sexta-feira, 3 de abril de 2015

Daniel Warren


Ator, professor, produtor e apresentador. Conhecido por apresentar o programa ‘Art Attack’ do canal Disney Channel. Atualmente ele apresenta o programa Click’ no canal pago GloobDesde sua especificação na área de ator ele dá aulas de teatros e oficinas de arte.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Em primeiro lugar as pessoas envolvidas e o projeto em si. Depois, é claro, o roteiro e o personagem. Mas ultimamente pra qualquer projeto que me convidem, esse critério do pessoal envolvido e da essência da coisa está cada vez mais forte. Talvez por que está tão difícil produzir cultura nesse país, então prefiro passar perrengue com pessoas bacanas.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Meu primeiro curta, e não são muitos, aliás, (gostaria de fazer mais), foi um projeto de conclusão de curso da USP, a direção foi da Gabriela Cunha. Isso em 1994/5. Faz tempo! Chama-se "O Bom Vizinho" e é a história de um rapaz que fica escutando uma briga pelo duto de ventilação do seu quarto. Foi muito legal de fazer.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Bom, pra começar, acredito que estamos com uma séria carência de crítica especializada em cultura. Não estou aqui querendo menosprezar nenhum jornalista da área, acho até que a maioria deles não tem culpa do que acontece e trabalha muito. Minha crítica vai para o direcionamento que está sendo dado à mídia em geral. Cada vez mais, parece que corremos atrás de replicar fatos simplesmente por replicar fatos, sem um processo mais criterioso. Cito aqui o trabalho de um artista plástico (não cito o nome, pois não quero criar mais problemas a ele, quem quiser pesquise na net) que criou um falso fotógrafo japonês, contratou uma assessoria de imprensa e conseguiu matérias de capa nos jornais locais. No processo que é imposto hoje aos jornalistas, nenhum se deu ao trabalho de pesquisar quem era o artista, apenas replicando fatos...Enfim, tudo isso pra dizer que não só os curtas deveriam ter mais acesso aos meios de comunicação, como muitos outros meios e linguagem artísticas. Tem espaço e consumidores (já que é a palavra do momento) para esse tipo de informação.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acredito que os Festivais poderiam ser mais apoiados, ter maior exposição. Agora, eu não sou contra assistir um belo curta antes do longa quando estou no cinema. Talvez uma boa ideia seja ter salas que tem uma curadoria, onde curtas e longas que criem relações entre si, possam ser exibidos juntos.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Acredito que qualquer profissional sério e comprometido realiza projetos em que sempre encontre um grande campo de experimentação. Os curtas talvez tenham um pouco mais de liberdade, pois não estão, na maioria dos casos, relacionados com grandes patrocinadores, o que permite uma maior independência na hora de conceber a obra. Por outro lado, sem dinheiro também não se faz nada. É um jogo meio injusto e cheio de armadilhas esse de produzir cultura hoje em dia.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Não sei responder mesmo. Se alguém está usando um curta como um trampolim para conseguir realizar um longa-metragem, pra mim não soa legal. Mas também acho que pode acontecer de um curta levar seu diretor ou atores e equipe a realizarem um longa. Acho que o importante é aprofundar, se envolver com cada obra e se houver algum fruto disso muito bem, se não, tudo muito bem também.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Aí então é que não sei responder mesmo. O audiovisual, assim como o teatro, a dança, a música, as artes plásticas estão sofrendo há bastante tempo de um descaso muito grande por conta dos governos e da sociedade. Dos governos, pois estes só tem feito empreender políticas culturais equivocadas, com suas leis de incentivo (a que?) e que não suprem de maneira efetiva as necessidades de quem está, de fato, realizando cultura nesse país. E é muito interessante notar que se fala muito do desenvolvimento econômico, de como o país está bem, e vemos por exemplo, que a maior cidade do país, São Paulo, terá em 2013, o menor orçamento para a Cultura em 10 anos. Onde está esse desenvolvimento econômico? E da sociedade eu cobraria menos passividade, mais protesto. Menos medo e mais dar a cara a tapa. Talvez por nossa história, talvez pela fraca educação, não sei ao certo, mas acho todo brasileiro muito bunda mole. Me incluo nessa.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Tenho algumas ideias guardadas na gaveta. Poderiam ser peças de teatro ou mesmo curtas. Seria uma delícia! Adoraria!