quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Melissa Vettore

Melissa Vettore é atriz e jornalista formada pelo Instituto de Artes Cênicas (Coordenação Maucir Campanholi e CPT-Antunes Filho) e pela PUC-SP; completa sua formação em Nova York e Barcelona. No Cinema, atua no filme "Entre Vales e Montanhas", de Philipe Barcinski.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Primeiro o roteiro, depois claro a equipe, e qual a idéia central e desejo do diretor, porque as vezes somente lendo o roteiro não dá para prever a qualidade ou efeito do trabalho.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Creio que os jornais e a mídia em geral, no momento em que vivemos tem que dividir o ‘espaço da cultura’ com as tais ‘notícias instantâneas’, sem profundidade ou ganho para o leitor, o que populariza as mídias mas nos nivela num campo de interesse com poucas chances de desenvolvimento cultural. Esse é o cenário atual, vejo os jornalistas lutando pelo espaço da notícia, que perde para a massificação. Mas pelo que acompanho, acho que através dos festivais e mostras, o espaço do curta está protegido para melhor. Em São Paulo, a cidade acompanha as mostras. Mas esse espaço sempre poderia ser mais e melhor divulgado.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que o curta é um material mais artesanal, de pesquisa de autor. Esse espaço de experimentação deve existir sempre na Arte.  Mas essa complexidade de linguagem necessita ser cuidadosamente pensado para atrair o público.  Vejo uma semelhança também com o teatro de pesquisa, que não vai necessariamente atrair um número enorme de público, mas que tem um potencial de questionamento importante para a sociedade. Acho que os espaços públicos de cultura na cidade deveriam ser mais ocupados. A divulgação e a ocupação de espaços públicos cumprem múltiplas funções: quando você faz uma mostra, um festival, ou ocupa um museu, por exemplo, para a apresentação de algum curta metragem, você está promovendo encontros entre as pessoas, discussões sobre os temas e uso do espaço público. (O MIS - Museu da Imagem e do Som, há anos atrás era um lugar que cumpria essa função em SP, não sei qual a razão para não ser utilizado mais dessa forma!).

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho que o cineasta pode se especializar sim em filmes curtos. Mas pode ser que esse desejo se amplie para um longa, o que é realmente muito comum.  Comparo com os atores que ficam felizes no teatro e outros que querem conhecer também a tv. São dois mundos complementares mas com universos totalmente diferentes, e por isso mesmo podem ter dedicação exclusiva ou não.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Pelo que vejo, ele tem seu espaço de carinho, especialmente entre os cineastas.
Uma das coisas que admiro ‘no mundo dos curtas’, é a possibilidade do filme viajar para vários festivais espalhados pelo mundo. Essa troca de linguagem e cultura entre países, é uma das coisas mais importantes que um autor almeja. Quanto `a marginalização, acho que são muitos detalhes que podem levar a essa sensação. Mas não dá para colocar tudo misturado. E´ uma longa discussão que inclui a análise de como os ‘curtas’ estão posicionados no mercado, ou se há realmente um mercado para a Arte no País. Não se pode comparar a estrutura comercial criada para um longa, com a de um curta, isso deixará sempre a sensação de ‘desproteção’ em relação ao curta que tem outro potencial, outro objetivo.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Penso. Gostaria de criar o roteiro e discutir a direção, mas jamais abriria mão de um excelente fotógrafo. Acho importante o acabamento e a escolha da qualidade de imagem.
Nesse mundo de ‘culto ao que é visto’, me sinto na obrigação de cultivar imagens que renovem o seu modo de ver, e portanto sentir. A imagem tem um potencial de ‘resgate de sentimentos’ muito belo.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Zuzu Abu

