sábado, 28 de julho de 2012

Anna Van Steen

Anna foi responsável pela maquiagem de filmes como ‘Ensaio Sobre a Cegueira’, ‘Xingu’, ‘Cidade de Deus’, Carandiru’, entre outros.

O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
Eu escolho os curtas nos quais vou trabalhar em função das propostas estéticas do trabalho me parecerem interessantes, mas claro que também participo de curtas dirigidos por profissionais com quem tenho relações profissionais estreitas .Gosto também de indicar novos maquiadores para certos projetos. Neste caso posso supervisionar o trabalho e indicar soluções técnicas.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito que as possibilidades de retorno financeiro, sendo escassas, geram este desinteresse generalizado. Os curtas por muito tempo foram considerados exercícios de cinema.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A divulgação nos canais de TV a cabo, como tenho visto nos últimos tempos, colabora muito. A internet é um recurso interessante, embora de pouco retorno financeiro .Gostaria de ver mais projetos relacionados ao Ensino Médio, onde adolescentes tivessem contato com as possibilidades narrativas de um curta metragem.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Todas as formas de se produzir filmes fazem sentido. Cada proposta pede um formato diferente. 

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não vejo desta forma. As premiações, por exemplo são um grande incentivo ao formato do curta metragem. Há alguns anos fui convidada pelo diretor Inácio Zatz para participar de um festival de curtas metragem em Angra dos Reis e encontrei muita gente interessante discutindo cinema.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não penso em dirigir. Adoro ser um detalhe do todo. Adoro meu trabalho.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Claudia Alencar

Claudia é atriz, poetisa, artista plástica e escritora. Atuou nas novelas ‘Vidas em Jogo’, ‘Os Mutantes’, ‘Tieta’, entre outras. No cinema, ‘Xuxa e os Duendes’, ‘Inspetor Faustão e o Mallandro’, ‘Por 30 Dinheiros’, entre outros títulos.

O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem? 
Se o roteiro for uma boa historia, bem contada e original eu adoraria fazer. O personagem... É importante que tenha uma participação crucial na trama principal, mas não precisa ser a protagonista. Um bom personagem não tem tamanho. 

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral? 
Nem os curtas, nem o teatro, nem a dança, nem a cultura. Ok.  Os curtas são os filhos bastardos.... Mas  atualmente eles estão com uma melhor qualidade e estão se sobressaindo como os desenhos animados. Não se criou o Anima Mundi? Não há uma cultura agora de desenhos animados? Porque deixaram de ser aquela infantilidade. Os curtas agora se assumiram como arte, filmes de gente grande e começam a ter visibilidade  maior  em festivais e tem uns maravilhosos, obras primas. Já fui júri de curtas em Curitiba e fiquei extasiada com a qualidade  técnica, artística, poética, cômica e dramática de muitos. O curta tem essa vantagem de poder ser poético mais facilmente. E é tão lindooo.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público? 
Deixem os comerciais antes dos filmes que agora virou lei e $$$ para os exibidores e salas de cinema e depois deles um curta maravilhoso, esplendoroso, como aconteceu naquele desenho animado do meu melhor inimigo que tinha um curta de desenho animado da Pixar todo poético sobre o dia e a noite. Uma doçura, para a alma. Deveria ser assim... Como uns tempos atrás já foi. É necessário haver lei ,para isso(ainda há??) E união dos cineastas ,atores, técnicos, sindicatos(ainda existem??Dio Santo??) Para impor essa lei. E voilá! Patrocinador !!!É o voilá! Final... Que tal falar com Bradesco ou Petrobras para esse projeto maravilhoso???  

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa... 
Se for obrigatório o curta antes do filme é claro que seria possível ser um cineasta só de curtas, mas de outra maneira.... Qual seria??? Passar em universidades? Em centros de ginasticas,  em comunidades carentes? ONGs? Com parcerias com as academias ? Em praças publicas? Parcerias com grandes patrocinadores? Dar uma contrapartida social? Receber dinheiro de amigos e eles participarem de alguma forma captando recursos de pessoas físicas? Não sei... .Ser artista é ter duas profissões... Eu tive  ter duas profissões durante  os primeiros cinco anos de minha carreira- professora universitária de teatro e pesquisadora de teatro na prefeitura de sampa, depois só vivi como atriz... Mas  para isso é necessário talento, sorte, persistência, persistência, raça, persistência, humildade, estudo, talento, persistência, humildade, estudo... É raridade e todos sabemos disso.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas? 
Acho que sim. Acho... Talvez eles considerem uma arte menor, mas isso é porque o curta ainda não teve a coragem de se impor, de se revelar por inteiro. Mas quando a vemos um bom curta todos se vergam e aplaudem como se fosse seu filho!!!  Nunca é problema do outro e sempre da gente! 

