quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Conversações com R.F.Lucchetti


O livro ‘Conversações com R.F.Lucchetti’ (Editora Verve) foi tema, no dia de hoje, de uma bela matéria de capa no caderno +Cult, do jornal O Liberal, da cidade de Americana (SP). 



sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Coluna da Marta Paret


Maria Della Costa & Odela Lara

Muito já se falou sobre a morte e mesmo assim preferimos não tocar no assunto. Compreensível! Na cultura ocidental, a morte traz dor demais. Também muito já se falou sobre isso... Mas, se estamos vivos, não adianta, não temos como ignorar o assunto.

A saudade é uma das consequências direta da partida. Quem fica carrega consigo as lembranças daquele que se foi. E quem partiu ficará sempre vivo, enquanto o vivo estiver presente com as suas lembranças.

Recentemente morreram duas atrizes ícones: Maria Della Costa e Odete Lara. Maria Della Costa partiu primeiro, no dia 24 de janeiro, aos 89 anos. Já Odela Lara faleceu no dia 4 de fevereiro, aos 85 anos. 

O teatro brasileiro não seria o mesmo sem Maria Della Costa, que ao lado de Sandro Polloni, seu segundo marido, fundou o Teatro Popular de Arte, em 1948, que mais tarde daria origem à companhia Maria Della Costa. Em 1954, inauguraram o teatro, que levaria o nome da atriz, na capita paulista. 

Neste espaço a companhia montou clássicos de Brechet, Feydeau, Tennessee Williams, Sartre, Nelson Rodrigues, Arthur Miller e muitos outros, alguns destes dramaturgos eram até então inéditos no país.

Odete Lara fez mais de 40 filmes, lançou discos - um deles ao lado de Vinicius de Moraes - e atuou em peças teatrais, entre outras coisas. Musa do Cinema Novo e da Bossa Nova, trabalhou em filmes importantes como "Bonitinha, mas ordinária", "Boca de ouro", "Vai trabalhar, vagabundo", e "O dragão da maldade contra o santo guerreiro".

Infelizmente, não conheci pessoalmente nenhuma das duas, mas guardo histórias que denunciam o carinho e a admiração que sinto  por elas. 

Em 2004 e 2005, fazia uma peça com Perry Salles e ele sempre, ao final da sessão, na hora dos agradecimentos, saudava sua ex-mulher e estrela do espetáculo, Vera Fisher, com "bravo, bravíssimo" e palmas entusiasmadas. 

Muitas vezes estranhava tanto calor neste momento vindo da própria equipe. Não que Vera não merecesse atos entusiasmados, claro que sim, mas para mim o natural era que esta expressão partisse do público. 

Mas Perry, que trabalhou na companhia de Maria Della Costa, contou que Sandro Polloni, seu marido e parceiro profissional, ao final de todas as apresentações, do fundo do teatro, no escuro ainda, saudava a estrela da companhia com "bravo, bravíssimo, Maria" e a plateia assim era contagiada, estendendo o tempo e a intensidade das palmas. 

Perry aprendeu com Sandro que produtor não para de trabalhar nunca, nem na hora dos agradecimentos ele descansa, e que por trás de uma estrela tem sempre um produtor.

Já em 2011, no ateliê de Daniel Senise, eu ensaiava o espetáculo "Mão na luva" e estudava tudo que estava ao meu alcance sobre o autor da obra, o dramaturgo Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha. Nestas minhas pesquisas, soube que a linda peça, nunca encenada com ele em vida, havia sido escrita sob forte influência da história de amor vivida por ele e por Odete Lara. Quem conhece o texto consegue mensurar a enorme paixão que viveram. 

Por conta disso tentei contato com ela, mas, por circunstâncias do destino, não consegui. No auge do sucesso, ela se converteu ao budismo e passou a ter uma vida reclusa.

Enquanto eu viver, vou carregar comigo estas lembranças que não estão nos livros e nem nos documentos. E assim é a vida... Quem parte fica vivo na memória de quem fica, independentemente dos registros oficiais.  

Marta Paret, é atriz. 

Rodrigo Fidelis


Ator e produtor, graduado em Artes Cênicas pela UFMG.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Há uma força que é impossível de conter: a necessidade de atuar. Nestes 15 anos atuando, sua maioria no Teatro, o cinema é um percurso ainda misterioso para mim. Das poucas produções que participei, fui convidado diretamente pelos diretores, depois de me assistirem no teatro. Talvez neste momento, o que me faz aceitar participar das produções é um "namoro" com a direção, é a fome com a qual os diretores descrevem seus filmes.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Para situar quem for ler esta entrevista, é preciso dizer que nestes 15 anos atuando, meu principal veículo é o Teatro. Foi na arte teatral que desenvolvi minhas principais criações.

