quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

As HQs dos Trapalhões


Agora com a capa definitiva! Lançamento em abril.

Os Trapalhões formaram o grande quarteto do humor na TV durante gerações. Ao longo de décadas, criaram cenas clássicas e personagens inesquecíveis que contribuíram muito para a cultura nacional. Mas a influência de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias não ficou restrita à televisão, suas trapalhadas fizeram história no cinema e também nos quadrinhos.

O livro traz depoimentos dos profissionais envolvidos na produção dos quadrinhos, originais, estudos de personagens e uma história inédita!

Com prefácio de Dedé Santana e ilustração de capa de Bira Dantas.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

sábado, 4 de fevereiro de 2017

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Os Trapalhões: a série


A série “O Cinema dos Trapalhões” (TV Cidade), apresenta seu primeiro convidado, o Prof. Dr. Sidney Leite, que analisa numa perspectiva ampla, o que foi e o que representa o cinema produzido pelo quarteto mais querido do Brasil. Assistam: https://www.youtube.com/watch?v=9hJ221DysEg&feature=youtu.be

Os Trapalhões: Alípio Rangel


ALÍPIO RANGEL
Produtor

Nos filmes dos Trapalhões você integrou a equipe de produção em diversos longas-metragens. Como surgiu a oportunidade de trabalhar com eles?
Minha primeira chance no cinema foi dada pelo Renato Aragão, quando ele foi produzir o filme O Trapalhão na Arca de Nóe. Eu tinha vindo ao Rio para passar um fim de semana e depois ir a Campinas fazer pós-graduação. Tudo deu errado; e, ele vendo minha decepção, perguntou se eu queria fazer produção de cinema. Na época, meu irmão Del Rangel foi o diretor do filme e também me bancou. Comecei minha vida cinematográfica no único filme que não teve a participação do quarteto.

Realmente você chega no momento mais conturbado da história dos Trapalhões. Causou-lhe estranhamento trabalhar numa produção sem os outros três icônicos Trapalhões?
Sim, foi complicado fazer o filme sem eles. Até o próprio Aragão sentiu-se órfão, pois foram anos e anos trabalhando juntos. Eles todos sentiram isso, tanto é que só chegaram a fazer um filme. Não havia como ficarem separados.

Dedé Santana, Mussum e Zacarias fizeram, concomitantemente a O Trapalhão na Arca de Noé, o filme Atrapalhando a Suate. Além da competição nas salas de cinema, houve também nos bastidores?
Sinceramente, não sei quanto aos quatro; mas havia entre as equipes uma disputa para ver quem produzia o melhor filme. Ficávamos um acompanhado as filmagens do outro, uma curiosidade normal, absolutamente normal. Mas nos falávamos sempre, e teve até momentos em que uma equipe ajudou a outra. No decorrer das filmagens, emprestamos negativos para eles, já que a encomenda da DeMuZa ainda não havia chegado e não podiam parar as filmagens.

É verídica a história de que Renato Aragão queria fazer de O Trapalhão na Arca de Noé o grande filme da sua carreira para provar aos três integrantes recém-separados que ele teria condições de seguir sem eles?
Desconheço esse assunto. Os quatro não estavam felizes, e não havia como fazer um grande filme sem todos juntos. A separação deles foi apenas no cinema, eles continuavam a ser Os Trapalhões na TV Globo. Não houve problemas na amizade deles. Apenas não filmaram juntos uma única vez.

Você é sobrinho do Renato Aragão. Isso, de certa forma, facilitou seu ingresso no mercado cinematográfico?
Na verdade, na época o mercado de cinema era muito pequeno; e eu passei a fazer parte da equipe fixa da Renato Aragão Produções, que era a empresa que produzia os filmes dos Trapalhões. Depois que saí da Renato Aragão Produções, fiz mais uns quatro ou cinco filmes; e, então, segui minha carreira de administrador de empresas.

Além de você, outros integrantes da família do Renato Aragão chegaram a trabalhar com ele no cinema. Para citar alguns: Evelise Aragão, Caxa Aragão, Paulo Aragão, Del Rangel, entre outros. O fato de empregar muitos parentes não causava ciumeira no restante da equipe?
Não, isso nunca aconteceu. O cinema sempre foi uma “indústria familiar”, e o fato de ele ter pessoas da família nunca causou problemas para ninguém. O Renato Aragão sempre foi uma pessoa extremamente profissional, sempre deu chances a muitas pessoas, independente de ser do mesmo sangue ou não. A Renato Aragão Produções foi uma escola de cinema para muitos profissionais; e todos os que tiveram a sorte de trabalhar para Os Trapalhões, trazem, com certeza, dentro de si lembranças maravilhosas e orgulho de terem feito parte desse grupo inesquecível.

A R. A. Produções era uma produtora gigantesca, com estúdios e infraestrutura de primeiríssimo nível. Fale mais a respeito da R. A. Produções.
Sim, era uma grande produtora. Mas a verdade é que, já naquela época, a maior parte dos equipamentos eram terceirizados; e acho que ainda hoje é assim. Tínhamos câmeras, moviolas etc.; entretanto, a grande maioria dos equipamentos era alugado na época dos filmes.

O tratamento era igual? Tinha espaço para desconfiança?
Posso te afirmar que o fato de ser da família trazia exigências ainda maiores, só fazia o filme seguinte quem realmente demonstrasse um grande profissionalismo. O Renato Aragão dava a chance, e quem a tivesse que tratasse de trabalhar sério para seguir com o grupo. Eu sou prova disso. Ele me deu a chance; e, mesmo sendo da família e um cara com formação superior completa, tive que começar como estagiário do assistente de produção. Lembro que, dentre outras funções, servia cafezinho e refrigerante no set.

Interessante essa informação. Todos vocês começavam em cargos mais baixos e iam progredindo à medida que iam evoluindo no trabalho?
Isso aconteceu mais especificamente comigo, pois não tinha experiência nenhuma de cinema. As pessoas da família que trabalhavam nos filmes já eram profissionais da área.

Dedé Santana conseguiu emplacar o Dino Santana em algumas produções cinematográficas. Não me recordo se tinha mais algum familiar ligado ao trabalho dele em Os Trapalhões. Mussum e Zacarias tinham?
O Dino era outra pessoa bastante séria e profissional. Teve a chance dele, fez alguns filmes; mas, ao mesmo tempo, ele tinha outros trabalhos como ator e produtor. O Zacarias e o Mussum nunca indicaram nenhum familiar para trabalhar nos filmes.