Pensa em dirigir um curta futuramente? 
Às vezes penso. Sou poeta. Escrevo muito. Vou lançar meu quarto livro de poesias  - "refinamento e loucura", pela ed. Record , no segundo semestre, mas as vezes me imagino fazendo um curta... Mas me sinto incapaz. Besteira minha. Insegurança. Falta de autoconfiança e coragem. Mas se eu quiser e vocês  agora me atiçam com essa bela e magica idéia vou fazer!!!!. Tenho câmera e ideias não me faltam... Obrigada pelo incentivo! Estamos agora na mesma turma. Oba!

terça-feira, 24 de julho de 2012

Veridiana Toledo

Veridiana é atriz. Na televisão atuou em ‘Ilha Rá-Tim-Bum’ e nas novelas ‘Revelação’, ‘Cristal’ e ‘Esmeralda’. No cinema, o filme ‘O Martelo do Vulcano’.

O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
Na verdade nunca fiz trabalho em curta metragem algum. Já tentei, aliás já tentei MUITO. Todas as oportunidades que me pareceram até hoje fui atrás, mandei material para avaliação e nunca aconteceu. Nem de estudantes de cinema da FAAP, da ECA, nada. Mas faria, sem dúvidas. Gosto de trabalhar gosto de atuar seja lá onde for. Temos que começar por algum lugar não é ? O curta metragem ainda é uma forma para se começar, o primeiro degrau,  nós atores na tentativa de entrar no mercado de cinema e cair no gosto dos diretores e produtores, os roteiristas, diretores, diretores de fotografia também. É uma maneira de treinar, de aprender, de conhecer o mecanismo de produção, as funções de cada um em um set de filmagem, tudo! E só se aprende fazendo , treinando, praticando. Aliás, tudo na vida é uma questão de determinação e treino. Ah! Tem que ter vocação  e estrutura emocional também, pois é tudo difícil! Fazer curtas me possibilitaria aprender mais, conhecer pessoas, praticar, ter contato com novas visões de trabalho, de formas de ver e fazer cinema. Saldo positivo total !

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Muita coisa não tem espaço em críticas de jornal e atenção da mídia em geral. Dança, exposições de arte... Teatro Infantil por exemplo não tem espaço nenhum. Lembro dos tamanhos das críticas de espetáculos que fiz há 15, 16, 17 anos. Crítica que ocupavam meia página!  Hoje tem as revistinhas com Guia de programação com espaço nenhum e muito anúncio pago. Com teatro adulto também. Os críticos reclamam da perda de laudas, reclamam de seus editores e nada muda. O espaço para crítica de forma geral está cada vez mais reduzido, espaço para divulgação de serviço é cada vez menor. Existe rodízio de informação na VEJA por exemplo.  Não é toda semana que são divulgados todos os espetáculos em cartaz na cidade. Os curtas não tem espaço porque alguém decidiu que são menos importantes e todo mundo acreditou. Muita coisa é assim hoje em dia. Uma pessoa ou um pequeno grupo de gente "descolada" elege algo como muito bom  ou o melhor, e mesmo a coisa não sendo nem boa nem a melhor ela passa a ser porque todos resolvem acreditar naquilo. E não é o marketing, a propaganda que tem esse poder. São as pessoas mesmo. Quando algum "descoladinho" com algum poder de divulgação ou de persuasão resolver dar valor aos curtas e decidir que eles são importantes, logo logo todos estarão acreditando o mesmo.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Nos cinemas, antes de um longa um curta de 10 minutos, ou 2 de 5 minutos cada deveria passar ao invés de 700 comerciais. Fui assistir um filme em um cinema de Shopping outro dia e tivemos 15 minutos de exibição de comercial antes do filme começar. Um saco ! Tô pagando para ver um filme, não quero ver mais comerciais de telefonia. eles já passam o dia inteiro na televisão. Canal pago e cinema não deveria ter comercial. Canal aberto sim, afinal é de graça. Mas pagar caro para ver um filme e ficar vendo anúncio de Tuckson Hunday é dureza! As emissoras poderiam fazer isso também. Passar um curta antes de repetir pela milionésima vez "Uma babá muito louca". Para mim parece óbvio, não entendo como a Rede Globo não fez isso até hoje!
  