Fiz três curtas dentro do universo acadêmico que circularam por festivais, neles trabalhei com jovens artistas, dispostos e entregues ao risco, porém há algo que ainda me soa estrangeiro no universo do cinema, a linha de produção que enquadra atores em elenco, distanciando-me assim do que mais o Teatro me proporciona, a totalidade da minha criação, me envolvendo em todas instâncias criativas, como luz, cenário, texto, figurino, etc.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sei, mas sendo um pouco leviano e indo pro achismo das coisas, pois me falta estudo pra responder esta pergunta, acredito que, por não se tratar de uma vedete das artes visuais e da indústria cinematográfica, os curtas, são como primos pobres, perdidos nas urgências dos veículos de comunicação.

Também, acredito, que há uma nova forma surgindo, como é o caso do seu blog. Alternativas do front.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acredito que a TV aberta seja um dos caminhos.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Acho que cada profissional tem seu modo de criar, algumas parcerias proporcionam uma criação mais aberta, outras já chegam idealizadas por uma "direção".

Divido aqui uma frase de Liv Ullmann (um das esposas de Bergman)

"Não existe mais aquele investimento no instante pleno que a câmera flagrava, na busca por um take perfeito, em que a a gente dava o melhor de si."


O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Para o ator acredito que não, mas para a direção talvez seja.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não sei, minha preocupação ainda se resumi na realização. Não tenho estudo para esta pergunta.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não penso, mas é excitante a ideia. Atualmente me concentro em 2 longas com produção independente.

"Indefinido", com direção de Cleber Amorim, que começou como um curta e agora tomou proporções de um longa, e "Amor Líquido" com direção de Vítor Steinberg.


Fioravante Almeida


Ator. Atua no monólogo ‘Muro de Arrimo’, espetáculo que se passa no dia da derrota do Brasil para a Alemanha na Copa de 2014.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Principalmente uma boa ideia! Acho curta super legal, porque se pode experimentar mais. O Náufrago que foi um curta que eu fiz foi grande experiência e acabei fazendo dele um grande laboratório. http://vimeo.com/7502431

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Não fiz muitos curtas, quatro ou cinco talvez! Nunca ganhei dinheiro, mais todas as vezes me senti muito vivo e fazendo aquilo que amava!

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Então eu acho isso um preconceito muito bobo! Antigamente era obrigado a passar curtas antes de exibição de longas no cinema. Acho que a classe tinha que voltar a lutar por isso. Principalmente ágora que todas as TVs pagas estão tendo de ter programas e filmes brasileiros em sua grade de programação. Tínhamos que promover um grande movimento. E pode acreditar que o momento é muito propício.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Leis severas que obrigassem a serem exibidos.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sim! Só lembrarmos quantos diretores que estão ai e sentiram o gosto pelo cinema começando com o curta... Descobrira-se e foram descobertos. Acho o grande portal para todos profissionais.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Acredito ser sim um grande trampolim para arte visual geral.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Isso eu gostaria de aprender,,, Mas acredito que a receita pra se vencer em qualquer profissão seja levar a serio, com amor e carinho o que se esta trabalhando.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Nunca pensei em dirigir somente atuar! Mas como disse acima se a ideia na cabeça for boa, estarei dentro.

Bruno Ranzani


Ator. Atuou no filme ‘Circular’.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Quando estava na faculdade eu aceitava qualquer proposta, pois tinha um desejo muito forte em participar de produções e de conhecer pessoas. Agora eu peso e seleciono melhor. Tem quatro pontos pelos quais me guio: disponibilidade de horários, interesse no projeto, equipe integrante e claro cachê. Quanto a interesse no projeto me pontuo pela complexidade das personagens e de suas relações, o universo dramático chama a minha atenção.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Os projetos que participei se dividem entre estudantis (realizados com grupos de estudantes de cinema da Faculdade de artes do Paraná) e Casos e Causos (Produções da RPC TV e Parceiros como GP7 cinema). Os projetos estudantis são aprendizados para todos. Ao mesmo tempo que estamos interpretando o diretor busca sua estética e sua forma de liderar, a equipe experimenta os equipamentos. Os resultados são diversos, mas geralmente são projetos divertidos de se participar. Já em produções que envolvem remuneração e equipe experiente encontrei pessoas que sabiam o que queriam e tinham um curto espaço de tempo para realizar o projeto. Resultando em formatos que o público está mais acostumado a ver.

