sábado, 25 de julho de 2015

Henrique Schafer


Ator. O espetáculo teatral “O Porco”, que protagoniza, foi indicado ao Prêmio Shell de Melhor Ator em 2005. No cinema atuou nos longas "O Contador de Histórias", de Luiz Villaça; "Augustas", dirigido por Francisco César Filho e "O Que se Move", de Caetano Gotardo. Atuou também nos curtas "L", de Thais Fujinaga; "As Aventuras de um Homem Invisível", dirigido por Maria de Medeiros (compõe o longa "Mundo invisível" que reúne grandes diretores como Manoel de Oliveira, Theo Angelopoulos, Win Wenders ); "A Caminho de Casa", de Renata Terra e Paula Szutan; e "Coisas Fragéis", de Celso Duvechi e dirigido por Gustavo Fattori e Tatiana Otaka.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
É cinema! Não são muitas as oportunidades para um ator como eu fazer cinema. E, como tudo na vida, só se aprende com exercícios. A vida é isso, o nosso ofício é isso: o constante exercício. Além do que é um desafio para todos que fazem, provavelmente tão grande quanto fazer um longa-metragem. Só que com as especificidades e dificuldades de se fazer um filme, contar uma história, propor um arco dramático em um tempo curto. Os primeiros convites foram para trabalhos de graduandos da USP. Foram ótimas experiências, todos aprendendo a fazer cinema juntos.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Em todos os curtas do quais participei tive a sorte de trabalhar com diretores e profissionais muito sensíveis e talentosos. Há uma vontade enorme de fazer o melhor possível e com poucos recursos. Então tudo é feito com muito cuidado. No último curta que fiz (ainda em finalização) pude conversar muito sobre o roteiro, sobre a atuação, à medida em que as filmagens iam acontecendo. Isso é incrível. Todos estes curtas foram feitos com profissionais jovens. Acredito que temos uma geração de gente fazedora de cinema muito boa.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Os longas já padecem um pouco disso, não? Há muito pouco espaço para o cinema nacional. Ficamos muito influenciados por uma grade televisiva de filmes importados, especialmente americanos, e de qualidade muito discutível. Por uma questão econômica também tivemos uma crise na produção. Por ser muitas vezes a primeira aparição de novos cineastas, atores, roteiristas, deveria ter mais espaço da crítica. Mas que espaço tem a crítica de arte hoje?

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Se o lugar do filme é o cinema, então, a programação dos cinemas deveria dar mais espaço. Isso é questão de política cultural, de criação de alguma legislação que muitos podem considerar uma intromissão do Estado sobre o privado, uma interferência nas grades dos cinemas. No entanto, muitos dos curtas são financiados por políticas públicas, utilizam recursos diretos de empresas públicas ou com isenção de impostos. A ponta final, ou seja, o público, tem de ser amarrada ao processo de produção cinematográfica. Isso pode ser benéfico também para os cinemas porque trás gente, trás visibilidade. Realizar mais mostras de curtas, exibições entre longas, noites especiais de lançamentos e conversas. Custaria tanto assim às grandes redes de cinema?

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Para mim, como ator, tem sido. Não somos muitos o que sabem fazer cinema. A estética televisiva (e tudo o que ela produz) está muito arraigada na vida da gente e atrapalha porque são referências muito fortes de atuação, mesmo que se tente evitá-las. E o são não só para atores, mas para roteiristas, diretores, público também. O curta, geralmente, está mais ligado a ideia de um trabalho quase artesanal, de autoria, de ideia, de vontade de fazer cinema de aprender mesmo. A pressão por sucesso comercial, espaço na mídia etc., não é tão grande, em boa parte porque são feitos com orçamentos menores. É sem dúvida grande campo de liberdade para experimentação, para aprendizagem.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Um trabalho sempre é a melhor forma de ser visto, ser reconhecido. Nesse sentido, poderia dizer que sim, mas não acho que seja regra. Para novos produtores e artistas, me parece que é mais fácil produzir um curta para depois se arriscar num longa.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Vencer o que e pra quê? Falta espaço para diferentes formas de expressão, linguagens, princípios de criação, obras artísticas porque há uma ditadura da audiência que homogeneíza o que se produz. É um trabalho lento, que envolve questões sociais e culturais. A vitória é essa: democratizar a produção e incentivar a diferenciação. Ter uma produção cada vez mais diversificada, de conteúdo, de qualidade, acessível ao maior número de pessoas. Isso gerará empregos, trabalhos, renda, novas oportunidades.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Tem algumas ideias que eu e Tatiana Schunck (minha esposa e também atriz) compartilhamos e pensamos que pode virar cinema. Não dirigir exatamente, mas encontrar parceiros (diretores, roteiristas, fotógrafos etc.) para trabalhar essas ideias.