É atriz e dançarina. Bacharel em comunicação Social pela FAAP e atriz formada pelo Teatro Escola Macunaíma. Estudou clown, canto popular, canto indiano, dança do ventre e dança indiana Odissi .  Como cantora e dançarina, Zuzu Abu é integrante do grupo de música étnica Mawaca.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Além de cantora (sou integrante do grupo Mawaca de música étnica), sou atriz. O que me cativa a participar de um curta: um bom roteiro, um personagem interessante, uma história de conteúdo intrigante ou uma boa comédia simplesmente, estilo com o qual me sinto a vontade. Gosto da síntese de se contar uma historia num curta.  
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Bem, falando da grande mídia.. nem acho que essa dê o merecido espaço sequer ao cinema. Afinal, fazer críticas e comentar especialmente cinema comercial não tem a dignidade que o próprio cinema merece.  Só se quer falar do que 'movimenta dinheiro'... o restante é tido como 'alternativo' e fica pra segundo plano.  E nesse pacote entra o gênero curta. Ainda bem que temos a internet!  Afinal, ela  é um sistema de distribuição de informação sem precedentes na história da humanidade. A coisa pode mudar por aí...
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Divulgação em larga escala pela internet... promoções de mini festivais ou jornadas de exibição, tipo 'saia de casa e veja 4 histórias no mesmo tempo em que veria uma"...  
Exibições gratuitas... 
Ter horários semanais com exibições de curtas nas salas de cinema convencional, estimulando o público a ir a lugares com os quais está habituado e conhecer 'coisas' diferentes: outras formas de comunicação na linguagem cinematográfica, outras formas de expressão... e não 'vou ver o Brad Pitt ou a Angelina Jolie'... Por favor!!!  
O teatro enfrenta bastante isso ainda... mas agora, além do 'teatrão' tradicional, as pessoas estão saindo de casa e lotando platéias de stand ups e shows de humor! Mudanças... Avant populi!! 
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho possível e não fácil.  Tem que ser articulado e meter as caras em todos os editais, festivais.. pra garantir a elaboração e a circulação das produções e mandar bala. Batalhar pelos incentivos todos. Mais uma vez acho a internet uma bênção!  Quanto ao trampolim, bem talvez seja o sabor do desafio que um longa represente a um cineasta que fez somente curtas.. mas, por quê não ficar nos curtas?  Nem todo ator precisa fazer um monólogo pra se sentir completo!  Fazer bem um papel no meio de um elenco, independente do tamanho destes (papel ou elenco..) já é uma grande tarefa! 
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não afirmaria isso.  Vejo que há expoentes indiscutíveis em ambos os setores, com trabalhos de qualidade e refinamento artísticos.. como há desprezíveis ou de qualidade duvidosa.
Se souber de algum diretor de longa que pense assim (tipo, o curta é uma arte menor, etc..), já começo a suspeitar que o sujeito não merece muito minha atenção especial... Sinistrinho!
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Nunca pensei. Mas participar como atriz (como já participei..), com certeza! Se bem que idéias para roteiros é que não me faltam... vixe!! Só agora já deu vontade de uns 3... mas tenho a produção de um projeto teatral meu pra cuidar e isso já é outra grande tarefa! Então, como dizem os japoneses antes de uma empreitada: 'gambarimashô!'  Força para todos nós!