Como ator sigo um conselho que me foi dado "não se apaixone". Esse conselho me foi dado quando eu achava tudo que eu fazia era muito importante, ficava estonteado com uma cena realizada. Enfim, para todos os meus trabalhos em cinema e TV esse conselho me foi útil, pois na verdade a direção e a edição é quem selecionam tudo, não é bom se apegar a algo que "puxa podia ter entrado aquela cena", independente do resultado da cena, é importante perceber o que o trabalho quer comunicar no todo e se a cena colabora para isso.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não me vejo como a melhor pessoa para responder isso. No entanto olhando para o cenário de produções artísticas eu não resumiria a falta de visibilidade aos curtas, mas expandiria a questão a todas as expressões artísticas. Não vejo os jornais darem foco para novos músicos, nem a novos artistas visuais, muito menos a novos cineastas.

Sempre tem a questão do público alvo. Será que o trabalho que pretende ser exposto, ou divulgado por um jornal vai de encontro com os interesses do público alvo desse mesmo jornal? Alguns aqui diriam que o jornal é pra todos e que não precisaria selecionar a informação, mas por outro lado o público alvo da Tribuna, da Gazeta do Povo e da Folha de São Paulo são diferentes.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Esse formato tem um alto potencial e acho que na verdade cada vez terá mais. As pessoas estão cada vez com menos tempo. No entanto, chegam em casa cansadas e querem se divertir, relaxar. Enfim a criação de canais temáticos poderia funcionar. Como um canal no youtube ou blog de curtas de comédia, outro de drama enfim vários gêneros. Uma iniciativa que acho bastante interessante é segue um pouco essa linha é o porta curtas (http://portacurtas.org.br/). Mas mesmo assim ainda é pouco divulgado poucas pessoas com que eu converso sabem da existência desse site.

Acho que se de alguma forma se os produtores conseguissem espaço para veiculação na TV seria possível atrair mais interessados para os curtas. Mas para criar a cultura de ver curtas seria necessário um espaço e horário fixo, algo regular.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Certamente. Acho que justamente por isso é complexo popularizar este formato. Quando algo é original de mais deixa de se comunicar. É como no filme Quem somos nós que o índio vê a flutuação na água, mas não vê o caravela. Era algo tão diferente que se fez incompreensível a ele durante muito tempo. Popularizar o curta é envolve ceder a padrões estéticos estabelecidos ao melodrama por exemplo. Grande parte do público não se interessa por arte experimental. Particularmente acredito que um produto artístico bem sucedido pode ser amado ou odiado, só não pode ser ignorado. Existe uma alquimia necessária entre a originalidade e o estabelecido para que algo possa ser assimilado. Caso contrário estará se fazendo arte somente para estudantes de arte e artistas. 

É importante lembrar que estamos em um país que ostenta o título de ser o melhor produtor em telenovelas, Precisamos levar em consideração que nosso público está acostumado com a estrutura dramática, com o melodrama. Mesmo que as vanguardas estejam discutindo o pós-dramático e a performance. Uma performance em si é algo incompreensível, quase inconcebível para o público leigo. No entanto se a colocamos dentro de uma estrutura dramática facilitamos para o público. É uma forma didática de pensar, mas como a maior parte das questões aqui refletem a preocupação em popularizar os curtas-metragens penso que a formação de plateia acaba sendo necessária.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Acho essa uma questão relativa. Depende do ponto de vista. Se falamos de um diretor, produtor ou roteirista certamente sim. Já se falamos de um ator ou atriz e ainda não é conhecido(a) por pessoas que estão fazendo longas talvez. No entanto, parte do mercado está interessada num misto de ficção e realidade. Uma equipe preparada com todo estudo e preceitos estéticos seleciona pessoas sem qualquer contato prévio com interpretação para realizar trabalhos junto com atores que se dedicaram a formar sua carreira nessa área. A Rede globo por exemplo, tem várias produções onde isso aconteceu. Uma das últimas foi ‘Suburbia’, onde duas das protagonistas foram selecionadas na comunidade. É um misto de reality show e ficção. O próprio filme que eu participei, Circular, aderiu a esse movimento. Não foi o meu caso, que me diferencio muito do papel que desempenhei para esse filme, mas houveram casos de pessoas que vivem ou viveram ali uma realidade bem próxima a de seus personagens e também de pessoas sem experiência prévia em atuação.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não creio que exista uma receita. Nem acho que posso dizer que venci. Eu tenho alguma experiência. Participei de alguns curtas, alguns médias-metragens e um longa metragem, mas ainda tenho muita estrada pela frente até poder dizer que venci e prosperei com o audiovisual. Acho que contatos e dedicação são dois guias muito importantes. Pro ator e para atriz é importante saber se soltar, conseguir se liberar de amarras e mergulhar no projeto. Essa é uma postura que exige coragem e pode ser um caminho com passagem só de ida, pois cada personagem abre um horizonte de possibilidades e as vezes trocamos a casca. Nem sempre, mas a vezes sim.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
No futuro quem sabe. Tenho alguns projetos germinando. Venho escrevendo algumas coisas novas e já tenho outras na gaveta.

