segunda-feira, 31 de março de 2014

Ana Carbatti

 
Atriz. No cinema, entre outros trabalhos, atuou nos curtas ‘Banho Maria’, de Miguel de Oliveira e ‘O Casamento de Mario e Fia’, de Paulo Halm; ‘Os Inquilinos’ e ‘Quanto Vale ou é Por Quilo’, de Sérgio Bianchi e ‘Lost Zweig’, de Silvio Back.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem.
Fiz poucos curtas. Lamentavelmente, porque o que me interessaria em fazer mais curtas seria sua qualidade mais artesanal. São poucos os curtas que já fazem parte do "mainstream", o que lhes confere alguma liberdade. Eu acho...
 
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Os mais recentes são "O casamento de Mario e Fia" de Paulo Halm e "Banho Maria" de Miguel de Oliveira. Ambos divertidíssimos de fazer, porque entre amigos. Cinema é legal de fazer porque a gente vira meio que uma família trabalhando, criando e rindo juntos, por causa da relação que estabelecemos com o tempo. A gente fica com tempo de conhecer e conversar com todo mundo, porque cada um tem o seu tempo pra preparar seu trabalho. É muito rico, isso!
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Provavelmente porque, muito raramente, dão algum retorno financeiro. Mas principalmente porque não temos uma cultura de curta aqui no Brasil. O público que não é especializado não se interessa, não conhece. E, a exceção daqueles que trabalham com cinema, não há nenhum esforço em aumentar a demanda por curtas.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Com o mesmo espaço dos longas. Com espaço nas TVs abertas, por exemplo. Só se ouve falar em curta nas pequenas mostras, que não são muito divulgadas e antes de alguns filmes brasileiros que, em alguns casos, reúne meia dúzia de espectadores na plateia. Os distribuidores, também ajudariam se investissem mais nos curtas.
 
O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Acho que sim, mas, como tudo em arte, sempre dependendo de quem faz.
 
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Do meu ponto de vista, uma coisa não tem a ver com a outra.
 
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Como assim, vencer? Não sei. Eu acredito no trabalho e na qualidade do que ele pode produzir. O resto...
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Dirigir cinema ainda não é, nem de longe, uma aspiração pra mim: cada macaco no seu galho. A realização do ofício não depende só do desejo. Pelo menos não deveria!

sexta-feira, 28 de março de 2014

R.F.Lucchetti: Memória Cinematográfica



MIRAGEM

Rubens Francisco Lucchetti

Certa vez... talvez no princípio dos tempos, isto se deu: dois nadas se encontraram.
Eram a Vida e a Morte.


– Sinto muito esta reunião. Há quem precise de mim na Terra – disse a Vida.

– Há-de existir quem também precise de mim – replicou, com ironia, a Morte.

– Sabe que tenho muito para lhe falar, não?

– Sobre o homem?

– É tudo que possuímos. Por que não falar nele? Ou será que não o possuímos?

– É evidente que o possuímos...

– Mas não é a respeito disso que desejo falar-lhe. É sobre o bem.

– O bem?!

– Sim. Desejo que estudemos um meio da fazer o homem sentir o bem na Terra.

– E necessita da minha ajuda?

– É claro...

  Passaram algum tempo em silêncio, como se pensassem. Enfim, a Vida disse:

– É inútil! Compreendo agora que o homem não poderá sentir o bem, pois impôs o mal, ao pecar.

– Sim, – concordou a Morte, – mas creio que tive uma ideia!

– Qual...?

– Poderíamos criar uma Miragem..

– Uma Miragem?! E em que consistiria essa Miragem?

– Criaremos algo que faça o homem imaginar haver encontrado o bem. Será uma Miragem que irá persegui-lo a vida inteira.

– Mas isto seria cruel!

– Cruel? Tolice!

  A Vida pensou um pouco. Depois, sentindo que nada mais havia a fazer, aceitou.

– Como irá se chamar essa Miragem? – Indagou.

– Felicidade – respondeu a outra, afastando-se.
 



Rubens Francisco Lucchetti é ficcionista e roteirista de Cinema e Quadrinhos.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Nina Mancin

 
Diretora, professora de Teatro, produtora e Agente Cultural.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem.
O prazer de interpretar.
 
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
A maioria das vezes um pouco desgastante, muitas vezes  por falta de organização das equipes de produção, mas vale pelo prazer da atuação e atmosfera. 
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
A mídia no geral valoriza  o que interessa a ela, o que tá na moda em alta, não está muito voltada para trabalhos artísticos que para eles são considerados "pequenos".
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Antes da exibição de cada longa no cinema rodasse um curta? Seria interessante, afinal milhares de pessoas vão ao cinema, mas como ficariam suas preciosas "propagandas"?
 
O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Com certeza, se for realizado com profissionalismo é uma oportunidade de experimentação e aprendizagem.
 
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa? 
Isso é muito relativo, claro você tem a oportunidade de ser visto por outros profissionais da área, mas isso não quer dizer que vai sair fazendo um longa atrás do outro. As pessoas quando nos convidam para participar de um curta na maioria das vezes tem uma verba baixa, acabam pagando um cachê "simbólico" esses mesmos profissionais quando conseguem captar recursos para rodar um longa, preferem pagar para um famoso, alguém de "nome" pra estrelar seu longa. Essa é a realidade nua e crua.
 
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Ser original, diferente  e inventivo.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não, prefiro atuar.

quarta-feira, 26 de março de 2014

R.F.Lucchetti: Memória Cinematográfica


Varia Historia
versão impressa ISSN 0104-8775

Varia hist. vol.27 no.45 Belo Horizonte jan./jun. 2011


RESENHA

Valéria Guimarães

Doutora em História Social pela USP, Pesquisadora do COS-PUCSP (Fapesp) e do CHCSC-UVSQ.

FERREIRA, Jerusa Pires. Cultura das bordas: edição, comunicação, leitura. São Paulo: Ateliê Editorial, 2010, 192p.

Todo mundo conhece Zé do Caixão. Globalizado, o personagem de cine trash Coffin Joe passou a compor o imaginário do terror internacional. O que nem todos sabem é que vários dos roteiros de filmes, histórias em quadrinhos, programas de TV e fotonovelas de José Mojica Marins, seu criador, são assinados por Rubens Lucchetti, figura bem menos conhecida que seu parceiro.

Ouvi falar dele nos anos 90 lendo HQs das produções O Estranho Mundo de Zé do Caixão. Anos depois, seu nome aparece, para a minha surpresa, em pleno ambiente acadêmico, onde estes mauvais genres demoraram a ser considerados dignos de estudo. A responsável pela façanha foi a professora Jerusa Pires Ferreira, realizadora de uma longa pesquisa sobre Lucchetti. Devorei o texto que resultou de tão interessante encontro e soube, enfim, de quantas rocambolescas facetas esse Ponson du Terrail brazuca era capaz.

Hoje, o grande público pode se deliciar com estas e outras histórias no livro Cultura das Bordas - edição, comunicação, leitura, obra recém-lançada pela Ateliê Editorial na qual Jerusa nos brinda com sua leveza de estilo ao se movimentar pelos altos e baixos das práticas culturais.

