sexta-feira, 30 de agosto de 2013

É AMANHÃ!!!

Todos estão convidados.

Claudia Mauro

A atriz em 'Eu sou o Samba'.
 
Você é atriz e bailarina. Como foi o inicio da sua trajetória artística?
Comecei a fazer ballet com 3 anos e teatro com 12. Meu irmão, também ator, André Di Mauro, tinha um grupo de teatro infantil chamado "Além da Lua". O grupo era formado por jovens de 16 anos que escreviam, dirigiam, faziam tudo. Encabeçavam o grupo além do meu irmão, a minha irmã Patrícia Mauro (hoje vocalista do grupo Tambor Carioca), a atriz Bianca Byington, o diretor e produtor Rogerio Fabiano e a autora Lícia Manzo. Eu vivia com eles e fazia aulas de teatro no Tablado. Eles me adoravam e me tratavam como uma mascote. Meu irmão, então, escreveu uma personagem para mim no espetáculo musical "Vira- Avesso" que, na época, rendeu a ele o prêmio Mambembinho de autor revelação e de melhor espetáculo infantil. Estreei profissionalmente no Teatro Dulcina, aos 12 anos.
 
O que a formação em balé contribui para a sua formação como artista?
Desde a disciplina profissional até a postura em cena. O ballet contribui em tudo. Te dá resistência, corpo saudável, postura, facilidade de se movimentar em cena, facilidade de incorporar tipos físicos, facilidade de decorar (pois você exercita a memória o tempo todo), te dá concentração e muita disciplina. Enfim, ajuda em todos os aspectos.
 
Há, atualmente, um debate muito grande em relação a iniciação de crianças no balé. Há os que defendem e os que são contra o ingresso na prática. O que pensa a respeito?
Acho que a iniciação entre 5 e 10 anos, pode ser boa. Quem começa o ballet cedo tem uma formação muito mais consistente. Porém só deve-se colocar a criança para fazer aulas, se ela pedir e quiser. Foi o meu caso. As aulas de ballet exigem muito fisicamente. Acho que não pode haver rigidez. Tem que ser uma aula cheia de prazer. Por isso é importante que a criança realmente goste e se identifique com aquilo. A mãe que coloca uma filha forçadamente no ballet, vai traumatizá-la. Mas hoje em dia tem muitas formas de iniciação para as crianças em todos os tipos de arte.
 
 
Sua formação técnica tem passagem pelo Tablado e CAL, no Rio de Janeiro, além de cursar a Faculdade de Letras na PUC/RJ. Também fez cursos de dança em Londres em 1986 e 1987.Dançou com Carlota Portella, Renato Vieira, Marly Tavares e Lennie Dale. O quão importante foram estes estudos?
O estudo é fundamental. Nesses casos, o estudo veio junto com a prática. Pois tanto no Tablado como na Cal, nós tínhamos montagens no final dos cursos. Não eram teorias apenas. É claro que um ator que tem conhecimento se torna muito mais completo. E nesse aspecto, a Faculdade de Letras foi maravilhosa para mim. Nós estudávamos literatura. Precisávamos ler muito. De qualquer forma, o importante é juntar as duas coisas. Estudo sem pratica também não adianta nada. Em relação ao ballet, nem se fala. Não existe bailarina sem preparo. É como o esporte: ou você sabe ou não. Você não consegue enganar no ballet. E quanto mais você se prepara, estuda, conhece os estilos de dança, quanto mais você faz aula, melhor você se torna. Você ganha consistência e experiência. Isso te prepara para as situações. Você tem mais firmeza e segurança quando vai para um palco profissionalmente, para um teste de TV, para uma aula de ballet com um professor novo. Enfim, estar preparado é muito importante. E preparo se consegue com estudo e prática.
 
Sua estreia no teatro profissional foi em 1981, no musical "Vira-Avesso", escrito por seu irmão André Di Mauro,com o grupo Além da Lua, sob a direção de Milton Dobbin. Como foi a experiência?
A experiência foi maravilhosa. O teatro infantil te dá um retorno surpreendente. Eu era criança também. Ali, aprendi muita coisa. Eu adorava estar em cena, no palco. Me divertia muito, mas sabia q era um trabalho que me exigia disciplina e concentração. Eu adorava ir para aquele mundo, para aquela fantasia. O Miltinho era um diretor que sabia lidar com aqueles jovens. Um diretor muito sensível. E eu, como disse, era a mascote daquele grupo.
 
