domingo, 30 de junho de 2013

Danilo Grangheia

Ator formado pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD/ECA/USP) e pela Mary Ward Centre of London. No cinema, atua em “O Capitão chamava Carlos”, de Dida Andrade e Andradina de Azevedo, “London” (UK), de Ana Jara, “A mulher morta”, de Filipe Sales, entre outros. 
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Independente do formato, o cinema é um lugar de expansão da realidade. Boas histórias passam a ser o grande diferencial, passam a ser a identidade de um determinado trabalho. O curta-metragem tem a especificidade da concisão, da síntese, do essencial. Acho que essa ideia é a que mais me chama atenção e interesse em produções nesse formato. Do ponto de vista do ator, mapear o trajeto de uma personagem num curta-metragem é  aparentemente mais simples, no entanto, a dimensão desse trajeto por escolhas essenciais torna o trabalho tão complexo como um longa.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sei ao certo criar algum diagnóstico preciso para identificar essa falha. Mas o que salta aos olhos é que a pouca difusão de trabalhos em formato de curta-metragem ainda está atribuída e relacionada a questão econômica. A indústria cultural entende que esse formato é inviável financeiramente, o incentivo público (que poderia mudar essa mentalidade) passa a pensar nos mesmos moldes que a iniciativa privada. Isso acaba criando uma esquizofrenia nos modos de produção. A excelência artística agora isolada, infelizmente, já não é mais suficiente para criar espaços de veiculação das obras, o que reflete na pouca articulação da crítica em sua maioria.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Se alguma coisa tem quer transformada nesses termos creio que seja na cultura. O curta-metragem tem que ser encarado como uma obra que tem a sua especificidade e identidade e não como valor agregado. Independente da eficácia e necessidade de se apresentar curtas antes de longas nas salas de cinema, é importante tentar eliminar a ideia do curta ser um brinde aos visitantes. E para que essa mentalidade mude é preciso muito esforço. É necessário mais ousadia por parte dos fazedores e criadores junto as instituições competentes.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Tudo é possível. É possível que o curta-metragem seja um trampolim para um longa. É possível que um curta seja uma prévia para um longa, é possível que um curta seja um teste para se compreender a feitura de um longa e é possível que um curta seja simplesmente um curta por uma opção estética clara e que ele se baste nele mesmo. E para tanto, cada cineasta tem a sua particularidade.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Se há algum tipo de marginalização nesse sentido intuo que seja pelas mesmas razões citadas anteriormente. Os próprios fazedores de cinema são também responsáveis pela sua desarticulação. Todos querem de fato a projeção de seus trabalhos e para defender seus interesses muitas vezes se fez a prática de negar os interesses alheios. Agora, não acredito que haja ação pela negação e desqualificação. O curta-metragem pode ser sim uma opção estética.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Seria muito prematuro da minha parte querer dirigir quando o interesse está voltado inteiro e verdadeiramente no exercício do jogo da cena como ator. E o cinema é um campo, um lugar que ainda pretendo explorar muito nessa função. Mas como já disse, tudo é possível, não é mesmo?

