quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Fabiano Augusto

Ator e radialista, Fabiano Augusto trabalhou no programa "Turma da Cultura” e depois no RG, ambos da TV Cultura. É conhecido pelos comercias das Casas Bahia.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Na verdade não fiz muitos curtas, infelizmente. Quando voltar ao Brasil quero fazer mais. Acho a ideia de comunicar uma história em poucos minutos incrível. Quando você está num curta, fica mais atento a todos os detalhes. O trabalho é artesanal. E geralmente faz com pouca verba, com uma equipe que tá começando, um trabalho de amador... no melhor sentido da palavra.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que falta mais festivais, mais mobilização da própria classe. Não dá pra ficar esperando... Com mais festivais, mais exibições, acho que os canais de comunicação dariam mais espaço para os curtas.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Como deveria ser a exibição? Como disse, com a criação de mais festivais, ou mesmo sendo exibidos junto com longas...  uma boa opção inclusive na televisão aberta. O publico só tem a ganhar.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
A partir do momento que se fortalece a indústria de curta metragem, acho que é possível sim. Mas a possibilidade de fazer tanto curtas ou longas é muito mais interessante. O exercício de linguagens diferentes. Você pode ver os curtas do Esmir Filho, como "Saliva" e o longa dele "Os famosos duendes da morte" e ver um diretor sensível, que tem lá suas características, mas que sabe transitar sobre as diferentes linguagens.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não acho que os curtas são marginalizados pelos cineastas. Mas é muito mais difícil  sobreviver fazendo curtas, pela dificuldade na distribuição e da captação de recursos... 
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Vou começar a co-dirigir um documentário, não propriamente um curta... mas se aparecer uma boa ideia, vamos lá....

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Zootropo na TV Cronópios


NOELLE PINE NO PROGRAMA ZOOTROPO
 
O programa Zootropo entrevista Noelle Pine, uma das grandes musas do brasileiríssimo gênero que foi marco de uma época no cine...ma nacional: a pornochanchada. Os tempos eram de ditadura militar e pornochanchada. Na definição de Noelle, a Rua do Triunfo, no centro de São Paulo, era a “Hollyboca” do cinema paulista. Estamos falando da famosa Boca do Lixo, que na verdade era um luxo só. Noelle Pine é estrela importante nesse cenário incrível e único na história do cinema brasileiro. Vale a pena viajar até aquele tempo nessa entrevista de Rafael Spaca para o programa Zootropo.
 
O Zootropo traz um enfoque bem particular do cinema nacional, graças ao Rafael Spaca e seu olhar agudo sobre aspectos pouco explorados pela crítica cinematográfica. Rafael é mantenedor do já famoso blog Os Curtos Filmes (http://oscurtosfilmes.blogspot.com.br/) e recentemente lançou pela editora Verve o livro “Curta metragem, compilação de ideias e entrevistas do blog Os Curtos Filmes”. Foi dele a ideia desse novo projeto do Portal Cronópios. O Zootropo é tem a parceria da Reserva Cultural de cinema e arte, onde gravaremos todos os episódios do programa. Assista agora essa nova e original produção da TV Cronópios.
 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Dago Schelin