sábado, 22 de setembro de 2012

Sara Antunes

Sara é uma das maiores expoentes das artes cênicas do país. É atriz, produtora e autora. Seu último trabalho é o monólogo ‘Negrinha’, adaptação baseada no conto de Monteiro Lobato.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Aceitei as oportunidades que me apareceram, como uma boa amante de cinema ávida por experiências.  E vou entendendo que o curta é como uma capsula que a gente toma, as vezes tão rápida..e o que conta é a reverberação no corpo.
Entender como aqueles instantes condensados podem marcar iluminar e comunicar. A experiência, o desafio da síntese, imprimir os mergulhos verticais em instantes, naqueles pequeninos momentos respirações e olhares capazes de darem o prisma de toda uma vida... isso para um ator é muito instigante não é? No ano passado, fiz três curtas tão lindos e tão diferentes! 
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Tanta coisa boa produzida no Brasil, tanta sensibilidade. Mas a mídia não esta muito no compasso da arte, mas da mercadoria, como bem sabemos,  naquilo que pode vender e convenhamos que curta não tem muito apelo comercial.
A prioridade da mídia é a superfície e não a formação cultural de um povo  ou seja, está coerente a seus propósitos, infelizmente.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Fala-se muito que o cinema hoje padece com essa questão da exibição da obra, tanta coisa produzida de qualidade e tão pouco vista. É fato. A própria internet hoje é um veiculo tão forte e o curta se adequa ao tempo do computador, da televisão também, são veículos que não substituem  a experiência e o ritual de ver filme no cinema, mas podem ajudar na difusão! Mas para mim a grande questão não paira só na exibição, mas na formação de um público interessado. As coisas devem correr paralelas, mas não podemos olhar para a exibição e distribuição sem olhar com grandeza para a educação e a cultura.
Os problemas- acho que quase todos residem aí - é na base da pirâmide. Não na curva final do produto até chegar ao espectador... Mas, na própria formação dos sujeitos. Daquele que vê atiçar a fogueira do interesse pela arte em cada um, eis um desafio, porque o lugar da arte é o espelho, momentos de reflexão, sublimação, momentos fundamentais para a expansão de toda sociedade e todo ser humano.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
È claro que o curta por suas proporções é um portal para o longa, um convite de entrada para a empreitada, uma possibilidade de experiência. Mas se ele só for encarado assim pode ser perigoso do ponto de vista artístico.
A questão gira em torna da inviabilidade deste país em produzir cultura. O descaso e a falta de verba faz com que o curta seja uma escolha muito mais econômica do que artística. O resultado vai revelar essa nossa dificuldade de produção. E o artista não deveria estar submetido a esses imperativos econômicos, sem dúvida.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Voltamos a questão da produção. Se os meios fossem mais simples muitos artistas optariam pelo curta como opção puramente artística, atento ao material e a obra.  Como a decisão de um escritor quando opta por um conto ou um romance, um haikai ou uma poesia, são linguagens e opções estéticas que não deveriam ser hierarquizadas. Fazer um bom curta deveria ser tão desafiante como fazer um longa.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Dirigir ? Sou uma atriz-autora, tenho muitas ideias, penso muito mais em roteiros e argumentos do que na direção propriamente e com tanto cineasta bom espalhado pelo nosso Brasil... Parcerias sim, quem sabe? Ainda há muito que se fazer e gosto de portas abertas... e desafios! 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Alice Assef


Alice é atriz, viveu a travesti Ana em "Amor em Quatro Atos", ao som de "O que será – À Flor da Pele", de Chico Buarque, microssérie inspirada nas canções do compositor.
 
O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
Curtas-metragens são uma ótima forma de treinar cinema e imaginação. Por ter um formato menor e uma suposta conotação de exercício, o que reina é a liberdade da experimentação. E sem esse peso é como se o trabalho pudesse ser mais autoral para todos em suas respectivas áreas.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral? 
Essa pergunta é curiosa porque se vivemos atropelados pelo excesso de informação, se o que temos hoje é uma pandemia de déficit de atenção, se não sabemos mais prestar atenção nas coisas nem no que focar para que nosso tempo não seja desperdiçado, não seria o curta-metragem um ótimo formato para essa era? Ele apenas não foi descoberto ainda por um vício de comportamento de mercado.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público
Para começar deveria haver uma divulgação maior. Os curtas poderiam ser colocados juntos, como em festivais, só que em circuito regular, talvez agrupados por temas afins. Dizem que não conseguimos focar numa mesma coisa por mais de 15 minutos consecutivos. Nesse caso, o espectador  se sentiria mais sagaz ao assistir histórias curtas sobre um tema que lhe interessasse. Ou talvez para todo longa devesse haver sua versão curta, após a sessão. Isso talvez conduzisse um público viciado a um novo hábito. Ou ainda, haver uma projeção de um curta antes de cada filme, como a Pixar faz com seus "curtinhas" antes de cada sessão... ideias.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Enquanto os espectadores não tiverem o costume desse formato menor, acho difícil. As leis também não ajudam. Pelo que sei, um patrocínio de longa-metragem só sai pela Ancine se o cineasta tiver feito três curtas. Ou seja, o curta-metragem já é colocado como um lugar de exercício apenas, e não como um "gênero" artístico capaz de atingir grandes massas.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Marginalizado, não diria, já que ele é um pré-requisito tanto em lei quanto em escola, mas talvez a lei imponha uma hierarquia nesse sentido. Além disso, criar um bom argumento é uma tarefa árdua. E imagino que para um cineasta deva ser muito difícil não querer tirar tudo dessa idéia. O artista quer esgotar tudo o que pode ser dito sobre um tema  a fim de que sua obra seja reconhecida e avalizada.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Apesar de levar jeito para direção de atores, me sinto muito insegura em contar uma história e ainda não me sinto capaz de defender uma estética para tal. Faço direção teatral na UFRJ. Quem sabe depois de me exercitar lá não crio coragem para pegar numa câmera?