Entre seus trabalhos no teatro, destacam-se: "Splish Splash", musical de sucesso nos anos 88/89, pode nos falar sobre esse trabalho?
Eu estava voltando de Londres, tinha 18 anos e fui fazer o teste para o coro. O Wolf gostou tanto do meu teste que ganhei um papel. Foi uma experiência incrível. Nós lotávamos o teatro. Era uma festa, um frisson na plateia. O publico cantava junto, gritava quando os atores apareciam em cena, tinha fã clube, uma tietagem imensa. A fila dobrava a esquina do Teatro Ginastico na época. Era um tempo em que se fazia teatro de quarta a domingo, sendo duas sessões de sexta a domingo. Nós tínhamos que estar muito preparados. O Splish Splash foi um fenômeno em meio ao final da década de 80. Um período inesquecível. Tive a sorte de estar ali naquele momento.
 
A atriz em 'Splish Splash'.
 
Consta também no seu currículo o premiado "Salve Amizade", de Flávio Marinho, "Bodas de Papel", de Maria Adelaide Amaral, "Caixa Dois", de Juca de Oliveira, com direção de Fauzi Arap. O que é o teatro para você?
Tudo na minha profissão, o que eu sei fazer de melhor. Eu cresci no teatro e aprendi tudo ali. Me sinto a vontade. Acho que um ator tem que dominar o palco e a plateia. Mas isso não quer dizer q um ator de teatro experiente vá dominar um set de TV ou de cinema. São veículos diferentes. Na verdade, a prática é que leva a esse domínio. Eu "pratiquei" mais teatro. Estou em casa.
 
Na minha opinião, a pratica do teatro é a mais completa, no sentido de que não há como enganar. Você não pode repetir, regravar. Não há luz do sol, não há fotografia, nem edição. Deu o terceiro sinal, você pisou no palco, é fazer o seu melhor de primeira. E se der alguma coisa errada, tem que se virar. É claro q para isso existe algum tempo de ensaio, às vezes até mais de um mês. Na TV você estreia no primeiro dia de ensaio. No cinema, a fotografia é tão importante quanto a atuação. Enfim, tudo é fascinante e exige concentração, disciplina, estudo, pratica e acima de tudo: você precisa nascer para isso. Precisa ter o dom e a vocação para aguentar o que gira em torno da profissão e para conseguir envelhecer dentro dela.
 
Qual a importância de atuar no teatro?
Acho que já respondi um pouco disso na pergunta acima... mas posso dizer ainda que: no teatro você está diretamente ligado ao publico. A sua emoção e a emoção daquelas pessoas ali te assistindo estão misturadas. Isso faz acontecer uma magia naquele curto espaço de tempo que te mostra o verdadeiro sentido da arte de interpretar. O teatro é vivo. A relação ator/público é imediata. Não há como enganar.
 
Em ‘A Flor do meu Bem-Querer’, de Juca de Oliveira, dirigido por Naum Alves de Souza, é uma contundente crítica politica, mas que não acabou fazendo efeito nos tempos atuais, onde a classe artística e principalmente a população são despolitizados. Vocês esperavam mais debates em relação a essa peça?
Em São Paulo até que a repercussão foi bem grande. Mas o Juca vinha de um fenômeno: o Caixa 2. As pessoas acabavam comparando os espetáculos e Caixa 2 realmente era imbatível. De qualquer forma, a história do filho do FHC rendeu bastante e o Juca chegou a fazer na época a capa da revista Carta Capital. Contudo, apesar de ter feito sucesso, a peça não virou um fenômeno como o Caixa 2.
 
Com Juca de Oliveira em 'A Flor do Meu bem Querer'.
 
Recentemente, escreveu seu primeiro texto: "Cabaret Melinda", que conta com a direção de José Possi Neto. Como foi essa transição para a escrita?
Eu sempre gostei de escrever. A faculdade de Letras não foi a toa. Rs. Tinha um monte de coisas escritas guardadas. Até que um dia o Ney Latorraca, que é um grande amigo, me deu uma ideia para um texto. Eu sentei na frente do laptop e saí escrevendo. Esse texto está guardado até hoje. Um dia sai da gaveta...
 