Os Trapalhões no Rabo do Cometa, Os Trapalhões e o Mágico de Oróz e Os Três Mosquiteiros Trapalhões foram produções em que você trabalhou. Gostaria que falasse como era trabalhar na equipe de produção destes filmes.
Era um trabalho árduo. Tínhamos muitos contratos com empresas como Embrafilme, exibidores e distribuidores que estipulavam datas para que o filme estivesse pronto. Não havia chance para erros. Os filmes dos Trapalhões não podiam se dar ao luxo de ficar dois ou três meses para serem produzidos. Eram filmes produzidos em quatro semanas, não mais que isso. A palavra atraso não fazia parte do nosso vocabulário.

Conte mais a respeito do seu dia a dia na produção dos filmes. Que faz exatamente a equipe de produção de um filme?
Falando resumidamente, esse cara viabiliza a produção do filme num todo. Transforma em realidade o que o roteiro pede, é quem obtém os meios materiais necessários para a realização das filmagens. É o elo entre toda a equipe do filme.

Você disse que os filmes eram rodados, normalmente, em quatro semanas. Em que meses do ano eram filmados?
Geralmente, as pré-produções começavam em março ou abril; e o filme se estendia até no máximo o início de junho para então estrear nas férias do meio de ano. O segundo filme do ano começava em agosto ou setembro para ficar pronto em dezembro e ser exibido já no início das férias de fim de ano. Eram dois filmes por ano.

Como era o ambiente de filmagem?
Melhor impossível. Conheço Os Trapalhões há pelo menos quarenta e cinco anos e nunca vi nenhum deles alterar o tom de voz. Nunca ouve qualquer estresse em função de qualquer um dos quatro. Eu costumo dizer que o set de filmagem era mais engraçado e prazeroso do que os próprios filmes. Você está me fazendo ficar emocionado e saudoso. Esses quatro caras deviam ser proibidos de morrer. Não existe hoje ninguém como o Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

Pena não haver making of dos filmes. Esse material de bastidores poderia nos revelar muito mais dos Trapalhões, não é?
Alguma coisa existe, sim. Principalmente dos filmes mais recentes. Antes não existia muito essa mentalidade de se produzir essa peça; mas, com certeza, é uma mídia fantástica e os bastidores dos filmes dos Trapalhões daria um outro filme. Era pura alegria.

Quais as maiores dificuldades em produzir um filme dos Trapalhões?
Não concordo quando você usa a palavra “dificuldades”, prefiro usar “desafios” porque, sinceramente, não havia dificuldades. Os desafios eram muitos; pois, como coloquei na resposta anterior, não havia chance de errarmos, já que era sempre esperado em todo o Brasil que nas férias de junho e de fim de ano tivesse um novo filme dos Trapalhões. Veja só que belo desafio. As pessoas esperavam ansiosas por essas datas e sempre com a expectativa de ser um filme melhor que o anterior. Era muito bom fazer parte desse ambiente.

Você trabalhou em outras produções cinematográficas sem os Trapalhões. Que tinha de diferente? Que tornava uma produção fílmica dos Trapalhões diferente das demais?
Não podemos ser hipócritas, e é certo que os filmes dos Trapalhões tinham sempre dinheiro. Não havia a incerteza se ficaria pronto ou não. Sabíamos que semanalmente seu cachê estaria depositado na sua conta bancária. Não quero dizer com isso que se esbanjava dinheiro. Não faltava, mas não havia espaço para gastos excessivos. O orçamento tinha que ser honrado fielmente. A maior diferença que senti quando trabalhei em outros filmes foi, sem sombra de dúvidas, o ambiente. Com Os Trapalhões era puro prazer.

Mas eles pagam melhor ou era tudo tabelado?
Existe uma tabela salarial mínima exigida pelo sindicato, e a Renato Aragão Produções pagava sempre acima desses valores. Era uma produtora reconhecida no mercado como a que melhor pagava.

Você é um dos profissionais que mais tempo trabalhou com Os Trapalhões. Como e por que conseguiu ficar tanto tempo com eles?
Sou administrador de empresas; e isso também foi um fator decisivo, pois passei também a trabalhar em outras áreas da Renato Aragão Produções. Com certeza, fui um dos que mais tempo trabalhou com eles.

Chegou a fazer trabalhos administrativos dentro da R. A. Produções? Se sim, qual?
Eu, como administrador de empresas, tive a chance de passar nas áreas administrativa, financeira e até na comercial. Foi uma experiência riquíssima.

Renato Aragão, além de artista, também gostava da burocracia da empresa?
O Renato Aragão não deixava de ir à produtora. Não sei como ele arranjava tempo para ainda dar expediente na empresa. Ele acompanhava tudo. Sabia também do que se passava com cada funcionário, que, aliás, eram pessoas que frequentavam inclusive a casa dele. Iam às festas, desde o jardineiro, faxineiro, a moça do cafezinho até os diretores. Nunca houve qualquer discriminação, os mais humildes também mantinham uma relação de amizade e tinham o mais absoluto acesso à ele.

Podemos considerar Renato Aragão um dos maiores e melhores produtores de cinema do país?
Posso te dizer que ele foi, sim; mas acho que uma das maiores contribuições do Renato Aragão para o cinema também foi o fato de ele ter formado muitos e muitos profissionais, ainda mais numa época em que não havia faculdades de Cinema ou de Audiovisual. A Renato Aragão Produções foi, sem sombra de dúvidas, uma grande escola de cinema.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Sim, ele é um cara que gosta de qualidade. É exigente, mas extremamente cordato. É uma pessoa que sabe dividir, sabe ouvir, sabe voltar atrás. Mesmo sendo o dono da bola, sempre respeitou cada profissional que fazia parte de sua equipe, nunca impôs nada a ninguém.

Quem era o maior comediante do grupo?
Cada um tinha/tem seu estilo. O Mussum era fantástico, com sua simplicidade, seu humor fácil e gostoso. O Zacarias, com aquela ternura dele, fazia um humor jamais visto. O Dedé é o maior “escada” que conheço, não existe ninguém como ele. O Renato Aragão é um cara engraçado por natureza, ele nasceu para fazer rir.