É professor na Universidade Tuiuti do Paraná, formado em Música Popular pela FAP-PR e em Letras Português/Inglês pela PUC-PR. Recentemente, na Alemanha, fez um mestrado em Produção de Mídias. É dele o curta-metragem “O Centro do Universo”, que pode ser visto em: www.vimeo.com/dago/centrouniverso
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Para mim não é tanto aceitar participar... é sim um privilégio. É o tipo de arte que se faz por paixão, não por grana. Por dinheiro tem muita outra coisa que dá mais certo. O que me faz participar é a vontade de contar uma história (curta). O curta-metragem tem um índice de inutilidade muito alto. Vai fazer o quê com ele? É justamente essa inutilidade, no sentido mais romântico da palavra, ou seja, sua posição aquém do utilitarismo mercadológico, que faz com que seu valor seja simplesmente mais nobre. Pelo menos é assim que vejo.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Um filme de ficção com duração de 5 a 15 minutos é tido como uma produção-treinamento e invariavelmente tem o estigma do baixo orçamento, o que não foge muito da realidade. Sendo assim, o curta acaba vivendo num submundo do cinema, longe do mainstream jornalístico. Subgênero, submundo, enfim, submerso até que alguém ativamente o busque. Mas aí também está o seu valor. É pra quem busca. Não é pra qualquer um.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
É claro que quem faz um curta curte mesmo exibi-lo (e não deixá-lo escondido no Youtube! pelo resto da eternidade). A prática comum tem sido mandar as produções para festivais. É  que eu tenho feito. Isso é limitadíssimo. O que está começando a acontecer aos poucos é que canais de TV a cabo têm separado espaços para tais tipos de vídeos. Mas também não sou conhecedor de mercado de curtas, além de não ser defensor das causas dos curtas. Se os últimos cento e poucos anos batizaram como padrão o filme de 100 a 120 minutos, não vou fazer greve de fome pra mudar isso.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Tudo é possível. Estou fazendo um documentário cujo primeiro personagem é um cara formado em economia que resolve viver um ano sem dinheiro. É possível? Acho que é. Basta querer e pagar o preço. Eu, pessoalmente, não quero viver só de curta-metragem, mas também não quero, como muita gente acaba por aí, abandonar essa prática para fazer filme/vídeo somente pelo dinheiro e acabar somente trabalhando com publicidade, fazendo propaganda de papel higiênico, sabão em pó e Casas Bahia. Enfim, voltando ao assunto, acho que sim o curta pode ser um trampolim para um longa, sem problemas. Mas também não é somente pra isso. Há histórias que funcionam perfeitamente se tiverem 5 minutos, ponto final.  
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que o corpo de produções de curtas-metragens não é conhecido pelos cineastas em geral. Todos assistem curtas, mas, eu diria, meio aleatoriamente... assiste o curta que o amigo produziu, ou porque estava num festival. Visto dessa maneira, o curta é sim marginalizado até entre os próprios cineastas. Mas reforço que não por isso o curta perde o seu valor. Ele é marginal por ser submundano, não por ser uma arte malfeita.  
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não só penso... semana que vem tem mais uma etapa da produção de um curta que estou dirigindo em parceria com a Universidade Tuiuti do Paraná e a faculdade alemã onde fiz mestrado, Hochschule Ostwestfalen-Lippe (nome fácil de pronunciar). Dentre as várias etapas da pré-produção, meus alunos de Rádio e TV do curso de comunicação bolaram o roteiro, enquanto os alunos da Alemanha, do curso de Bacharelado em Produção de Mídia farão a produção em si. Aguardem! O nome do filme é Lovesick. 

domingo, 27 de outubro de 2013

R.F.Lucchetti: Memória Cinematográfica


MADRUGADAS
José Edson Gomes

Certa vez, recebi de Gramado, no Rio Grande do Sul, uma carta de um amigo querido, roteirista de Cinema, que fora àquela cidade para receber um prêmio. A carta era de Rubens Francisco Lucchetti, que é o responsável pelos roteiros dos filmes de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Mais recentemente, ele roteirizou as fitas O Segredo da Múmia e As Sete Vampiras, dirigidas por Ivan Cardoso.

Mojica e Ivan Cardoso, como o Rubens, são apaixonados pelo mistério e o terror. Mas não são apaixonados por esse terror cotidiano que persegue a Baixada Fluminense, persegue o Rio de Janeiro, persegue o país. São apaixonados pelo terror fictício (será?) que inclui múmias, duendes, vampiros.
Pois bem. Eu dizia ter recebido de Gramado, no Rio Grande do Sul, uma carta de um roteirista de Cinema, que estava ali para receber um prêmio. Cidade linda, diferente da maioria ou de todas as cidades bonitas do Brasil, Gramado poderia despertar em Rubens a admiração por tudo de belo que existe ali. E, de fato, despertou, como vim a saber em cartas posteriores e em conversas ao pé do fogão, nas diversas visitas que fiz a Ribeirão Preto, onde ele mora. Mas naquela ocasião, ele dizia:

“Acordei cedo. A cidade estava coberta por uma neblina forte, que diluía as formas, alterava os objetos. Estaria em Londres? Não sei. Londres, mesmo disfarçada pelo fog, nunca seria tão bela. E, então, sem pensar em Gramado, em Londres ou em cidade alguma, saí caminhando sem destino, um pouco à espera de encontrar duendes, descobrir o mistério que se escondia sob a névoa mas, acima de tudo, esperando que tudo de fantástico, que aquele mundo incluía, não se desfizesse. Eu precisava daquela realidade oculta sob a neblina e ao mesmo tempo sabia que o sol a diluiria.”

Qualquer pessoa mais prática – ou menos prática, para falar a verdade – pensaria no seguinte: quando a neblina se desfizesse, a cidade surgiria esplêndida. Mas essas pessoas menos práticas talvez nunca levem em conta o fato óbvio de que, surgindo a claridade, afastando-se a neblina, o que surgiria seria uma Gramado visível a todos, bela, belíssima; entretanto, sem os mistérios reservados a poucos olhos, a poucas sensibilidades, a poucas pessoas como o Rubens.