Bom, mostrei esse texto para ele e para alguns amigos que me incentivaram muito a continuar escrevendo. Quando terminamos o espetáculo "O Baile", o elenco decidiu montar uma cia. Queríamos continuar a trabalhar juntos. Eu sempre tive vontade de fazer um Moulin Rouge brasileiro. Então, inspirada no Vira- Avesso, que era a historia de três extraterrestres que caiam no planeta terra em meio ao carnaval e entravam dentro do corpo de um brasileiro, tive a ideia de fazer um cabaret que se passava dentro do corpo de uma diva louca. A Cia. adorou a ideia e o Possi também. Juntos, fizemos uma grande criação coletiva. O texto é meu, mas tem a mão de todos. Como sempre me interessei pelas pesquisas na área de engenharia genética, neurociência e criogenia, achei que poderia misturar no Cabaret Melinda um pouco de ciência com arte. É claro que tive a influência direta do meu irmão, André Di Mauro, o autor do Vira- Avesso. Desde a adolescência conversamos sobre esses assuntos. Ele sempre foi meio cientista e tem lá as teorias dele, que eu adoro. (risos). Acho que esse tema é muito atual. É o que a nossa geração está realmente vivendo no momento. Há uma enorme evolução nessa área científica. A geração dos meus pais viveu a ditadura, a revolução feminina, toda a loucura daqueles anos 60/ 70. A nossa geração vive essa onda nova. Tecnologia e ciência juntas. Vai de sexo virtual a fertilização in vitro. Clonagem não é mais ficção e as novas descobertas relacionadas às células tronco já estão revolucionando a medicina. A geração dos meus filhos será essa geração proveta, a nova raça. Gosto de falar sobre isso. Coloquei um pouco dessa "ex ficção" no Cabaret.
 
Como você pode perceber, eu adoro escrever. (risos). Penso muito e boto tudo no papel. Em meio às loucuras, sai um texto de teatro.
 
Em 1990, você participa da Oficina de atores da TV Globo. Em seguida é convidada para o humorístico "Escolinha do Professor Raimundo", com a personagem D. Capitu, entre os anos de 91/94. Como foi esse trabalho e como foi contracenar com Chico Anysio?
Foi maravilhoso. Aprendi muito. A Escolinha era um teatro. TV ao vivo, praticamente. Só tinham feras, mestres do humor e o Chico, o maior de todos. Uma pessoa incrível, um ator extraordinário, muito generoso, amigo, parceiro. O meu maior mestre.
 
 
História de Amor; Por Amor; Estrela de Fogo; Páginas da Vida, foram algumas das novelas que você trabalhou na Rede Globo. Você, que têm na essência o teatro, o que é atuar em uma telenovela?
A TV é completamente diferente do teatro. É a arte do naturalismo. A sua voz não precisa chegar na última pessoa sentada na última fila da plateia. Ao contrario. Você não precisa decorar o texto como bula de remédio como no teatro. Você tem que colocá-lo na sua boca de forma natural. Claro que sem mudar as palavras e o sentido dele, mas você pode ser mais informal, mais flexível.
 
Tive uma relação maravilhosa com o Maneco (Manoel Carlos), que sempre me deu boas oportunidades, escrevia para mim. Tive sorte, pois é um dos maiores autores do nosso país. Nas novelas do Maneco, principalmente, é preciso ter essa espontaneidade. O texto dele é poético, mas está no nosso dia a dia. Você se emociona com as coisas simples da vida. São aqueles pequenos grandes momentos, como um fim de tarde tomando um café e comendo um pedaço de bolo com uma amiga. Ao mesmo tempo, ele coloca em cena os conflitos das relações humanas e as tragédias da vida que ninguém passa impune, como as doenças, os acidentes, etc. Por incrível que pareça, depois da Escolinha, eu só tive personagens dramáticas na TV. Pude exercitar esse lado do naturalismo, com carga dramática e isso foi muito bom para mim. Não é todo mundo que consegue ser natural. Você pode ter até verdade na sua atuação, mas naturalismo vai além disso. Fora, a relação com a câmera. Você tem que estar ligado o tempo todo em tudo. A câmera é uma personagem que você precisa contracenar sem olhar nos olhos. Tudo isso é muito diferente do teatro e nem sempre é fácil para quem está acostumado com um palco e não com um estúdio.
 