sábado, 29 de junho de 2013

Karla Sabah

Atriz, cantora e diretora. Ex-integrante do grupo "Afrodite se quiser". Karla Sabah já dirigiu curta-metragens, videoclipes e DVDs para artistas da gravadora Indie, entre eles Alceu Valença, Jorge Aragão e Luiz Melodia.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Eu não aceito participar, geralmente eu produzo meus próprios curtas. É uma viagem muito pessoal para quem dirige, edita e/ou roteiriza. No caso de vídeo clipes, filmados em 16mm e telecinados é diferente, tanto no aspecto contratual como o produto final.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Sinceramente eu não sei responder a essa pergunta. Eu adoro todo o tipo de curtas e fiquei muito irritada quando pararam de passá-los antes dos filmes principais nas salas de exibição. Eu gostava muito e me preparava para a surpresa da sessão, "que curta seria?". Inclusive porque não eram divulgados mesmo. Talvez por serem muitos e/ou não estarem disponíveis na hora da impressão do jornal, ou serem de nível considerado "inferior" pelos padrões vigentes. Acho que as pessoas estão muito imediatistas hoje em dia e não querem "perder tempo com baboseiras". Eu via, e continuo vendo, muitos curtas legais. Aprendo muito com eles. Já participei da Mostra do Filme Livre, do Festival de Filme Universitário, de duas mostras de vídeo em Gramado... Curtas existem, festivais também, e tem muita gente os fazendo, não sei porque não falam deles.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Poderiam voltar com a lei que obrigava a exibição de curtas antes das sessões de filmes estrangeiros... ou criar um programa numa TV aberta de grande audiência, que falasse sobre a existência deles e os exibisse com ou sem legendas. Existe publicidade de lançamento de produtos de até 1min e meio de duração, ou programas de humor de meia hora com intervalos comercias, que todo mundo gosta e poderiam ser curtas. Os filmes de animação, por exemplo, tão em moda hoje em dia, são curtos.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Sim, por que não? Depende da vontade, da ideia, do tema, do roteiro. Acho que é uma questão de escolha. Normalmente todo cineasta começa com o curta como aprendizagem, testando ideias... Se bem que, atualmente, vários cineastas começam mesmo é com longas, logo de cara, e se profissionalizam rápido sem usarem curtas como trampolim.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Talvez por conta do custo de uma produção cinematográfica que é tão grande que seja preferível fazer logo um longa, não por preconceito. Na maioria das vezes curtas são produções com pouquíssima ou quase nenhuma verba. Para mim filme é filme, não importa o tamanho e sim o prazer que proporciona, rsrsrs.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não, atualmente minha meta é o filme documentário de longa metragem ‘Luiz Melodia, O Negro Gato’, em fase de captação de recursos, finalmente aprovado nas leis de incentivo fiscal, federal, estadual e municipal, que há 11 anos venho tentando realizar. Por causa dele, vários curtas como "Segura Na Mão De Deus E Vai", "Muvuca No Estácio", "Mal Secreto", entre outros que são trechos do filme, foram editados e esperam uma chance para se consolidarem.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Sergio Mastropasqua

Ator. Em cinema atuou em: "Linha de Passe", "O Ano em Que meus Pais Saíram de Férias", "Não por Acaso" e "Entre Vales e Montanhas". Em TV, atuou em "A Justiceira", "Carga Pesada", "A Grande Família", "João Miguel", "Guerra e Paz", "Malhação" e "Força Tarefa".
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Invariavelmente o talento de quem faz o convite. Há uma geração de realizadores muito profissional e que dentro do formato do curta  tem trabalhado a síntese dos elementos, articulados com ótima produção. São células de preparação e foco. Percebo que as equipes estão cada vez mais entrosadas. E quando as condições de trabalho são claras, os resultados aparecem e é bom fazer parte disso.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Talvez não tenham o espaço pela quantidade e variedade de linguagens dos filmes produzidos. Não há uma padronização reconhecível, graças à Deus. O curta é o espaço da experimentação por excelência. Experimentação  com rigor de narrativa, linear ou não. Já a grande mídia é institucionalizada. São amantes que falam línguas diferentes.  Mas os canais digitais estão ai. Estão até coadjuvando a queda de ditaduras. Vivemos tempos de revolução em relação ao tempo, formato e local de exibição do  áudio visual. Como diz o poema épico dos indianos: "Há muitas auroras que não brilharam ainda".
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A única forma é como vocês dizem: "botar o filme em baixo do braço", ou botar os filmes no HD. Juntar e articular esforços para os canais que já existem e pensar novas maneiras, principalmente a comunicação digital. A outra questão é: se quer falar com mais gente use a subjetividade sim, mas não isole sua obra para um gueto ou só para si. Numa época de saturação de narrativas, deve-se fazer uma obra não para agradar o público, mas tente conversar com ele. Nem que seja para provocá-lo.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Não sou realizador da área. Produzo meus trabalhos no teatro. Se é possível só fazer curtas? Acho que sim. Conheço gente que faz isso apaixonadamente. Quando ao longa-metragem, os custos são altos e é uma questão de oportunidade. O mercado brasileiro é "chapa branca". Depende de dinheiro do Estado. Não há uma dinâmica, principalmente em relação à distribuição, que permita um trabalho continuado de um criador. São poucos os que conseguem, infelizmente.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Meu convívio com "a classe" é pontual e se reduz, basicamente, ao momento do trabalho. Não tenho como responder. Mas se isso ocorre, é dai? Quem faz curtas é que deve se valorizar. A melhor maneira disso acontecer é problematizar a própria atividade e seguir em frente. Estrela, só no céu.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Tenho um projeto de trabalhar textos de teatro do século 19 num média metragem. Sei que o termo "teatral" é empregado nos sets de filmagem como algo pejorativo. Pouca gente de cinema lê teatro. Na verdade, pouca gente lê. Disso resulta que o conceito de "real" ou "realismo" no cinema brasileiro acaba ficando pobre e ingênuo. Geralmente resulta em diálogos inverossímeis, cujo dramatismo ainda depende muito do documentário. Isso é falta de um maior contato com outras fontes de narrativa: a literatura e o teatro. O excesso de lentes e luzes, por vezes, deixa o pessoal do cinema no escuro.