Quantos acordariam em Gramado, na manhã em que receberiam um prêmio importante, e, no lugar de comemorar procurando pessoas que o elogiassem e dissessem-lhe coisas sobre o triunfo, sairiam procurando formas que se ocultassem sob a névoa?

Isso é bom? Isso é ruim?

Eu diria que nem bom e nem ruim, mas que é disso que se forma a poesia; e, mais além, nesse tipo de sensibilidade, nessas ocasiões, nessas descobertas raras se ocultam as molas básicas que fazem girar o mundo ou, modificando a frase, o conceito, tornam o mundo ideal para viver, para ser observado e sentido.

Quem sabe se todos nós não caminhamos dia a dia levando na alma o desejo de encontrar alguma coisa diferente que surja da realidade e nos emocione?
O Rubens achou.

Este texto foi escrito no Rio de Janeiro, em junho de 1991.

José Edson Gomes é escritor de temática social e jornalista. Escreveu, entre outras coisas, os livros de contos As Sementes de Deus, Os Ossos Rotulados e O Ovo no Teto, as novelas A Roda Partida e Agonia no Natal, o romance O Jogo da Asa da Bruxa e a peça teatral Os Usos do Homem. Colaborou em diversos jornais brasileiros, entre os quais O Globo, do Rio de Janeiro.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Eucir de Souza

Ator. No cinema atuou em ‘Meu Mundo em Perigo’; ‘Salve Geral’ e ‘O Menino da Porteira’.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O roteiro também me influencia na decisão como sempre, mas no caso do curta, a origem do convite é mais importante, quem é o diretor ou quem me indicou para ele. Por se tratar de um formato mais experimental, fico mais à vontade se conheço e confio na direção, porque um ator pode se dar muito mal, se for mal fotógrafo ou se o filme não for bem montado por exemplo. rs. Isso tudo de uns tempos pra cá, por questões como tempo de trabalho e de vida também. Mais no início aceitava todos os que apareciam, gostando ou não, porque não temos tradição em escolas para cinema, a gente tem que aprender na prática. E o curta é um treino maravilhoso com menos pressão que um longa-metragem. Porque para a atuação existe uma base que é o desenvolvimento pessoal, o que você tem dentro. Mas tem que aprender as linguagens para se comunicar.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Boa pergunta. Também gostaria de saber. Penso que talvez seja um formato menos rentável para os patrocinadores, e hoje temos cada vez menos espaço real para divulgação. É difícil um profissional que realmente pode usar o meio de comunicação para expressar o seu gosto pessoal, ou o que seria melhor, o resultado de sua pesquisa e conhecimento. Quase todo espaço é vendido diretamente ou atende aos desejos dos investidores.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Existem muitos programas interessantes, havia um dia no Espaço Unibanco onde uma sala era dedicada a exibição de curtas, não sei se persiste, espero que sim! Todos os festivais nacionais recebem e alguns premiam os curtas. Vejo muitos pelo Canal Brasil também. Mas penso que os produtores e diretores poderiam criar novas formas de exibição. Acho um erro ficar tentando competir com os grandes, disputar o espaço, é batalha perdida. Mas o que parece uma maldição pode se tornar uma vantagem. Se os investidores não gastaram tanto como se gasta num longa, também esperam menos retorno, e as opções de exibição gratuita, por exemplo, são infinitas hoje em dia, as mídias e os projetores são cada vez mais fáceis de transportar e manusear. A internet é um veículo maravilhoso, praticamente sem censura e sem nenhum direcionador que não seja o gosto do público. Então acho que é tentar fazer um filme de verdade, algo que fique bom mesmo e criar coragem para mostrar muito!
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Nunca pensei em dirigir no cinema. Tenho alguns projetos para o teatro, mas até hoje dirigi muito pouco. Gosto mesmo de atuar e a direção fica sempre em segundo plano. Mas gostaria sim, muito. Tem muitos assuntos que me chamam, que penso que seria bom se fossem expostos e  o curta deve ser bem divertido justamente por essa liberdade de criar linguagens. Tem uma coisa que me atrai muito no cinema também que é a convivência obrigatória. Você não tem opção, tem que se relacionar com todas aquelas diferentes pessoas, isso é um grande presente para a evolução pessoal e no curta isso se dá de forma bem mais suave. É ótimo!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Julia Gorman