Muitos atores reclamam que trabalhar em telenovela é maçante, exaustivo. Você compactua com isso? Por que?
É muito tempo de trabalho quando se faz uma novela. Oito meses, às vezes um ano. Você precisa gravar tantas cenas naquele dia e se não fechar o roteiro, vira um estresse. Você tem que cumprir aquele plano. O diretor trabalha naquele limite. Então, às vezes, você sai meio frustrado do estúdio. Nem sempre a cena sai do jeito que você quer. Os protagonistas, principalmente, trabalham muito e às vezes rola um desgaste mesmo. Fora que existem as prioridades e você nem sempre faz parte delas. A sua cena pode ser a que menos importa naquele dia. Mas eu adoro! Nunca terminei um trabalho na TV dando graças a Deus. Todas as novelas que fiz, me deixaram saudades.
 
Você trabalhou em ‘Malhação’, que muitos atores consideram o fim da linha. O que pensa a respeito?
Acho isso uma bobagem. Pelo contrário. Malhação renova o seu público. Aquela turminha de 12 a 16 anos que nunca ouviu falar de você, passa a te conhecer. E o trabalho em si é muito tranquilo. Os atores mais velhos são muito bem tratados e a gente grava pouco. Porém as personagens são importantes, pois é a turma que segura. Os jovens, sim, ralam. A gente fica só no suporte. A minha temporada foi muito tranquila. Foi muito bom. Eu adorei.
 
Depois de anos com a TV Globo, você atua em "Estrela de Fogo", na TV Record. Como foi a experiência em outra emissora? Quais as características que diferem uma da outra no fazer televisivo e o que isso implica para uma atriz?
Eu fiz Estrela de Fogo numa época em que a Record nem era o que é hoje. Acho que você tem que ir aonde o trabalho está. Claro que há um limite para se trabalhar. Digo em termos de qualidade. A minha experiência foi ótima. Eles estavam no inicio, gravavam em São Paulo. As novelas eram feitas por uma produtora independente, a JPO, não eram pela emissora ainda. O Roberto Talma tinha acabado de ir para lá. Depois, ele voltou para Globo. Eu estava em SP fazendo teatro e gravava por lá também. Para mim, foi muito bom. Era uma coisa mais caseira, não tinha a produção de uma TV Globo. Mas era correto, honesto. A Record hoje em dia tem muito mais recursos e está, de fato, tentando fazer. A Globo ainda é a Globo. A melhor. Mas acho que nos próximos anos a Record pode se aproximar desse padrão de qualidade da Globo.
 
Muitas vezes o ator lida com a dificuldade de ter que aceitar um trabalho qualquer, pela necessidade de ganhar algum dinheiro para pagar as contas. Às vezes não há escolha.
 
Você tem que administrar a carreira, claro. Mas precisa pagar as contas. Na verdade, você tem que pesar tudo. Quando o trabalho artisticamente não interessa, só vale a pena fazer se você ganhar muito bem para compensar. Às vezes nem vale a pena, mesmo ganhando bem. Em outras ocasiões, pode acontecer o contrario: artisticamente é maravilhoso, mas você não ganha dinheiro suficiente para cobrir seu orçamento. Isso acontece muito no teatro, em musicais. Você tem o maior prazer em estar em cena, mas mesmo com o teatro lotado não da para ganhar muito. Só acho que o ator tem que tomar cuidado para não se subestimar. Tem que ter humildade, mas nunca deixar de se posicionar. A profissão é cruel, nesses casos. Se você assume o seu fracasso, todos vão te olhar dessa forma. O "auto anti marketing" pode ser perigoso. Tem atores que se desesperam e pedem emprego publicamente. O emprego pode até vir a partir disso, mas não é bom. Até porque o ator pode se produzir de alguma forma. Não é fácil, mas é possível. O movimento da auto produção é importante. Vai atrás de um texto, de um diretor amigo, vai para o palco, senta num banquinho e manda ver. Vai dar aulas de teatro, inventar o que fazer. Por isso não tenho duvidas de que um ator formado pelo teatro, nessas horas, consegue se virar muito melhor. Está acostumado com a luta.
 