Paola Prestes


Documentarista. Criou a produtora Serena Filmes, onde tem realizado documentários autorais e etnográficos para agências de comunicação e pesquisa. Assistiam sua entrevista para o programa Zootropo (TV Cronópios) em: https://www.youtube.com/watch?v=enXPRnrK7eU 

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
No meu caso, não recebo convites. Sou a realizadora dos meus curtas. Isto é, dirijo e produzo, por meio da minha produtora, a Serena Filmes. Faço documentários, formato que tem uma característica de cinema de guerrilha, portanto, de maior informalidade e flexibilidade, o que não quer dizer desorganização e falta de disciplina. Muito pelo contrário. Portanto, meus curtas nasceram de iniciativas próprias, de um grande desejo de realizar um determinado trabalho ou de uma situação inesperada que me intrigou. Documentarista é curioso por natureza, destemido e normalmente tem um forte vínculo pessoal e emocional com o projeto.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Como disse, sou documentarista. Trabalho com elementos diferentes de um diretor de ficção. Um desses elementos fundamentais é o imprevisto. Gosto de trabalhar com aquilo que o personagem ou a situação me dá, pois frequentemente é muito melhor do que eu tinha pensado. Todo documentarista deve pesquisar, se preparar, planejar, mas chega o momento em que ele deve jogar seu roteiro fora, aceitar aquilo que o personagem e a situação estão propondo a ele. Se ele não fizer isso, mata o filme. Alguns dos curtas que fiz e que foram melhor recebidos foram trabalhos que, eu diria, se impuseram a mim, como Na cama com King, Morumbé e A cor do samba é azul. Entreguei-me ao personagem nos dois primeiros casos e à situação no terceiro. O que não quer dizer que eu tivesse perdido o controle da situação. Era uma equação que foi equilibrada no momento da gravação, e em seguida, na ilha de edição.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Considerando a qualidade de grande parte do pensamento crítico no Brasil, talvez seja uma bênção os curtas-metragens serem poupados dessa atenção. A crítica não está e, acredito, jamais estará interessada em dar atenção à produtos de baixa repercussão junto ao público. A crítica no Brasil é pedante demais, talvez com a finalidade de esconder seu próprio vazio. O curta-metragem não precisa da crítica. Aliás, toda e qualquer manifestação artística que dependa da crítica está condenada. Não é preciso procurar longe, basta olhar para o lado e ver o que acontece com nossas "parentes", as artes visuais: tornaram-se reféns da crítica, asfixiadas por um discurso que nada tem a ver com arte. Curtas-metragens precisam de espaço na TV e de plataformas na internet, como o Vimeo, o Portacurtas da Petrobras, o Filmessay, o Curtadoc e blogs como este, que abrem espaço para a troca de experiências, de informação e trabalhos de maneira democrática. No mundo de hoje é possível sermos produtores e espectadores, sem intermediários. Se a crítica está obstruindo/ignorando em vez de ajudar/ampliar canais, para que pedir a ela de joelhos que fale de nós? Nós é que não precisamos dela.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acredito que a televisão seja o melhor meio de difundir curtas-metragens para o grande público. As pessoas não vão ao cinema para ver curtas, infelizmente. Não acho que seja um fenômeno brasileiro apenas. Há festivais de curtas, e isso é muito bom. Mas festivais não bastam, pois o curta continua circulando entre pessoas que já são do meio, ou têm alguma simpatia por cinema. O curta, por sua duração, tem vocação televisiva. Pode se encaixar de diversas maneiras numa grade, e tem o potencial para atingir um público variado. Minha esperança é que com a mudança nas regras de exibição de conteúdo na TV, aumente de fato a demanda por mais conteúdo produzido no Brasil, e o curta-metragem consiga se afirmar como produto audiovisual de ampla abrangência. Porém, jamais podemos sacrificar a qualidade em nome da quantidade. Seja para televisão, cinema ou internet, é preciso fazer bons filmes que não subestimam a inteligência do público.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sem dúvida é um campo que oferece mais liberdade para a experimentação de linguagem, a começar pelo fato que custa bem menos que um longa-metragem. Fazer experimentação com um orçamento de longa de dois, cinco, dez milhões de reais é loucura, a não ser que o diretor seja um gênio, o que não anda correndo pelas ruas e muito menos pelos estúdios ultimamente. Ainda com relação ao dinheiro: com o cinema amplamente patrocinado por empresas como é o caso no Brasil, não acredito que haja muitos diretores de marketing interessados em patrocinar filmes experimentais, longas ou curtas. Portanto, via de regra é preciso botar a mão no bolso e fazer seu curta experimental sozinho. Há também o fato que linguagens experimentais são frequentemente pouco palatáveis e o espectador se cansa depois de um certo tempo: assistir linguagem experimental por 15 minutos é algo bem diferente de assistir linguagem experimental por 90 minutos. É preciso ter cuidado para não deixar um filme ser vítima da experimentação. Como disse o Antunes Filho, não se pode confundir o novo com novidade. Eu acrescento: não se pode confundir pesquisa de linguagem com truque, nem poesia com vale-tudo. Uma outra opção viável nos dias de hoje é, sempre respeitando limites de honestidade intelectual, assumir a natureza interdisciplinar do trabalho e colocar seu curta experimental numa galeria de arte.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Tradicionalmente, escolas de cinema começam pedindo aos alunos trabalhos de curta-metragem. Faz sentido: é mais barato, mais rápido e, claro, um projeto de menor envergadura, portanto mais fácil de administrar. Por esse motivo, pode sim ser um trampolim para um longa, e já foi para muito cineasta de longa-metragem. Mas, não acredito que o curta-metragem se limite a isso. Senão, grandes diretores de longas jamais fariam curtas. Recentemente vi um curta-metragem belíssimo "1943-1997", de Ettore Scola. É de 1997, relativamente recente. Não é nem um pouco menos genial que os longas que ele fez antes. É a prova que o curta-metragem é muito mais que um trampolim para um diretor: é um formato tão válido quanto qualquer outro, pois afinal das contas, não é o formato do filme que importa, mas se ele é bom, ou não.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
A palavra receita é perigosa. A palavra vencer também. "Vencer no audiovisual brasileiro" é uma expressão que beira o surreal. Salvo raríssimas exceções, que eu saiba, ninguém no Brasil "venceu" no audiovisual brasileiro. Temos sido vencidos como classe década após década por diversos motivos, talvez o maior deles a nossa incapacidade crônica de implementar uma indústria cinematográfica no Brasil. Sonhamos com o primeiro Oscar brasileiro -- verdadeiro Santo Graal -- sonho este alimentado pela mídia e almejado por algumas empresas produtoras. Essas miragens hollywoodianas nos fazem esquecer de regras básicas que valem para qualquer profissão: é preciso ler, ter cultura, construir bases de conhecimento, ter senso crítico com relação ao seu próprio trabalho, rigor intelectual, humildade para reconhecer seus erros e limitações, respeito pelas pessoas que trabalham em nossa equipe, perseverança e muita, muita paciência. E, claro, é preciso trabalhar, noção nem sempre associada à função de diretor de cinema. Mas, já que o assunto é audiovisual, quem no Brasil realmente aborda esse assunto com propriedade é Eduardo Escorel. Recomendo a todos que queiram trabalhar com cinema (e àqueles que não querem também) que leiam o blog dele. É uma rara fonte de pensamento inteligente e sensível sobre cinema: http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-cinematograficas 