Atriz. Atuou nos filmes ‘Giovonni Improtta’ e ‘Podecrer!’.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O roteiro tem que ser bom em primeiro lugar e tem que haver alguma identificação com o argumento, a ideia do diretor e a personagem. Nas minhas experiências em curta sempre tive muito diálogo com o diretor. Felizmente participei de trabalhos muito focados no sentido de pesquisa ou experimentação através da linguagem do cinema, onde desenvolvíamos processo de ensaios e laboratórios antes de chegar ao set. Em "Das Dores"(2007) curta-metragem de Gabriel Tupinambá, a ideia era coreografar a relação de dois amantes perdidos em um posto de gasolina abandonada ao amanhecer. E para complicar mais tínhamos um metrônomo no alto falante marcando o tempo de uma valsa, 3/4.  Cada impulso, respiração ou intenção deveria acompanhar a batida. 
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não faço a menor ideia. Acho que deveria haver mais espaço para os curtas. Eu como espectadora tenho dificuldade de saber onde encontrá-los. Acho que deveria ter algum site especializado em curtas-metragens de todo o mundo. Que disponibilizassem o filme, não apenas informações sobre o mesmo. Muitas vezes lia sobre algum diretor premiado, sobre algum curta que me despertava o interesse e não sabia por onde começar a procura ( além do Youtube!)  Gosto muito dos festivais de cinema e foi lá que vi alguns filmes que me impressionaram positivamente.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...  
Acho que o curta é um formato de linguagem. Uma forma sucinta e artística de comunicação. Como um poema ou uma crônica e o longa um romance, pela riqueza de detalhes e o desenvolvimento da trama. Acho que um diretor de verdade sabe apreciar as qualidade de ambas as formas de se fazer cinema. Tem histórias que merecem mais tempo para serem contadas e outras que funcionam de forma econômica.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não saberia responder isso já que não sou cineasta, mas como admiradora do cinema posso dizer que acho o mercado de distribuição e divulgação de curtas pouco eficiente...
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Curso direção teatral no UFRJ, tenho vontade de me aventurar como diretora mais vezes no teatro e quem sabe no cinema também? Me faltam a parte técnica e o olhar da cinematografia em cinema. Eu teria que estudar muito e me cercar de pessoas brilhantes na equipe técnica. Mas a parte de contar uma história através de imagens e som é o que mais me instiga.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Imprensa - Rafael Spaca

Link da entrevista que concedi ao jornalista Elio Soares, quando da minha ida ao Maranhão, durante o 36º Festival Guarnice de Cinema. Esta entrevista foi ao ar na Rádio Comunitária Cultura FM. Ouçam em: http://www.radiotube.org.br/audio-3622K6kC8xgDs