Seu livro vem compor o panorama das pesquisas sobre a edição popular, que tem se expandido nos últimos anos. Está dividido em dez capítulos, que por sua vez são organizados em três partes: Um autor singular e os Almanaques; Leituras e Enigmas e Palavras e Ofícios: Editores e Edição Popular. Pioneira, a autora faz parte de uma rede de pesquisadores que se dedica a pensar a lógica das práticas letradas com olhar inovador.

O livro se abre com Lucchetti e seus mais de 300 livros, suas "vidas passadas" e seus inúmeros heterônimos. Nascido em 1930 e ainda em atividade, ele é decifrado frente à rede a que pertence, o da cultura popular, de massa, da margem... ou melhor, das bordas. Literatura policial, esotérica ou de terror, Lucchetti é popular na origem, chegando ao cult de inclinação britânica - as tais vidas passadas reencarnadas em Theodore Field, no francês Urbain Laplace ou nas autoras Margareth Rice, Mary Shelby ou Madame Vera Waleska, o que parece ser alusão à mais famosa ocultista dos tempos modernos, Madame Blavatsky. E muitos outros, que se autoreferem tendo, inclusive, um "tradutor", outro heterônimo, o T.G. Novais.

E assim Jerusa nos apresenta outros reis do pulp. O Livro de São Cipriano - o Legítimo Capa Preta é um exemplo - e estaria muito bem num filme de Zé Mojica, aliás. De certo modo esteve, pois o almanaque cristãoibérico-afro-mágico, cujas inúmeras edições se espalham pelo mundo, incluindo o Brasil, também teve versões de Lucchetti.

Mergulhada na biblioteca deste mago das palavras, a autora percorre o mundo dos almanaques para situá-lo neste assemblage mítico e na tradição enciclopédica do saber popular: agricultura, fases da lua, esoterismo, bulas de remédio, piadas, literatura, receitas, curiosidades, magia, espiritismo etc. etc.

Na parte II, entra com tudo nos livros de alta e baixa magia, analisandoos muito além do bem e do mal. Por trás deles brotam referências aos autores reciclados e ao substrato comum que compõe a "cultura das bordas", definida pela autora como aquela que é "contígua à grande indústria de massas". O conceito recusa a visão engessada do folclorista, que a tudo classifica e higieniza encarando a cultura popular como estanque e a ser interpretada pela lógica da cultura erudita.

Ela detalha o trajeto antropológico da pesquisa e as dificuldades de se conseguir em livrarias as tais fontes interditas, assim como a ausência desta literatura maldita nos acervos. Todo este conjunto provindo de práticas culturais remotíssimas, percorrido em movimentos ousados, compõe um universo fáustico que não raro fora legitimado por uma suposta autoria cristã.

Usa das fontes orais do sertão, passeia na periferia da grande cidade e decifra enigmas das re-reciclagens de referências que para o leitor comum se perderam, mas que sua sólida erudição permite recuperar: "é preciso lembrar que nada daquilo foi simplesmente inventado. Não se trata de uma pura forjação de temas, ao contrário, tudo tem aí sua profunda razão de ser" (p.66).

Passa também pelos Livros dos Sonhos, cujas práticas divinatórias se entrelaçam num mecanismo complexo com o jogo do bicho, loteria, charadas e decifração. A importância das obras que tentam interpretar os sonhos na cultura popular é vista como espaço possível da realização utópica, recorrência a "depósitos míticos" (p.77) que nem mesmo Freud dispensara, usando-os em sua conhecida teoria.

A esta síntese de culturas relegadas (p.80) corresponde um resgate da importância desta literatura para o leitor, o que lhe permite uma "participação iniciática" nas forças ocultas. Um pacto que é lido pelo viés da semiótica e do conceito de fascinação, onde o signo é deflagrador da magia que a palavra impressa perdera.

As artimanhas da performance oral-impresso-oral transformam o narrador contemporâneo em transmissor do momento extático, responsável por inserir toda a tradição da cultura popular no contexto da cultura midiática. Para além da discussão sobre a dissolução das dicotomias entre cultura popular e cultura de elite, entre centro e periferia hoje bem esmiuçada por autores diversos e da qual a autora foi também pioneira, o que este trabalho traz de mais inovador é o levantamento das fontes e dos caminhos por elas tomados, o que requer um esforço hercúleo de erudição.

Tais práticas culturais são vistas como "gestada(s) e produzida(s) no âmbito desta cultura das bordas" (p.93), cujo elemento residual compõe o repertório comum.

Lembremos de Chartier, que revisa a ideia de que o "popular" esteja ligado à determinada "classe social" e de que seja uma fonte reveladora da visão de mundo de um grupo social específico, defendendo a existência de uma recepção dos artefatos culturais impressos por toda a sociedade.

Caminhando tranquilamente entre as estruturas imutáveis do imaginário tradicional e a historicidade das narrativas nos novos meios de comunicação em que reaparece, evoca nosso grande Sérgio Porto (Stanislaw Ponte-Preta) e seu "samba do crioulo doido" para precisar com humor o resultado das tramoias da ficção para o grande público.

A terceira e última parte é dedicada a uma editora popular dos anos 20, a Editora João do Rio, de Savério Fittipaldi, ele próprio uma mistura de empresário com visionário. A imprensa teve grande importância na composição do imaginário deste imigrante italiano, a começar pelo nome de sua editora, João do Rio, um dos grandes jornalistas e escritores da época.

Assim, temas também presentes no jornal como faits divers de crimes sensacionais, grandes golpes e falsários internacionais, tragédias, a Guerra, fenômenos fantásticos e sobrenaturais, além do repertório folhetinesco e da literatura de sensação (erótica/pornográfica), compunham o catálogo deste editor naïf e autodidata, como eram muitos de sua geração. A autora mostra como as práticas do editor definiam uma pauta que, a julgar por seu sucesso de vendas, estava em sintonia com seu público.

O sobrinho de Savério, uma espécie de Savério Fittipaldi "segundo", também editou de tudo. Seu sucesso foi tão amplo que para de publicar o Livro de São Cipriano por "desvirtuar a mente". Nos anos 70 também interrompe a publicação de outros títulos, como Carlos Magno ou O Conde de Monte Cristo, mas por motivo diverso: a função de entretenimento migrava definitivamente do livro popular para a TV.

No fabuloso depoimento de Savério Fittipaldi Sobrinho, que a autora tem a sensibilidade de reproduzir na íntegra, são desvendadas as engrenagens das fases da edição popular, sua lógica de publicação e venda e suas "pesquisas de mercado", feitas diretamente com o público: "A minha filosofia sempre foi fazer tiragens maiores para vender mais livros por um preço menor", diz ele (p.143). E aí se multiplicam as coletâneas de cartas de amor, livros de piadas, eróticos, de simpatias, de sonhos etc. Um de seus autores? Rubens Lucchetti, claro, que escrevia livros esotéricos, de terror e policiais.

Com a Luzeiro, editora que é tema do último capítulo, os cordéis entram na era da comunicação de massas, revisitados pela prensa moderna e acompanhados pelos mesmos tipos de títulos que se repetem nas editoras populares em geral. Os interditos, sempre os mesmos, como o Livro de São Cipriano, resistem pelo poder de venda que possuem. Este mesmo livro ainda aparece no catálogo de outra editora citada, a Edições O Livreiro que, a despeito de não ter uma linha para esotéricos, publica-o em resposta à fabulosa demanda.

