sábado, 11 de julho de 2015

Leticia Isnard


Atriz. Atuou na telenovela “Avenida Brasil”, nas séries “Força Tarefa”; “Tapas e Beijos”; entre outras.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O roteiro, fundamentalmente. Depois o personagem e os parceiros de projeto. Mas a alma do trabalho, pra mim, é o roteiro.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
É sempre muita ralação né? Parece aquela mistura entre teatro e televisão: geralmente temos oportunidade de pesquisar, ousar, experimentar e até de se preparar com mais tempo, mais ensaios, como no teatro. A falta de grana e consequentemente de estrutura muitas vezes também parece com o teatro. Mas tem a linguagem das câmeras, a dinâmica de filmagens as vezes fora da ordem cronológica do roteiro, o ritmo das cenas e da atuação que é completamente diferente do teatro e a edição, a montagem, que é, pra mim, onde os filmes se resolvem. Nesse sentido ficamos um pouco mais próximos da TV. Os curtas que fiz sempre foram um lugar de aprendizado e de experimentação, lugar de muita camaradagem e de perrengue, demandando de todos os envolvidos que vestissem a camisa e que tivessem um comprometimento e entrega, no meu ver, fundamentais e que se refletiam no resultado artístico. Ninguém faz curta-metragem por dinheiro. E isso define tudo. O barato é artístico. Há muito perrengue, mas é uma delícia.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sei. Acho que ainda não compreenderam o potencial dessa linguagem que se adequa perfeitamente à dinâmica fast-tudo do mundo em que vivemos. Talvez aquela época em que era obrigatória a exibição de curtas nacionais antes dos filmes nos cinemas, acho que nos anos 90, não sei se por uma má curadoria, tenha traumatizado um pouco o espectador, consolidando uma impressão de que curtas nacionais eram ruins. Mas só a quantidade viabiliza a qualidade; pra se produzirem 3 obras-primas é preciso que se façam trezentos filmes médios ou ruins, e isso faz parte. Aí é que uma boa curadoria poderia ter feito a diferença. Não sei... É uma questão importantíssima de se pensar e discutir.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A exibição na TV e na internet não é a ideal, afinal cinema é feito pra ser visto no telão, mas certamente são ferramentas poderosíssimas e fundamentais. Talvez sejam as únicas maneiras de competir em algum nível com a TV, que é um entretenimento que se paga na conta de luz! Mas poderiam ter mostras permanentes, tipo salas que só exibissem curtas, variando a programação e com preço diferenciado, claro.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Com certeza, até porque está isento do compromisso de êxito mercadológico. Aí reside sua liberdade, na minha opinião.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Não necessariamente. Muitas vezes a narrativa se esgota ali e isso tem que ser respeitado. Há histórias que demandam linguagens e veículos diferentes. Nem sempre um livro funcionaria como um filme, nem sempre um curta funciona como base para um longa-metragem. Às vezes o curta está para o conto assim como o longa está para o romance e é assim que tem que ser. Outras vezes não, o curta é o embrião de uma ideia que tem fôlego de sobra para gerar um longa. Cada caso é um caso.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se eu soubesse eu não te contava e estaria rica!! Mas acho que um bom roteiro e uma boa escalação de elenco já garantem 50% do sucesso!

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não descarto a ideia não, mas me vejo mais escrevendo e atuando do que dirigindo. Roteiro me interessa muito. Quem sabe um dia?