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sem dúvida. Sempre tenho um projeto engatilhado. Cineasta tem de ter projetos, sonhos, o desejo de fazer o próximo filme, mas não pode ficar no sonho ou no desejo apenas. Cineasta tem de trabalhar, tem de ir pra rua filmar. Curtas-metragens tornam esses sonhos mais realizáveis.

Mayara Constantino


Atriz. Atuou no curta Tudo o que é sólido pode derreter’ e no longa ‘Castelo Rá-Tim-Bum, o Filme’.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Geralmente o roteiro. Quando o roteiro é muito bom e o personagem me interessa eu aceito.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Foram muito boas. É cinema, né? Então eu amo e acho que para a maioria dos atores o cinema é um veículo que ocupa um lugar muito especial. O que acontece muito em curta é que geralmente são produções com um orçamento mais apertado, a equipe é mais jovem, mais fresca, tudo isso eu gosto muito. Mas, claro, já passei alguns apertos, mas a paixão pelo filme me ajudou a superá-los. Por isso o roteiro tem que ser muito bom e quando aceito fazer um filme já investigo pra saber mais ou menos onde estou entrando.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Eu acredito que as pessoas têm uma ideia de que curta geralmente é um processo experimental, e ele é mesmo, mas se você for parar pra pensar isso é ótimo! E além disso geralmente são atores menos conhecidos, diretores menos conhecidos e então eles ocupam lugares e atenções menos conhecidas também.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Penso que com mais festivais, mais atenção da mídia em geral, um maior acesso também, quem sabe sessões no cinema com preços populares. Ou um grande diretor escolhe um curta pra passar antes do filme dele... não sei, dá pra ter muita ideia!