terça-feira, 25 de junho de 2013

R.F.Lucchetti: Memória Cinematográfica


 
A FÁBULA DO HOMEM PAVOROSO
Rubens Francisco Lucchetti

O homem pavoroso, com cara de espantar cuco, vai andando pela rua. Já está entrado em anos. Tem a cabeça dominada pela calvície, e a dentadura não lhe assenta mais. É um infeliz. Eu disse que ele “é um infeliz”? Pois essa é a mais pura verdade, e nunca disse com tanta propriedade que uma pessoa é infeliz.
Eis que surge uma jovem na janela. É linda – tão linda quanto as criaturas decantadas em versos pelos poetas – e grita:


– Ei você aí... Suba, por favor.

O homem pavoroso tem um estremecimento. Será que está sonhando? Não, não está sonhando. A coisa está realmente acontecendo. Ele não perde um só segundo. Sobe apressado as escadas.

Lá no alto, parada na soleira da porta, iluminada pela luz que vem de dentro da casa, está a jovem. Deve ter pouco mais de vinte anos. Seus encantos estão ocultos por um négligé, que mais expõe do que esconde. O homem treme de cima abaixo, mal podendo acreditar no que vê e ouve. E, assim que ele chega ao topo da escada, ela fala com uma voz capaz de ressuscitar frade:

– Faça o favor de entrar.

Ele entra e quase tem um colapso, quando ela lhe segura o braço e o conduz até um quarto. Depois, é levado até um berço, onde está uma criancinha que chora. Então, olhando com cara feia para a criança, a jovem diz:

– Olhe filhinho... se continuar chorando assim, o papão aqui leva você.

MORAL DA HISTÓRIA:

Não há ninguém inútil neste mundo, embora nem sempre sejamos utilizados naquilo de que mais gostamos.

Rubens Francisco Lucchetti é ficcionista e roteirista de Cinema e Quadrinhos.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Nico Puig

 
Você faz parte da memória afetiva de milhares de pessoas. Como é lidar com isso?
Tento seguir sem pensar... mas respeito minha historia e principalmente o publico... Trato as pessoas como gosto de ser tratado...
 
Aos 17 anos você já apresentava o programa ‘Revistinha’,na TV Cultura. Quais as recordações desse trabalho?
Foi maravilhoso ter a oportunidade de fazer um programa diário- Ao Vivo , no inicio do meu trabalho. Aprendi muito a trabalhar o improviso e me deixar levar pelas situações adversas... Trocar "figurinhas" com Dani Barbieri e Ariel Borgui e com todo o publico.
 
Como foi a experiência de trabalhar na TV Cultura?
Foi incrivel!!! Adorava chegar na emissora e abraçar as arvores antes de começar o programa. Fazer parte daquela epoca na TV cultura, com grandes programas premiados como Castelo Ra-Tim-Bum, Materia Prima e outros... fazer as coisas acontecerem com o que se tinha.
 
Atuando como o maquiavélico e poderoso Fred, de ‘Olho no Olho’, você ganha projeção nacional, como foi isso? É muito assustador?
Foi tudo muito rápido... e claro me assustou no inicio... antes era apresentador de um programa da TV Cultura em São Paulo e logo depois era antagonista de uma novela da TV Globo.
 
Em ‘Malhação’ você fez sucesso com o personagem Bad Boy, outro “vilão”. Por que esses papéis?
Talvez porque nunca fui o protótipo do galã, apesar de tê-lo feito em sex appeal e em outros trabalhos, mas sinto que o publico gosta de me ver no papel do vilão ... e os diretores também...
 