Quem, na sua opinião, é o maior vilão de todos os tempos nos filmes dos Trapalhões: Eduardo Conde, Carlos Kurt ou Roberto Guilherme?
Que saudades dessas feras. Como já falei, você está me emocionando e fazendo-me ficar nostálgico. Tive pouquíssimo contato com o Eduardo Conde; o Guilherme para mim não era um vilão, e sim mais um Trapalhão. Para mim, o Carlos Kurt é insubstituível.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Filmes inocentes, sem a pretensão de serem acadêmicos. Filmes produzidos com amor. Filmes pensados para as crianças e adultos que trazem dentro de si a criança que já foram um dia. Os Trapalhões queriam fazer as pessoas felizes, isso é o que interessava para aquele quarteto fantástico. Eles conseguiram, com seus fimes, alegrar mais de cem milhões de pessoas numa época em que o Brasil estava chegando aos cem milhões de habitantes. Isso não existe no mundo.

Por que os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Sou um cara muito franco e direto... é melhor que eu me exima de dar essa resposta!

Você, além de ter trabalhado com os Trapalhões, conviveu com eles por mais de 45 anos. Fora do cinema e da televisão eles eram humildes? Como eram sem as máscaras”?
Eles eram Os Trapalhões, sempre alegres, bem-humorados, sacanas, piadistas. Ajudavam muito a quem precisava deles. Os Trapalhões que eu conheci e com quem convivi não tinham máscaras e eram humildes, sim. Fico muito chateado, na verdade puto mesmo, quando vejo algumas matérias na mídia ou em redes sociais falando mal deles ou do Renato Aragão, que sempre foi o mais visado por ser o líder, o pai dos Trapalhões. Esse Renato Aragão de que a imprensa fala ou falava é desconhecido para mim.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular dessa sua convivência com eles.
É impossível falar de um fato ou curiosidade apenas. Uma coisa que as pessoas não sabem ou talvez não acreditem e que era algo que chamava a atenção de quem convivia com aqueles quatro Trapalhões é que eram muito amigos realmente. Posso te garantir que se amavam. Eram como irmãos que estavam sempre se sacaneando. Eram extremamente unidos. Um morava no coração do outro, um sabia identificar o olhar do outro. Eles se olhavam e já estavam se comunicando. Eram uma verdadeira família. Só quem conviveu intimamente com eles pode entender o que representavam um para o outro. Eu sou um cara extremamente feliz por ter tido a dádiva de viver na família Os Trapalhões. Aproveito para te agradecer por esses momentos. Como já disse mais de uma vez: fiquei profundamente emocionado, voltei num tempo de pura felicidade e alegria, tempo que infelizmente não volta mais. Se você me perguntasse: “Você faria tudo de novo?” Eu te diria que faria com ainda mais vontade, iria me entregar ainda mais, daria ainda mais o meu sangue, meu amor, minhas horas de vida profissional dedicando-me a eles. Viva os eternos Trapalhões!

Os Trapalhões: Alexandre Boury


ALEXANDRE BOURY
Diretor

Você encarou o desafio de dirigir o programa A Turma do Didi na TV Globo, a partir de 1998. Vocês enfrentaram muita resistência dos fãs mais saudosos dos Trapalhões, que enxergavam neste programa uma heresia contra Os Trapalhões e sua formação original?
Não enfrentamos resistência, pois o retorno do Renato Aragão se deu muitos anos após o grupo ter acabado; e, naquela época, a internet ainda não existia e a comunicação dos saudosos fãs não se manifestou a ponto de ser notícia.

Tadeu Mello (Tatá), Edson Cardoso (Jacaré) e Marcelo Augusto (Marcelo) eram a representação de Zacarias, Mussum e Dedé, respectivamente?
Não há como negar a semelhança dos arquétipos; porém, os de A Turma do Didi e Os Trapalhões são personalidades diferentes.

A Turma do Didi ficou no ar entre outubro de 1998 e março de 2010. Um recorde até hoje não igualado por programas de humor, principalmente aos domingos. A que se deve esse feito?
Ao talento de Renato Aragão.

O ator Roberto Guilherme é uma presença importante nos programas do Renato Aragão, tanto em Os Trapalhões como em A Turma do Didi. Entretanto, no cinema, sua participação é quase nula. Qual a razão?
Ele é um ator “escada”, de esquetes e não um ator que constrói uma personagem. Um filme tem que trazer elementos diferentes do programa.

Como foi dividir com o Paulo Aragão a direção dos filmes O Trapalhão e a Luz Azul e Didi, O Cupido Trapalhão?
Muito prazeroso. Ele é uma pessoa incrível em todos os sentidos.

Funciona esse método de dividir a direção?
Se houver sintonia, sim.

Um fato importante em O Trapalhão e a Luz Azul é a participação do Dedé Santana no filme. Como foi dirigir o Dedé?
Foi bem tranquilo.

Dedé Santana chegou a dirigir alguns filmes dos Trapalhões. Ele tentava acompanhar seu trabalho?
Não, só entrava no set para atuar.

Qual a razão da participação do Dedé nesse filme ser tão curta?
Pelo roteiro, esse era o único personagem em que Dedé se encaixava; e também não foi tão curta assim a participação dele.

Após O Trapalhão e a Luz Azul, você dirigiu Um Anjo Trapalhão. O convite para dirigir esse filme deve-se ao sucesso obtido no trabalho anterior?
Esse foi o primeiro trabalho que fiz com o Renato. Foi um Especial de Natal produzido pela TV Globo e exibido em 24 de dezembro de 1997. A decisão de exibi-lo no cinema foi devido ao seu sucesso na televisão.

Por que dessa vez você divide a direção com o Marcelo Travesso e não com o Paulo Aragão?
Eu ainda não conhecia o Paulo Aragão e havia feito a novela Vira-Lata com o Marcelo; e o Mario Lúcio Vaz, diretor artístico da Globo, nos escalou para dirigir o especial.

Qual a razão da ausência de Dedé Santana nesse filme?
Ele era funcionário do SBT, e o especial era da TV Globo.

É verdade que Renato Aragão costuma participar de todo o processo fílmico de uma produção? Ele chegava a interferir em outros setores que não o dele?
O Renato, além de fazer o personagem Didi Mocó, é também produtor de seus filmes e exerce essa função de maneira muito competente.

Em Didi, O Cupido Ttrapalhão você volta a dividir a direção com Paulo Aragão. Nunca pensou em assumir sozinho o comando da direção de um filme do Renato? Nesse filme você teve a oportunidade de dirigir Mauro Mendonça, Oscar Magrini, Rosamaria Murtinho, Herson Capri, entre outros grandes atores. Entretanto, no mesmo filme, você dirige a apresentadora Jackeline Petkovic, o cantor Daniel, a dançarina Dany Bananinha, o ex-BBB Kléber Bambam, entre outros. Um desafio, não?
Tive a oportunidade de dirigir sozinho um dos filmes do Renato; porém, optei por dividir a direção com meu pai, Reynaldo Boury, que na época estava aposentado pela TV Globo. Não há dificuldades, se for respeitado o limite de cada “ator”.