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É possível sim! Lógico, porque não ?Não existe roteirista de twetter? Gente se especializando cada vez mais em passar um volume de informação enorme em curto espaço de tempo, de caracteres, de imagens. Pode ser um grande barato e desafio  fazer histórias elaboradas, com muita informação em um curto espaço de tempo.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não acredito que seja não ... E se for  marginalizado por algum , esse um é idiota e tá cuspindo no prato que com certeza já comeu pois não conheço um cineasta que  tenha feito um longa sem ter feito um curta primeiro. Ninguém nasce sabendo. E tem a questão financeira também. Não dá para aprender a fazer cinema com orçamento de longa metragem. A tecnologia vem barateando muito os custos, mas fazer cinema ainda é caro e o curta vai ser sempre a forma de aprender gastando menos. Fazer arte é caro. Emocionalmente é carézimo pois o contato com a frustração é constante , frequente, eterno. Produzir é muito desgastante  e exaustivo. Produzir qualquer coisa. Um curta já requer um volume de trabalho que sempre será digno de aplausos. E cineasta que é cineasta mesmo sabe disso,  e assim sendo sabe dar o devido valor.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não ! Não tenho a menor pretensão de dirigir nada ,nem no TEATRO que é onde está o altar do meu TEMPLO, onde me sinto absolutamente íntima de tudo. Dirigir ator sim, preparar elenco é prazeroso de mais e sei fazer um bom trabalho para oferecer ao diretor atores mais confortáveis e "amigos" de seus  próprios papéis. Mas dirigir não!  Até tenho idéias, roteirinhos em escaleta ,mas são só ideias. Sou atriz ! Meu negócio é atuar. Pensar no todo deixo para o teatro já que nele tenho que ser produtora também. Pensar no todo é para quem gosta de mandar. Eu gosto de ser mandada. Adoro ser dirigida. Claro que por diretores que me permitam criar ! Afinal de contas eu sou uma artista. Só  foi possível me tornar atriz porque antes sou  uma artista. E como todos SEMPRE precisando trabalhar.

Nighthawks - Waleska Praxedes

Até 16 de setembro quem estiver em Madrid terá a chance de ver a exposição Hopper (1893- 1967) no Museu Thyssen- Bornemisza Museum  e perceber o dialogo apaixonante entre as imagens dos seus quadros e o cinema. Realista, em algumas pinturas, o americano Edward Hopper retrata a banalidade; seus personagens urbanos solitários parecem enquadrados em contra-plongée dentro de uma cenário cinematográfico impecável. Suas telas são como story boards e em frente de cada uma delas temos a impressão de participar de uma cena.
Isso não é mera coincidência, além de ser aficionado por filmes noir o artista pintou seus quadros quando o cinema americano conquistou a hegemonia mundial como representação da vida moderna.
A influência do cinema sobre a pintura de Edward Hopper explica muito sobre suas composições que, por sua vez, inspiraram cineastas a fazer filmes incríveis. Na exposição do Museu Thyssen podemos ver como se dá esse intercâmbio através de um Ciclo de Cinema que ocorre paralelamente a exposição.
Em Psicose de Hitchcock (1960) a sinistra casa é a semelhante a do quadro House by the Railroad (1925) e em Janela Indiscreta parece que vemos o quadro Night Windows (1928).
Como a cor passou a dominar o cinema americano um dos melhores diretores de fotografia de Hollywood, James Wong Howe, também levou os detalhes da pintura de Hopper para  Picnic (1955), um filme que se passa na pequena cidade do Kansas.
Nighthawks (1942) talvez seja a tela mais reproduzida no cinema. O balcão da lanchonete aparece em filmes como: Deep Red (1975) de Dario Sargento; Primary Colors (1998), de Mike Nichols; The End of Violence (1997) de Wim Wenders.
O quadro Hotel by a railroad (1952) serviu de inspiracão para   Antonioni criar O Eclipse (1962) um dos filmes da “trilogia da incomunicabilidade”.
Para transmitir visualmente o “dispositivo teatral do silêncio e do não ditto” (in American Cinematographer, www.theasc.com ) Sam Mendes encontrou em Hopper a estética ideal para seu filme, Caminho da Perdição (2002).
David Lynch em Mulholland Drive (2001) e em Veludo Azul (1986) também adota a atmosfera hopperiana.
O Ciclo de Cinema inclui as obras desses e de outros diretores como Howard Hawks, Terrence Malick, Todd Haynes, Douglas Sirk, Aki Kaurismaki.
Imperdível!