A questão do dinheiro, é complicada mesmo. Tem um período da vida que você pode aceitar tudo. Quando você é mais novo, tudo vira experiência. Mas depois de um certo tempo, você acaba ficando mais seletivo. E precisa ficar. A carreira é feita pelos seus "sins" e seus "nãos". De qualquer maneira, para ficar seletivo você precisa ter sempre um pé de meia. Caso contrario, você não tem escolha. Porque as contas não deixam nunca de chegar.
 
Por um outro lado a telenovela torna o seu rosto e o seu trabalho conhecidos nacionalmente. Quais outros benefícios ela traz?
Acho que tem o lado do prazer em si. O lado artístico mesmo. Fazer televisão também é muito prazeroso. Quando você pega um papel bacana, num núcleo de bons atores e rola uma química, é muito legal. E a televisão, indiscutivelmente, te populariza. São milhões de pessoas te assistindo, algo que você não alcança nunca fazendo teatro. Principalmente aqui no Brasil. O teatro que deveria ser popular, não é. Não chega no povo. E você ter o reconhecimento da "massa" é maravilhoso. Você vira de fato um ator para o país. O ator brasileiro que não passa pela televisão é um anônimo. Pode ser um gênio no teatro e até viver da profissão, mas o povo mesmo nunca saberá quem é. Uma pena que seja assim ... mas é!
"Vira Avesso"
 
Como é “vender” sua imagem para comerciais? Quais as dores e as delicias de fazer um comercial?
Sem hipocrisia, comercial se faz pela grana. É claro que também há um limite. Se for um produto enganoso, você não deve se associar aquilo. Propaganda politica, então, acho bem delicado. Só se você realmente for um "ativista", (risos). No mais, é um cachê maior que você tem a oportunidade de ganhar naquele momento. Quando você é escolhido para representar uma marca, não é a toa. É sinônimo de que você está com uma boa imagem diante do publico. De qualquer maneira, você tem que ficar atento ao produto que você está associando o seu nome.
 
Como ocorrem os convites para trabalhar em produções televisivas?
Podem ocorrer de várias maneiras. No meu inicio de carreira, fiz muito teste. Ficava sabendo dos testes nos próprios cursos de teatro. Tem também o cadastro na Globo, que sempre existiu. Na minha época era a Guta que fazia essa seleção. Era mais concentrado. A Globo era bem menor. Tudo acontecia na emissora ali na Lopes Quintas. Mas hoje qualquer ator pode fazer esse cadastro. Tem um dia certo no Projac que você vai lá e se inscreve. Os atores cadastrados são chamados para testes. Também tinham muitos cursos para interpretação para a TV . Até hoje alguns diretores importantes dão esses cursos. Neles você faz um contato mais direto. Eu entrei na Oficina assim. Fiz o curso por fora do Beto Silveira, que me convidou para entrar na Oficina. Mas o convite da Escolinha veio através do teatro. O Chico me assistiu numa peça e me convidou. Existem também os produtores de elenco que vão atrás de jovens talentos nos cursos de teatro. Enfim, não há muita regra. Às vezes, você está literalmente no lugar certo, na hora certa. Os meus convites de TV sempre vieram de formas diversas. Por incrível que pareça, a maioria deles veio através do teatro. A Historia de Amor veio de uma peça que fiz, que nem era muito boa, mas que o Ricardo Waddington foi assistir e me chamou para fazer um teste. Nessa época, o Paulo Ubiratan, diretor, era vivo e eu já havia feito outros testes com ele. Ficamos amigos e ele queria muito me levar para a dramaturgia. Eu já tinha saído da Escolinha, que era um programa considerado linha de show. Tive que tomar muito cuidado para não ficar rotulada. Então, fui fazer o tal teste. Não era para Historia de Amor, era para outra novela: "Olho por Olho". Eu não passei, mas fiz um bom teste. Na sequência, eles usaram esse teste para mostrar para o Maneco. Nisso, eu ganhei o papel na Historia de Amor. Minha amizade com Maneco começou aí. Um dia, recebi um telefonema dele dizendo que estava muito feliz com o meu trabalho e que estava surpreso, pois só me conhecia da Escolinha e do teste que havia visto. A personagem, de fato, cresceu muito. Quando terminou a novela, renovaram meu contrato.
 
