quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Eliete Cigaarini

Atriz. Foi uma das fundadoras do Grupo de Teatro Boi Voador, nascido do CPT - Centro de Pesquisas Teatrais de Antunes Filho, em 1984. Ao longo dos anos, ministrou aulas em diversas instituições profissionalizantes para atores e atualmente é professora de interpretação na Escola de Atores Wolf Maya. No cinema atuou nos curta-metragens ‘Até a Eternidade’, direção de Luiz Vilaça, ‘Sangue, Melodia...’, roteiro e direção de Adilson Tokita, e ‘Feito para não Doer’, de Caetano Gajardo.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Cinema, para todo ator, é o sonho dourado. Não conheço um ator que não diga que prefira o cinema à todas as outras linguagens para exercer seu oficio de ator. Eu não sou diferente. O cinema possui uma magia, um requinte para a construção de um personagem, desde a cenografia e adereços que compõe o set de filmagem, figurinos, até o envolvimento da equipe durante às filmagens. A maioria dos atores vem do teatro. O cinema é uma obra aberta, assim como a dramaturgia teatral, que eterniza o trabalho ator.
 
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
No início da minha carreira fiz inúmeros curtas metragens produzidos pelos formandos de cinema da ECA - USP. Foram experiências incríveis. Aprendi sobremaneira como atriz, mas também sobre cinema tecnicamente falando. Nesse época a montagem era feita na moviola. Eu curtia participar das montagens pela curiosidade de como funciona esse quebra cabeças. No início dos anos 90, tive a oportunidade de protagonizar, junto com o ator Paulo Gorgulho, de um curta dirigido por Luiz Vilaça, o thriller "Até a Eternidade"- Um casal apaixonado vai até as últimas consequências em suas fantasias revivendo antigos clássicos do cinema. Esse curta foi produzido com os requintes de um longa-metragem. Nesse trabalho pude reconhecer o curta-metragem como um gênero cinematográfico peculiar.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito que o espaço para cultura em nosso País, de uma maneira generalizada, é inexistente. Há um verdadeiro descaso para a cultura como se precisássemos somente de pão, água e sangue.  O homem precisa do lúdico para não sucumbir à sua realidade.  Não duvido de que a imprensa encare os curtas-metragens como um subproduto do cinema e que não mereça espaço, já que precisa-se divulgar toda uma “bobajada” que venda jornal.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acredito que deveriam sancionar uma lei de exibição obrigatória de um curta nacional por sessão de cinema, em todas as salas de cinema do País. Vale a sugestão: instigar um de nossos representantes políticos a esta causa.
 
O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sem dúvida. Conheço muitos novos cineastas brasileiros que encontram no curta metragem uma maneira de experimentar e aprender. Quanto à atuação eu sou exemplo disso. Porém, sabemos que em muitos países de primeiro mundo, curtas metragens são um gênero de manifestação artística de preferência de muitos diretores de cinema. Com esse gênero cinematográfico esses cineastas têm a oportunidade de sintetizar suas ideias, explorar tanto sua criatividade, como linguagens cinematográficas inusitadas. Para estes, produzir curtas-metragens torna-se uma escolha artística.
 
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa? 
Pode ser um trampolim, mas como já disse, acredito que muitos o preferem esteticamente, com o objetivo de explorar linguagens cinematográficas. Outra questão bastante relevante para a escolha desse formato, reside nas diferenças disparatadas nos custos de produção e de distribuição entre um curta e um longa-metragem. Certamente isso influência na escolha do cineasta.
 
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se alguém souber avise, por favor, para eu copiar a receita. Sensos de humor a parte, não sei mesmo. O que podemos apontar como quais seriam os ingredientes básicos necessários para se concorrer ao hanking dos melhores? Roteiro moderno, com temáticas instigantes; enquadramentos criativos (câmera na mão-travelling-steadycam)? No meu ponto de vista, todo artista precisa, fundamentalmente, saber qual é o seu objetivo, o porquê de fazer e quem quer mobilizar sensorialmente com o seu produto, seja ele qual for. Ele precisa ter uma boa história para contar.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim, já pensei, inúmeras vezes. Um dia conseguirei realizar esse sonho. Já esbocei alguns roteiros e estão engavetados. Temporariamente, assim espero. Amo o cinema e acredito que é a sétima arte mesmo.