domingo, 5 de julho de 2015

Beatriz Diaféria


Atriz. Participa de peças como "Moritz - Ternos e Eletrodomésticos -, Uma Desconstrução Sobre o Despertar da Primavera de Frank Wedekind", no papel de Wendla, dirigida por Nelson Baskerville; "Nuestra Señora de Las Nubes", de Aristides Vargas, sob a direção de Hugo Villavicenzio; "As Janelas", de Thorton Wilder, direção de Nelson Baskerville; "Amor em Cena", dirigida por Gabriel Miziara, entre outras. É atriz integrante da Cia. Os Tios de Teatro.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
A primeira coisa que nós atores costumamos ter contato é o roteiro ou uma sinopse do curta. Se nesse roteiro ou sinopse tem alguma coisa que me toca de alguma forma já me interessa participar, eu fico com vontade de contar essa história. Mas isso é o que me faz aceitar participar de qualquer trabalho. No caso específico de curtas, me atrai a velocidade e versatilidade que eles apresentam. Numa peça ou longa, você ensaia e interpreta durante meses um personagem. Em curta não. Normalmente são alguns dias de ensaio e mais alguns de gravação. Isso dá a oportunidade de fazer mais trabalhos diferentes, de criar mais personagens, de conhecer mais gente, mais lugares, mais linguagens, ter mais repertorio. Acho tudo isso essencial para o crescimento de um ator. 

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Já fiz curtas experimentais, curtas específicos para participar de mostras e festivais e muitos curtas universitários. O que eu acho muito legal de gravar curtas é que os diretores gostam de experimentar e arriscar, então cada curta é uma experiência diferente. Já participei de um curta sem fala em que eu sabia a história mas as minhas ações eram todas improvisadas, já participei de outro que eu tinha que ter total consciência de todos os movimentos que fazia porque tinha muita chance de dar erro de continuidade. Curtas são uma maneira muito interessante de se envolver no meio audiovisual.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que pela falta de espaços em que os curtas possam ser exibidos por um tempo maior. Se você lê uma crítica de um longa ou de uma peça de teatro por exemplo, você pode assistir este longa ou peça quando você puder, durante várias semanas ou meses. Já no caso de curtas que tem sua exibição principalmente em festivais e exibições que duram pouco tempo (às vezes um dia apenas) acho que os jornais ficam menos interessados em fazer críticas ou dar espaço, já que quem não for no dia não vai mais ter a chance de ver.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Uma das formas seria a conquista de espaços mais permanentes para exibição de curtas, onde eles pudessem ficar em cartaz por mais tempo. A outra seria a exibição de curtas antes dos longas no cinema (assim como faz a Pixar com seus curtas). As salas normalmente abrem 15, 20 minutos antes do inicio dos longas-metragens, sendo que uns 10 minutos são usados para trailers, avisos de segurança, comerciais, etc. Porque não passar 1 ou 2 curtas também. Assim, quem chega mais cedo na sala tem a oportunidade de assistir curtas interessantes ao invés de ficar olhando para uma tela apagada.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Acho que o curta é sim um dos campos que acabam oferecendo mais liberdade para experimentar. Principalmente porque na maioria das vezes ele não é tão complicado para se produzir nem tão caro, o que possibilita que se tenha um desapego do ponto de vista financeiro. A maioria das pessoas não tem o intuito de ganhar dinheiro com curta, por isso elas acabam fazendo exatamente o que querem sem ter que ceder aos padrões comerciais.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa? 
Sim e não. É claro que é muito mais possível para alguém que está começando fazer um curta do que um longa, é claro que um curta pode sim dar projeção suficiente para que um ator, produtor, diretor participe de um longa, mas acho que um curta é muito mais do que um trampolim. Assim como uma crônica não é um "projeto de livro", um curta não é apenas um filme mais barato de ser feito. Curtas tem sua linguagem própria e oferecem oportunidades que um longa-metragem não pode oferecer. Não acho que eles devam ser pensados como um degrau abaixo do longa. Mas de alguma forma, todo trabalho bem feito pode ser um trampolim para outros trabalhos.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
A receita mesmo eu não tenho, mas posso falar o que eu acho importante. Em primeiro lugar, estude. Faça cursos, leia, se interesse, assista. Depois, participe. Tente fazer o máximo de trabalhos possíveis, mesmo que alguns não sejam interessantes financeiramente. Quanto mais trabalhos você faz, mais gente conhece, mais experiência de set e de câmera tem, e mais material de portfólio. Além disso, tente ser uma pessoa agradável. Ninguém gosta de trabalhar com gente chata. E por último (e essa não depende de mim ou você) tenha sorte. É isso que eu tento fazer. Espero que de certo.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Penso sim. Ainda não tenho nenhum projeto em mente, mas é algo que eu gostaria muito de fazer. Acho que quem já participou de curtas do outro lado da câmera pode trazer uma perspectiva diferente para esse tipo de produção.