A novela "O Beijo do Vampiro", também veio pelo fato de eu estar no teatro. O Roberto Naar, que eu já havia trabalhado nas novelas do Maneco, foi assistir Caixa 2 e levou o meu nome para Marquinhos Paulo (meu querido amigo... perda irreparável). O Marquinhos adorou a lembrança e ambos compraram a minha briga. O Calmon não me conhecia direito, achava que eu era jovem, que tinha um frescor que não cabia para a personagem e que eu não tinha a carga dramática necessária. Naar e Marquinhos o convenceram e ele acabou topando. Foi maravilhoso. Terminei a novela ouvindo mil elogios do Calmon, que me confessou essa história. (risos). A personagem cresceu tanto que entrou no núcleo dos protagonistas, formando um triângulo amoroso q nem estava previsto. Éramos eu, Flavia Alessandra e Marco Ricca. A nossa química deu tão certo que até o final da novela o público ainda não sabia para quem torcer.
 
Nessa época também comecei uma forte amizade com o Marquinhos, que já era amigo do Paulo Cesar. Nunca havíamos trabalhado juntos e tivemos uma experiência muito bacana. Dali em diante, Marcos sempre pensava em mim nos seus elencos. A Malhação, meu último trabalho, foi um convite dele. Agora, ele está lá em cima dirigindo as verdadeiras estrelas...
 
Enfim, depois de um tempo, você passa a conhecer melhor as pessoas, já trabalhou com vários diretores, autores e as coisas vão acontecendo naturalmente. Mas é preciso de um empresário para correr atrás por você. O meu empresário me ajuda muito. Sou exclusiva da Montenegro e Raman. Eles são maravilhosos. Desde 2002 estou com eles.
 
Qual ou quais os trabalhos que mais se orgulha de ter feito (critério deve ser pelo seu desempenho pessoal)?
 
Na TV: “Historia de Amor” e “Beijo do Vampiro”.
 
No teatro: "Nada de Pânico", com direção do Henrique Diaz, Nanine e Guel Arraes, "Salve Amizade", do Flavio Marinho, "Caixa 2", do Juca e mais recentemente, "O Baile", um dos espetáculos que mais tive prazer em fazer na vida... o espetáculo foi um daqueles fenômenos que só acontecem de tempos em tempos. A personagem começava com 20 anos e terminava com quase 70.
 
Também me orgulhei do trabalho no “Cabaret Melinda”, por ter sido escrito por mim.
 
Em todos eles, tive críticas maravilhosas. A gente diz que não liga para a crítica, mas no fundo a gente gosta quando é elogiado. (risos).
"Cabaret Melinda"
 
Por que você fez tão pouco cinema?
Nem eu sei.... falta de oportunidades. O único cineasta que me escala é o Luiz Carlos Lacerda, o Bigode. Com ele fiz, “For All” e “Viva Sapato”. Foram participações, mas adorei ser dirigida por ele. Além de um grande diretor, o Bigode é um grande amigo. É como se fosse da minha família. Hoje, ele é "avô" dos meus filhos: o "Vovô Bigo". Meus filhos adoram ele. (risos).
 
Tive também uma oportunidade em Minas, no filme “Amor Perfeito”, de Geraldo Magalhães. Ganhei a protagonista. O Geraldo queria atores mineiros e soube do meu parentesco com o Humberto Mauro. Mandei meu material para ele, que não me conhecia bem, e ganhei o papel. Era eu e o Paulo Gorgulho. Mas o filme ficou só em BH e arredores.
 
Já a minha primeira experiência em cinema foi no curta “Tangerine Girl”, um conto adaptado da Raquel de Queiroz, com direção da Liloye Boubli. O Emiliano Queiroz que me indicou para o elenco. O filme foi parar no Sundance Festival. Foi uma experiência deliciosa! Eu adorei. Depois, o Emiliano também me indicou para o filme “Amigo Invisível” da Maria Leticia. Eu fazia irmã do Paulo Cesar,(risos). Foi um filme com poucos recursos, mas muito gostoso de fazer. Um elenco maravilhoso.
 
