quarta-feira, 22 de abril de 2015

Ubiratan Brasil


Jornalista. Trabalha com cultura e esportes no jornal O Estado de S.Paulo.

Qual é a importância histórica do curta-metragem na filmografia brasileira?
Extrema importância, como, aliás, em qualquer filmografia. Grandes diretores começaram a se exercer no cinema por meio de curtas, como Glauber Rocha (O Pátio, A Cruz na Praça), Nelson Pereira dos Santos (Juventude), Joaquim Pedro de Andrade (Couro de Gato). É como um escritor iniciante: o espaço é curto, mas o suficiente para o jovem artista exercitar sua criatividade e talento.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque não há uma exibição regular nas salas de cinema. Quando havia o Curta às 6, patrocinado pela Petrobrás e exibido às 18h na sala 4 do então Espaço Unibanco de Cinema, sempre faziam, no jornal O Estado de S.Paulo, matéria sobre a nova programação. Era algo regular e permitia que imprensa e público adquirissem o hábito de esperar por novidades.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Como disse antes, arrumar um espaço de exibição (de preferência, de fácil acesso) e manter uma programação regular. Assim, criaria um certo hábito de frequência.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Não tenha dúvida, é quando não há nenhuma amarra, nenhuma censura. Praticamente, vale tudo e, claro, o cineasta corre certos riscos. Mas, especialmente para desconhecidos, é a forma ideal de se conseguir visibilidade e audiência.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Normalmente, sim, mas uma coisa não implica na outra. Há quem comece diretamente no longa e há também quem ainda não saiu do curta. Não é possível dizer que existe uma lógica.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Ah, se eu soubesse... Falando sério, não existe. Claro que há algumas fórmulas quase sempre imbatíveis (veja a lista de sucessos de comédias nacionais que atraem muito público: praticamente são todas iguais, daí o sucesso). Creio que um caminho que ainda não é muito percorrido mas é muito importante é a internet - ainda não temos O cineasta do mundo virtual, aquele que só faça trabalhos para esse espaço. Sim, existem vários vídeos, mas não ainda alguém (ou mais de um) que se consolide como artista dessa área. Falo de Brasil, mas posso estar errado, me corrija se estiver desatualizado.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não, dá muito trabalho, não tenho tanta paciência. Adoraria escrever um roteiro e, talvez, fazer alguma ponta. Fora isso, não tenho planos para essa área.