Waleska Praxedes é atriz, produtora, roteirista, diretora e colunista do blog Os Curtos Filmes.

domingo, 22 de julho de 2012

Celso Frateschi

Celso foi secretário municipal da Cultura de São Paulo na gestão Marta Suplicy, e atualmente é secretário de Cultura em São Bernardo do Campo. É ator, autor e proprietário do Teatro Ágora, em São Paulo. No cinema atuou em ‘Veias e Vinhos – Uma História Brasileira’, ‘Cristina quer Casar’, entre outros.

O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
Basicamente a qualidade do projeto e as pessoas envolvidas.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não acredito que seja nada especialmente contra os curtas. Creio que a razão principal é o descompromisso total das editorias culturais com as questões da nossa produção e a indigência cultural que grassa em nossa elite.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Não tenho receita nenhuma, não. A TV poderia ser uma alternativa, mas tv não é cinema! O problema é mais estrutural e não é exclusivo do cinema e muito menos dos curtas. O acesso às manifestações artísticas não tem sido nas últimas décadas uma preocupação da nossa "classe artística" e muito menos das políticas públicas para o setor. Parece que todos continuam mais interessados em produzir a sua obra, do que ter público para assisti-la.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Na atual conjuntura está difícil ser só cineasta.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Sinceramente não sei responder essa pergunta.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Minha área de atuação é o teatro. Faço muito pouco cinema, e ainda assim como ator e apenas quando me chamam é gosto do projeto. Portanto nunca pensei em me arriscar na direção de curtas. Seria uma irresponsabilidade imperdoável de minha parte.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

BISTURI - Rejane K. Arruda

Jack Nicholson em “Five Easy Pieces”: o paradigma da atuação
naturalista e a questão do comércio de um método.

Na virada dos 60 para os 70 Jack Nicholson se estabelece como referência de estilo, radicalizando o realismo by Actors Stúdio validado por James Dean (“Vidas Amargas”, 1955) e Marlon Brando (“Sindicato de Ladrões”, 1954).
Testemunha-se a construção de certo “equilíbrio entre contenção e ação” cuja origem, segundo Jacqueline Nacache (2005), remonta aos Westerns americanos de 40 e favorece a “relaço ator e personagem” tanto no aspecto plástico quanto simbólico (já que se investe em certa ambiguidade).
O estilo maturado em filmes como “Easy Rider” (1969) e “Five Easy Pieces” (1970) também dialoga com a “sujeira” típica do Cassavetes de “Faces” (1968) e “Uma Mulher Sob Influência” (1974). Observa-se a plasticidade da relação cotidiana e a intimidade com o corpo, combinada à vulnerabilidade do afeto.
Graças a certo despojamento da forma, poderíamos tecer diálogo com os atores da Novelle Vague e do Brasil de 60-70 (por exemplo, Paulo César Pereio em “Bangue Bangue” ou Anecy Rocha em “A Lira do Delírio”). Dadas as diferenças, trata-se de um estilo que se contrapõe ao corpo bem desenhado de uma atuação formalista testemunhada pela vasta e variada linhagem que vai desde Eisenstein, passando por Sternberg, Hitchcok, Bresson, Pasolini, e cuja origem estaria em Meyerhold.
Ou seja, a atuação é colocada, criticamente, a partir de uma oposição: aquela atuação que evoca certa ilusão de realidade, cujo apoio estaria em materiais internos (que não aparecem na cena, pois ocultos em rememoração); e aquela atuação que, apoiada na plasticidade do desenho corporal, se remete ao ator-modelo, ao ator-boneco, ao ator-robô, HQ, massinha para o diretor moldar - e cujo “material interno” é evitado ou rechaçado (ou pelo menos disfarçado).
No entanto, ao se tomar “o método como garantia do sucesso”, o fascínio da imagem do ator naturalista passa a ideal na contemporaneidade. Ao invés de decifrar-lhe o jogo e as modalidades de material, responsáveis pela construção de uma “ilusão de realidade” (ou as repetições das quais se vale o ator para, de modo performativo, atualizar algo no corpo), acaba-se por toma-lo como modelo para a fabricação de cacoetes. Perde-se tanto em frescor quanto em singularidade; e aquilo que marcou a performance de um Nicholson como diferente, torna-se alvo de uma espécie de comércio, como se fosse possível “comprar um método como garantia do sucesso”.
Não que a cultura atoral não possa, na medida da criação dos procedimentos, difundi-los e perpetuá-los. É que a aplicação em série sem considerar a singularidade dos processos impede o artista-ator de imprimir justamente o que faz o brilho de um Nikolson, dos atores de Cassavetes, Dean ou Brando – e que é o espaço da contingência e o espírito de descoberta da criação in experiência (e não mera repetição de procedimentos já consolidados).