domingo, 16 de setembro de 2012

BISTURI - Rejane K. Arruda

A Palavra na Carne ou o Fio dos Seus Olhos:
Uma Reflexão Sobre Irandhir Santos em “Febre do Rato”


Eu já tinha visto Irandhir Santos em“Olhos Azuis” (José Joffily, 2007). A intensidade com que desempenhouo papelme entusiasmou. Quando me deparo com um ator assim, intenso, pergunto-me o que latejaali, naquele engajamento. Se há algo escondido. Afinal, como pode colocar-se em uma situação que não é a sua, com palavras que não são as suas com tamanha apropriação?É sobre isto que gostaria de refletir, um pouquinho, neste texto.
Em 2004, quando filmei “Corpo” (Rewald e Foglia, 2006) com Leonardo Medeiros,escutei ele dizerque oseu personagem tinha pouca ação externa, mas muita ação interna. São termos que recheiam o cotidiano, a prática e a pesquisaem nosso campo; termosque adquirem um valor todo especial para nós, atores. Seja em referência a uma visualidade com a qual, em rememoração, sustentamos o nosso olhar (e, oculta, não se inscreve na tessitura da obra apreendida pelo espectador), seja em referência à imagem que, acústica, ecoa e provoca o corpo.Ou, ainda, a uma fala externa que, devidamente emaranhada na cena, também cumpre a função de atiçar, pinçar, o corpo.
Mas poderíamosdizer que esta divisão (interno e externo)perdeu o sentidodesde que, contemporaneamente, se abriu mão de uma imanência do sujeito. De que “interno”falamos?Desenvolvo: seria o interno do corpo? Poderia, pois temos um coração (e o termo “sangue” adquire, então, todo ovalor). No entanto, quando um ator se enche de afeto, ele o sente por todos os poros, bordas e superfícies: internas e externas. Ou, seria interno à alma? Mas há algo fora disto,se o simples ato de captura do mundo pelo olharimplica algo de próprio?
De maneira que, analisar o trabalho de um atornospermite entrar em questões que ultrapassam o nosso campoe este exercício torna-se instigante. Poderíamos dizer que pensar o ator nos abre a porta para pensara questão do sujeitoenquanto tal, apresentado no pensamento pós-Freud ou pós-Lacan como dividido pela refração do significante (e não mais imanente, não mais um ser com dentro e fora, enquanto o corpo individual está atravessado pela linguagem, estrutura que não é sem resto, resto-causa da pulsão que sentimos no corpo).
É o que Irandhir Santos parecetestemunharem “Febre do Rato”, repetindo o mesmo engajamento corporal nas palavras que havia construídoem outros filmes e especialmente em “Olhos Azuis”, quando interpreta um brasileiro barrado nos EUA.Mas em “Febre do Rato” ele vai além, porque o filme tematiza, entre outras coisas, esta relação:corpo-palavra. Ou palavra-corpo: o poeta escreve sobre a pele; os corpos são xerocados como as palavras dos livros;o verboexpelido no ar é condição primeira de vida. É como se opoeta não disfarçasse, não fizesse a menor questão de guardar para si o tecido de que é feito. No ar, ele solta-se, liberta-se, desencarrilha-se, desfia-se. Ainda no banho ou no sexo, a vertigem de tudo o que esta fala deixa de fora: um urro latejando o filme inteiro. A paixão dói, a exclusão dói, a palavra escorre. Ele experimenta o xixi (em uma ontológica cena com Nanda Costa). Não se corta, mas a exposição da pele na rua, a voz aos quatro ventos no meio das favelas, a veia solta, ele ri e ri e ri. E some.O poeta morre.
E, como espectadora,eu lamento porque ele não teve mais cuidado. Lançar-se assim aos ratos? Em um rio sujo de uma Recife suja. Seus amigos continuam sorrindo e ele cara a cara lá com os ratos. Mas, como atriz, acredito que a amarração entre palavra e gozo está escancarada nestaperformance e também na que este ator trabalhou no filme “Olhos Azuis”. Vale a pena pensar um pouco sobre o que, tal como o seu personagem poeta,Irandhirtestemunha com a entrega à vertigem de uma amarração entre palavra e corpo assim exposta diante do outro.Às palavras, às quais falta o ser, ele empresta a carne; testemunho de umcorpo sulcado pela linguagem cujos traços, na incidência da palavra de outro, se encontra. E talvez o caráter enigmático da atuação de Leonardo em “Corpo”também implique este recheio de um pensamento vazio cravado na carne. Tornamo-nos, nós atores, agenciadores de uma plasticidade que não se dá a ver, tal como o segredo ou a mentira. Ou ainda, como o artifício, artesãos que somos dos fios de nossos olhos.