Seu último filme com Renato Aragão é Didi Quer Ser Criança. Por que foi o último?
Após dez anos trabalhando com o Renato, decidi que era hora de voltar às novelas. Queria me integrar novamente em outros projetos.

Nesse trabalho você divide a direção com Reynaldo Boury. Como foi essa parceria?
Conforme disse acima, dividi a direção com meu pai Reynaldo Boury e foi muito bom poder trabalhar com ele no cinema, um campo novo para ele, que tem mais de sessenta anos de televisão. Atualmente, ele é o diretor geral das novelas do SBT.

Como foi dirigir Lívian Aragão? Já era perceptível a ideia de transformá-la em uma atriz?
Lívian Aragão sempre mostrou ter um talento nato para ser atriz. Em nada me surpreende ela estar cada vez mais em evidência.

O cineasta J. B. Tanko foi o profissional que mais dirigiu os filmes dos TrapalhõesVocê procurou fruir alguma característica dele em seu trabalho?
Não. Cada diretor tem suas referências; e eu gosto muito de Woody Allen, Mel Brooks, George Lucas e James Cameron. No cinema nacional admiro Daniel Filho e José Padilha.

Qual a sua opinião a respeito de J. B. Tanko?
Um ícone para o cinema brasileiro, com uma história belíssima e diversificada, com trabalhos de diferentes naturezas, tanto no Brasil como no exterior.

J. B. Tanko, Fauzi Mansur, Victor Lima, Adriano Stuart, Daniel Filho, Del Rangel, Carlos Manga, Roberto Farias, José Alvarenga Júnior foram alguns dos cineastas que dirigiram Os Trapalhões. Em sua opinião, qual foi o maior trabalho de direção já realizado em um filme dos Trapalhões?
Os Saltimbancos Trapalhões, de J. B. Tanko.

Como você classifica o cinema dos Trapalhões?
Marcou toda uma geração durante anos. Eram filmes que toda a família ia ao cinema para assistir. Todo ano havia uma expectativa para o próximo filme deles.

Qual foi o maior filme que você dirigiu com o Renato e qual ficou aquém do que você queria?
O maior foi Didi Quer Ser Criança, o que ficou aquém do que eu queria foi O Anjo Trapalhão, pois foi um produto feito para a tevê e que acabou indo parar no cinema. O enquadramento foi para 3/4, formato de televisão na época, e não 16/9. O orçamento e o equipamento técnico não eram de nível cinematográfico.

Que representa na sua carreira ter dirigido Renato Aragão?
Representa um grande orgulho, uma honra e um presente de ter tido a oportunidade de aprender a dirigir comédias com o maior palhaço do mundo: Renato Aragão, a quem só comparo ao Charles Chaplim.

Os Trapalhões: Alex Gill


ALEX GILL
Ator, músico do grupo Polegar

Você atuou no filme Uma Escola Atrapalhada. Como e em que circunstância recebeu o convite para atuar nesse filme? Como foi a experiência?
Sim, atuei junto com o grupo Polegar, que foi convidado pelo próprio Renato Aragão para participar do filme. Assim como todos da minha banda, eu fiquei super feliz, pois, desde criança, sempre fui muito fã do trabalho dos Trapalhões. Mesmo não sendo ator, foi uma experiência única e muito gratificante estar ali aprendendo e participando com todo o elenco, a produção e ainda participando do último filme que reuniu os quatro Trapalhões juntos.

Que representava, naquele período, protagonizar um filme com Os Trapalhões?
Os Trapalhões eram sucesso absoluto nos filmes e no programa de tevê nessa época, e todo artista que participava dos filmes deles automaticamente era super bem-aceito pelo público. Creio que isso também tenha ajudado a nos dar mais prestígio.

Você pertencia ao grupo Polegar, um dos maiores fenômenos musicais de todos os tempos no Brasil. Esse filme, de certa maneira, era uma forma de beneficiar a imagem do grupo, dos Trapalhões ou dos dois?
Eu creio que era bom para todos. Bom para eles (Os Trapalhões), por ter artistas em evidência participando do filme; e bom para nós, porque acabava agregando mais uma modalidade na nossa carreira. Aprendemos muito com a equipe, a direção e a produção.

O número de discos vendidos e de shows aumentaram após esse filme?
Bem, não sei dizer números específicos, mas acredito que tenha contribuído também para a conquista dos nosso discos de platina e platina duplo (marca superior a quinhentos mil discos vendidos). A rotina de shows sempre foi muito intensa, fazíamos shows quase todos os dias. E, nesse período da gravação do filme, conseguimos dispor um pouco mais do nosso tempo livre para as filmagens. Mesmo assim, nos finais de semana não tínhamos folga, estávamos sempre viajando por todo o Brasil.

Quais as suas maiores lembranças do filme Uma Escola Atrapalhada?
Era tudo muito legal, meio mágico até. Nós fizemos reuniões no início, tipo um laboratório, em que a produção nos estimulava a criar nossos próprios personagens (garotos vindos do interior para a capital) e até os atores profissionais nos ajudavam, dando dicas de interpretação, dando alguns toques. Portanto, foi muito gostoso ter participado dessa experiência.

Como foi a sua participação no filme Uma Escola Atrapalhada, como compôs o seu personagem?
Bem, a participação foi da banda toda. Eu, como o caçula da turma, não tive um papel muito expressivo. Mas dediquei-me de coração para fazer o melhor que eu pude e contribuir nas cenas em que eu estava escalado para atuar com meus companheiros de banda.

Quais as lembranças de bastidores do filme? Como foi o seu contato com Os Trapalhões?
Ah, era muito legal, quando encontrávamos os atores nos sets de filmagem, O Selton Mello, o Leonardo Bricio, o Supla, a Angélica, o Nill (Dominó) e todos os outros atores. Eu sempre pegava dicas de interpretação com os veteranos. E, quando não estávamos filmando, conversávamos bastante também, brincávamos de imitar personagens de desenhos infantis pelos corredores, cantávamos músicas. Enfim, era uma farra, quando estávamos de folga das cenas. Afinal, todos nós éramos muito novos na época.