Finalizando o livro em grande estilo, um caderno de imagens é aberto por uma alegoria bicromática de Rubens Lucchetti, cujo manto negro à la Zé do Caixão parece querer revelar o que de há de oculto por trás do mundialmente ilustre Coffin Joe. Seguem reproduções de capas de livros e almanaques citados na obra, cuja estranha uniformidade nota-se principalmente nos títulos de grande corpo, no uso de intensas cores, na temática popular e nas fartas ilustrações que indicam serem publicações "Para Todos".

Desde já o livro Cultura das Bordas compila material precioso antes disperso em artigos e suscita questões pertinentes aos estudos da história cultural do livro e da leitura, situando esta produção entre o massivo e o popular, em um lugar pouco definido e que parece sempre estar no limiar entre mundos diversos: nas bordas.


terça-feira, 25 de março de 2014

Gizele Panza

 
Atriz formada na ELT-Escola Livre de Teatro de Santo André, integrante da Cia Lúdicos de Teatro Popular, pesquisa teatro para infância e juventude desde 2007.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem.
Eu ainda não participei de produções em curta-metragem, embora tenha muita vontade.
 
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Minhas experiências são totalmente caseiras: Faço vídeos da minha filha e edito e há uns anos atrás comecei a captar imagens para um pequeno documentário sobre um projeto de teatro que participei, mas não tive ferramentas para finalizá-lo. 
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Talvez uma mobilização conjunta em alguma ação concreta possa mudar essa situação. Acho que quando um evento ou ação envolve muita gente, acaba por atrair muitos veículos da mídia.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Adorei encontrar, numa locadora bem popular de filmes (longas), uma vez, um curta de animação, o único que vi até hoje para locação. Acho que esse pode ser um canal interessante e a internet também. O que sinto que pode melhorar nesse segundo caso é a divulgação.
 
O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Do ponto de vista da atriz, acredito que em todo tipo de trabalho isso seja possível.
 
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Acho que pode ser um caminho.
 
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não sei te responder sobre o audiovisual. No teatro, muitas vezes, a gente levanta um espetáculo sem apoio algum, e a coisa acontece mesmo assim. Com resistência e fé na nossa arte. Isso, para mim, é uma grande vitória.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Penso somente em atuar e tenho uma ideia que pode virar um roteiro.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Os Curtos Filmes no programa 'Madrugadão'

 
O blog Os Curtos Filmes rendeu dois blocos de entrevista para o programa ‘Madrugadão’, apresentado pelo Mr. Volpi.
 
Confiram em:

Bloco 1:
http://www.youtube.com/watch?v=yrewrsDeGSI&list=UU0oB7WkdeZbGtpn5qQLZQGA&feature=share&index=3

Bloco 2:
http://www.youtube.com/watch?v=0--UZIWZHsM&list=UU0oB7WkdeZbGtpn5qQLZQGA

R.F.Lucchetti: Memória Cinematográfica


ONDE COMEÇA O INFERNO
(versão romanceada do filme)

por Rubens Francisco Lucchetti

O povoado tinha um nome curioso, Rio Bravo, e ficava bem próximo da fronteira do Texas com o México. E sua única e poeirenta estrada se encontrava, naquela quente semana de fim de verão, muito bem guardada. Ninguém podia entrar ou sair da cidade. Os homens, ou melhor, os pistoleiros do rancheiro Nathan Burdette detinham qualquer um que pudesse ser um representante da Lei ou mensageiro enviado para pedir ajuda em algum povoado vizinho. Eles, inclusive, pararam a caravana de carroças de Pat Wheeler; e isso acabou irritando o guarda de Wheeler, o jovem Colorado Ryan.

Quando o pessoal de Burdette permitiu que as carroças continuassem sua viagem, a caravana teve de parar novamente. Dessa vez foi um homem de aspecto miserável e mãos um tanto trêmulas que bloqueou o caminho num ponto onde a estrada contornava um celeiro e seguia reto para a rua principal de Rio Bravo. Depois de averiguar que na caravana não havia nenhum pistoleiro de Burdette, o homem, cujo nome era Dude, permitiu que as carroças passassem.

Cada um dos carroções se pôs de novo em movimento e, pouco depois, teve de contornar um enterro, que rumava em direção ao cemitério. Um menino mexicano batia um tambor índio, marcando o passo dos que seguiam o cortejo.

Quando a caravana entrou na rua principal de Rio Bravo, Pat Wheeler avistou um sujeito grandalhão. Era o xerife John T. Chance. Ele estava no meio da rua, entre o prédio da cadeia e o saloon, e empunhava um rifle.

– Alto, Pat! – Ordenou o xerife, com o rifle apontado para o céu.
– Que houve, John? – Indagou Pat, coçando o queixo.
– Prendemos Joe Burdette..
– Quê?!
– O motivo de ele estar na cadeia vai naquele caixão que viram quando entraram na cidade. Agora, Rio Bravo inteira está prisioneira de Nathan. Ele fez isso para que eu não possa levar Joe para fora ou trazer reforços. Em seguida, o xerife deu uma olhada nos ajudantes de Pat Wheeler. O único forasteiro era Colorado, e o próprio Pat respondia por ele. Assim, Chance deixou que a caravana passasse e fosse até o final da rua principal. Poucos minutos depois, a carga que as carroças transportavam – basicamente óleo combustível e dinamie – começou a ser descarregada no velho armazém de Burdette.

Enquanto isso, de rifle em riste, o xerife patrulhava a rua. A maioria das janelas das casas estava fechada. Rio Bravo parecia uma cidade desabitada. As únicas pessoas que se viam ao longo de sua rua principal eram, além de Chance, os homens de Pat Wheeler descarregando as carroças e dois pistoleiros de Burdette. Um deles fumava calmamente, junto à porta de entrada do saloon; o outro se encontrava perto da igreja.

O xerife não tirava os olhos dos dois pistoleiros, calculando que Joe Burdette ficaria muito contente se algum dos capangas de seu irmão invadisse a cadeia e o libertasse. De repente, a porta de uma das casas se abriu. Chance voltou-se naquela direção, no momento em que um homem de pequena estatura colocava os pés para fora da casa. O homem deixou a porta aberta e dirigiu-se, com passos hesitantes, até o xerife.

– Olá, xerife... – falou o homem, quando chegou bem próximo de Chance.
– Olá, Harold
– Deve estar precisando de ajuda...

O xerife balançou afirmativamente a cabeça.
– Eu estava pensando... Eu poderia...

Notava-se na voz do homem um pouco de medo.
– Você sabe usar uma arma? Sabe usar um revólver ou um rifle? – Quis saber o xerife.
– Mais ou menos – respondeu o homenzinho, titubeando. – Não tenho nenhuma arma comigo, mas...
– Acha que tem condições de enfrentar sozinho um dos homens de Burdette? Eles são pistoleiros, Harold. São homens extremamente habilidosos com uma arma. São homens acostumados a matar. Aliás, matar é o ofício deles. Sentem prazer em ver pessoas caírem mortas, vitimadas por balas saídas de seus revólveres.

Harold empalideceu, ao ouvir aquelas palavras.