Rejane K. Arruda. BISTURI julho 2012.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ernesto Piccolo

Ernesto é diretor de teatro e ator. No cinema atuou em ‘Gatão de Meia Idade’, ‘Quase Dois Irmãos’, ‘Benjamim’, entre outros. Participou de inúmeras produções para televisão como: ‘Cinquentinha’, ‘Faça Sua História’. Atualmente é o diretor do musical infantil ‘Galinha Pintadinha’.

O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
Uma boa ideia, um bom roteiro!

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
É uma pena os curtas não terem maior espaço nos meios de comunicação! Verdadeiras obras primas não chegam ao conhecimento da grande publico

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Houve uma época em que os curtas eram apresentados antes dos longas! Achava ótimo! Vi péssimos e excelentes curtas! 

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Só de um eu acho pouco! mas se o cara tem alguns, um estilo, uma assinatura, porque não??!!! Cineasta! Eu quero, curta, longa, media, teatro, minissérie...

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que está tendo um trabalho de valorização dos curtas. Andei vendo vários de cineastas famosos falando sobre a arte do cinema! Todos no formato de curta! Quem sabe...

Como é possível vencer no cinema nacional?
Uma boa história com uma boa equipe!!

Pensa em dirigir um curta futuramente? 
Sim!!  

Qual é o seu próximo projeto?
Estou estreando algumas peças agora e maturando uns roteiros pra levar uns espetáculos meus pra telona... mais um sonho

p.s.: Meus últimos trabalhos com o cinema foram documentários. Fiz os três últimos do Eduardo Coutinho.Jogo de Cena’ fui preparador de elenco e ‘Moscou’ e ‘Essa Canção’ como assistente de direção! Tenho um enorme prazer em trabalhar com Coutinho e um orgulho imenso de desfrutar do talento e generosidade do mestre!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Dedina Bernardelli

A carreira começou em teatro com uma peça baseada em romance de Jorge Amado: Capitães da Areia, dirigida por Carlos Wilson, o Damião, e que tinha no elenco Felipe Camargo, Maurício Mattar, Bianca Byington, Roberto Bataglin e Alexandre Frota, entre outros. No cinema atuou em filmes como ‘Os Vagabundos Trapalhões’, ‘As Sete Vampiras’, entre outros.

O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
O que me faz aceitar qualquer trabalho é me apaixonar pelo projeto, considerar que tenho algo a acrescentar aquela estória. Sentir que existe um encontro de minhas idéias e desejos com o que ele tem a dizer. Não importa se é um longa, um curta, uma peça de teatro.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
O curta metragem tem espaço em festivais próprios e gera discussões e interesses dentro do núcleo do cinema. Talvez não haja tanto espaço na mídia porque não um curta não gera grande circulação de dinheiro e sabemos  que o interesse da mídia é comercial.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Mais mostras de curta metragem ajudaria a atingir um público maior. Não acredito no curta imposto antes de uma sessão de cinema, acredito como linguagem própria, mesmo assim pessoalmente prefiro um curta ao invés dos eternos trailers.
  