O filme foi o último com a participação de Zacarias, que faleceu naquele ano. A aparição dele no filme é melancólica, muito magro, abatido. Como foi o seu contato com ele? Ele já estava doente?
Como era tudo muito corrido, não tivemos um contato mais próximo com Os Trapalhões, durante as filmagens. Mas, sempre que nos encontrávamos com eles, sempre foram muito simpáticos e carinhosos com a gente. Sim, o Zacarias estava um pouco abatido. A gente percebia um cansaço nele; entretanto, não imaginávamos que ele estivesse tão doente. De qualquer forma, sempre levarei uma lembrança fantástica desse quarteto sensacional que me alegrou e alegrou o nosso povo inúmeras vezes com sua criatividade, suas brincadeiras, suas piadas... Eu defino Os Trapalhões como quatro adultos que tinham um coração de criança, porque eles dedicaram a maior parte do seu trabalho ao público infantil.

Os personagens de Zacarias, Dedé Santana e Mussum fizeram apenas uma breve aparição. A sensação é que pareciam figurantes no filme. Isso procede?
Eles compunham junto com o Didi os seus personagens; no entanto, a trama toda se voltava mais para o Didi, que liderava a turma toda.

Havia o interesse dos Trapalhões e de vocês, do grupo Polegar, em realizar mais filmes juntos?
Sim, havia interesse, sim. Mas, depois que o Zacarias faleceu, acredito que eles se desmotivaram um pouco; e acabou não acontecendo.

Quem era o maior comediante do grupo?
Cada pessoa tem o seu gosto; e acho que, em cada situação que eles criavam, cada um deles brilhava de forma diferente. Mas acredito que, se não estivessem os quatro juntos ali, a coisa não teria dado certo. Era um trabalho de equipe, ao meu ver; e, assim como numa banda, todos são importantes para a coisa acontecer. Nos bastidores, o Mussum era muito divertido, contava piadas; o Zacarias estava visivelmente cansado; o Dedé e o Didi eram um pouco mais reservados; mas todos sempre muito simpáticos com a gente.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. É verdade? Ele acompanha tudo?
Algumas vezes ele acompanhava; outras, não. Mas, quando tinha cenas com ele participando, a gente procurava dar o melhor, para não ter que repetir muitas vezes. No geral, sempre repetíamos as cenas, para dar opção de tomadas diferentes das câmeras. Isso era normal.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e
estrelados pelos Trapalhões?
Isso eu não sei dizer, até porque não faço parte do mundo do cinema, minha área é musical. Mas acho uma pena essas pessoas não reconhecerem o trabalho desses quatro astros, que eu considero como “gênios do humor” da época.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Bom, eu classifico um cinema leve, criativo, divertido, com intuito de entreter as pessoas. Ao mesmo tempo, as histórias sempre passavam mensagens para fazer as pessoas refletirem mais sobre as situações e temas abordados. No caso do filme Uma Escola Atrapalhada, por exemplo, foram abordadas diversas questões referentes a comportamento, convivência social, imprudência, descuidos com gravidez precoce, discriminação por classe social etc... Acho que esse tipo de coisa ajuda a alertar as pessoas na vida real.

Gostaria que falasse o que representou para você trabalhar com Os Trapalhões, que carregaram, por muito tempo, o cinema nacional nas costas.
Para mim, foi uma experiência única, como já disse anteriormente, até por já ser fã do trabalho deles desde criança. Depois, conhecê-los pessoalmente e ainda atuar juntos em um filme. Foi um presente maravilhoso toda essa experiência de filmagem, responsabilidade, comprometimento com a equipe toda, o elenco, saber como funciona todo o mecanismo de filmagem, pois sempre são feitas várias cenas para escolher a melhor e tornar a história mais emocionante para o público.

Os Trapalhões: Alcione Mazzeo


ALCIONE MAZZEO
Atriz

Você trabalhou com Os Trapalhões no filme O Incrível Monstro Trapalhão. Como e por quem recebeu o convite para trabalhar com eles?
Foi o Renato Aragão quem me convidou para fazer a mocinha do filme. Nessa época, eu também gravava o programa dos Trapalhões na TV Globo.

Que representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões?
Era da maior importância para qualquer atriz; e, para mim, muito especial, pois, além de trabalhar com o grupo de maior sucesso no mundo infantil, tinha grande afeto por eles. Senti-me homenageada, ao ser escolhida para fazer a mocinha do filme, ao lado do Didi.

Onde essa produção foi filmada?
No autódromo de Interlagos e no Playcenter, o saudoso parque de diversões, em São Paulo.

Durante as filmagens havia muita improvisação?
Sempre!! Eles eram muito criativos e novas ideias não paravam de surgir.

Quais as recordações que possui do filme?
As melhores possíveis. Tudo realizado sempre na maior alegria e vitalidade!! Muito divertido trabalhar num mundo mágico, que é um parque de diversões, apoiados numa excelente equipe técnica, com colegas amorosos e talentosos como Eduardo Conde e Felipe Levy. As cenas no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, atraíam muitos expectadores, a maioria jovens. Nessa época, eu tinha uma imagem sexy, por ter sido modelo, capa da Ele Ela, Playboy, entre outras revistas do gênero. Só que sou muito simples e aparecia de sandalinha baixa, jeans, sem maquiagem, cumprimentando todo mundo. O público estranhava...

Como foi o seu contato com o quarteto?
Eles sempre foram muito carinhosos e cuidadosos comigo!! Guardo até hoje uma ametista que o Zacarias me deu. Mussum e Zacarias brincavam sempre. Nunca os vi reclamar, fofocar ou se queixarem. Didi e Dedé já eram mais sérios; mas o astral do grupo sempre foi alto, sempre positivo!

Quais as lembranças da direção do cineasta Adriano Stuart, nessa produção? Como ele conduzia todo o processo fílmico?
Já havia trabalhado noutros filmes com o Adriano; mas nesse ele estava mais brincalhão, super à vontade com as cenas de corrida, tombos e brigas, já que tinha vasta experiência no humor pastelão e estava muito acostumado a dirigir Os Trapalhões.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia, rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Puro preconceito!! A situação está bem melhor agora. O humor está em alta; mas, até pouco tempo atrás, as pessoas viam o gênero como algo menor. Os atores da linha de shows também não eram valorizados, nem pelos próprios colegas, gerando a necessidade de se migrar para o Drama, a fim de ganhar respeitabilidade. No entanto, é muito difícil fazer rir, é preciso excelente timing!! E, em geral, os atores de Comédia brilham em papéis sérios, como o Chico Anysio, no filme Tieta do Agreste.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Ingênuos, românticos.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato que tenha presenciado como testemunha ocular.
Tanto tempo... difícil lembrar!! Mas algo que lembro até hoje é que todos ficamos hospedados no mesmo hotel, num lugar afastado, em São Paulo. Jantávamos todos juntos, menos o Renato Aragão, que, noutra mesa, negociava com empresários, arquitetava novos projetos. Impressionava-me sua mente voltada constantemente para os negócios. Deve ser por isso que é tão bem-sucedido, realmente não para!! Sou muito grata aos Trapalhões originais: Didi, Mussum, Zacarias e Dedé Santana, pela oportunidade que tive em trabalhar tantas vezes com eles, por tudo que aprendi e pelo carinho com que sempre me trataram. Gostaria muito que a imagem deles ficasse preservada na imaginação do público brasileiro! Viva Os Trapalhões!!