Por que todo ator diz que o sonho dele na profissão é fazer o papel de vilão?
São personagens que lidam muito com o subtexto... fazendo o ator sair da área de conforto... e acho que hoje o publico tb torce pro vilão...nem que seja pra ele se dar mal no final.
 
Não ficou com receio de ser tachado como ator de um tipo só?
Engraçado... me rotulam indiretamente...qual pergunta aqui foi feita sobre o Grande Pai...Sex appeal, Canoa do Bagre, entre outras que fiz personagens bons????????
 
Em 1998 você participou da novela Estrela de Fogo, na Record. Como foi a experiência de trabalhar em outra emissora após anos na Globo? Para um ator, quais os benecifios nessa transição de trabalho?
No meu caso estar mais proximo da minha familia...
 
Boa parte da sua trajetória artistica é dentro do SBT, na emissora você realizou muitos trabalhos (Pequena Travessa; Maria Esperança). Como é fazer telenovela no SBT?
Adoro trabalhar no SBT...comecei fazendo O Grande Pai lá...ainda na Vila Guilherme...só depois fui fazer Sex Appeal na TV Globo e as outras...
 
Comente sobre a sua relação profissional com a emissora.
Respeito mútuo e ambiente de trabalho familiar...
 
Também no SBT você fez uma participação no programa ‘Dedé e o Comando Maluco’. Quais as principais recordações desse trabalho?
Foi gravado em Santa Catarina... gostei de fazer uma personagem voltada para as crianças...
 
Como foi trabalhar com Dedé Santana?
Admiro seu trabalho e foi uma experiencia única...
 
O que ainda espera fazer na sua carreira?
Fazer um programa de reciclagem, releitura e resgate. Trabalhando meu lado' b' como designer da lata...
 
O contraponto da sua carreira é no teatro, onde os papéis que lhe oferecem são mais “leves”, qual seria a razão disso?
Meus trabalhos no teatro quase sempre são voltados para o humor... tendo visto que já ganhei prêmio de ator revelação fazendo comédia talvez por isso os convites para este tipo de espetáculo...mas já fiz musicais e também textos mais pesados...
 
Qual é a importância para a formação de um ator o trabalho no teatro?
Digamos que no teatro você aprofunda mais e tem tempo de se reinventar... Sendo assim uma ótima reciclagem profissional para o ator.
 
A caixa preta do teatro de certo modo não é intimidatória para o grande público? Ela não é muito canônica?
Depende do ponto de vista... acho a TV muito mais sinuosa neste aspecto...
 
Por que você fez pouco cinema?
Já fiz alguns trabalhos. Pobres Por Um Dia, Ecléticos Corações, este ganhando o prêmio no festival internacional Remake. Feliz Aniversario... entre outros...alguns curtas , outros médias...
 
Quais as chances de um novo cineasta lhe “fisgar” e contar com a sua participação no filme dele? O que ele precisa para te conquistar?
Bom roteiro boa equipe e bom olho cinematográfico.
 
O curta-metragem é o maior campo de liberdade para um ator?
Acho que o teatro de rua pode ser mais livre... para o ator... Talvez para o cineasta sim seja esta liberdade de experimentar a que você se refere.
 
O ponto mais polêmico da sua carreira é quando posa nu para a revista ‘G Magazine’ - que resultou numa das capas mais vendidas da história da revista. Apesar de parecer liberal, a classe artistica e o mercado de trabalho são bem conservadores em alguns apectos. Não ficou com receio de as coisas se estreitarem para você?
Tanto que evito falar a respeito...