– Agradeço sua oferta, Harold – disse Chance. – Mas se aceitasse sua ajuda, seria mais uma coisa com a qual eu teria de me preocupar. Volte para casa e esqueça essa bobagem de querer me ajudar. Será melhor para você e sua família.

O único hotel de Rio Bravo era dirigido por dois amigos do xerife, um casal de mexicanos, Carlos e Consuela. Ali, Chance soube que a diligência da tarde não partira no horário. Viu também uma das passageiras, uma bela jovem toda enfeitada de plumas; e, quando Carlos informou que a diligência ainda estava em Rio Bravo, o xerife foi até o galpão onde ficava guardada a diligência.

– Por que não partiu no horário, Jake? – Perguntou Chance ao cocheiro.
– Uma roda quebrada...
– Não têm uma roda de reserva?
– Não vai acreditar... ela também está quebrada.
– Maldição!
– Foi o que eu disse, ao ver as duas rodas quebradas. Parece que usaram uma tranca para quebrá-las. Teremos que ficar aqui até amanhã.
– Mais essa! – Exclamou o xerife, fazendo uma cara de contrariedade.
– Acha que o motivo de terem quebrado as rodas foi a carta que me deu para entregar ao delegado federal?
– Sim...
– Mas não precisa se preocupar. Partiremos logo de manhã, e a carta chegará ao seu destino!

Sentado à sua mesa, no escritório do xerife, Chance olhava calmamente os cartazes de procurados pela Lei. Enquanto isso, Dude andava de um lado para o outro, impaciente. A espera, a longa espera, mexia com os nervos de Dude. Fazia dois anos que ele, um ex-pistoleiro, tinha voltado a Rio Bravo, vencido pela bebida. Desde então, fora alcunhado de “Borrachín” pelos mexicanos, que não cessavam de ridicularizá-lo.

Chance deixou de lado os cartazes, levantou-se apanhou o rifle e disse:
– É melhor ver o que nos espera do que ficar aqui dentro aguardando.
Os dois homens saíram.
– Vigie aquele lado da rua, Dude – ordenou Chance. – Eu vigiarei este lado.
Chance e Dude andaram por toda a extensão da rua principal, com os sentidos em alerta. Depois, voltaram pelo mesmo caminho e entraram no hotel, onde diversas pessoas estavam reunidas no bar e nas mesas de jogo. Pat Wheeler, Colorado, a moça da diligência e um homenzinho gorducho de colete xadrez jogavam pôquer numa das mesas.
– As coisas não estão nada boas... – anunciou Carlos, com ar preocupado. – Seu amigo, Pat Wheeler, anda perguntando por que ninguém o ajuda. E, como o señor bem sabe, as paredes têm ouvidos...
Chance fez um sinal para que Pat Wheeler deixasse o jogo e viesse falar-lhe.
– Por acaso, ficou louco, Pat? – Indagou o xerife, quando Pat Wheeler se aproximou.
– Hein?!
– Andou falando por aí... Qualquer um que fique do meu lado...
– Ora, por que não pediu ajuda, John? Meus homens e eu...
– Vocês são simples amadores. Muita gente sairia ferida. Muita gente morreria. E, em minha opinião, Joe Burdette não vale tanto sacrifício.
– E que pretende fazer, então? Acha que você e esse “Borrachín” do Dude podem...?
– Dude já foi meu ajudante.
– Hoje, não passa de um bêbado!
– Ele tem suas razões para beber. Há quatro anos, quando ainda era meu ajudante, chegou uma moça na diligência. Logo percebi que não prestava. Mas era muito bonita, e Dude acabou apaixonando-se por ela. Não adiantaram meus conselhos. Os dois foram embora daqui juntos. Seis meses depois, ele voltou sozinho. Foi quando se entregou à bebida e começaram a chamá-lo de “Borrachín”. Então, ontem à noite...
– Que houve ontem à noite? – Quis saber Pat, intrigado.
– Joe Burdette começou a fazer arruaça. Bebeu, quebrou algumas cadeiras no saloon, beijou à força algumas coristas... por fim, matou um homem que estava desarmado. Tive de prendê-lo. Quando lhe dei voz de prisão, alguns pistoleiros de seu bando tentaram impedir-me. Foi nesse momento que Dude se colocou ao meu lado. Estava pronto para defender-me como nos velhos tempos.
– E, nesse momento, quem está vigiando a cadeia?
– O velho Stumpy...
– E você vai confiar num bêbado e num velho?
– Dude não bebeu nada o dia inteiro. Além do mais, ele e Stumpy são meus amigos...
– Eu também sou seu amigo, John – replicou Pat. – Por que não me aceita como seu ajudante?
– Porque você não é muito habilidoso com uma arma.
– Eu...
– Se fosse bom atirador, por que empregaria Colorado? Logo se vê que ele é um pistoleiro.
– Colorado?! Você lembrou bem!

Pat mandou chamar Colorado. O jovem pistoleiro não mostrou o menor interesse em ajudar o xerife. Fora contratado para proteger as carroças de Pat Wheeler, e não para ajudar os amigos de Pat a saírem de seus apuros.

– Não conte comigo, xerife! – Disse Colorado, indo jogar novamente.

Desapontado, Pat Wheeler deixou o xerife sozinho e saiu do hotel.

Não havia se passado nem um minuto, Chance viu a moça da diligência deixar a mesa de jogo e subir para o segundo andar do hotel, onde ficavam os quartos. Um pouco antes, os jogadores haviam pedido um baralho novo. Carlos atendeu-os prontamente, deixando o baralho usado sobre o balcão do bar. Chance passou o olhar por todo o recinto. Dude estava parado junto à porta de entrada, com ar desconsolado. No final do balcão, três homens conversavam e bebiam uísque, sendo servidos por Carlos. Nas mesas, ganhadores (acreditando que continuariam com sorte) e perdedores (acreditando que a má sorte os abandonaria) faziam suas jogadas. Por fim, o xerife pousou o olhar no baralho abandonado em cima do balcão, pegou-o e deu uma olhada demorada nas cartas. Depois, perguntou a Carlos o número do quarto ocupado pela jovem.

– É o quarto três, señor Chance – informou Carlos.

O xerife agradeceu e subiu as escadas, levando consigo o baralho. Quando bateu à porta do quarto da moça, ela abriu imediatamente.

– Você está metida numa grande encrenca, garota – foi logo dizendo Chance. – Dei uma olhada no baralho que estavam usando e notei que estão faltando três cartas. Eu conheço todos naquela mesa, menos você e o homenzinho de colete xadrez...

– E, por não me conhecer, acha que trapaceei no jogo, não é?
– Eu vi que você ganhou...
– E daí?
– Estão faltando três cartas no baralho...
– É só isso que tem contra mim?
– Não. Também tenho um cartaz. O cartaz de um jogador profissional que está sendo procurado. Bem, nesse cartaz fala-se de uma jovem que acompanha tal jogador. Dá, inclusive, uma descrição dela: é muito bonita, tem cabelos castanhos, usa plumas e chama-se Feathers. O sujeito de colete xadrez não é o homem procurado, mas a moça pode muito bem ser você.
– Na verdade, sou eu mesma, xerife.
– Nesse caso, será melhor entregar o dinheiro que ganhou. Eu o devolverei a seus donos. E queira deixar a cidade na próxima diligência, que partirá amanhã de manhã.
– Ei, xerife! – Gritou Colorado, entrando no quarto.
– Que houve? – Perguntou Chance.
– O sujeitinho de colete xadrez é um trapaceiro. Percebi que tem algumas cartas escondidas na manga do paletó. Vou revistá-lo. Quer vir comigo?