Alcione Mazzeo nos bastidores com Os Trapalhões.

Os Trapalhões: Afonso Nigro


AFONSO NIGRO
Ator, músico do grupo Dominó

Como surgiu o convite para o grupo Dominó trabalhar com Os Trapalhões?
O Renato Aragão nos convidou, através da gravadora Sony Music, devido ao grande sucesso do grupo.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, vocês já acompanhavam os filmes deles?
Claro! Éramos fãs e já havíamos cantado no programa deles.

Quais as suas principais recordações dos bastidores de filmagem com Os Trapalhões?
Muita brincadeira, sem perder o profissionalismo.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência, até mesmo nos bastidores das filmagens. Eles brincavam muito. As filmagens eram descontraídas. Isso procede?
Ríamos o tempo todo, era uma grande família.

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
De admiração e amizade, quando estávamos juntos ou visitávamos a casa, principalmente do Renato Aragão, éramos muito bem tratados!

Que representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões?
Era a certeza de que o grupo era um grande sucesso.

Em Os Fantasmas Trapalhões, o quarteto reedita uma parceria de sucesso com o cineasta J. B.Tanko. Quais suas lembranças de trabalho com esse diretor?
Um diretor muito competente e paciente conosco, que éramos novatos.

Esse filme foi o último de Tanko com Os Trapalhões. Como era a sintonia do quarteto com o diretor?
Sintonia total, eles formavam uma equipe perfeita.

Os Fantasmas Trapalhões marca certas rupturas na produção cinematográfica do quarteto. As filmagens passam a ser feitas, em sua maioria, em um universo fechado, ou seja, em estúdio. Cenários e figurinos pré-fabricados se tornam mais presentes, facilitando a produção. Isso foi proposital?
Sim, os estúdios R.A. Produções eram do Renato Aragão; e, além disso, davam mais agilidade às gravações.

Como Flávio Migliaccio conduziu todo o processo fílmico de Os Trapalhões na Terra dos Monstros, seu segundo filme com o grupo? Como era a sintonia dele com a equipe?
Uma coisa que o quarteto sempre soube fazer foi escolher seus diretores, todos muito competentes.

Quem era o maior comediante do grupo?
Talento, Didi. Naturalmente engraçado, Mussum.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso é verdade? Ele acompanha tudo?
Muiito!!! Perfeccionista, compenetrado, profissional etc...

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Acho que porque a preocupação era de ter grande sucesso e bilheteria.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
O mais divertido, leve, bem-humorado do cinema nacional.

Os Trapalhões sempre “brincaram” em parodiar filmes e clássicos estrangeiros de sucesso. Que pensa a respeito dessa linha que eles seguiram?
Esse tipo de “paródia” sempre foi muito comum no cinema e na tevê brasileira.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
Os quatro tinham personalidades muito diferentes: Mussum, sempre brincalhão e engraçado; Dedé, o galã, gente boa; Zacarias, compenetrado e talentoso; Didi, artista e empresário.

Os Trapalhões: Revista Rolling Stone Brasil



O Palhaço Triste

Antônio Renato Aragão, o Didi, comandou um circo eletrônico que levou trapalhadas à TV brasileira nos anos 70, 80 e 90, uma época em que o politicamente correto era o rir ingênuo. Também responsável por quase 50 filmes de valor indiscutível para o cinema brasileiro, o humorista vê sua graça, a do passado, adquirir ares cult, enquanto tenta, no presente, renovar seu público.

por POR RICARDO FRANCA CRUZ

Pelos ares cult que a atração ganhou enquanto envelhecia, a Geração YouTube talvez saiba, mas não custa relembrar: não existia nada tão bom, engraçado e divertido para a família brasileira nos domingos como assistir a Os Trapalhões na Globo - ainda que Silvio Santos fosse o Rei do Domingo naqueles distantes anos (o humorístico viveu até 1996). Nem nada tão unificador. O tema de abertura do programa estava para a felicidade assim como o do Fantástico, por mais que mude, está para a depressão de segunda-feira. Didi Mocó à frente - quer dizer, Antônio Renato Aragão -, o grupo reunia talentos máximos como Dedé Santana (Manfried Sant'Anna), o icônico Mussum (Antônio Carlos Bernardes Gomes) e Zacarias (Mauro Faccio Gonçalves). E em torno deles reuniam-se a madame, a doméstica, o presidente, o metalúrgico, o poeta, o analfabeto, todo mundo que possuía em casa, ou na rua, um aparelho de televisão. Todos se transformavam na entidade "ô da poltrona!", alegórico bordão do mestre.

Se ali ele era sempre Didi Mocó, vulgo para o quase nobre Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo, palhaço-chefe de um circo eletrônico freqüentado assiduamente por milhões e milhões todas as semanas, líder natural de uma trupe de saltimbancos 100% brasilis transmitidos a toda nação, viveu nos cinemas do vagabundo Bonga ao pseudocovarde Cinderelo, passando por Pilo e, claro, todos os Zés - Zé Cação, Zé Grilo e Zé Galinha, entre outros. Na pele de qualquer uma de suas personas - "Didi é meu alter ego", Didi, digo, Aragão, desfaz-se - ele sacaneava quase ingenuamente negros, gays, gordos, feios e nordestinos, para o horror destes monitorados anos 2000. E às vezes até pitava uma bituquinha de cigarro industrializado (como o faz Bonga) numa época em que o politicamente bacana era fazer o povo rir. Com o corpo treinado, ferramenta tão fundamental quanto as gravatas com desenhos toscos de mulheres nuas que acompanhavam os ternos de corte extragrande que usava, fazia acrobacias, malabarismos, dava saltos mortais e driblava qualquer concorrência naqueles domingos verdadeiramente legais.