quinta-feira, 20 de junho de 2013

BISTURI - Rejane K. Arruda

“Um Rosto para Pixote”
Rejane K. Arruda
“O ator em cinema não é um indivíduo que representa, porque ele não é um indivíduo e ele não representa” uma vez disse Vinícius de Moraes parafraseando a frase de Mallarmé sobre a bailarina: “N’esta pas une femme qui dance, parce qu’elle n’est pas une femme, et elle ne dance pas”. Para Vinicius “em cinema ou há grandes atores de teatro, os quais possuem através da experiência os requisitos necessários para agir em qualquer circunstância, ou há rostos”. Rostos (continua): “personalidades físicas, que o diretor plasma de modo descontínuo e de acordo com as injunções materiais do filme que ele executa”[1]. Permitam-me discordar. Há savoir faire no cinema que não vem do teatro. Há grandes atores de teatro no cinema, mas, digamos, aprenderam estratégias e posições diferentes; ou a jogar esportes distintos. Não quero partir para as diferenças entre teatro e cinema, mas me ater à proposição de Vinícius apesar de discordar. Ele fala de rosto.
É isto que vejo em “Pixote, A Lei do Mais Fraco” de Hector Babenco. Não só um rosto, mas o sujeito disponível ao trabalho fílmico. A coisa é construída de tal forma que dizemos: não poderia ser outro o rosto. Ao contrário de Marília Pera no papel da prostituta, exemplar da primeira categoria: atriz de teatro. A prostituta Sueli poderia ter qualquer rosto. Marília parece construir, no passo a passo das impressões, um semblante para Sueli. Vencendo a nossa resistência, exigindo certa dose de generosidade para, de repente, nos flagrarmos entregues. Um jogo “a brasileira”: atuação cujos materiais são o deboche, a subversão e o afeto. Lembro-me de Anecy Rocha em “A Lira do Delírio” (de Walter Lima Junior) e Claudia Raia no “Matou a Família e Foi ao Cinema” do Neville.
Talvez Vinícius tenha razão ao dizer “não representa”, pois encontra a verdade (termo problemático) de cada ação em separado. Como diz Vinícius, “o diretor plasma de modo descontínuo”. O filme constrói o rosto de Sueli. Marília é fértil nos momentos isolados, costura tecidos diferentes: dançar, beijar, rir, empurrar, expulsar, verbos onde se enlaça. É representação? É (discordo de Vinícius). E não é. É atuação. Que instala, na tessitura artificial do filme (ou do set com a equipe controlando a captação do som, da luz, da imagem, do tempo) algo que se precipita. O que Marília engata e em direção a quê? Ao ódio do machinho-filho-verde? Deixar Pixote. Construir um dique, um limite. Quantos significantes aquele rosto representa? E o menino (Fernando) que se foi?


[1] Ver texto completo “Do Ator”, de Vinícius de Moraes, no link: http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/article.php3?id_article=447

terça-feira, 18 de junho de 2013

Alessandra Maestrini

Atriz e cantora. Na televisão participou de Chiquinha Gonzaga; A Diarista; Pé na Cova, entre outros. No cinema: Polaroides Urbanas, Fica Comigo esta Noite e Através da Tela.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O interesse no roteiro, a identificação com o diretor e o aprendizado na linguagem cinematográfica. 
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Boa pergunta. 
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Gosto bastante quando vou ao cinema e eles são exibidos antes do filme. É uma grata e enriquecedora surpresa.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Não estou a para do mercado o suficiente para responder a esta pergunta com o devido fundamento. 
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Baseada na sequência das perguntas que acabo de receber; dá-me a entender que sim. 
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Tudo é possível. Tenho fome de criar e realizar.

sábado, 15 de junho de 2013

Max Fercondini

Ator. Atuou no longa-metragem ‘Uma Professora Muito Maluquinhae nos curtas-metragens ‘CD-Player’ e ‘Anfitriões’.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O desafio de interpretar algo inusitado, com personagens pouco convencionais numa linguagem que me desafie e instigue a platéia.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Talvez pelo fato de não ter a visibilidade necessária para gerar esse "feedback". Uma coisa depende da outra, a audiência aumenta o interesse e a repercussão que um curta possa ter na mídia.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?Particularmente, eu acompanho muitos curtas-metragens pela internet. Estou sempre acessando portais (em geral, estrangeiros) dos quais sou membro. Dessa forma, consigo estar atualizado dos equipamentos utilizados e das novas propostas. Acredito que estamos vivendo uma grande revolução com a chegada das DSLR filmando em formato 1080p (24, 30 e 60 fps).
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acredito que todo cineasta estará sempre buscando novos desafios e, em curtas, não atingirá o máximo de seu prazer. Talvez, em outros mercados, seja possível viver só de produções de curta duração. Claro que não é a mesma coisa, mas nos USA, por exemplo, existem cineastas especializados em trailers. O que seria algo muito mais restrito, mas, por conta da demanda, o profissional que presta este serviço tem um grande valor.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
O curta-metragem tem um respeito muito grande de todos que trabalham na area do audiovisual. Mas só se conquista respeito total, quando se coloca à prova da audiência dos cinemas. No final das contas, é o público quem dita as regras do mercado. Só se sustenta quem agrada ao público.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Já tive oportunidades de estar muito próximo da confecção de curtas-metragens. É um universo que me atrai muito. Como tenho um bom equipamento de lentes e câmeras, penso sim em exercitar minha criatividade em curtas-metragens.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Sacha Bali