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Sim, é possível, o problema é a captação para tal. Sabemos que não há  retorno comercial, portanto é sempre mais difícil captar.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
De maneira alguma. Um bom curta é melhor que um longa ruim. O que importa é a qualidade do trabalho.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Nunca pensei, mas não descarto a possibilidade.

sábado, 14 de julho de 2012

Fernando Alves Pinto

Fernando é ator, protagonista do filme ‘2 Coelhos’. Atuou também em ‘Nosso Lar’, ‘Lula, o Filho do Brasil’, entre outros. Em curta-metragem, ‘Gasolina Comum’, ‘OFusca’, ‘O Sumiço do Amigo Invisível’, são alguns dos trabalhos que podem ser conferidos.

O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
Sintonia. Algum tipo de identificação, seja com o tema, personagem ou equipe, já que é um trabalho de equipe, de time. Acho que todo o trabalho deveria partir de isso, "vamos contar uma história? encenar um poema? Mesmo os que não partem desse ponto, acho que deveríamos levá-lo até aí pra sair.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Comparo os curtas-metragens com os contos ou poemas, eles são mais discretos a princípio. É um erro da mídia, os curtas são discretos, mas não desimportantes. E a produção de curtas, é feita na maioria por jovens equipes ainda não conhecidas, então não existe o apelo da mídia, que raramente se norteia pelo "conteúdo" de princípio.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Existem longas-metragens feito de Curtas, como livros de contos. Me agrada muito essa idéia, por mais que isso seja difícil e os curtas, por vezes pedem seu tempo, pra digestão, e um aglutinamento pode ser terrível. Me agradava muito também a exibição de curtas-metragens como aperitivo antes dos longas, houve até tentativas de ressuscitar esse hábito. Acredito que a manutenção e criação de novos festivais (por mais que a aglutinação quase nervosa dos curtas nos festivais podem nos deixar um pouco perdidos)  e, principalmente, maior atenção da mídia, possivelmente com apresentação de curtas premiados e etc, lhes exibindo com a importância que tem.
  
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É que filmar um longa é delicioso, um mergulho por meses...  Mas acredito q existam cineastas q são melhores contistas do que romancistas, mas como nossa produção é pequena como um todo, fica difícil saber, e o padrão é mesmo esse do trampolim.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não acredito que seja. "Tamanho não é documento" já dizia o velho deitado.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim, certamente, ainda me procuro nos meus escritos e histórias, mas virá!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Dá-lhe Vikings! - Wanessa Rudmer

Joachim Trier é um jovem diretor norueguês, nascido em 1974 em Copenhagen, Dinamarca. Sim, ele é parente distante do Lars Von Trier, and that’s all, folks. O moço é muito talentoso e produz um cinema autoral, realista e atual. Além de muito bem dirigir, ele escreve, muito bem escritos, os roteiros de seus filmes.

Joachim é um expoente do cinema nórdico, que traz uma safra de excelentes filmes que retratam o nosso tempo sem verniz. Um cinema sem glamour e cheio de poesia.*  Seus dois longas são Reprise (2006) - Dois jovens e competitivos amigos, apaixonados por literatura e música, tentam publicar seu primeiro romance. Apenas um deles tem sucesso, enquanto o outro acaba numa clinica psiquiátrica.

Oslo, 31 de agosto (2011) é o segundo filme de Trier.

Conta um dia na vida de um adicto em tratamento, que é liberado da reabilitação para uma entrevista de emprego. A fotografia é matadora. Me encanta especialmente os takes iniciais do filme, com imagens da cidade e textos curtos sobre Oslo.

Thomas Vinterberg, é aquele dinamarquês que que entrou para o cinema contemporâneo ao lançar o premiado Festa em Famíia (Dinamarca-Suécia, 1998), marco inicial do Dogma95*, (movimento criado por Thomas em parceria com Lars Von Trier, que visa defender um cinema mais realista e menos comercial). Depois foi convidado para dirigir It’s all about love (2003), estrelado por Claire Danes, Joaquin Phoenix e Sean Penn, em Hollywood. De volta à Dinamarca, mandou o ótimo Submarino (2010) e The Hunt (2012), que tem estréia prevista para outubro deste ano. O diretor também é um dos responsáveis pelos roteiros destes filmes, entre outros.

Esses caras são alguns dos que fazem do cinema nórdico um dos meus programas favoritos nesses dias frios. Pra quem não viu, eu recomendo.