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Com certeza! Mas ele não deve perder esse frescor em um longa-metragem, por exemplo.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Sim! Não só para os atores, mas para a equipe em geral.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Nossa, bem difícil essa pergunta! Mas resumindo, se você não tem muitos contatos ou grandes nomes vinculados ao seu projeto, não tem jeito, você tem que ser bom, muito bom.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Já pensei, tenho roteiros escritos. Mas nunca tomei coragem. Quero continuar meus trabalhos como atriz e, depois, quem sabe? Creio que sim!

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Roberto Santucci Filho


Cineasta. É dele “Até que a Sorte nos Separe”, “De Pernas Pro Ar”, “Odeio o Dia dos Namorados”, “O Candidato Honesto”, entre outros sucessos.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Atualmente não sou mais convidado, mas poderia participar se a história for boa. Afinal é isso que conta. Uma boa história para ser contada na tela grande.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Trabalhei em duas. Uma na faculdade e outra num curta independente meu. Sempre foram muito apertados de verba, beirando quase nenhum orçamento com estruturas muito limitadas. O curta da faculdade foi melhor. Se chamava “Helpless”, vou colocar no meu canal do Youtube! futuramente. E o outro foi o “Bienvenido a Brazil”. Esse passou muito no Multishow. Sátira do americano que acha que a capital do Brasil é Buenos Aires.

Minha experiência foi aquela de ter que improvisar muito e se virar com quase nada. Tanto que muitas pessoas envolvidas não acreditavam num bom resultado para os filmes. Na filmagem tive equipe de tamanho razoável na faculdade e equipe mínima na minha produção particular. Na pós-produção eu fazia quase tudo em casa. Comecei muito cedo a editar eletronicamente, embora tenha trabalhado em grandes filmes como assistente de montagem e nesses casos trabalhei intensamente com filme de maneira tradicional. Atualmente com os computadores e máquinas fotográficas se pode fazer coisas incríveis.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Por que ninguém conseguiu achar um canal com uma boa visibilidade. A internet deveria ajudar isso. Todavia não basta ter um espaço, uma vez que vários canis de TV já exibiram programas de curtas. É preciso fazer barulho, saber divulgar e saber apresentar os curtas. Como eles são muitos variados, é necessário ter um excelente programador. Alguém que chame o público. Nos anos 70 tevê a lei da obrigatoriedade nas salas de cinema. Foi péssimo pois queimou a imagem dos curtas para aquela geração. Agora é necessário abrir esse espaço através de curtas que ajudem as pessoas a se interessar novamente. Tarefa difícil, não adianta obrigar as pessoas a verem, tem que saber achar o público certo para o filme.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Como eu já falei, tem que ser num programa bem bacana, apresentado num espaço nobre por alguém que dê credibilidade. Tipo atores, cineastas, gente com reconhecimento junto ao público. Nesse programa se falaria de curtas que não passariam nesse horário nobre mas passaria num outro horário para quem curte filmes mais difíceis. Ou se mesclaria os filmes difíceis com os mais fáceis para segurar o telespectador. Recursos que a TV faz o tempo todo com seus programas.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Com certeza, mas isso pode ser uma faca de dois gumes. Fui a vários festivais e vi curtas experimentais demais. Acho perigoso, pois por um lado, fazer um curta pode ser muito trabalhoso e dispendioso. Vi jovens cineastas investirem muito num trabalho de fim de curso e experimentarem tanto que só os instrutores curtiam o trabalho. Os curtas que podem servir para abrir a carreira de um cineasta, nesse caso, não ajudam pois o mercado de trabalho não é fácil para experimentalismo em excesso.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Pode ser. Já aconteceu várias vezes, e se se pensar dessa maneira pode ser muito bom para os realizadores. Eu aconselharia essa tentativa para um segundo ou terceiro curta-metragem.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Entreter. Essa é do meu ponto de vista a verdadeira natureza das artes. Vejo muito preconceito com este conceito, mas acredito plenamente nele. Todos os filmes que amamos nos fisgaram e nos mantiveram entretidos durante a projeção. É uma sensação maravilhosa esquecer do mundo e viajar numa história contada na tela grande.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Se a história for boa, com certeza. E existem histórias que são perfeitas para isso. Com os novos dispositivos móveis, as pessoas vão querer entretenimento com durações menores.