Ator. Começou a atuar em telenovelas em Bicho do Mato e ganhou grande destaque na trilogia Caminhos do Coração, onde interpretou o mutante Metamorfo.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
A identificação que tenho com a trama, com o personagem e com as pessoas envolvidas. 
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que porque os curtas não fazem parte do circuito comercial. A mídia em geral cobre aquilo que está em cartaz para que seu público-alvo possa assistir. Se não há acesso, não há porque ter espaço na mídia.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que seria interessante exibir curtas antes do longas, nos cinemas. Não precisa ser em todos os filmes, nem em todas as sessões de cada filme. Mas antes de longas nacionais, por exemplo, seria legal exibirem curtas também nacionais. Acho que o público gostaria e seria uma ótima vitrine para os novos cineastas.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Não vejo muito sentido em se fazer apenas curtas. É difícil se aprofundar em algo em apenas 15 minutos, além do que, como já falamos, não há espaço pra exibição. Por isso acredito que todo cineasta almeje fazer longas. A função do curta é mais uma experimentação, um desenvolvimento de linguagem, além de servir como portfólio para o cineasta. Como você mesmo disse, é um trampolim para longas.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que sim. Hoje em dia é muito fácil fazer um curta, você só precisa de um celular. Isso é ótimo, mas ao mesmo tempo acaba que muita coisa é produzida, a maioria bem ruim. Dá preguiça de assistir.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Já estou finalizando um e tenho alguns outros no papel, rs.

terça-feira, 11 de junho de 2013

R.F.Lucchetti: Memória Cinematográfica

O QUE DISSERAM DE R.F.LUCCHETTI

Rubens Francisco Lucchetti, um brasileiro que escreve ótimos contos policiais.

Policial em Revista, nº 167. Rio de Janeiro, abril de 1948
Rubens Francisco Lucchetti (...) é moço conta com 17 anos de idade (...). Esforçado, estudioso, pode ser muito comparado com um escafandrista que vive nas regiões abissais deste duro realismo, donde, de quando em quando, surge com uma de suas preciosidades literárias para apresentar aos amigos e admiradores, pelas colunas de jornais e revistas. Ao compará-lo com um escafandrista eu quero referir-me às suas condições de vida que o irritam e revoltam, ansioso para viver no mundo das ideias, livre das garras da realidade.

Washington Rodrigues de Oliveira. (Autor do livro: ‘Uma Revolução em Marcha’, em que contesta a Teoria da Relatividade de Einstein). Diário da Manhã, Ribeirão Preto, 24 de agosto de 1948.
Muito moço ainda, Rubens Francisco Lucchetti tem escrito para este jornal artigos que chamam a atenção geral e agradam bastante, não só devido ao fato de serem escritos corretamente, literalmente falando, como também, porque encerram assuntos importantes e raramente abordados. Em São Paulo, revista especializada publica contos de sua autoria, que, aliás, ótimo desenhista, faz as ilustrações desses seus trabalhos. Estudioso, inteligente e dedicado às letras, Rubens Francisco Lucchetti tem à sua frente, como intelectual, esplêndido futuro.

Diário da Manhã. Ribeirão Preto, 2 de fevereiro de 1949.
(...)Rubens Francisco Lucchetti, nosso colaborador de S.Paulo, segue as pegadas dos clássicos, dando-nos uma viva impressão do meio em que se desenrola o tema. Até mesmo os nomes dos personagens contribuem para tanto, bem como o método adotado na confecção do trabalho. Rubens promete, sem dúvida.

Policial em Revista nº 184. Rio de Janeiro, setembro de 1949.
Muito apreciamos seus trabalhos de critica literária, que revelam um espirito agudo e observador.

Raimundo de Souza Dantas (Escritor). Policial em Revista nº 189. Rio de Janeiro.
O moço Rubens transforma os seus lazeres em momentos de beleza duradora e está sempre fazendo o seu caminho atravessado de motivos rebustecedores do seu espirito inquieto, e que projetam luz, e alarguem, pelos clarões, a sua visão das coisas.

