sábado, 12 de maio de 2012

Paraísos Artificiais - Waleska Praxedes

Algumas amigas minhas foram expulsas da escola por usarem drogas; em casa pouco se falava sobre isso!!! Usar “tóóxxico (como se diz em programas sensacionalistas) sempre foi tabu. O uso de tais substâncias para a família, para escola, telejornais, ou documentários é sinônimo de vagabundagem, prisão, morte, gravidez indesejada por causa de um possível exagero. O filme de Marcos Prado trabalha muito bem todos esses fantasmas que rondam essas relações, para falar a verdade, elas são o pano de fundo de seu filme. Sim, você verá: mãe chocada por não entender o “por quê” dos filhos usarem drogas; um amigo oferecendo drogas para outro; uso de drogas para sair da deprê... Todas essas situações aparecem na trama, mas o foco principal é a atração, claro que intensificada pelo uso de substâncias alucinógenas, entre dois personagens Nando (Luca Bianchi) e Érika (Nathalia Dill), dessa forma  Paraísos é um filme libertário e nenhum pouco opressivo. O filme, embalado por uma ótima trilha eletrônica, retrata a juventude que curte festas raves que bombaram nos anos 90 (hoje, esse mercado movimenta R$2,5 bilhões ao ano).

Pernambuco, Amsterdã, Rio de Janeiro são os lugares por onde Nando, um talentoso desenhista por vocação  e Érika , uma DJ, literalmente se esbarram durante a trama. A história começa no Rio, quando Nando sai da prisão. O que levou esse jovem de classe média a ser condenado? Essa é uma  das perguntas que não quer calar e que o roteiro busca responder fazendo um flashback, a partir do momento que Nando segura um saco contendo pastilhas de ecstasy (?) encontrado em seu lar- doce-lar, mais especificamente no quarto do irmão caçula (César Cardadeiro). Flashback, tipo assim, gigante, mas a história não se perde. Primeiro retrocedemos 4 anos e vemos Érika em Amsterdã... Nando também está lá curtindo a cidade e encontra a DJ, por acaso, em uma festa . Rola um clima. Nando parece conhecer Érika, mas não se lembra de onde.  Ela não o esqueceu . Eles ficam juntos. Érika se emociona, deitada fecha os olhos e temos um novo flashback. O tempo retrocede mais ainda, agora estamos em Pernambuco, vemos Érika com sua melhor amiga, Lara (Lívia Bueno) a caminho de uma rave ( 2,7 mil figurantes participaram da festa do filme) elas começam a usar drogas sintéticas e começam a viajar... Namoram os outros, se namoram e finalmente no meio da rave encontram, por acaso, Nando e dividem o rapaz. Será que música, sexo e drogas seriam capazes de criar um mundo perfeito, de prazer sensorial completo?

Essa noite em Pernambuco mudou para sempre a vida de Érika. Ela guarda um segredo e tenta revelá-lo para Nando em Amsterdã. Infelizmente não consegue. Érika e sua amiga se separam depois dessa festa. Ela vira uma DJ de sucesso. Nando não tem a mesma sorte, depois da festa em Pernambuco se separa de sua família e parte para ganhar a vida. 

O que chama atenção em Paraíso? Ele não é tão divertido quanto Meu Nome Não É Johnny, pois romances e tragédias se sucedem. Não temos cenas incríveis que reproduzam as sensações das pessoas sob efeito de drogas como em Transporting, The Doors, Réquiem para um Sonho. Como diretor do ótimo Estamira, Marcos Prado acompanha seus personagens em uma experiência quase documental de observação. Apesar das drogas terem um papel central na trama e das quentíssimas cenas de sexo, Paraísos está longe de ser um espetáculo sinestésico e mesmo assim é vibrante.

Waleska Praxedes é atriz, produtora, roteirista, diretora e colunista do blog  Os Curtos Filmes.