Amazyles de Almeida


Atriz. Trabalhou com importantes diretores, como José Celso Martinez Corrêa, Renato Borghi, Marco Antonio Rodrigues, Zé Henrique de Paula, Antonio Abujamra, entrou outros. Também atua na televisão e no cinema, como no clássico "Alma Corsária", de Carlos Reichenbach.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Primeiramente o roteiro, a estória que vai ser contada. Se o roteiro é bem desenvolvido, a tendência é que toda a equipe tenha a mesma compreensão e entendimento da direção, de como essa estória deve ser contada. Depois o personagem, que nem sempre deve ser avaliado pelo tamanho de sua participação. Depois equipe: gente interessada, criativa.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Já trabalhei com pessoas muito objetivas, que sabiam exatamente o que queriam. Isso imprimia um ritmo muito ágil às filmagens. Também com pessoas jovens, saindo da faculdade de cinema, que por não terem muitos recursos, não podiam filmar repetidamente, então as cenas eram muito ensaiadas, discutidas, experimentadas, antes da filmagem. Nenhum trabalho é igual a outro, mas o que eu posso dizer é que sempre é muito bom perceber in loco o ritmo próprio de cada produção.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho natural grandes produções terem maior visibilidade. Mas com a maior participação de curtas brasileiros em festivais internacionais, alguns deles com grande destaque, a tendência é que o interesse por eles também aumente, tanto da crítica quanto do público.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Nunca pensei nisso, mas acredito muito em festivais, debates e encontros abertos ao público interessado.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Talvez, se experimentação não for sinônimo de falta de preparo, se liberdade não for sinônimo de falta de rigor num trabalho que leve a pelo menos um vislumbre de um resultado criativo positivo.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Não acredito que o curta-metragem se limite a um exercício de aprimoramento. Acho que é uma forma de linguagem. Mas claro que por ser uma estória condensada e de menor custo, é um belo aprendizado.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Acredito que antes de tudo deveria haver uma indústria de audiovisual no país. Que se mantivesse produzindo continuamente, e assim, consequentemente, fosse aprimorando-se, em todos os segmentos.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Dirigir é administrar todas as frentes. É preciso ter uma percepção muito abrangente. Como atriz, acho que tenho o olhar mais interiorizado. Digamos que meus olhos não têm uma grande angular que os olhos de todo diretor de cinema devem ter. Prefiro atuar. (Risos).

Isabel Wilker


Atriz, modelo e apresentadora do programa Bastidores, exibido no Multishow. 

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Hoje eu sigo os mesmos critérios para escolher os trabalhos que faço. Leio o roteiro com cuidado, acho que essa é a parte mais importante. A ideia, a história tem que me pegar de algum jeito - por ser um desafio, por ter uma equipe da qual eu queira fazer parte, por me inspirar... não gosto de fazer algo por fazer. Não importa se é um curta, um longa, uma série de TV, uma peça de teatro - se a proposta me interessar, se o projeto fizer sentido pra mim, faço com prazer.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Já fiz cinco curtas desde que comecei a trabalhar como atriz, e estou me preparando para rodar o sexto em fevereiro. Rolou de tudo um pouco, curta de amigo, TCC de faculdade de cinema, filme super amador, outro mais profissional... Em muitos casos, os curtas não têm muita grana, então acabei me envolvendo mais pessoalmente com alguns projetos. Topei fazer sem cachê, emprestei minhas roupas, liberei a casa para a locação. Mas eu gosto disso, todo mundo se ajuda e faz uma coisa legal.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sei te dizer. Não é um formato que receba muito destaque mesmo, a não ser dentro dos festivais específicos. A internet acaba sendo o maior meio de divulgação desses filmes. É uma pena, mas ao mesmo tempo, me parece que esse é o caminho - a internet está em todos os lugares, e ela tem se mostrado uma ferramenta muito eficiente para divulgar, bom, de tudo... Mas é importante reconhecer esse espaço, porque funciona.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Fico pensando que ao invés de vinte minutos de trailers antes da exibição de um longa, por que não um curta? Ou de repente uma sessão no cinema com três ou quatro curtas também poderia ser uma tentativa... mas acho difícil encontrar esse espaço nas salas de cinema hoje em dia. Ainda é complicado distribuir um longa nacional, então me parece que a internet é mesmo o caminho para chegar nas pessoas, por enquanto.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sinceramente, acho que qualquer projeto pode ser um grande campo de liberdade para experimentação. Entendo que muitas vezes, em projetos maiores e menos independentes ou alternativos, a gente tenha que seguir os padrões do projeto e não os nossos. Por isso os projetos menores, como um curta, podem ser mais livres. Muitas vezes eles são mais pessoais e autorais. Sem dúvida, é algo para saborear e aproveitar, é assim que se descobre estilo, que se cria linguagens; é assim que descobrimos o que queremos dizer para os outros. Mas realmente acredito que podemos levar a liberdade que temos dentro de um projeto pessoal para pelo menos alguns dos nossos outros projetos.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Bom, eu já fiz cinco curtas e ainda não fiz um longa... (risos). Não saberia dizer o que é um trampolim para o que nessa profissão. Acho que o verdadeiro trampolim talvez seja a dedicação, o estudo, um pouco de sorte (?) e muita vontade de fazer isso que a gente faz.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não acredito que exista uma receita. Como acabei de falar na resposta anterior, é uma combinação de muitas coisas. Nada é garantia de nada. E quando penso no meu trabalho, no meu futuro, eu penso em permanecer - e talvez essa seja a verdadeira vitória pra mim - poder atuar por muito tempo, poder fazer o meu trabalho cada vez melhor. Quero alargar a minha experiência da vida, do mundo, quero conhecer mais pessoas e lugares, e quero trabalhar muito no teatro, na televisão, no cinema. Enfim, acho que a receita pode ser o desejo - mas isso não é só pro audiovisual brasileiro. É mais pra vida mesmo.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Nunca pensei nisso. Mas fico observando meus amigos, meus colegas, meus pais, e vejo que esse desejo de dirigir (ou produzir também) aparece em algum momento, quase sempre. Talvez seja uma maneira de se reinventar, de descobrir um território inexplorado dentro da própria casa, por assim dizer. Quem sabe um dia?