J.Guimarães França (jornalista e radialista). Suplemento Especial do Diário de Noticias. Ribeirão Preto, março de 1960. O autor refere-se à “Semana Chapliniana”.
Vocês verão, caros leitores, como possuímos também a nossa literatura policial e tão boa quanto às outras. Recomendamos principalmente o contato “A Biblioteca” em que se note no autor alguma semelhança com Edgar Allan Poe. Nota-se que, sem dúvida Lucchetti sofre grande influência do genial poeta americano.

Emoção nº 69, São Paulo, maio de 1963.
Rubens Francisco Lucchetti, sem dúvida um dos maiores estudiosos brasileiros da obra de Chaplin.

Alex Viany. Chaplin Ensaio-Antologia de Carlos Hitor Cony, Rio de Janeiro, 1967.
Quando se instalou a Editora Outubro, em 1959, havia na lista de suas publicações também uma série de pocket-books, chamada de Super Bolso, na qual saiu, em 1963, o título ‘Noite Diabólica’, que reunia uma série de contos de R.F.Lucchetti, ilustrados por Jayme Cortez. Esse volume, aparentemente despretensioso, foi o primeiro livro de terror escrito no Brasil.

Rodolfo Piper. O Grande Livro do Terror, São Paulo, 1978.
Nosso escrete de artistas nacionais é reforçado com a chegada de dois nomes bastante importantes e com um passado bem enaltecedor: Rubens Francisco Lucchetti e Nico Rosso. Lucchetti é um dos roteiristas mais prolíficos do Brasil, autor de inúmeros argumentos, pesquisas e ensaios sobre o macabro. Seu parceiro predileto, Nico Rosso, já é bastante conhecido pelos apreciadores.

Otácilio d’Assunção Barros. Spektro nº 4, Rio de Janeiro, janeiro de 1978.
Já nas livrarias o romance policial “O Crime da Gaiola Dourada”, de R.F.Lucchetti, que nada mais nada menos do que o roteirista predileto de Zé do Caixão. Além de novelista inveterado (...) dedica-se também às histórias em quadrinhos e ao desenho animado. Como “quadrinista” ele formou dupla com os maiores desenhistas do país, já tendo trabalhado para a “Kripta”, “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” e outras, sendo que mordeu um prêmio em França (1963) pelo filme “Tourbillon”, produziu quando recém-inaugurava o Centro Experimental de Ribeirão Preto ao lado de Bassano Vaccarini.

Nelson Motta. O Globo, Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1979.
(...) Posteriormente, o escritor Rubens Francisco Lucchetti propôs a Rosso (Nico) fazer ‘Nosferatu’, uma personagem que, no âmbito do terror, apresentava características novas, mais sutis, com significado erótico-psicológico, as quais modificaram, a partir dali, a orientação das histórias de terror brasileiras.

Vasco Granja. Tintin (12º ano) nº 2, Porto. 24 de novembro de 1979.
Até algum tempo atrás, apesar dos pesares, a literatura urbana carioca se restringia a poucos autores. (...). Hoje, talvez felizmente, as coisas tenham mudado e grande parte da literatura brasileira, aborda temas cariocas ou, pelo menos, escolhe o Rio de Janeiro como ambiente. Desde um livro ainda inédito de R.F.Lucchetti, escritor paulista (...) talvez seja o mais carioca, melhor, especificamente carioca, por sua linguagem tradicional, quase clássica, onde as personagens, reunidas às paisagens, formam um todo completo, acabado. Sendo também um livro universal, pelos dramas e sentimentos que trata de resto comuns a todos os homens de qualquer subúrbio e cidade grande, com suas misérias e picuinhas, é também um romance carioca.

José Edson Gomes. Revista Diners, Rio de Janeiro, fevereiro de 1980.
“A Maldição da Múmia” é um filme de terror mais vai além do cinema de terror, um filme épico (...) e angulação de histórias de quadrinhos, o roteirista é artista plástico e da palavra no espaço visual chamado Rubens Francisco Lucchetti de quadrinhos e terror que fez novela de rádio e mora na Ilha do Governador sem casa própria...