Rejane K. Arruda para a BISTURI de setembro de 2012.
                                                 

Rejane K. Arruda é umaatriz catarinense, também encenadora e professora. Membro do “Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator” (CEPECA), na Universidade de São Paulo, desenvolve pesquisa de doutoramento em Artes Cênicas com apoio da FAPESP junto à criação do espetáculo “Casa”. Em cinema atuou em “Rendas no Ar” (Sandra Alves, em finalização), “Medo de Sangue” (curta de Luciano Coelho, 2011), “Corpo” (Rewald e Foglia, 2006) e “O Veneno da Madrugada” (Ruy Guerra, 2006), entre outros.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Mari Pin

Mari Pin é caracterizadora e trabalha na Rede Globo de Televisão.


O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
Um bom roteiro para mim não existe restrições se o roteiro é bom pode ser longa ou curta, eu tenho que me apaixonar, faço até de graça.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por que são não são bem divulgados e não geram lucros. 

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Poderia existir um projeto em todas as cidades do Brasil  de fazer um dia no mês de exibição de curtas em praças publicas. Todos teriam oportunidade de assistir sem restrições

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Sim, o curta é uma linguagem por si só, não é uma limitação. Curta é como um conto não precisa virar um romance e tem escritores que só escrevem contos.  

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Sim. E acho uma bobagem porque  é muito mais difícil  fazer um bom curta do que fazer um bom longa .

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Jonas Bloch

Jonas é ator. Começou sua carreira há cinquenta anos, na pioneira TV Tupi, mas é conhecido pelos papéis que representou nas regravações das novelas ‘Irmãos Coragem’ e ‘Mulheres’ de Areia, da Rede Globo. No cinema são mais de 20 produções, entre elas ‘Amarelo Manga’ e ‘Cabra-Cega’.


O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
A maioria dos curta metragens são feitos por iniciantes, pessoas apaixonadas por cinema, a mesma paixão que tenho.  Só isso já é uma razão para participar, além de compartilhar de algo que, sabemos, não nos trará lucros, só satisfação artística, que é a essência de nossa busca.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Quando fiz os primeiros curtas, a situação era muito pior que a de hoje. Vejo matérias, festivais, premiações de curtas, que seriam impensáveis anos atrás. O fato da maioria dos curtas serem feitos por gente inexperiente, dificulta receber um respeito tão grande quanto de um longa, feito, na maioria, por gente que passou por uma trajetória. 

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Uma pessoa quando sai de casa, enfrenta o trânsito, o estacionamento, etc., vai com a expectativa de assistir uma história contada de uma forma ampla, o que não é possível em 15 minutos de exibição, não atende às expectativas. Creio que a solução seria uma associação de diretores de curtas, que filmassem o mesmo tema e, reunindo todos, daria um longa. Tenho este projeto, já que filmei vários curtas com uma temática não realista, acrescido do fato de apresentar o mesmo ator em idades muito diferentes.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...