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Francis Vogner dos Reis

Crítico de cinema, cofundador da extinta revista ‘Cine Imperfeito’, já colaborou para as revistas ‘Filme Cultura’, ‘Teorema’, ‘Miradas del Cine’ (Cuba), ‘La Furia Umana’ (Itália), ‘Cahiers du Cinéma’ ‘España’, ‘Foco’, ‘Revista de Cinema’ e escreveu por cinco anos para a revista ‘Cinética’. É também professor de cinema, produtor de mostras e roteirista.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Não participei de muitas produções pra falar a verdade, mas algumas coisas tem aparecido. Bem, aceito o que faz a minha cabeça, se for pra trabalhar com alguém que admiro ou em um projeto que acredito. Uma exceção para curtas de alunos meus, por motivos óbvios. E só.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque não têm mercado. Simples assim. Aliás, essa relação de indiferença de boa parte da mídia com a produção cinematográfica não é só com os curtas, mas com o cinema de modo geral. Temos em alguns canais programas de filosofia, literatura, programas sobre arte (inexpressivos, mas existem) em TVs a cabo, mas cinema - quando há algum programa - é só para falar de estreias no circuito e em DVD. Os jornais agem desse mesmo modo, os críticos servem - quase sempre - para responder ao público consumidor. Mesmo o programa Zoom, que acabou, foi deixando nos últimos anos cada vez mais os curtas de lado. Bem, se levando em conta a relação que se tem com cinema no país, o cinema é quase sempre arte de segunda mão, inclusive para parte de nossa "elite pensante". Com literatura não se faz isso. Tem o programa Entrelinhas da TV Cultura, por exemplo. Ali há coisas sérias, entrevistas boas, pautas quase sempre interessantes. As pessoas leem mais do que assistem filmes? Certamente não. Mas há um respeito pela literatura como forma de expressão. Esse respeito pelo cinema é uma conquista a ser alcançada. Mas é complicado...
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Lembro-me de quando eu tinha oito anos eu via uma série de curtas da TV Cultura. Não me esqueço de Meow!, de Marcos Magalhães. Aquilo me divertia. Acho que a TV, principalmente a pública, deveria passar curtas. Hoje o Canal Brasil faz isso, mas quem vê? Só quem assina TV a cabo. Muitos desses curtas são feitos com dinheiro público e a lógica seria que eles passassem na TV pública. Mas não passa. É um contrassenso. É também estupidez e má vontade dos programadores e exibidores. Isso tudo não faz sentido.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É possível, não vejo porque não seria. Outro dia vi um cara falando isso, esse papo "do trampolim". Isso não é verdade. É claro que muita gente faz curta como portfólio, geralmente gente que começa a filmar na universidade. Mas isso não é real. Hoje fazer curta é fazer um cinema que é possível porque é barato, de produção mais rápida e menos complicada. O fato de alguém fazer longas não quer dizer que não seja mais possível fazer curtas. Eu duvido que Kléber Mendonça não irá mais fazer curtas pelo fato de ter feito dois longas. Essa distinção "cineasta de curta e cineasta de longa" é uma invenção picareta do ensino de cinema que dizia: curta é parte do processo pedagógico, longa é para o mercado. Couro de Gato é o melhor filme de Joaquim Pedro. É um curta. Di, está entre os três melhores filmes do Glauber. É um curta.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não sei te responder isso com convicção, mas acho que não.  Se boa parte dos diretores prefere fazer longas é por opção, não discriminação. Acho...Talvez em países de mercado mais vigoroso como os EUA o curta é algo visto com algum estranhamento, como algo de universidade mesmo. Porque lá a cultura cinematográfica deles é basicamente feita de longas-metragens. Mas veja a França:  Luc Moullet, Agnes Vardá e Godard ainda fazem curtas hoje em dia.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Eu tenho tanto material pra montar, tanto projeto de ficção para terminar. Só não tenho tempo. Outras coisas me tomaram este tempo. até agora não foi prioridade. Mas enfim, vamos ver o que aparece até o fim do ano. Prefiro não falar sobre, é melhor deixar cozinhar antes de abrir a tampa.

sábado, 19 de outubro de 2013

Rosaly Papadopol

Atriz. Atuou nos filmes ‘Anjos da Noite’; ‘Bellini e a Esfinge’, ‘Lua Cheia’, entre outros.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Algumas variantes que vão desde o pedido de um amigo ou algum jovem cineasta com um roteiro bacana precisando de uma atriz, até um profissional que como eu acredita no poder de síntese e linguagem contemporânea dos curta metragens.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque a cultura e as artes estão de uma maneira geral sendo sucateadas pelos órgãos e suas políticas públicas bem como pelas instituições privadas( todo mundo hoje “pode” ser artista e tem os mesmos direitos???) e consequentemente sem dinheiro e sem a necessidade de conteúdos mais precisos e preciosos no mercado, apenas pensando-se cultura e arte como um grande negócio, a mídia em geral só vai se interessar por aquilo que VENDE seus exemplares ou onde os patrocinadores se interessem por investir seu dinheiro.   
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Por todos os meios de comunicação visual, dentro de escolas, bares, mesmo cinemas, televisão (intervalo entre programas...
 
Por que não? Até mesmo naquelas tele mídias de elevadores...As pessoas veriam em capítulos. rs...
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Sim é possível. E tenho um amigo que é um grande curta-metragista, premiadíssimo, aliás. O Sung Sfai.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não sei. Nunca conversei muito sobre isso!
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Penso mais em ser intérprete neles ou mesmo em fazer direção de atores para eles.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Eliete Cigaarini

Atriz. Foi uma das fundadoras do Grupo de Teatro Boi Voador, nascido do CPT - Centro de Pesquisas Teatrais de Antunes Filho, em 1984. Ao longo dos anos, ministrou aulas em diversas instituições profissionalizantes para atores e atualmente é professora de interpretação na Escola de Atores Wolf Maya. No cinema atuou nos curta-metragens ‘Até a Eternidade’, direção de Luiz Vilaça, ‘Sangue, Melodia...’, roteiro e direção de Adilson Tokita, e ‘Feito para não Doer’, de Caetano Gajardo.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Cinema, para todo ator, é o sonho dourado. Não conheço um ator que não diga que prefira o cinema à todas as outras linguagens para exercer seu oficio de ator. Eu não sou diferente. O cinema possui uma magia, um requinte para a construção de um personagem, desde a cenografia e adereços que compõe o set de filmagem, figurinos, até o envolvimento da equipe durante às filmagens. A maioria dos atores vem do teatro. O cinema é uma obra aberta, assim como a dramaturgia teatral, que eterniza o trabalho ator.
 
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
No início da minha carreira fiz inúmeros curtas metragens produzidos pelos formandos de cinema da ECA - USP. Foram experiências incríveis. Aprendi sobremaneira como atriz, mas também sobre cinema tecnicamente falando. Nesse época a montagem era feita na moviola. Eu curtia participar das montagens pela curiosidade de como funciona esse quebra cabeças. No início dos anos 90, tive a oportunidade de protagonizar, junto com o ator Paulo Gorgulho, de um curta dirigido por Luiz Vilaça, o thriller "Até a Eternidade"- Um casal apaixonado vai até as últimas consequências em suas fantasias revivendo antigos clássicos do cinema. Esse curta foi produzido com os requintes de um longa-metragem. Nesse trabalho pude reconhecer o curta-metragem como um gênero cinematográfico peculiar.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito que o espaço para cultura em nosso País, de uma maneira generalizada, é inexistente. Há um verdadeiro descaso para a cultura como se precisássemos somente de pão, água e sangue.  O homem precisa do lúdico para não sucumbir à sua realidade.  Não duvido de que a imprensa encare os curtas-metragens como um subproduto do cinema e que não mereça espaço, já que precisa-se divulgar toda uma “bobajada” que venda jornal.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acredito que deveriam sancionar uma lei de exibição obrigatória de um curta nacional por sessão de cinema, em todas as salas de cinema do País. Vale a sugestão: instigar um de nossos representantes políticos a esta causa.
 
O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sem dúvida. Conheço muitos novos cineastas brasileiros que encontram no curta metragem uma maneira de experimentar e aprender. Quanto à atuação eu sou exemplo disso. Porém, sabemos que em muitos países de primeiro mundo, curtas metragens são um gênero de manifestação artística de preferência de muitos diretores de cinema. Com esse gênero cinematográfico esses cineastas têm a oportunidade de sintetizar suas ideias, explorar tanto sua criatividade, como linguagens cinematográficas inusitadas. Para estes, produzir curtas-metragens torna-se uma escolha artística.
 
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa? 
Pode ser um trampolim, mas como já disse, acredito que muitos o preferem esteticamente, com o objetivo de explorar linguagens cinematográficas. Outra questão bastante relevante para a escolha desse formato, reside nas diferenças disparatadas nos custos de produção e de distribuição entre um curta e um longa-metragem. Certamente isso influência na escolha do cineasta.
 
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se alguém souber avise, por favor, para eu copiar a receita. Sensos de humor a parte, não sei mesmo. O que podemos apontar como quais seriam os ingredientes básicos necessários para se concorrer ao hanking dos melhores? Roteiro moderno, com temáticas instigantes; enquadramentos criativos (câmera na mão-travelling-steadycam)? No meu ponto de vista, todo artista precisa, fundamentalmente, saber qual é o seu objetivo, o porquê de fazer e quem quer mobilizar sensorialmente com o seu produto, seja ele qual for. Ele precisa ter uma boa história para contar.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim, já pensei, inúmeras vezes. Um dia conseguirei realizar esse sonho. Já esbocei alguns roteiros e estão engavetados. Temporariamente, assim espero. Amo o cinema e acredito que é a sétima arte mesmo.

R.F.Lucchetti: Memória Cinematográfica


T. G. NOVAIS, O HOMEM QUE PARECIA NÃO TER PASSADO
Rubens Francisco Lucchetti

A primeira pessoa que me falou de Sherlock Homes foi meu pai; e só fui conhecer o detetive criado por Arthur Conan Doyle nos meados da década de 1940, por meio das revistas pulp Detective e Policial em Revista.

Com o passar dos anos, não me contentei em ler esporadicamente as aventuras de Sherlock Homes. Sonhava em ter em minhas mãos um de seus livros. Porém, em nosso país, as obras de Conan Doyle há muito estavam esgotadas; e eu, residindo no interior, em Ribeirão Preto, não tinha condições de visitar os sebos de São Paulo. Foi quando tive a ideia de recorrer à revista O Cruzeiro, que, na época, 1952, vendia cerca de 210 mil exemplares semanais – eu era um de seus compradores assíduos, apaixonado pelas reportagens de David Nasser, pelas fotos de Jean Manzon, pelas “Garotas” (do Alceu Pena), pelo “O Amigo da Onça” (do Péricles) e pelo “O Pif-Paf” (de Emmanuel Vão Gôgo). Um anúncio publicado em suas páginas atingiria, no mínimo, mais de quatrocentos mil leitores, se considerarmos que cada exemplar de uma publicação é lido por pelo menos duas pessoas. Então, sem pensar duas vezes, redigi uma carta, em que me confessava “um ardoroso admirador de Sherlock Homes” e informava que “estava à procura de seus livros em Português”, e enviei-a para a seção ‘Escreve o Leitor’.