Gilberto Vasconcellos. Folha de S.Paulo, 17 de maio de 1981.
Também peça importantíssima, talvez origem da parte substancial da criatividade tão bem absorvida e posta em prática por Ivan Cardoso, é o roteiro de Rubens Francisco Lucchetti, muito conhecido como autor de histórias em quadrinho.

Carlos Fonseca. Última Hora – Revista. Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 1982.
‘O Segredo da Múmia’ é principalmente um filme sobre o cinema de terror. (...) roteiro de Rubens Francisco Lucchetti, depois que a produção conseguiu algum financiamento da Embrafilme. Lucchetti, autor de histórias em quadrinhos, roteirista assumido dos primeiros e originais filmes de José Mojica Marins (...) alinha personagens e situações típicas de policiais e filmes de horror com humor e precisão por toda equipe.

Edmar Pereira. Jornal da Tarde, São Paulo 21 de outubro de 1982.
Considerado superior até mesmo a algumas histórias de Agatha Christie, esta trama inteligente e precisa, repleta de emoção e de fino humor, é uma agradável surpresa para o leitor. (...) Desenhando seus personagens com invulgar habilidade, “O Crime da Gaiola Dourada” revela todo talento de R.F.Lucchetti, escritor digno de figurar entre os melhores do gênero.

Revista do Livro nº 48 – São Paulo. Janeiro/Fevereiro/Março de 1983.
Eu passei a maior parte de minha vida entre doutores entulhados de diplomas até a garganta, e por isso não tenho qualquer ilusão a respeito. Na verdade, quando tenho escolha, prefiro passar uma tarde batendo papo com o meu grande amigo Rubens Francisco Lucchetti, -- que não tem título nenhum, mas é a coisa mais parecida com um gênio que eu já conheci...

Geraldo Maia Campos. Dr.Prof. Emérito titular em Patologia da Faculdade de Odontologia da USP de Ribeirão Preto. Diário da Manhã, Ribeirão Preto. 31 de agosto de 1983.
(...) Reforçando nossa hipótese da presença dos ideais românticos do século XIX no cinema de Mojica, lembramos aqui a profícua parceria deste com o escritor e roteirista Rubens Francisco Lucchetti, “pai” da literatura de horror e suspense no Brasil e quase um avatar de Edgar Allan Poe.

Josette Monzani. Terror Cinematográfico Brasileiro. In Olhar Cinema, 2006
“O caminhão correndo por estrada meio escura. Vento forte agitando a vegetação e os galhos de árvores. Nuvens negras, correndo baixas e prenunciando temporal...”. A leitura do roteiro de Rubens Lucchetti mão deixa qualquer dúvida quanto à familiaridade do território, pois já nos encontramos muitas vezes com essas imagens, clichês audiovisuais da cultura de massa contemporânea que a obra cinematográfica de Ivan Cardoso vem revivendo e trabalhando com talento. (...) Roteirista e diretor, quando querem, usam e abusam das fórmulas prontas, sempre com a intenção de dar-lhes uma nova roupagem.

João Luiz Vieira. Caderno de Crítica nº 2. Embrafilme, Ministério da Cultura, 1986.
A imaginação febril de Lucchetti, é impressionada pelos velhos castelos, pelas casas decrépitas, pelas cavas húmidas e pelos corredores escuros por onde sopram os ventos do além, pressentindo presença fantasias, lugares tais jamais visitados mas nelas trafega com a mesma desenvoltura de quem lá sempre esteve.

Tem uma carta de Graciliano Ramos para sua sobrinha Beatriz que diz: “Você escreve sobre situações que não vive, personagens que desconhece, sua história fica irreal, escreva sobre você, suas experiências, coisas que vivencia, que conhece."

Eu concordo particularmente com relação ao caso da sobrinha, mas vejo que tu consegue, numa situação estranha, colocar realidade na ficção distante. Esta capacidade é um misto de invenção e magia que faz o transporte do artista a mundos outros que não o seu.

Por isto temos a capacidade de sentir e viver outras emoções que não as do cotidiano. Escrever e viajar na história é uma graça mediúnica e tu tens esta graça.

Em carta enviada ao autor por Carlos Augusto.

Brasília, janeiro de 2009
(o missivista é ator e teatrólogo)

Allan Poe, o mestre do gótico tem segredos revelados por seu maior discípulo brasileiro, o escritor R.F.Lucchetti.

Conhecimento Prático Literatura nº23, São Paulo, 2009.