É engraçado porque venho de uma família de cinema. Meu tio avô, Humberto Mauro, é um nome importantíssimo no cinema nacional. Meus primos e meu irmão sempre foram ligados em cinema. O André criou o curso de cinema da Faculdade Estácio de Sá e meus primos sempre trabalharam com isso. Enfim, cinema esta no nosso DNA e nunca fluiu para mim.
 
É difícil entrar na panela do cinema?
Sim. Tudo tem panela. Uma pena. Acho uma bobagem essa coisa de ator de teatro, ator de TV, ator de cinema. Ator é ator. Se der uma oportunidade, ele vai fazer qualquer coisa. Se vai fazer bem ou mal já é a página 2.
 
E o filme ‘Leila Diniz’, porque a confusão com o seu nome?
Então... há uma divulgação na internet de q eu fiz Leila Diniz. Eu não fiz! Rs. Quem fez foi o Paulo Cesar e o meu irmão. Na época, o Paulo Cesar ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Brasília e o filme é do Luiz Carlos Lacerda, o Bigode. Tudo em família. Acho que as pessoas confundem por causa disso, mas eu não estou no elenco. Nem era casada com o Paulo Cesar.
 

"Nada de Pânico"
 
O que te leva a aceitar atuar em produções em curta-metragem?
Adoro os curtas. Acho que deveria ter mais mercado para os curtas. Eu aceito o que eu gosto. Se o roteiro for bom, a personagem, o elenco e o diretor também, vou fazer seja curta ou longa, teatro ou TV. Acho que nós atores, nos interessamos por uma boa história. Se dentro dessa história você tem um bom papel e a equipe que vai contar essa história, que vai realizar esse projeto for bacana, não importa o gênero do trabalho. Vai ser bom de fazer, independente do resultado.
 
O que pensa a respeito deste gênero?
Gosto dos curtas. São como contos. Gosto de histórias rápidas. Como respondi acima, é uma pena que não tenha mais mercado para esse gênero.
 
Para finalizar, gostaria de saber se acredita ser subestimada como atriz pela crítica e pelo meio audiovisual.
Acho que a minha carreira é muito teatral. Faço teatro todo ano. Sou sempre convidada para fazer teatro, conheço todo mundo e me sinto em casa naquele ambiente. As pessoas as vezes me veem no teatro e falam: nossa, você me surpreendeu!
 
Isso acontece porque no teatro tenho oportunidades que nunca tive na TV ou no cinema. Mas as coisas são assim mesmo. Não me importo tanto. Tem muito ator que faz TV direto e que fica super chateado de não ser convidado nunca para fazer teatro.
 
Tem ator que faz TV e cinema, que nunca fez teatro, e que é genial, como a Gloria Pires. Cada um tem o seu caminho e o mais importante é você viver da profissão e envelhecer nela sem abrir mão dos seus princípios. Isso já é um sucesso. Acho que estou conseguindo esse " sucesso", porque nunca passei fome, nem nunca abri mão dos meus valores. É claro q a gente às vezes pensa no futuro e na instabilidade da profissão. É preciso guardar dinheiro enquanto está entrando e fazer uma boa previdência, (risos).
 
No meu caso, que faço muito teatro, quanto mais velha vou ficando, mais credibilidade vou ganhando. Na TV é ao contrario, quanto mais velha, mais difícil. Você vai sendo descartada. Vou cada vez mais produzir e escrever para mim e para os atores que gosto de trabalhar. Hoje, tenho acesso a qualquer diretor de teatro. Os melhores do Brasil. Trabalhei com diretores maravilhosos: Bibi Ferreira, Jose Possi Neto, Fauzi Arapi, Naum Alves de Souza, Nanine, Guel Arraes, Henrique Diaz, enfim, pego o telefone e ligo para qualquer um deles. Ligo para o Possi, para o João Fonseca. Tenho as minhas parcerias no teatro. O meu caminho é esse. A "explosão" pode acontecer em algum momento ou não. Eu nunca tive esse momento. Mas estou envelhecendo na profissão, com todos os meus valores intactos. Acredito que o melhor está por vir.
 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Lee Taylor

