir distribuidoras de curtas-metragens. O pessoal do coletivo de Vídeo Popular fez uma coletânea muito boa para distribuição de curtas. Essa é uma iniciativa que acredito que merecia um olhar especial, do governo e dos produtores. Acredito que o filme só é filme quando exibido de alguma maneira, por isso não ligo de minhas produções circularem. É uma delícia alguém te procurar no Facebook porque viu seu filme em algum lugar e gostou.

Temos um projeto que é o Mascate Cineclube, exibimos filmes em ruas, praças, associações dentro das comunidades da região da Cidade Ademar/Pedreira e às vezes na cidade de Diadema.Recebemos um público em média de 100 pessoas por exibição. Os curtas-metragens são muito bem aceitos, pois são rápidos, principalmente para as crianças que já estão no pique da TV, (desenhos animados de 3 minutos, blocos de 10 minutos e comerciais de 30") e funciona muito bem. Mesmo com tantas produções sendo realizadas, ainda falta curta-metragem para exibirmos pois não chegam até nós.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Cara, não sei. Quero muito ter a experiência de produzir um longa. Já fiz um média-metragem, que por falar nisso tem menos espaço ainda no mercado, não consigo exibi-lo em lugar nenhum. Mas, acredito que são narrativas diferentes. Há histórias que você consegue contar em um curta-metragem e há outras que não. Acho horrível uma história que poderia ser contata em um curta e complicam o roteiro só para virar um longa. O estúdio Pixar é um ótimo exemplo, eles realizam longas e curtas sem nenhum problema. Acho que quando você cria algo na narrativa do cinema você já é alguém que pensa como cineasta, não importa se o produto final é um curta ou um longa. Claro que para você dirigir um longa-metragem é muito mais trabalhoso.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acredito que sim. Pois como disse é considerado como experiência. Até mesmo em alguns editais de curtas, uma das cláusulas é que você não tenha dirigido um longa. Até o governo não acredita que são narrativas diferentes é quase "Você já sabe dirigir um longa, parabéns! Não precisa mais ficar fazendo curtas!". Temos que mudar este pensamento. Por exemplo, meu próximo curta é baseada em um fato real que aconteceu na vida de um menino que era engraxate. A história dele foi tão curta que não poderia contar em um longa, quero que as pessoas sintam isso.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim. Tenho dois curtas que estamos na fase captação de verba e pré-produção. Um é o "Barco de Papel", meu roteiro e direção. Escrevi há 7 anos atrás quando trabalhei com meninos em situação de rua em Santo Amaro, que me contavam muitas histórias. O curta é um dia de um menino engraxate no centro de Santo Amaro que presencia uma chacina. Demorei todo esse tempo para conseguir realiza-lo, por falta de tecnologia suficiente para o que eu queria. Precisaria de muito dinheiro até alguns anos atrás, pois tem uma parte que será em animação e que sempre quis que fosse em stop -motion de dobradura. Agora encontrei o Rodrigo Eba!, diretor de animação do longa "Peixonauta" e educador do JAMAC Cinema Digital que topou de dirigir esta parte. O outro é o "Caixa d´água", o roteiro é do Gilberto Caetano e nos dois vamos dirigir, o roteiro é inspirado em uma fotografia que o Jerônimo Vilhena fez. O curta é uma aventura infanto-juvenil de 4 crianças que usam a caixa d´agua de casa como piscina, muito comum na periferia.