sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Os Trapalhões: Rogério Sganzerla


A Panorâmica de Rogério Sganzerla
Por Sérgio Pinto de Almeida

Publicado no Estado de São Paulo em 28 de maio de 1988.
Trecho da entrevista, Rogério, entre outras coisas, lamentava o fato de não ter conseguido verba para realizar seu filme (a vida de Noel Rosa) e dizia também que era preciso repensar o cinema no Brasil.

Mas o nosso cinema faz jus ao público?
Não tem feito. O cinema brasileiro mudo, o cinema da década de 1930 e dos 1940 é muito bom. A chanchada foi um grande momento do cinema brasileiro. Tinha público, era popular e de boa qualidade. Eu defendi a chanchada em 1967, 1968, o que era revolucionário, e não a pornochanchada, que não é nada, não é gênero. A pornochanchada foi feita principalmente pelos exibidores, porque foi a forma que encontraram para corromper uma moeda boa. Jogaram detritos, uma moeda ruim no mercado que corrompeu e desmoralizou nosso cinema. Quando se percebeu que havia manipulação na distribuição de recursos para a produção de pornochanchada, aí o cinema brasileiro perdeu muito de sua credibilidade. O público da pornochanchada foi caindo acentuadamente, e o cinema nacional não o reconquistou. Não adianta, o público sente quando é enganado, fareja o engodo. Hoje sobrou o mercado de cinema brasileiro para os Trapalhões e a Xuxa. Só...

Você dirigiria um filme dos Trapalhões?
Claro. Eles chegaram a convidar o Cacá Diegues, que estava envolvido com a produção do Quilombo e não pôde aceitar.

Mas dirigir Os Trapalhões não seria contraditório para sua trajetória?
Não, tanto que em 1969 um sujeito me convidou para fazer um filme com o Teixerinha, e eu achei a ideia ótima. Só não aceitei, porque já estava fazendo outro filme. Cinema é comércio, é indústria, não é museu.

Mas daria para criar algo pessoal com Os Trapalhões?
Sem dúvida. A comédia é o gênero mais sofisticado, talvez o mais importante gênero do cinema. Meu filme, A mulher de todos, que tinha muito de comédia, custou metade do Bandido da Luz Vermelha e rendeu o dobro.  Além do que sou uma pessoa humilde, não tentaria impor aos Trapalhões o meu estilo, porque eles têm um estilo, e o cinema se dá na frente da câmera e não atrás. Claro, quando não se tem nada, se cria, se imagina um enquadramento, um movimento de câmera, mas o fundamental é o ator. Com os Trapalhões se tem uma multiplicação de atores. Claro que não me chamarão nunca, mas eu toparia até fazer um teste com eles. Eu sei a carpintaria do cinema, a agilidade que eles precisam nas piadas e cenas. Isso me interessa e só pode ser feito com a tranquilidade que o dinheiro dá.