Aos 18 anos ingressou na faculdade Artes Cênicas da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São PauloA pedra do Reino’; ‘Senhora dos Afogados’; ‘Foi Carmen’ e ‘A falecida Vapt-Vupt’ foram espetáculos teatrais que estrelou no CPT (Centro de Pesquisa Teatral) com a direção e coordenação de Antunes Filho. No cinema atuou em ‘Salve Geral’.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
As razões que me fazem aceitar participar de um filme, tanto longa como curta, estão principalmente ligadas ao tema, um roteiro que busque revelar de maneira exemplar as contradições da conduta humana é fundamental, um grande diretor que saiba conduzir cinematograficamente esse roteiro e uma boa equipe de profissionais também. Sobretudo tenho que ter uma forte identificação com o filme, não faço por dinheiro, nem para aparecer.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque não possuem o atrativo comercial que a mídia procura, aliás, mesmo os longas que não possuem esse atrativo comercial, ou seja, atores ou diretores famosos, não têm espaço na mídia, e consequentemente nem nas salas de exibição.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acredito deveria ser feita antes de alguns longas, como em alguns festivais, ao invés dos inúmeros comerciais que tomaram conta desse espaço na imensa maioria das salas. 
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É possível, nem sempre o curta é trampolim, é uma questão de produção essencialmente, tirando isso a grande questão seria o que dizer e como dizer. Para se fazer um curta o poder de síntese é fundamental, é um haikai. Já vi curtas que poderiam ser longas e longas que não tinham fôlego nem para um curta.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não sei te responder.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Tenho um argumento, mas dirigir cinema dá muita dor de cabeça no Brasil, é muita produção para pouca arte.

domingo, 25 de agosto de 2013

Kika Nicolela

Graduada em Cinema e Vídeo pela ECA/USP em 2000, Kika Nicolela atualmente realiza mestrado em Artes Visuais na Universidade de Artes de Zurique (ZHdK). Já participou de mais de mais de uma centena de exposições individuais e coletivas na Alemanha, Argentina, Áustria, Brasil, Canadá, Chile, Coréia do Sul, Eslovênia, Espanha, EUA, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Itália, Polônia, Portugal, Suécia e Suiça com vídeo-projeções, instalações e fotografias.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O curta-metragem, especialmente o tipo de curta que realizo, me dá total liberdade de experimentação e linguagem. Tem menos amarras comerciais, ou nenhuma aliás, o que significa controle criativo total. E gosto de realizar os projetos de forma dinâmica, enquanto a vontade e a idéia estão frescas.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
O curta-metragem atinge um nicho de público bem limitado, em termos de número pelo menos. Acho normal. Mas acredito que no Brasil exista até um espaço maior do que na maior parte dos países, ou pelo menos em São Paulo, graças principalmente ao trabalho de alguns festivais muito bem sucedidos. Raramente se vê sessões de curta-metragem lotadas em festivais estrangeiros, coisa que acontece em São Paulo.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Gosto da ideia de retomar aquela lei que colocava um curta antes de longa-metragem nas salas comerciais. Ajudaria a formar um público mais diversificado. Mas acho que cada vez a internet e o celular (e tablets) são veículos ideais para o curta-metragem, mais até do que o cinema e a televisão. O "attention span" das pessoas está cada vez menor, e de certa forma o curta está se tornando um formato que aponta para novos caminhos, mais do que o longa-metragem, e se adapta melhor a essas novas formas de compartilhar o audiovisual. 
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho que cada vez mais os realizadores estão fazendo de tudo. Temos mil projetos paralelos, e tudo meio se complementa. Eu não consigo entender o curta como trampolim somente, porque existem projetos que são para o formato curta mesmo. Já realizei longas-metragens documentais, mas nem por isso deixei de me interessar pelo curta, pelo contrário. E tem ainda outros formatos, a série, o média, o vídeo pra celular, o vídeo para exposição em galerias/museus (que é o que mais faço), a performance em vídeo, enfim, vários outros modos do audiovisual que estão, na minha opinião, convergindo e alimentando uns aos outros.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acharia estranho se fosse. Claro que existe um status em fazer longa-metragem, mas daí até marginalizar o curta-metragem… 
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Claro.