Não estava enganado quanto ao sucesso que imaginava que teria um anúncio publicado em O Cruzeiro. Recebi mais de uma centena de cartas, escritas por garotas sonhadoras interessadas em manter uma correspondência sentimental ou por vigilantes da boa conduta e da moral religiosa, que me aconselhavam a “dedicar-me à leitura de algo proveitoso, a fim depurar o espírito, e esquecer as indignas e pecaminosas narrativas policiais, que só servem para corromper a alma”. Mas de concreto, com relação ao meu pedido... nada.

Algum tempo depois, quando já começava a conformar-me com o fracasso da minha ideia, fui surpreendido com a chegada de um pacote registrado. Nele, havia três livros de Conan Doyle: As Memórias de Sherlock Holmes, A Volta de Sherlock Holmes e O Cão dos Baskervilles, traduzidos por Branca de Villa-Flor e lançados, por volta dos anos 1910 e 1920, por H. Garnier, Livreiro-Editor, do Rio de Janeiro.

Nenhuma carta ou bilhete acompanhava os livros. Esperei alguma carta em separado, o que não aconteceu.

Talvez um mês mais tarde, escrevi ao remetente do pacote – seu nome, T. G. Novais, e seu endereço (na cidade do Rio de Janeiro) constavam no papel em que foram embrulhados os livros –, agradecendo e perguntando o preço dos três volumes gentilmente enviados. Minha carta não demorou a ser devolvida, com a seguinte declaração: “Pessoa desconhecida no endereço.”

Numa nevoenta e fria tarde de sábado de julho de 1952, recebi a visita de um homem que dizia ser T. G. Novais. Devido ao frio cortante e à garoa, ele trajava capa de chuva (de cor amarela, semelhante à de Dick Tracy) e usava galochas. A primeira impressão que tive foi a de que era um ser saído das páginas de um dos romances de Charles Dickens, alguém destoando completamente de nossa época.

Confesso que não fiquei à vontade, diante daquela inesperada visita, que eu recebia em nossa sala de jantar, uma vez que em casa não tinha sala de estar. Quanto a T. G. Novais, parecia muito à vontade. Disse-me que trabalhava como correspondente – na Europa e Estados Unidos – de publicações brasileiras e argentinas (O Cruzeiro e Tit-Bits eram algumas dessas publicações). Falou-me também que não assinava as matérias com seu verdadeiro nome; mas não mencionou o(s) pseudônimo(s) que usava, e eu não me atrevi a perguntar. E foi, por intermédio dele, que fiquei sabendo o verdadeiro nome de Emmanuel Vão Gôgo: Millôr Fernandes (tenho certeza de que, na época, poucos sabiam disso; e só muitos anos mais tarde tornou-se público que Emmanuel Vão Gôgo era um pseudônimo de Millôr Fernandes).

Em seguida, T. G. Novais citou alguns atores e atrizes do cinema americano que entrevistara: Lew Ayres, Linda Darnell, Alan Ladd, Maria Montez, Jon Hall, Will Rogers, Audrey Totter, Dick Powell, Yvonne De Carlo, Ella Raines, Gail Russell, Laird Cregar, Ralph Bellamy, Raymond Massey, Victor Jory, Basil Rathbone, Nigel Bruce, Sidney Toler, Ray Milland, Jeanne Crain, Brenda Joyce, Gene Tierney, Ruth Roman, Adele Mara, Esther Williams, Red Skelton, Gale Sondergaard, Barry Fitzgerald, Bela Lugosi, Boris Karloff, Doris Day... E fez uma pausa, antes de citar Carole Landis. E foi emocionado que ele me disse: “Entrevistei-a poucos dias antes de sua morte. Ela estava cheia de planos e amava a vida. Por isso, não creio que tenha se suicidado... Eu estive em sua casa, em Pacific Palisades, e via-a morta no chão do banheiro, usando a mesma roupa que vestira quando me dera a entrevista. Um momento que jamais esquecerei, enquanto viver...”