Se existiam dúvidas quanto à destreza de Colorado com as armas, o modo como se encarregou do homem de colete xadrez dissipou-as todas. E as cartas que faltavam no baralho estavam ocultas na manga do paletó do jogador. Chance pediu que Carlos o trancasse num dos quartos do hotel. Em seguida, voltou ao quarto de Feathers.

– Parece que cometi um engano ao culpá-la pela falta das três cartas, moça – falou Chance, assim que entrou no aposento.
– Não é a primeira vez que me acusam de trapaceira, xerife.
– O cartaz...
– É um cartaz antigo.
– Por que não pára de jogar e de usar plumas?
– Não vou fazer tal coisa, xerife. Não devo nada a ninguém.

Chance não pôde replicar, porque um tiro foi dado na rua.

O xerife desceu apressadamente as escadas, saiu correndo do hotel e encontrou, perto de um beco escuro, Pat Wheeler, que estava caído de bruços no chão.

– Proteja-me! – Gritou Chance para Dude. – Não desvie os olhos daquela cocheira! O tiro veio de lá. Chance curvou-se sobre o corpo de Pat Wheeler, enquanto Colorado também se aproximava muito afobado.
– Há uns quarenta minutos, seu patrão me ofereceu ajuda. Agora, está morto. Alvejaram-no pelas costas – falou Chance. – Você foi muito esperto, Colorado, em não querer me ajudar.

A cocheira estava às escuras e aparentemente deserta. Entretanto, assim que Chance entrou, um tiro cortou a escuridão. A bala passou a poucos centímetros da cabeça do xerife e foi alojar-se numa saca de ração. Houve um curto silêncio, quebrado por novo disparo, vindo dos fundos da cocheira.

– Você está bem, John? – Quis saber Dude, indo ao encontro do xerife.
– Sim...
– O atirador saiu pela porta dos fundos. Mas consegui acertá-lo. Deve ter entrado no saloon de Burdette, e está com as botas enlameadas.
– Vamos até lá, então, Dude.

Chance e Dude cercaram o saloon de Burdette, como tinham feito com a cocheira. Dessa vez, Dude foi pela frente; e Chance, pelos fundos.

– Muito bem! Todos de pé! E levantem as mãos! – Ordenou Dude, entrando no saloon.
Os oito homens de Burdette junto ao balcão do bar sorriram com desdém, mas cumpriram a ordem. Dude aproximou-se do balcão, procurando ver se algum dos homens estava com as botas sujas. De repente, algo chamou a atenção do ajudante do xerife: de uma abertura no teto caíam pingos de sangue dentro de um copo sobre o balcão. No instante seguinte, o cano de um rifle apareceu pela abertura. Dude apontou o revólver para o alto e atirou. Houve um momento de silêncio. Depois, um corpo despencou em cima do balcão. Tinha as botas enlameadas, e de um de seus bolsos caiu uma moeda de cinqüenta dólares.

Dude apanhou o dinheiro, e Chance disse secamente:

– Levem o amigo de vocês. E digam a Burdette que ele deve pagar melhor seus pistoleiros...

Um pouco mais tarde, Chance foi ao hotel e encontrou o lugar deserto, salvo pela presença de Feathers. A moça estava tocando piano.

– Xerife, não me orgulho da maneira como procedi hoje – disse Feathers, parando de tocar. – A minha única desculpa é que não sabia do seu problema. Agora, responda-me uma coisa: como é que um homem chega a xerife?
– Ficando preguiçoso – respondeu Chance. – E como é que uma moça acaba com o nome num cartaz de procurados pela Lei?
– Casando. Ele ainda não trapaceava no jogo. Tornou-se trapaceiro algum tempo depois, quando a sorte mudou. Um dia, foi desmascarado, como o homem do colete esta noite. E, quatro meses atrás, balearam-no. Desde então... Nesse momento, entrou Carlos, que ficou surpreso.

– Mas, señor Chance, devia estar na cama! Dormiu tão pouco a noite passada... Hoje, eu, Carlos, ficarei de vigia!
– Nada disso! – Replicou Chance. – Tenho o sono leve. – Voltou o olhar para Feathers. – Caso eu não a veja de manhã, senhorita, adeus. A propósito, para onde pretende ir?
– Vou para algum lugar onde não recebam cartazes de procurados.
– Não se preocupe. Eu me encarregarei de escrever ao xerife que está cuidando do caso. Vou pedir que cancele o aviso. Assim, a senhorita não será mais incomodada por gente como eu...

Chance dormiu vestido como estava. Só tirou as botas. Ao acordar, no dia seguinte, já amanhecera há muito tempo.

No vestíbulo do hotel, Carlos informou-o de que Feathers ficara a noite toda de guarda à sua porta.

– Ela ficou sentada numa cadeira e não desgrudou um minuto sequer os olhos do corredor – completou o mexicano. Aborrecido por ser protegido por uma mulher, o xerife foi bater à porta do quarto de Feathers.

– Se houvesse aparecido alguém, – vociferou Chance, assim que a porta se abriu, – com certeza, você gritaria antes que atirassem, não é?
– Quê?! – Perguntou Feathers, surpresa.
– Foi uma tola, garota! E saiba que tem de estar na próxima diligência! Ela parte dentro de uma hora...
– Eu já estou arrumando minhas coisas. Agora, saia do meu quarto!
– Já vou sair. Eu só queria... Eu só queria...
– Queria o quê?
– Nada! Adeus!

As ruas de Rio Bravo estavam cheias de gente naquela manhã. Espalhara-se a notícia de que Nathan Burdette viria ver o xerife.

Chance ficou esperando o rancheiro na cadeia.

Finalmente, chegaram à cidade seis cavaleiros. Dude desarmou todos eles logo na entrada de Rio Bravo. Apenas Nathan Burdette teve permissão de entrar no prédio onde funcionava a cadeia e o escritório do xerife, os demais foram até o saloon.

– Parece que Joe foi maltratado – disse Burdette, ao ver o irmão. – Por quê?

– Ele resistiu à ordem de prisão por assassinato – respondeu calmamente o xerife.

Em sua cela, Joe começou a protestar; porém, Chance o interrompeu.

– Ele alvejou um homem desarmado... E isso é crime. Joe não presta, Nathan. Mas é seu irmão. Mesmo que cometesse vinte assassinatos, ainda assim você tentaria livrá-lo da forca.

– E que pretende fazer com ele, xerife?

– Joe ficará preso até a chegada do delegado federal...

– Você tem que me tirar daqui! – Gritou Joe, desesperado.

Nathan Burdette nada disse. Apenas virou as costas e saiu dali.

E enquanto Nathan Burdette visitava o irmão na cadeia, a diligência partia. Chance logo verificou que Feathers não fora entre os passageiros.