Camila Turim


Atriz. Atuou no curta “Entre Paredes Abertas”.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O exercício cinematográfico. Na verdade muitas vezes aceitar fazer parte de um curta tem um risco, porque nunca sabemos como irá resultar. Entretanto vejo como uma grande oportunidade para descobrir caminhos para a atuação.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Tive experiências muito gratificantes e acabei conhecendo pessoas talentosas e batalhadoras. Passei por alguns perrengues também, como filmar em lugares sem autorização e diárias que se estenderam noite adentro. Mas tudo é maravilhoso quando todos estão comprometidos com a realização de um projeto.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque não existe um mercado de curtas metragens. Por mais fantástico que seja o filme, ele percorrerá alguns festivais, ganhará alguns prêmios. Mas só será visto pelas pessoas que fazem parte do meio áudio visual. O curta não atinge público. Logo é difícil até mesmo conseguir subsídios para as produções. A atenção de mídia seria natural se houvesse uma demanda para tal. A questão é o crescimento do mercado do cinema nacional. Quanto mais incentivo para o nosso cinema, mais produções de curtas, mais publico e mais mídia.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
No Brasil o espaço para estas produções ainda é muito restrito infelizmente. Alguns canais de TV a cabo abrem espaço para veiculação de curtas. Falta espaço nas salas de cinema e nos canais abertos.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Em geral o curta-metragem é o espaço para ousar. Nesse sentido é muito importante para o crescimento artístico, na medida em que só se descobre algo novo quando nos permitimos ser irresponsáveis.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Funciona assim para os diretores. Para nós atores, acho bacana passarmos por essa experiência. Claro, que na medida em que seu trabalho é visto em festivais talvez suas chances de estar em um longa-metragem aumentem. Mas não faço nenhum trabalho pensando para onde ele pode me levar no futuro. Quando estou em cena, seja no teatro ou no meio áudio visual, penso apenas no presente. E em como posso contribuir para criar uma obra honesta.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não sei ao certo. Se alguém souber, me diz (risos). Mas acredito que “vencer” no meio artístico é um conceito dúbio e a palavra em si, um tanto perigosa. Prefiro a palavra perseverar, que esta mais ligada ao trabalho contínuo. A qualidade vem do talento, mas também e principalmente da repetição. O aumento das produções do cinema nacional com certeza é o caminho para que tenhamos um cinema de qualidade e diversidade artística. É preciso abrir espaço para se criar uma indústria e também incentivar produções independentes.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Tenho formação em jornalismo com especialização em vídeo documentário. Durante a faculdade dirigi alguns curtas e médias metragens. Por enquanto meus planos estão mais ligados a minha historia como atriz. Mas para o futuro não descarto nenhuma possibilidade. O homem contemporâneo é assim diverso em sua natureza e como artista tomarei sempre o caminho que me permita ser mais livre na minha expressão.