É possível, se considerarmos que ser artista não depende de mercado. Van Gogh que o diga. 

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Creio que não. Nem pelo público. Basta ver a reação das platéias nos festivais. O que o pessoal do curta tem, é uma espécie de frustração. Comparo com atores que acham que só seriam consagrados se trabalhassem em televisão, o que é uma mentira. Fazer um longa, para o cineasta iniciante, seria como entrar na Globo ou na Record para os atores, o que, artisticamente, pelo tipo de "artistas BBB" que ocupa nossas telas, não é nenhum atestado de competência.  

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Já pensei, sim. Quem sabe? 

domingo, 9 de setembro de 2012

Adrian Cooper

Depoimento para o blog ‘Os Curtos Filmes’.
 
Como diretor (mas não me considerando como tal) fiz dois filmes; um curta e um media-metragem...sendo que o tempo de duração de cada filme foi determinado tanto pelo tamanho da ideia que queria expor, como pela quantidade de dinheiro disponível para realizá-lo. Na época não passou pela minha cabeça que eu estava me 'preparando' para dirigir um longa-metragem, tanto que nunca dirigi e acho que nunca vou dirigir... (mas, nunca diga nunca!!). Eu era, e queria ser um fotógrafo e eu amava o fazer do cinema como um todo. Acho que isso deve ser uma verdade para a maioria dos curtas-metragistas. 
 
Ao mesmo tempo, acho que um das funções do curta-metragem (mas certamente não a única) é ser um 'mordedor' para a coceira criativa de um jovem cineasta. A vontade de fazer cinema nasce cedo, mas a capacidade técnica de fazê-lo bem exige muito tempo de pratica e experiência - e na medida que fazer cinema custa muito dinheiro (algo dificílimo de conseguir) a opção para fazer um filme pequeno faz parte da necessidade pratica e evolutiva de um realizador. A existência e ampliação dos prêmios estímulos e a multiplicidade dos festivais dedicados a esse formato são exemplos do reconhecimento da importância do curta-metragem nesse processo.
 
Com isso não quero dizer que eu considero o curta só um espaço de aprendizagem, pois há curtas (e muitos) de grande valor artístico e técnico. É um formato ideal para a experimentação, para a síntese e o impulso poético, para a expressão de ideias que não caberiam ou se perderiam estendidas num filme de longa duração. O curta pode representar em cinema o mesmo rigor e beleza de um conto na literatura, e há importantíssimos escritores de contos que nunca escreveram ou quiseram escrever romances. Guardo comigo a lembrança de alguns curtas que me tocaram profundamente e que alimentaram minha vontade e entusiasmo de continuar a fazer cinema, apesar de todas as dificuldades.... e, sem duvida, fazer cinema é difícil.
 
Acho que essencialmente o cineasta é um artista, (opinião muito pessoal)... mas, entendemos que o cinema (como muitas expressões artísticas hoje em dia) é sobretudo e por natureza uma atividade comercial regida pelas leis, exigências, limitações e preconceitos do mercado. É muito difícil para o artista aprender se expressar dentro dessas condições...pois, exige uma capacidade e persistência extraordinária para seguir adiante nessa floresta complexa e escura (alguns diriam, nesse deserto!) sem se perder a visão e o impulso original. 
 
O curta-metragem é um dos caminhos para aprender essa difícil tarefa.... e como tal tem uma importância vital para a saúde e maturidade de nossos cineastas e nosso cinema.
 
Por fim, para concluir... Não penso atualmente em dirigir um curta, mas, a vontade de realizar um filme - seja do que tamanho, bitola, ou natureza - é um constante na minha vida, como uma coceira de mordida de carrapato que não para de coçar.
 
Adrian Cooper é fotógrafo e diretor de arte inglês radicado no Brasil desde 1975, é um dos raros profissionais de cinema que se alterna entre as duas funções.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Isabella Nicolas

Isabella é jornalista, produtora e documentarista. Fundou a Book Filmes, produtora de conteúdo audiovisual para cinema, TV e empresas.
 
Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta-metragem está na base do cinema brasileiro. As primeiras "fitas" tinham duração de, no máximo, 10 minutos e eram todas documentais. Os longas de ficção tardaram uns 20 anos a ser maioria em nosso cinema. E, em momentos críticos como no início dos anos 90, quando Collor fechou a Embrafilme, foram os curtas que mantiveram o cinema brasileiro ainda produtivo.  E essa tradição nunca se perdeu, principalmente entre os gaúchos e paulistas.
 
Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Os curtas têm relevância cada dia maior e já começam a atingir a mídia e a receber a importância devida, principalmente porque, alguns dos novos e promissores nomes da direção, como Esmir Filho, Philipe Barcinski, Gustavo Spolidoro e Selton Mello começaram no curta. Com o sucesso de seus longas em festivais, a crítica acaba citando seus curtas. E os festivais dedicados só a esse formato proliferam atualmente, no Brasil e no mundo.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Sem dúvida, não poderíamos dizer que todo diretor gostaria de ser curta-metragista para sempre. O curta continua sendo uma porta de entrada para o longa. Mas muitos já se deram conta do fantástico exercício  de síntese necessária a que se conte uma história em poucos minutos. Não é tão fácil quanto parece.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Pretendo seguir dirigindo apenas documentários e, apesar de não pensar em dirigir curtas documentais, admiro quem o faça e alguns trabalhos são dignos de muita atenção, como, por exemplo, o curta "Visita Íntima", um excelente testemunho sobre os encontros íntimos de esposas de presidiários com seus maridos, que otimizou de forma louvável o pouco tempo para traçar um retrato cativante das que se encontram nesta situação. O que produzo agora, sobre o produtor musical Liminha,  será provavelmente um média, já que, por total falta de paciência de passar de dois a três anos correndo atrás de patrocínio, não foi sequer inscrito nas leis de incentivo e terá uma provável co-produção de canal de TV por assinatura e visa este veículo como canal de exibição antes de ser transformado em DVD.
 
Quais os planos da sua produtora em relação ao cinema, especificamente sobre curta-metragem?
A BOOK FILMES se dependesse só de seus filmes, não sobreviveria. Atualmente, vídeos empresariais e vídeo releases para gravadoras são o carro-chefe, mas nosso próximo projeto incentivado é um livro de arte, na linha de meu anterior, "O CINEMA BRASILEIRO NO SÉCULO XX" , intitulado "RESIDÊNCIAS DO PODER", que contará a formação dos estados brasileiros, partindo da arquitetura de suas sedes de poder. É um livro que agradará amantes de história, mas também de arquitetura urbanística. Como gravarei as entrevistas em vídeo, quem sabe também não virará um documentário. Já se será um curta, um média ou um longa, só saberemos na edição. Não me prendo a nenhuma metragem. Terá a que imprimir melhor ritmo e der o espaço necessário para a história contada. Foi assim que montei o último filme "SENHORES DO VENTO", que virou um longa, porque as diversas aventuras vividas pelos velejadores/protagonistas permitiram, mas poderia ter virado um média. Essa liberdade é importante.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Os Curtos Filmes no Festival de Cinema de Cascavel

Olá!
Recebi o convite para ser júri do Festival de Cinema de Cascavel. Em poucos dias estarei lá para avaliar os filmes que irão compor o repertório do Festival.
Para quem deseja conhecer um pouco mais o Festival, segue informações:
Festival de Cinema de Cascavel
O Festival exibe filmes em todos os formatos e gêneros, em mídia digital. Com programação ampla e exibida também em itinerâncias em distritos e escolas, pretende facilitar o acesso e colocar a população local em contato com o audiovisual.
Data:
16 a 23 de setembro de 2012
Categoria:
competitivo para curtas e longas de todos os gêneros
Locais de exibição:
Centro Cultural Gilberto Mayer, escolas, distritos da cidade
Programação:
Mostra competitiva, Mostra paralela (não competitiva), Mostra itinerante (escolas, distritos e outros), Mostra aberta (outros países e para formatos alternativos)
Informações: