quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Karina Buhr

Karina Buhr em "Bacantes".
 
Radicada em São Paulo desde 2003, você integrou a companhia Teatro Oficina Uzina Uzona, a convite do diretor José Celso Martinez Correa. Como e em que circunstância aconteceu esse convite?
Foi depois de um show que ele assistiu da minha antiga banda, a Comadre Fulozinha, em Recife, mais precisamente no bar Soparia, em 1998. Mas só criei vontade e coragem de "largar" as coisas lá e vir pra São Paulo em 2001. Vim e voltei algumas vezes trabalhando com o grupo e em 2003 vim "de vez" morar em São Paulo e mergulhei no Sertões, até o fim de 2007.
 
Você já havia se imaginado ingressar na carreira de atriz?
Foi a primeira coisa que quis na vida. Mas pensava em cinema. Mas não ia atrás, porque cinema era meio outro mundo pra mim, não achava nunca que poderia chegar perto disso, sei lá. Mas isso sempre foi muito forte pra mim. Até hoje nunca fui atrás, mas devo fazer isso logo mais rs.
 
Seu primeiro trabalho com o grupo foi em “As Bacantes”. Quais as lembranças desse trabalho?
Tenho todas as lembranças rs. É uma peça incrível e a montagem de Zé Celso com o Teatro Oficina é fabulosa. E trabalhar com ele, com um grupo gigante, tendo entre eles atores pessoas como Pascoal da Conceição, Denise Assunção, Peréio, Camila Mota, Sylvia Prado, Marcelo Drummond, Renée Gumiel, Fredy Allan, Mariano Matos, entre tantos outros, foi e é um aprendizado sempre, em todos os sentidos.
 
Como foi a transição do palco como cantora para o palco como atriz? Sua experiência como cantora lhe ajudou?
Não existiu uma transição porque sempre foi tudo muito ligado pra mim e no Oficina também funciona assim. Lá eu cantava, tocava, atuava, fazia músicas sozinha e com parceiros, dançava, corria...
 
Logo após você participa das cinco peças que compuseram “Os Sertões”, em temporadas em São Paulo, na turnê brasileira 2007 (Salvador, Recife, Rio de Janeiro, Quixeramobim e Canudos), na gravação dos DVDs e na abertura da temporada 2005/2006 do teatro Volksbühne, em Berlim. Como foi a experiência de trabalhar nesse épico?
Aprendo até hoje com isso e acho que nunca vai parar. Os Sertões como livro, como dramaturgia, o bordado diário de fazer roteiro o elenco todo junto, escrevendo, lendo ,desenhando...dicionário do lado sempre, na primeira fase...e daí montar nesse pique 5 peças, ao todo 30 horas corridas, é um aprendizado sem fim. E levar isso pra Berlim, Rio, Recife, Salvador, Quixeramobim e Canudos, além da temporada eterna em São Paulo, gera até hoje coisa boa no juízo e nas sensações e muita, mas muita história pra contar.
 
Fazer essas peças especialmente em Quixeramobim e Canudos e ver e sentir o que isso gerou na gente e nas pessoas de lá, é uma emoção muito grande, uma coisa única.
 
As peças do Teatro Oficina Uzina Uzona se caracterizam, em sua maioria, por serem longas. Que tipo de preparação teve para lidar com isso?
A preparação foi o próprio processo de criação , de construção das peças e de estar em cartaz. Fazer roteiro, fazer músicas, decorar textos gigantes em grupo, fazer música coletivamente, muitas vezes com a direção de Zé em tempo real...tudo isso, tanto o lado tranquilo, como o vertiginoso foi a nossa preparação.
 
Ceguinha Joventina com cabrinha / Os Sertões - Canudos_ 2007
 
Com o grupo você ganhou o Prêmio Shell São Paulo de Teatro 2002, na categoria melhor trilha sonora. Como foi seu processo de trabalho para criar a trilha?
Esse prêmio foi da peça A Terra e nela quase tudo é criação coletiva. Participo de muitas coisas com o grupo todo, te música minha em parceria com Zé Celso e Isaar, tem música só de Tom Zé, só de Péricles Cavalcanti, tem uma que cantei no meu primeiro ensaio nessa peça, de malinha na mão, direto do aeroporto e acabou ficando, de forma muito forte, que é do Côco Raízes de Arco Verde e se chama "Acorda Criança"...uma salada boa danada.
 
Pensa em voltar a atuar no teatro?
Sempre. Agora não dá porque é incompatível com agenda de shows, mas sempre vou tentar conciliar.
 
Você já teve musicas incluídas na minissérie “Clandestinos” (Globo) e “Descolados”(MTV), mas as músicas já eram do seu repertório. Aceitaria compor sob encomenda para um filme?
Já fiz isso algumas vezes, a maioria pra curtas metragem, já fiz isso pra teatro e pra um longa também.
 
Tem interesse em participar de telenovelas?
Não tenho nenhum interesse especial por isso não, mas se for um trabalho legal, que venha. Só é difícil isso acontecer sem correr minimamente atrás, então acho meio impossível rolar.
 
Na minha opinião, sua performance no palco remete à sua trajetória nos palcos, ela é bem performática e teatralizada. Isso que falei faz sentido?
Pra mim é uma coisa só. Tanto que o convite de Zé Celso pro Teatro Oficina veio a partir de um show que ele viu da Comadre Fulozinha. Uma coisa tá intimamente ligada a outra, não tem fronteira. O palco é uma outra dimensão, um lugar onde dá pra fazer e falar coisas que no dia a dia fogem da gente.
 
O videoclipe está ultrapassado? É possível romper o cânone do gênero?
Não acho que nada está ultrapassado. Clipe ruim tem aos milhares, mas um monte de coisa ruim tem aos milhares e isso não mata as coisas boas. Acho massa clipe massa.
 
Clipe massa tá ali do lado do cinema e cinema é ouro.
 
Muitos cantores (Roberto Carlos; Seu Jorge; Paulo Miklos; Elvis; entre outros) foram para o cinema e obtiveram grandes êxitos. Acredita que este seja também seu caminho natural?
Nunca pensei nisso desse jeito, isso do êxito e tal. Vejo isso como uma coisa particular, isso de sucesso ou não, dinheiro ou não. O que gosto é de cada pedacinho, de ir criando um caminho que me sinto bem e que me emociona quando vejo as coisas que consegui realizar, as pessoas com que consegui fazer coisas junto. Não miro um ideal de êxito, de sucesso e corro atrás dele.
 
Guerreiros de Cocorobó- Os Sertões
 
O que te leva a aceitar atuar em produções em curta-metragem?
Bom, atuar, de atriz, atuei em um, o "Encontro Macabro", de André Balaio, em 1994 rs. Aceitei porque sabia que ia me divertir muito e assim foi.
 
O que pensa a respeito deste gênero?
Acho que em cada gênero podem surgir preciosidades. Pode ser chatíssimo ou divertidíssimo, genial, um curta metragem.
 
Toparia dirigir um filme?
Tenho planos, ideias de roteiro de coisas minhas...mas de jeito nenhum que paro pra fazer isso agora. Mas não me chamariam pra dirigir o filme de ninguém, então nem preciso pensar se toparia ou não rs. Não acho que eu vá dirigir filmes e nem que tenho aptidão pra isso. Um meu, talvez, pela teimosia de querer ir pra um lado e não pra outro e o melhor jeito de ter isso é assinando a direção. É assim que faço com minhas músicas e acaba que também em todo resto.
 
Para finalizar, gostaria de saber como você se classifica como atriz.
Me classifico como não atriz, assim como me classifico como não cantora.