Wanessa Rudmer é atriz, produtora do Grupo Cemitério de Automóveis e colunista do blog ‘Os Curtos Filmes’.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Cynthia Falabella

Cynthia é atriz. Trabalhou na novela ‘O Clone’, onde substituiu a sua irmã, Débora Falabella por uma semana. No cinema atuou nos curtas ‘Manual Para Atropelar Cachorro’ e ‘Quarto 38’.

O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
O roteiro, um bom personagem, o talento da equipe (muitas vezes amigos com grandes ideias).

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que isso esta mudando gradualmente. Vejo um espaço em crescimento, mas sinto que as pessoas veem o curta como um certo "inicio de projeto" e sinto que isso é um certo preconceito sim da própria mídia.  o publico de curta é bem especifico, normalmente os curtas não tem um cunho "comercial forte".  Eles são um espaço, muitas vezes, de experimentação de linguagem.  Por isso têm um apelo diferente.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que eles estão indo por um bom caminho, talvez a exibição de curtas em canal aberto seria um bom começo( projeto difícil). Mas, já alcançou um bom espaço no Canal Brasil  por exemplo e vejo um numero crescente de publico em festivais de curta como o de São Paulo e Belo Horizonte.
  
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Sim, acho possível, mas acredito que a paixão ou a vontade de fazer cinema no olhar de um diretor não passa por esse lugar. o que vale é o fazer. Fazer um filme, contar uma historia. E pode ser que em algum momento ele (esse suposto diretor de curtas), sinta vontade de contar uma história mais longa. e isso é o que é mais significativo.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não acredito nisso. Acho que os cineastas respeitam sim esse formato, claro.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Penso em trabalhar mais  por trás como já trabalhei na direção de atores. Ainda não pensei na possibilidade de um projeto  de direção, mas... quem sabe?

domingo, 8 de julho de 2012

Lavínia Pannunzio

Lavínia é atriz. Uma das maiores expoentes do teatro brasileiro, já trabalhou também no cinema e na televisão. Ganhou diversos prêmios, entre eles APCA e Coca-Cola/Femsa (como diretora) e Mambembe (atriz).

O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
Em 1º lugar porque adoro trabalhar como atriz e os diversos formatos me interessam.
Em 2º lugar, adoro cinema. Assisto a quase 10 filmes por semana, religiosamente.
Em 3º lugar, o curta me parece ser um espaço de experimentação de linguagem onde tudo é permitido. Participar desse processo criativo é sempre muito bom.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
A desatenção dos jornais e mídia em geral, não é privilégio dos curtas. A questão desagradável que nos colocam jornais e mídia em geral hoje em dia, é que eles reservam cada vez menos espaço para divulgação ou discussão do que se produz em cinema - curtas ou longas - no teatro, literatura, dança, enfim. Toda uma conversa furada sobre mercado que não interessa nada. Só os fenômenos de bilheteria têm seus lugares ao sol. Os cadernos de cultura promovem um emburrecimento coletivo e avassalador. Já a internet tem papel relevante hoje, democratizando e difundindo trabalhos realizados em todo o mundo.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A exibição de curtas antes dos filmes nos cinemas é uma bela maneira de colocar o espectador em contato com esse trabalho. As redes de cinema gastam, em média, 20 minutos do nosso tempo com traillers e uma publicidade horrorosa enquanto se come imensos sacos de pipoca. Como apreciadora de cinema, eu adoraria assistir curtas antes dos longas. Mesmo as distribuidoras poderiam incluir curtas  como bônus em DVDs para compra ou locação para se assistir em casa... O público assimilaria a linguagem com prazer. As TVs abertas poderiam incluir em suas programações a exibição de curtas. A democratização desse acesso deveria ser levada em conta. Alguns canais têm programas especialmente dirigidos a exibição de curtas e isso é bastante importante.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Levando-se em conta que há gêneros na literatura além dos romances, como poesia, contos ou crônica, é possível que haja cineastas que se exprimam brilhantemente em curtas, e que isso seja uma finalidade em si. Mas eu não saberia precisar isso.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que não. A lista de cineastas que fazem ou fizeram curtas é enorme. Ultimamente há projetos que envolvem grandes cineastas em torno de pequenos filmes, como em PARIS, EU TE AMO / NOVA YORK, EU TE AMO ou CADA UM COM SEU CINEMA.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Hummmm... não... Penso em dirigir muito teatro, que definitivamente é minha praia. Mas penso e desejo muito atuar em curtas e longas. Amo o cinema!