– Eu não quis deixar Rio Bravo – informou Feathers, com toda a calma, pedindo, com um gesto de mão, que o xerife entrasse no quarto.
– Por quê?
– Não me obrigue a dizer, John Chance! Basta que saiba que ficarei mais um pouco por aqui. Depois, quando toda essa encrenca acabar, irei embora.
– Se eu não tivesse tantas complicações...
– Que você faria, xerife?
– Bem, as coisas poderiam ser diferentes entre nós... Poderíamos...
– Era só o que eu queria ouvir...

Em seguida, Feathers abraçou o xerife e beijou-o com ardor.

Desde que Nathan Burdette deixara a cidade, o piano do saloon só tocava uma música. Uma única música. E por ordem do rancheiro.

Dude voltou de seu posto de vigia e contou ao xerife que Burdette e seus homens não disseram nada ao lhe serem devolvidas as armas.

A música no saloon continuava tocando sem parar. Chance apurou o ouvido, intrigado.

– Que música é essa? – Indagou. – Estão tocando-a a tarde toda.
– É uma canção mexicana... – disse Dude.

Foi Colorado, que ao passar pelo escritório do xerife para saber como iam as coisas, quem explicou melhor:

– Essa música, xerife? Nathan Burdette ordenou a seus homens que não parassem de tocá-la. Chama-se “Degüello” ou “Canção da Degola”. Os mexicanos tocaram isso quando encurralaram os texanos no Álamo. Tocaram-na a noite toda... até estar tudo terminado. Será que se lembra o que significa?

– Significa “não ter piedade”...

À noite, “Degüello” continuou a ser ouvida monotonamente por toda a rua principal de Rio Bravo.

Já era madrugada, quando Chance foi para o hotel. Encontrou Feathers no corredor. Ela tinha uma novidade para lhe contar:

– Convenci Carlos a dar-me um emprego.
– Emprego?!
– Ele não tem dormido muito bem e disse que posso ajudar lá embaixo.
– Ajudá-lo no bar, não é? – Quis saber o xerife, ficando logo carrancudo.
– Diz isso de um modo que francamente...! – E os olhos da moça brilharam significativamente. – Está bem, não aceitarei, se não lhe agrada!
– Ora, por mim, pode aceitar!
– Só aceitarei o emprego, se você não achar nenhum inconveniente nisso... Ah, xerife, durma esta noite no meu quarto, assim enganaremos os homens de Burdette...

Chance deixou Dude de vigia pelo resto da noite e voltou para o hotel. Feathers estava atrás do balcão do bar, e não havia mais ninguém lá.

– Já terminou por hoje? – Indagou a moça. – Antes de dormir não quer tomar um café? Ou beber alguma coisa?
– Prefiro beber – disse Chance.
– Está bastante cansado, não? – A voz de Feathers estava rouca e cheia de interesse. – Posso preparar-lhe um banho quente. Ou fazer-lhe uma massagem... Ou...? – Ela teve de rir diante da expressão no rosto dele. – Bem, John, deixe a porta do quarto aberta. Durma bem.

Chance se dirigiu para seu aposento. Escorou uma cadeira contra a maçaneta da porta para denunciar qualquer visitante inesperado e procurou dormir. Mas só ficou virando-se na cama, agitado. Ouviu Feathers subir as escadas e logo depois descer de novo. Passou-se uma hora sem que o xerife conseguisse conciliar o sono. Por fim, levantou-se e desceu as escadas na ponta dos pés.

Feathers estava enrolada num cobertor, cochilando atrás do bar com o rifle de Carlos no colo... uma verdadeira guardiã. Seus olhos apenas se entreabriram, quando Chance levantou-a nos braços e levou-a para o quarto...

Dude estava tendo uma reação horrível na manhã seguinte. Na luta íntima que travava contra o antigo vício, as mãos lhe tremiam violentamente. E para piorar... não podia dormir nem manter qualquer alimento no estômago. Assim mesmo, montou a cavalo e foi, como sempre, assumir seu posto no velho celeiro. Preocupado, Chance viu-o montar; porém, nada disse.

Stumpy varria a cadeia, quando o xerife apareceu por lá.

– Dude está passando por maus momentos, Chance – falou Stumpy, continuando a varrer. – Começou a pensar de novo na vida e já viu que não passa de um pobre diabo.

– Ele tem de passar por isso – resmungou Chance. – E não seja bonzinho com Dude, senão, tudo estará acabado para ele.

Chance saiu e começou a patrulhar a rua, olhando para a estrada adiante. Avistou uma figura, que devia ser Dude, de guarda, junto ao celeiro.

Três homens a cavalo se aproximavam da cidade.

Chance foi para o hotel, onde Colorado fumava calmamente na varanda. Pediu-lhe papel e tabaco, para enrolar um cigarro para si também; e, como nenhum dos dois tinha fogo para acendê-lo, Colorado teve de entrar para buscar um fósforo.

Os três cavaleiros alcançaram o hotel e dirigiram-se ao representante da Lei.

– Xerife, precisamos de ajuda. Al, o nosso companheiro, sofreu uma queda do cavalo. Onde tem um médico?
– No fim da rua, à direita – informou Chance, fazendo menção de apanhar o rifle, que estava junto à parede.
– Não pegue essa arma, xerife! E fique sabendo que não é o seu ajudante que está de guarda... Chance olhou para a figura distante.

– Não é Dude? Que fizeram com ele?

– Trate de preocupar-se consigo mesmo! E, agora, vamos até a cadeia. Vamos levar Joe, senão será o fim para si e para Dude. Escolha, xerife.

As armas que os três homens empunhavam não admitiam escolha. Chance ficou parado, muito preocupado, com o cérebro raciocinando ativamente. Foi então que Colorado retornou. Os três cavaleiros o viram e apontaram as armas para ele, ameaçadoramente. A surpresa estampou-se no rosto do rapaz. Nesse instante, caiu um vaso de flores no meio da rua. Ele fora lançado de uma das janelas do hotel.

Com o barulho, os homens se voltaram. Num gesto rápido, Colorado agarrou o rifle de Chance e jogou-o para ele.

Com a outra mão sacou sua própria arma. Houve uma violenta seqüência de tiros, quebrando o silêncio; e o trio enviado por Nathan Burdette estendeu-se sem vida na poeira da rua. O companheiro deles, que havia ficado à espera junto ao celeiro abandonado, fugiu a cavalo. Chance não perdeu tempo, dando mais um tiro com o rifle. O homem tombou morto sobre a sela do animal.

Sem olhar sequer para trás, Chance pulou para um dos cavalos e galopou até o celeiro. Ali encontrou Dude todo amarrado e muito machucado pela surra que levara quando fora atacado pelos quatro cavaleiros. Dude, estonteado, sacudiu a cabeça ensangüentada e falou:

– Eu ouvi tiros. Que aconteceu?

– Nathan Burdette mandou aqueles homens para me obrigarem a soltar Joe. Foi Colorado quem me ajudou a dominá-los.

Depois de desamarrado, Dude ficou de pé, cambaleante.

– Se fosse ele quem estivesse aqui, isso não teria acontecido. Um homem deve saber quando não dá para mais nada. Para mim basta. Eu não presto mesmo. Tentei corrigir-me, mas não adiantou. – Havia uma expressão de completa derrota nos olhos de Dude. – Vou embora, John.