Trapalhão mais bem-sucedido entre os quatro, Didi - Meu Deus! Renato Aragão! - insiste em buscar o amor das crianças com sua Turma do Didi, da qual faz parte o companheiro Dedé, e com os bem-sucedidos filmes que protagoniza com a filha temporã, Livian - hoje somam-se quase 50 obras de valor indiscutível para a cinematografia nacional. Mas não há mais, ao que parece, espaço nobre para o verdadeiro palhaço eletrônico no humor brasileiro. As gostosas naturais, os mauricinhos engraçados, os repórteres escrachados e os intelectuais politizados dominam a cena. Mas não no meu coração, onde Didi, e não Renato Aragão, reina absoluto.

É ele, Renato Aragão, de camisa azul clara por dentro das calças brancas, cinto branco e tênis de corrida da mesma cor que me recebe em sua mansão em um condomínio de luxo da Barra, no Rio. Extremamente gentil e educado, o senhor à minha frente tem o corpo ainda forte, o aperto de mão firme, mas o andar tímido e os olhos tristes. A voz que me leva em uma viagem pelas terras felizes, ou não, da infância e da adolescência, conta que na cena da ressurreição do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, quebrou o joelho "na primeira cambalhota", e fica verdadeiramente embargada e assume tons mais baixos quando fala da saudade que sente de Os Trapalhões. Apontando para a farta mesa de frios, salgados, pães e acepipes, posta ao lado da enorme piscina, oferece: "Antes de começar a entrevista, come aí um engasga-gato para deixar o bucho feliz". Difícil me conter e não confessar o inconfessável: "Sou seu fã, Didi". "Ô meu querido, que bom. Você me deixa muito feliz, mas eu sou o Renato", e sorri um dos únicos sorrisos que se formariam em seu cansado rosto naquelas horas em que falamos.

Comparando o senhor com seu maior personagem, Didi Mocó...
Senhor, não, por favor. É "você".

Pessoalmente você parece uma pessoa triste. E o Didi é alegre.
Eu não sou triste. Sou comportado, preocupado e respeitador, antes de tudo. Um cidadão comum. E tímido, sou um cara muito tímido. As pessoas, às vezes, as crianças, que não têm muito discernimento, mas têm muita sensibilidade, acham que o Renato Aragão é o Didi, e esperam encontrá-lo derrubando uma banca de jornal, correndo desastrado por aí, mergulhando de roupa na piscina. Mas eu sou somente um pai de família comportado e sem graça.

Se acha mesmo um cara sem graça?
Pessoalmente, sim.

Mas eu vejo você falando e me dá vontade de rir.
Vou te contar por quê: você tem a referência do Didi. E por mais que você seja instruído, por mais que tenha cultura, não desassocia o Didi do Renato Aragão.

Isso te incomoda?
De jeito nenhum. No começo, eu sentia uma certa rejeição a isso. "Peraí, eu sou o Renato!" Mas foi por muito pouco tempo. O Didi atropelou o Renato Aragão.

Demorou para você aceitar o Didi Mocó?
Eu o compreendi, não o aceitei. Não tinha como não o compreender. Um personagem maravilhoso, como é que eu podia rejeitar meu próprio personagem? E eu vendo na televisão o Didi fazendo aquelas coisas. Aquilo não sou eu. Porque eu, em sã consciência, não faria aquelas merdas que o Didi faz, não seria porra-louca daquele jeito. Acendeu a luz do refletor, eu viro outra pessoa.

Você está com 71 anos?
Sabe que eu não sei? Não sei que idade eu tenho. Depende do dia que eu acordo. Tem dia que eu acordo com 90 anos, tem dia que eu acordo com 15. Tento o mais que posso fugir da idade. Talvez ela me alcance um dia, mas não vou deixar.

O que te faz rir de verdade?
Do que eu rio, mesmo, é de palhaço de circo, o autêntico. Aquele palhaço tradicional mesmo, que escorrega, sabe? Aí, eu me desprendo, me entrego.

Você ainda vai ao circo?
Fui muito às sessões desses grandes circos quando eu trabalhava com Os Trapalhões. Não resistia e ficava vendo por trás da cortina. E aqueles palhaços estavam tão distantes, tão acima de mim. Eu me emocionava muito. O palhaço de circo me fazia rir demais. E chorar também. Hoje em dia não precisa muita coisa pra chorar.

Você tem netos de mais de 20 anos de idade, filhos na casa dos 40. Como é, na sua idade, ser pai de uma garotinha?
Recomendo. Quando a Livinha nasceu, eu tinha um netinho de 5 anos mais ou menos. Aí, foram apresentar ela a ele - "Olha aqui a sua tia." E ele ficou meio confuso com aquela história - "Ela é minha tia? Mas ela não vai mandar em mim não, né?" Foi um confl ito de gerações. Ser pai nessa idade, pra mim particularmente, é maravilhoso. Porque a tua idade já diz que você chegou a uma espécie de aposentadoria, mas a Livinha me fez reviver, remoçar. Tive de começar tudo de novo, fralda, educação, brinquedo. Tudo aquilo que um pai novo faz com seu primeiro filho. Então, isso me dá uma energia muito grande, uma vitalidade. Ela traz três crianças da idade dela pra passar a noite aqui em casa, é muito bom, vou me sentindo mais novo.

Sua infância foi feliz?
Minha infância foi muito boa, não foi sofrida. Na cidade de Sobral, no interior do Ceará, fiquei mais ou menos de 1935 até 1940 e poucos, e durante uns dois anos não havia luz elétrica. Tinha uma vida muito boa, mas convivi ao lado de muita pobreza, que sentia na pele de criança, mas sabia que eu não tinha aquela fome. Adorava ficar com eles, naquelas casinhas de sapê, dava bola de futebol pra eles. Lembro que um dia um amigo disse: "Vou pra casa almoçar" e eu fui junto. O pai dele era o que a gente chamava de carreteiro, ganhava uns trocados botando as malas na cabeça e levando para a casa a pé da estação de trem, porque não tinha transporte. Aí, eu fui na casa dele, e ele: "Eu vou almoçar". O pai dele entrou e tinha na mesa um copo separado com água e ração de raspadeira. Ele misturou, pegou duas bananas e comeu com casca e tudo. Foi o almoço. E eu fiquei olhando para aquilo. Criança não dá muita bola pra isso, mas aquilo ficou em mim até hoje.

