segunda-feira, 25 de maio de 2015

Ricardo Gelli


Ator. No cinema faz diversos premiados curtas-metragens e está no longa "Pólvora Negra", de Kapel Furman, finalista como ator coadjuvante no VIII prêmio Fiesp/Sesi - Melhores do Cinema Paulista 2012.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Bom, tem uma série de fatores que fazem um convite ser aceito ou declinado. Tem alguns diretores, produtores e atores com quem você tem uma parceria estabelecida. Isso é importante. Alimentar as grandes parcerias, muitas vezes nesse caso, é mais importante do que retorno financeiro e outros fatores. Fora isso, a qualidade do projeto em questão pesa muito. As vezes você recebe um roteiro, de pessoas que você não conhece, mas fica encantado pela proposta e quer fazer o filme, independente de com quem é, ou quanto você vai ganhar. Outras vezes acaba pesando a questão financeira, que na verdade, é sempre importante. Não é fácil ser ator. Geralmente não aceito fazer um trabalho sem cachê. Não gosto do: "É uma produção pequena e não temos dinheiro para cachê...". Isso não deveria existir mais. A produção não teve dinheiro para equipamento, locação, finalização etc? O ator não é menos importante para um filme do que as questões técnicas. Então, nem que que seja simbólico, acho que toda produção tem que pagar os profissionais. Temos que saber valorizar nosso trabalho. E o desafio que o personagem em questão te gera é outro ponto importante. Quanto maior o desafio, mais instigado eu fico.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Olha, acho que sou um ator de sorte nesse sentido. Fiz bons curtas metragens, trabalhos que me deram muita satisfação com o resultado, tanto com o filme quanto com o meu trabalho. Também tive a sorte de trabalhar com grandes diretores, alguns com os quais estabeleci uma grande amizade e parceria, entre eles Fernando Sanches, com quem fiz "Landau 66" que foi muito premiado, com quem fiz também algumas publicidades, Elder Fraga que é um grande amigo e parceiro com quem fiz: "O Último Dia", "Boca Fechada" E "Os Bons Parceiros" que será lançado em breve, tivemos filmes premiados e criamos uma parceria que vem dando muito certo. E outros, como Marcelo Saravá que fiz "Nua e Crua", Matheus Parizi e Fernando Camargo, com quem fiz "O Afinador", Guilherme Ricci, com quem fiz "Morpheu"...

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Na minha opinião isso é uma questão cultural. Até pouco tempo o mercado de curtas era quase inexistente no Brasil. Existiam poucos festivais e pouca abrangência. Curtas serviam praticamente para experimentação e portfólio. Aos poucos isso está mudando. Os festivais vem ganhando importância e algum destaque nas mídias, mas ainda é muito pouco. É uma coisa praticamente fechada à própria classe. É importante que os curtas metragens ganhem mais espaços na mídia, principalmente as mídias populares. Os curtas geralmente são a oportunidade de jovens talentos mostrarem seu trabalho e ganharem know how, mas para isso eles precisam ser vistos, e não apenas por críticos e classe, mas também pelo grande público, assim se conquista notoriedade e portas se abrem para a continuação do trabalho.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que tem várias coisas que podem ser feitas. A exibição de curtas na TV aberta é uma delas. A Cultura é a única TV aberta que tem espaço para exibição de curtas e ainda assim é em pouca quantidade, fora isso tem alguns canais fechados que também tem programação para curtas, como o Canal Brasil, mas é realmente muito pouco e a divulgação é quase zero. Outra coisa que pode ser feito, é unir a exibição de curtas a de longas nos cinemas. Isso é feito em muitos países europeus. Antes da exibição do filme no cinema, eles exibem algum curta. Isso faz o público se acostumar com esse tipo de produção e criar o hábito de assistir esse tipo de filme. Acho que esses atitudes já alavancariam bastante esse mercado

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Geralmente sim. Por serem produções menores, o risco é mais bem vindo. Quando se está produzindo um longa, geralmente tem muito dinheiro envolvido e a obrigação de acertar é muito maior, o que poda muitas vezes o experimento, o risco. Já em produções de curtas, esse tipo de risco é bem vindo. Até mesmo para saber o que funciona e o que não funciona. Mas também não pode ser só isso, só um campo para experimentação, muitas vezes um curta é o material que você tem para começar a se consolidar no mercado. Tem muitos filmes ruins, que depois acabam depondo contra o seu criador ou seu executor. Por isso temos que ter cuidado com o que nos propomos, mas claro, tentando deixar a porta sempre aberta para novas possibilidades e experimentos. Só acho que um filme é um produto final, e não pode ser tratado apenas como teste para algo futuro.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Sim, sem dúvidas! Tanto para diretores, fotógrafos, como também para os atores. Dificilmente um diretor consegue partir para um longa no Brasil, sem antes ter feito nenhum curta. E para os atores também é um trampolim. As vezes um diretor ou um produtor trabalha com você em algum curta, gosta do seu trabalho e futuramente quando ele estiver envolvido num longa, ele vai lembrar de você. Isso não é uma regra, mas é o que geralmente acontece, comigo mesmo já aconteceu. Não exatamente dessa forma, mas parecido. Eu tinha feito um curta muito legal e durante sua exibição no festival de SP, um diretor viu meu trabalho e gostou. Por acaso ele conhecia o diretor do curta, falou com ele sobre mim, e acabou me convidando para fazer o seu longa. Hoje ambos são meus amigos e espero que eles me convidem para seus futuros longas! (risos)

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Olha, sinceramente não sei se sou a pessoa mais preparada para responder isso! (risos) Mas acho que antes de mais nada, vale o que vale para todas as profissões: Trabalho duro, sério, respeito aos profissionais envolvidos e principalmente, saber que está lidando com um produto artístico. Entender que a arte tem um valor fundamental na construção de uma sociedade mais sensível, mais igualitária e menos corrompível. Acho que isso já é um grande passo, além disso talento e aptidão são questões fundamentais. Não basta só boa vontade, afinal, arte não se avalia só por disposição, mas sim, por critério, pesquisa, talento e bom gosto. Não adianta eu querer ser bailarino, se não sei dançar. Não adianta querer fazer arte quando se é apenas um burocrata ou um oportunista.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim, penso. Tenho algumas ideias guardadas para o momento certo, mas tento ser fiel ao meu próprio processo. Estou aqui por causa do teatro. Essa é minha escola. Tudo o que consegui como ator, foi direta ou indiretamente por causa do teatro. Então, sem dúvidas, antes de dirigir um curta, penso em dirigir teatro. Não tenho pressa nos meus processos, então acredito que tudo vai acontecer na hora certa. Trabalho com seriedade para isso acontecer. Tudo ao seu tempo. mas sem dúvidas, tenho a intenção de dirigir um curta. Mas na hora certa, com calma! Antes disso, espero fazer mais alguns como ator!