– Está certo, vá. Pode entregar-se ao vício. Mas, antes, venha comigo. Quero pagar-lhe o que tem a receber.

Num silêncio hostil, os dois homens montaram a cavalo e deixaram o velho celeiro.

Na rua, uma pequena multidão se formara ao redor dos corpos sem vida. O agente funerário já descobrira que cada um dos homens tinha consigo duas moedas de ouro de cinqüenta dólares. Pelo visto, Nathan Burdette aumentara o pagamento de seus pistoleiros.

Chance encontrou Colorado no bar do hotel, onde pagara uma bebida para Feathers, que estava muito nervosa.

– Obrigado, Colorado – agradeceu o xerife. – Se não fosse você, eu estaria perdido.
– Deve agradecer a ela também. Jogou aquele vaso de flores pela janela quando o viu em perigo. Na verdade, foi isso que nos ajudou.
– Por que decidiu ajudar-me, Colorado?
– Bem, ela ia sair para ajudá-lo. Em vez disso, saí eu – respondeu Colorado, com toda a calma.
– Salvou-me a pele, e Burdette não vai gostar de saber disso. Portanto, você também está encrencado – disse-lhe Chance francamente. – E não me diga que não sabia disso!
Colorado sorriu e respondeu.
– Já que vou levar bala, que me paguem para isso. Como posso arranjar uma insígnia?
– Venha até o meu escritório. Lá eu lhe darei uma.

Dude ainda estava no escritório do xerife. Trêmulo e vencido, viu quando Chance fez Colorado repetir o juramento que o tornava seu ajudante.

Depois de mandar o rapaz de volta ao hotel para apanhar suas coisas, os olhos de Chance encontraram os de Dude.

– Ele é bom no gatilho mesmo? – Perguntou Dude. – Tão bom como disse Wheeler?
– Ele me jogou meu rifle e sacou do revólver enquanto o rifle ainda estava no ar – contou Chance. Depois, dando-lhe as costas, falou: – Stumpy, Dude resolveu deixar-nos.

Dude estendeu as mãos, como numa súplica.

– Olhem para mim! Que pode um homem fazer com as mãos trêmulas deste jeito? Vamos, digam-me!
A um sinal de Chance, Stumpy, muito triste, tirou uma garrafa da gaveta. Dude serviu-se de uma boa dose da bebida, chegando a derramar um pouco. Mas, quando ergueu o copo, o piano do outro lado da rua tocou mais forte... como se zombasse dele. A música “Degüello”! Dude voltou a cabeça para a janela. Sua face teve ligeira mudança. Por fim, devolveu o conteúdo do copo através do gargalo da garrafa.
– Guarde a garrafa na gaveta, Stumpy – ordenou Chance.

À noite, Dude e Stumpy montaram guarda na cadeia, enquanto Chance e Colorado saíam a patrulhar a cidade.

Aguardava-os uma surpresa preparada pela gente de Nathan Burdette... um punhado de cartuchos atirados na forja do ferreiro, a fim de distrair-lhes a atenção e dar tempo para que o bando de pistoleiros pudesse surpreendê-los. Entretanto, Chance colou-se à parede próxima, e Colorado rolou sob as patas dos cavalos a galope. Conseguiram empunhar suas armas e derrubaram alguns dos pistoleiros.

– Que idéia foi essa de atirar-se debaixo dos cavalos? – Perguntou Chance, depois de tudo serenado.
Colorado sorriu.
– Um cavalo não pisa um homem. E um homem não pode usar sua arma direito com os saltos de sua montaria. Afinal, não adiantava ficarmos juntos.
– Se continuarmos assim, – comentou Chance, – aquele menino mexicano acabará rico...

Quando voltaram para a cadeia, Colorado pegou sua guitarra e cantou para eles. Chance ficou ouvindo a canção, pensativo; depois, disse:

– Burdette quer apanhar-me. Mas não atacará a cadeia com Joe dentro. O melhor é nos fecharmos aqui e esperar pelo delegado federal. Stumpy, temos comida suficiente? E água e lenha?
Stumpy tratou de verificar os suprimentos e informar o que faltava. Também sugeriu que, se iam ficar fechados ali, todos juntos, seria bom Dude tomar um banho para se pôr em forma novamente depois da surra que levara do pessoal de Burdette.

Chance e Dude seguiram logo para o hotel; e, enquanto Carlos providenciava os suprimentos necessários, Dude foi para o banheiro.

Chance e Feathers ficaram esperando por Dude no corredor de cima, tendo assim alguns momentos a sós.

– Vai mudar-se para a cadeia? – Feathers perguntou isso e, sem esperar pela resposta, beijou-o com paixão.
Os dois separaram-se, ao ouvir um grito de Consuela no andar de baixo. O grito ainda ecoava no ar, quando Chance, de rifle em riste, começou a descer os degraus às escuras. O xerife não viu a corda estendida à sua frente, tropeçou violentamente e rolou os degraus, perdendo o rifle na queda. Assim que tocou o chão, três sombras saltaram sobre ele e golpearam-no com a coronha das armas. Outros vultos passaram por Chance e subiram as escadas. No andar de cima, a moça não dispunha de arma alguma e Dude, dentro da banheira, não tinha a seu alcance seus revólveres.
Jogaram um balde de água no rosto de Chance, e alguém o fez ficar de pé.

– Agora, cabe a você escolher, xerife: ou vamos até a cadeia e você solta Joe, ou levamos você e Dude e fazemos um trato com Stumpy. A escolha é sua!

Sacudindo a cabeça, estonteado, Chance viu Carlos e Consuela amarrados numa cadeira. Depois avistou Dude, já vestido, no meio das escadas e bem vigiado.

– Estamos vencidos, Chance – falou Dude. – Vá com eles e deixe que levem Joe. Stumpy não poderá resistir sozinho. Faça o que digo.

Pareceu a Chance que Dude estava tentando dizer muito mais com suas palavras: tivera a precaução de não mencionar o nome de Colorado. Chance concordou.

Um dos homens tirou as balas do rifle e devolveu-o ao xerife; assim, Stumpy não ficaria desconfiado, vendo-o desarmado. Com três armas apontadas para sua espinha, Chance caminhou com eles até a porta da cadeia.

Dois dos pistoleiros entraram, quando Stumpy veio abrir. Chance olhou o velhote bem nos olhos e disse:

– Vamos soltar Joe. Estes amigos dele pagaram a fiança. Dê-me as chaves.
– Estão na mesa – resmungou Stumpy.
E Chance percebeu tudo. Indo até sua mesa, ficou fora da linha de tiro. Nesse instante, Stumpy abriu fogo contra os dois bandidos. O terceiro homem, lá fora, entrou de arma em punho, mas Colorado se encarregou dele. Dois estavam mortos; e o terceiro, fora de combate.
– Este sujeito falará – disse Colorado. – Eu só lhe quebrei um braço e uma perna!
– Vigiem-no! – Gritou Chance, correndo para a porta. – Vou ajudar Dude...
De volta ao hotel, Chance encontrou Carlos e Consuela ainda amarrados. O bando de Nathan partira e levara Dude.

