terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Lusa Silvestre

O roteirista é um dos nomes mais requisitados do cinema nacional. ‘Estômago’; ‘Dois Sequestros’ e; ‘E Aí, Comeu?’, são alguns filmes que ele assina o roteiro.
 
Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta tem importância história no mundo todo. É como se começa a experimentar a técnica, a narrativa, os preceitos básicos do cinema. É o começo de tudo.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que por vários motivos. Pelo formato, que dificulta o encaixe nos cinemas. E consequentemente, o acesso do público e a relevância de tudo em si. E pelo amadurecimento dos "curteiros", que logo partem pro longa, abandonando o formato.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?  
Mais mostras de curtas-metragem, com material de qualidade. Como são os livros de contos de escritores consagrados. Luis Fernando Veríssimo não publica tudo que escreve - só os melhores. Ou horários alternativos em cinemas com o melhor dos curtas naquele semestre. Ou que se coloque curtas de qualidade antes dos filmes brazucas, no cinema, como já se fez. Acho que um bom exemplo é o que a Pixar faz: sempre um curta genial antes dos filmes (também geniais).
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É possível, ué. Curta é cinema também. Mas o diretor ficará com público e potencial comercial muito limitado.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
De modo algum. É, como você disse, visto por todo mundo como um trampolim, um exercício importante a ser feito. Mas eu e muitos outros vemos como parte de um processo. Que não deveria se findar nele mesmo, neste começo. Mas se o diretor gosta do formato, se ele domina o formato, pode ficar só no curta. Sabendo que ele será não marginalizado, porque sou contra a palavra em si (me remete ao cinema glauberiano, que não gosto), mas sim limitado pelo próprio formato e mercado. 
 
Você é um dos roteiristas mais solicitados no cinema nacional. Seu trabalho está muito ligado ao longa-metragem. Que tipo de característica marca um roteiro de curta e de um longa?
A rigor, o longa metragem é construído em três atos - ou mais, dependendo do projeto e da loucura do roteirista. Mas o comum é escrever um longa em três atos. Isso não fui eu quem inventou - foram os gregos, três mil anos atrás, conforme está descrito por Aristóteles, no "Poética". O curta é resolvido em um ato só. O básico é isso.
 
Como é trabalhar com a síntese no roteiro de um curta-metragem?
Não acho que o curta seja síntese. Acho só que é uma história que está sendo contada em um ato só. Se o roteirista imaginar o cruta como um primeiro ato, e imaginar as implicações deste primeiro ato na vida do protagonista - tirando destas implicações os outros dois atos, temos um longa. O curta é como um conto literário, e tem sua grandeza também.
 
Qual é a grande diferença em escrever um curta e um longa?
Olha, nunca escrevi curtas. Escrevi contos. Acho que, sem ter a experiência, posso imaginar que é menos trabalhoso, porque tem menos páginas a se escrever. Em todos os casos, incluindo longa, curta, novela, conto, o que for, o difícil é ter uma boa história.   
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Puxa, acho que minha praia é só escrever. Vivem me perguntando quando vou dirigir um longa. Acho que nunca. Eu tento dominar a técnica de roteiro, que já é complicada. Pra dirigir, ainda tem fotografia, que é uma arte em si, ainda tem a montagem, outra arte em si, tem a trilha, a direção de ator, nossa mãe. Dá medo só de pensar.