domingo, 5 de julho de 2015

Diogo Camargos


Ator e cineasta. Atuou no curta-metragem “Na Realidade”.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O roteiro e as pessoas envolvidas. É importante saber quem são as pessoas que estão criando e saber o que elas estão criando. O fruto desses encontros pode ir muito além do curta em questão. É uma forma de mostrar o meu trabalho também, de conhecer o trabalho dos outros. Esse intercâmbio é muito importante. As pessoas que eu estou trabalhando agora podem se tornar incríveis parceiros para trabalhos futuros. E isso é o que eu busco também.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Escrevi e dirigi dois curtas, apenas. "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho pega", ainda na época em que eu estudava teatro na CAL, com amigos talentosos que compraram a ideia e fizeram um trabalho incrível. (E são pessoas que eu gostaria muito de trabalhar de novo, aquela coisa que eu falei da parceria para trabalhos futuros). Eu não tinha grande conhecimento e ainda não tenho, mas isso nunca me impediu de realizar. Eu gosto de aprender fazendo, me jogando no trabalho. Se fosse refilmá-lo, com certeza eu faria muita coisa diferente e organizaria as coisas de outra forma, mas é com o erro que se aprende mesmo.

O segundo curta, foi uma experiência diferente, eu fiz tudo, escrevi, dirigi, editei e fui também o cameraman e o ator. "O filme de um homem só" tem esse nome pela temática e pela forma de trabalho que adotei. Mas eu não fiz sozinho, a musica original e a sonoplastia foram feitas pelo premiado Marcelo Alonso Neves, um queridíssimo amigo, e super parceiro profissional. Como ator eu participei de alguns curtas-metragens de estudantes de cinema e mais recentemente do curta "Vodka & Cigarros" da Zênite produções, uma galera muito bacana. Estou curioso para ver o resultado desse trabalho.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Os curtas ainda são tratados como coisa menor. Quando os cinemas fazem exibições de curtas-metragens, tirando a ocasião dos festivais, geralmente é num horário único e geralmente é dia de semana, o que restringe muito o acesso a essas obras. Eu não estou criticando negativamente essa iniciativa, muito pelo contrário, eu acho que deveriam ter mais horários, mais sessões, mais oportunidade para os curtas-metragens. Mas como o acesso a essas obras é menor, gera menos interesse tanto da mídia, quanto da crítica especializada, penso eu.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Se cada cinema tivesse uma sala somente para exibição de curtas, com uma proposta diferente, com diferentes horários de exibição do mesmo curta e tudo o mais, isso geraria um interesse nas pessoas. As vezes você não tem tempo para assistir um filme de duas horas, mas poderia ver um filme de quinze minutos, e se essa possibilidade existisse, acredito que muitas pessoas aproveitariam. Sei que isso é utopia, mas é o que acontece, de certa forma, na internet. A internet acaba sendo melhor para os curtas do que para os longas. Você pode não querer ficar duas horas na frente do computador vendo um filme, ou não ter tempo para isso. Mas alguém posta um vídeo, você vê que ele é curto, começa a ver por curiosidade, se você gosta, você compartilha.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Acredito que sim. Ainda mais agora na era digital que barateou, de certa forma, o custo para a produção de filmes. Mais pessoas estão se arriscando, colocando suas ideias para fora, experimentando mesmo. E quando digo isso, me refiro às produções independentes. Não sei se a liberdade é a mesma em produções patrocinadas, que envolvem nomes de empresas e leis de incentivo.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Trampolim é uma palavra muito forte. Não acredito que seja assim. Mas um degrau, com certeza é. Pelo menos para mim. Quero muito fazer longas, tanto atuando quanto dirigindo e escrevendo. Um degrau de cada vez.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não faço a menor ideia. Estou longe de vencer qualquer coisa. Mas a arte não pode morrer nunca. Vencer é não se deixar ser vencido.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sempre. Ainda faltam muitos degraus para chegar no longa.