Carlos contou que os bandidos trataram de fugir tão logo ouviram os primeiros tiros na cadeia. No primeiro andar, o xerife encontrou Feathers também amarrada. Enquanto era libertada das cordas, ela falou, com os olhos brilhantes de alegria:

– Conseguiu livrar-se deles uma vez mais!
– Tive a ajuda de Stumpy e Colorado. Infelizmente o mesmo não aconteceu com Dude.

Houve uma reunião na cadeia, sob o comando do xerife, que, voltando-se para Carlos, ordenou:

– Procure Burdette. Diga-lhe que farei um acordo com ele. Quero Dude de volta. Em troca, soltarei Joe.
– Não pode fazer uma coisa dessas! – Protestou Stumpy. – Lembre-se de que você é o xerife! Não pode soltar Joe, nem mesmo se ele fosse seu irmão!
– Dude esteve “morto” durante dois anos – disse Chance secamente. – Só voltou à vida porque eu precisava dele. Bem viu como foi difícil isso. Vá, Carlos, e faça o que eu lhe disse.
– Depois que Burdette tiver Joe de volta, que acontecerá? – Perguntou Colorado. – Não poderá acusá-lo de nada.
– Nathan não terá que se preocupar com Chance – respondeu o velho Stumpy. – Chance não estará mais com a insígnia no peito, e ninguém lhe dará ouvidos. Nathan sabe bem disso.

Nervoso, mas obediente, Carlos retirou-se para cumprir sua missão. Em uma hora estava de volta, trazendo a resposta de Nathan Burdette.
– Ele concorda em fazer a troca, señor Chance. Estará no armazém meia hora após o nascer do sol. Ele vai trazer Dude. O señor deve levar Joe.

Não se sabia como a notícia se espalhara. Mas, ao nascer do sol, toda a população de Rio Bravo estava na rua, à espera. Chance não permitiu que Stumpy participasse da pequena procissão que sairia da cadeia. O velhote não concordara com a troca, e sua ausência demonstraria isso a todos.

Quando Joe saiu da cela que ocupara, puseram-se a caminho. Subiram a rua com Joe sob a mira da arma de Chance. Acompanhados pelos olhares apreensivos dos cidadãos. Entraram numa cocheira defronte ao armazém de Nathan Burdette, e Chance gritou:

– Nathan! Joe está aqui!
– Também estamos prontos! – Respondeu Burdette, e sua voz vinha de uma das portas do armazém.
– Vou deixar Joe sair. Faça o mesmo com Dude. Pode ir, Joe.
Houve um pequeno atraso, porque Dude se recusava a cooperar.
– Joe já vai! – Repetiu Chance. – Se você não vir, Dude, nada disso terá valido a pena. Siga em frente, Joe. E bem devagar.

Prisioneiro e refém deixaram seus abrigos e começaram a caminhar um em direção ao outro. Cada vez estavam mais perto. Por fim, ficaram lado a lado... Então, Dude investiu contra Joe e segurou-o pela cintura; e ambos rolaram para um pequeno alpendre aberto. Do armazém saíram três homens de Nathan Burdette. Chance disparou o rifle, fazendo tombar um deles. Em seguida, fez menção de ir até onde Dude estava; mas Colorado o deteve, segurando-o pelo braço e dizendo:

– Fique aqui! Dude estará a salvo, enquanto conservar Joe em seu poder.

Estava mais que evidente que, enquanto Joe e Dude estivessem lutando desesperadamente, os tiros vindos do armazém se concentrariam na cocheira.

– Consegue jogar uma arma para Dude? – Perguntou Chance.
– É um pouco longe, – respondeu Colorado, – mas vou tentar.

Colorado não perdeu tempo e jogou um revólver em direção do alpendre. A arma caiu perto, mas não muito. Como Chance e Colorado responderam às balas que vinham do armazém, Dude conseguiu apanhá-la. Alguns dos pistoleiros de Burdette tentaram sair, utilizando uma porta lateral. Teriam conseguido seu intento; porém, uma saraivada de balas os abrigou a recuar.

– É Stumpy com sua espingarda – resmungou Chance. – Devia saber que aquele demônio não ficaria de braços cruzados numa situação como esta.
– Ele está sentado numa das carroças que tem dinamite! – Exclamou Colorado.

Chance procurou manter fogo cerrado contra o armazém, a fim de que os pistoleiros se mantivessem ocupados e esquecessem Stumpy.

Pouco depois, a carroça de dinamite, em chamas e impelida por Stumpy e Carlos, começou a deslizar em direção ao armazém.

– Veja o que esse velhote aprontou! – Disse Colorado, admirado.

A carroça estava quase junto ao armazém. Firmando-se bem, Chance disparou uma carga de chumbo contra o veículo em movimento. Com um tremendo estrondo, a dinamite explodiu, arrancando uma parede inteira do armazém. Com a formidável explosão, os homens de Nathan Burdette foram atirados em todas as direções. Fumaça, poeira e destroços encheram o ar.

– Dude, você está bem? – Gritou Chance, ansioso.

– Claro! – Respondeu Dude do alpendre.

Por entre a poeira e a fumaça, o pessoal de Burdette que restava foi saindo do armazém, cambaleando e de braços erguidos.

Nathan Burdette, seu irmão e os demais bandidos foram levados para a cadeia, atravessando a rua onde as vidraças das casas tinham se partido com a explosão. Eles não ofereciam qualquer resistência, conduzidos por Chance, Dude e Colorado. Num silêncio de admiração, os curiosos assistiam, enquanto os representantes da Lei cumpriam seu dever.

– Agora deixaremos que o delegado federal se preocupe com esses “pássaros” – disse o xerife.

Mais tarde, o xerife foi até o hotel, subiu a escada de dois em dois degraus e entrou no quarto de Feathers.

Encontrou-a vestida com umas calças justas e vistosas. Ela olhou para ele e informou, sorrindo:

– Vai haver uma festa aqui esta noite. Consuela quer que seus fregueses se divirtam, e eu vou cantar uma canção...
– Com esse traje? – Indagou Chance.
– Não quer que eu cante vestida assim? – E a jovem sorriu maliciosamente.
– Se usar esse traje em público, – avisou Chance, – eu a prenderei.
– Oh, John, esperei tanto tempo que falasse que me ama!
– Só disse que a prenderei – repetiu ele, querendo parecer autoritário.
– É a mesma coisa – falou Feathers, atirando-se nos braços do xerife. – E você sabe disso.
Quando ela o beijou, John T. Chance compreendeu que sabia mesmo...

Título original: Rio Bravo
Ano de produção: 1959
Tempo de projeção: 141'
Direção e Produção: Howard Hawks
Roteiro: Jules Furthman & Leigh Brackett, baseando-se numa história de B. H. McCampbell
Música: Dimitri Tiomkin
Elenco:
John Wayne (John T. Chance)
Dean Martin (Dude)
Ricky Nelson (Colorado)
Angie Dicknson (Feathers)
Walter Brennan (Stumpy)
Ward Bond (Pat Wheeler)
Pedro Gonzalez-Gonzalez (Carlos)
Estelita Rodriguez (Consuela)
John Russell (Nathan Burdette)
Claude Akins (Joe Burdette)
Malcolm Atterbury
Harry Carey Jr.
Bob Steele
Distribuição: Warner