quarta-feira, 22 de abril de 2015

Allan Deberton


Formado em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ), em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual do Ceará e Mestrando em Comunicação – Fotografia e Audiovisual na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi Júri de vários festivais de cinema. Trabalhou com preservação de filmes no Centro Técnico Audiovisual – CTAV, Ministério da Cultura.Doce de Coco’ (2010), seu filme de estreia, participou de 50 festivais em 12 países, ganhando 25 prêmios e indicado ao Grande Prêmio de Cinema Brasileiro 2012. Possui experiência nas áreas de roteiro, produção e direção.

Qual a importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
Muito importante. Antes tinham a visibilidade através da Lei do Curta, em que os filmes eram exibidos antes de longas-metragens. Depois de um tempo no limbo (ninguém cumpre a Lei), abriu-se oportunidade para o gênero hoje, através da Lei da TV Paga. A situação está um pouco mais promissora, mas acredito que ainda esteja muito restrita. É uma pena, pois considero que o melhor da produção brasileira de cinema hoje está no curta-metragem.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
A oportunidade de fazer bons filmes, exercitar o ofício de roteiro, produção e direção, conhecer gente nova, fazer amigos, descobrir novos atores e atrizes, experimentar, aprender... Se a história me chama atenção, se rende um bom filme, certamente terei desejo de fazer o filme.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Realizei alguns filmes universitários, enquanto fazia curso de Cinema na Universidade Federal Fluminense, em Niterói (Rio de Janeiro). Meu primeiro filme, rodado em 35mm, ‘Doce de Coco’, produzi na minha cidade natal, Russas, interior do Ceará. Foi uma experiência e tanto! Acabou que o filme fez enorme sucesso, exibido em 50 festivais de 12 países, ganhou 25 prêmios, indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e ainda exibido em 3 canais de TV.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sei se a regra vale para todos. Há alguns jornais mais sensíveis ao gênero, mais abertos, inclusive antenados com a recente valorização do formato. Hoje há muitos festivais de curtas, exibem os filmes na TV, no Youtube! Há bons filmes, muita coisa boa que merece maior cobertura. Existe uma divulgação especializada, mas realmente falta uma maior valorização perante os grandes jornais. Já tive oportunidade de ter meu trabalho divulgado em jornais e blogs, mas sei que não é uma constante. Ideal é que fosse mais difundido a importância do curta.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Antes dos longas-metragens seria realmente uma boa opção, mas acho muito complicado a não ser que o governo se imponha, como se impôs na Lei da TV paga que está, aos poucos, funcionando. Já tive oportunidade de ver vários curtas lindos no Programa Petrobrás às 6, na Rede Cinemark, em que exibiam curtas gratuitamente. Sinto falta desse programa, deveria ser mais difundido. A ideia era ótima.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Com certeza! São produtos mais autorais, menos engessados, mais colaborativos. Contribuem muito para o desenvolvimento dos longas. De curtas saem profissionais pra TV, webseries... O processo é uma escola. 

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Não necessariamente. Conheço muitos curta-metragistas de carteirinhas, que realmente só querem fazer curtas. Acho legal isso. Mas todos sabemos que o formato funciona como uma escola. Depois de alguns curtas realizados a maioria dos realizadores realmente deseja voar mais, contar histórias maiores, atingir um público maior. O processo faz parte e, graças a isso, temos tantos longas-metragens maravilhosos surgindo. 

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Existe uma receita? Se souber divulga, estamos todos procurando... É tudo muito difícil, tem que querer muito. Não é um trabalho valorizado. São sonhos. 

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim. Nada é mais gratificante que ver o curta na tela, sendo exibido. Nessa hora todo o sacrifício parece ter valido a pena.