Fiquei surpreso ao saber que T. G. Novais conhecia diversos autores de histórias de Detetive & Mistério e de Horror – recordo-me de que ele disse conhecer Clark Ashton Smith, August Derleth, Steve Fisher, Dashiell Hammett, Raymond Chandler, Richard Sale e, entre outros, Robert Bloch, todos colaboradores de revistas pulp como Black Mask e Weird Tales – e pertencia à The Sherlock Holmes Society of London, uma sociedade que fora fundada para estudar “a vida” e “os feitos do grande detetive inglês”. No entanto, o que mais me deixou maravilhado foi quando falou que conversara diversas vezes com um escritor muito especial para mim: Walter B. Gibson, autor da maioria das aventuras de O Sombra, o primeiro herói mascarado das pulps.

Foi por intermédio de T. G. Novais que travei conhecimento com algumas pessoas ligadas aos Quadrinhos, aos filmes de Horror e aos livros populares. Algumas delas se tornaram muito amigas, dentre às quais, posso citar: a escritora inglesa Isadora Highsmith, autora de uma série de romances góticos; os escritores norte-americanos B. Becker e Mary Shelby; e o editor espanhol Edgar Montanero. Foi com este último que mantive um maior número de correspondências; e, como não poderia deixar de ser, muitas vezes, nas cartas que trocávamos, T. G. Novais era o assunto principal.

Da mesma forma que eu, Edgar Montanero pouco ou nada sabia a respeito de T. G. Novais. E ele conhecia outras pessoas que, em algum momento de suas vidas, travaram contato com nosso misterioso amigo. Entretanto, nenhuma dessas pessoas soube dar qualquer informação sobre T. G. Novais. Assim, não conseguimos avançar um milímetro no mistério que envolvia nosso amigo comum. Sequer sabíamos o significado do “T. G.”. A única coisa que Montanero conseguiu me informar foi que T. G. Novais nascera em 1927 no Brasil.

Em janeiro de 2009, recebi uma carta de Matilde Montanero, esposa de Edgar. Nessa carta, ela falava da morte de Edgar (ele morrera vítima de um enfarto) e contava-me que seu marido pretendia escrever-me a fim de me avisar que soubera do falecimento de T. G. Novais.

A última vez que T. G. Novais me visitou foi por volta de 1974, quando eu já morava no Rio de Janeiro, na Rua Bariri, em frente à sede do Olaria Futebol Clube. Essa visita ocorreu numa segunda-feira. Já passava das nove horas da noite; e meu filho e eu assistíamos – pela TV Rio, Canal 13 – a um episódio do seriado Columbo (nesse episódio, o Tenente Columbo, da Homicídios, investigava um crime ocorrido num quartel do Exército). De repente, a campainha de casa tocou. Fui abrir a porta de entrada e deparei-me com a figura de T. G. Novais. Ele entrou em nossa saleta, usando uma capa de chuva (por demais semelhante à do Columbo) e galochas, já que fazia frio e chovia muito. Pediu uma xícara de café quente. Bebeu o café de uma só vez. Depois, falou para minha mulher, a Tereza, deixar o bule de louça ali, sobre a mesinha de centro. De quando em quando, ele mesmo se servia da bebida.

Foi a mais agradável de suas visitas. E, durante nossa conversa, contou-nos muitas coisas. Falou-nos a respeito das personalidades que conhecera, dos lugares que visitara, dizendo ser “um grande dialogador pelo mundo”. Porém, como das outras vezes, não fez qualquer referência sobre sua origem, seus familiares...

Quando T. G. Novais se despediu (já passava da meia-noite), nós o acompanhamos até o portãozinho de nossa casa. A rua estava deserta. A chuva havia passado; mas nuvens esbranquiçadas corriam baixas num céu escuro. Ele nos disse que subiria até a Rua Leopoldina Rego e pegaria um táxi. Ficamos ali parados, vendo-o caminhar lentamente, sem pressa. Sua imagem afastando-se está bem viva em minha memória. Suas galochas não produziam ruído algum na calçada molhada, onde sua sombra era projetada pela iluminação esmaecida das lâmpadas dos postes espacejados.

Só entramos quando ele desapareceu no fim da rua. Nesse momento, um trem passava, indo em direção aos subúrbios. Imaginarmos que deveria ser o último trem que deixara a Estação Dom Pedro II.

Resta dizer que, por mais de cinquenta anos, T. G. Novais me enviou um sem-número de pacotes, que, continham, entre outras coisas, livros e revistas de meu interesse, originais de sua autoria e traduções (feitas por ele) de histórias de Horror e de Detetive & Mistério. Entretanto, nesses pacotes nunca veio nenhuma carta ou bilhete. Dessa maneira, eu não tenho nada que comprove a existência de T. G. Novais... T. G. Novais, o homem que parecia não ter passado.

Rubens Francisco Lucchetti é ficcionista e roteirista de Cinema e Quadrinhos.