Como eram seus pais?
Meu pai era um gênio. Rígido. Era muito sério. Foi poeta, era industrial. Escreveu muitos livros. Escreveu uma coluna numa revista, de Sobral para o Rio de Janeiro. Mas ele perdeu a visão. Ele, ávido por leitura, lia jornal velho na lamparina, e foi assim que queimou o nervo ótico de tanto ler. Porque lá não tinha informação nenhuma. Ele foi fundador, professor e diretor de um colégio sem nunca ter assistido a uma aula na vida. Autodidata. Meu pai é uma referência muito grande para mim. Minha mãe era professora diplomada, tinha uma cultura. Tem-se, em geral, a idéia de que você chegou ao Rio de Janeiro, vindo do Ceará, para tentar a sorte apenas com uma trouxinha nas costas. O estereótipo do nordestino que saiu da miséria e venceu na cidade grande. Eu deixo que tenham essa imagem, nunca revelo que fui de classe média alta. Nunca desdigo esse estereótipo porque isso é muito bonito também. Muita gente pensa até que eu nasci no circo, que sempre fui de circo. Não digo que é verdade, mas também não crio essa ilusão. Eu já vim para o Rio contratado para trabalhar na televisão.

Como nasceu o Didi Mocó?
O Didi não nasceu comigo, como muitos pensam. O Didi foi uma coincidência muito grande. Eu tinha um sonho de ser comediante como o Oscarito, que foi maravilhoso, minha referência multinacional. Mas como eu iria ser um Oscarito num lugar onde não tinha televisão, não tinha rádio, e o preconceito com quem fosse de teatro era enorme? Ou era almofadinha, como eles chamavam, ou era bicha ou era marginal. Quando estava no 5º ano de Direito, falei: "Vou tirar esse sonho da minha cabeça". Aí, veio a TV Ceará, e pensei: "Como eu vou entrar lá? Não sou engraçado, não tenho a mínima graça. Sou uma pessoa muito tímida, vou chegar lá e dizer que quero ser comediante?" Mas havia um curso de realizador em que você acumulava as funções de direção, produção e redação. Eram 25 candidatos concorrendo a cinco vagas, eu fiz e passei. Quando o cara me chamou pra ver se eu estava aprovado, tinha as listas dos aprovados e dos reprovados. Eu, claro, fui na dos reprovados, mas não estava lá meu nome. E o cara: "Então procure entre os aprovadas". E eu estava lá, em primeiro lugar. "Sua mesa é esta, sua sala é esta e você vai escrever a programação humorística de inauguração da TV Ceará." E eu respondi: "Pô, eu não sou nada, sou um blefe. Nunca fiz isso na vida". E ele sabia disso e disse: "Você não é viciado em nada, não veio do rádio. Eu vi sua prova..." - eu havia escrito na prova uma comédia, uma sitcom - "...é isso o que eu quero, cinema e televisão, é imagem, não é voz." E eu: "Mas, rapaz, eu não sou nada disso. Eu tenho uma prova na faculdade hoje, não posso escrever". Cheguei em casa pensando o que é que eu iria fazer. Comecei a escrever sobre a cidade, "a televisão chegou", e aí vai, "passageiro Renato", eu pensando num nome... De repente, veio direto no papel: Didi. Acho que já estava escrito antes de eu escrever. Ali o Didi nasceu.

------------------

Se Os Trapalhões existisse atualmente, “seria o maior sucesso da televisão”, diz Renato Aragão

O eterno Didi, que acaba de completar 80 anos, fala ainda sobre as críticas que sofreu recentemente e reclama do meme “no céu tem pão?”

por REDAÇÃO

13 de Jan. de 2015 às 20:08

“É mais uma etapa, um acidente geográfico”, diz Renato Aragão sobre completar 80 anos nesta terça, 13. “São as pessoas que me alertam de que eu fiz 80 anos, eu não percebo que tenho essa idade, que sou um senhor. Na verdade, adquiri foi muita experiência na vida e na carreira”, completa o ator, hoje indissociável do personagem Didi, que integrava o quarteto Os Trapalhões.

O mais novo octogenário do entretenimento chega a esse momento ainda se desafiando. Depois de décadas a fio como um ícone da televisão e do cinema, Aragão fez sua estreia no teatro ano passado, ao lado do amigo e colega de Os Trapalhões Dedé Santana. No último fim de semana, enquanto estava no palco durante o musical Os Saltimbancos Trapalhões, ganhou uma homenagem capitaneada pela filha adolescente, Lívian, que o deixa emocionado até agora. “Não desconfiei de nada! Armaram com todos os artistas, com a TV Globo. Na história, minha filha faz papel de menino e depois se revela como mulher. Nessa hora de se revelar, ela veio falar que ia homenagear uma pessoa que faz aniversário, entrou bolo, não sabia de nada”, conta, ainda contente. “Nunca pensei em fazer teatro. De repente fui encarar esse desafio. E está indo muito bem, estão aceitando muito. Gostei muito desse presente de aniversário.”

Aragão, acima de tudo, se mostra lisonjeado com o carinho do público. “Talvez seja o Didi mais do que eu. Ele completa 55 anos, já se misturou com o Renato Aragão, me dá força. E o público também me dá força. É uma responsabilidade muito grande ter passado pelas três gerações que o Didi passou”, afirma. “Não posso dizer que vou me aposentar. Até pode ser. Mas não agora.”

Ao longo de 2014, Aragão deu muitos sustos no público, virando manchete por causa de problemas de saúde graves relacionados a um infarto e a uma infecção urinária. Segundo ele, sua inquestionável fé, sempre demonstrada ao longos dos anos, é uma das razões para não se deixar abater. “É o que me dá animo de alcançar mais uma idade. Não sei mais quanto tempo vou viver depois dos 80, mas não tenho medo de nada. Cuido da alimentação, da saúde, que é para ter uma longevidade, mas não sei quem é que calcula isso”, diz.

Lembrando a importância de Didi Mocó para a própria carreira e para a história do humor no Brasil, Aragão justifica o sucesso do personagem com as características mais marcantes dele. “Não sei se é a ingenuidade, aquele humor simples, que não quer ofender ninguém – por mais que haja um policiamento. É humor limpo, família.” O tema, inevitavelmente, o faz cair na entrevista recente que deu para a revista Playboy e que foi motivo de muito debate nas redes sociais. Na entrevista, ele afirma que, antigamente, homossexuais, negros e gordos não se ofendiam da forma como acontece atualmente.

“Isso tudo não foi dito. Alguém não leu tudo. É que eu fazia uma brincadeira com o Mussum: ‘Ô, Paraíba’, ‘Ô, Negão’. Não era para ofender uma classe”, reforça, tentando “justificar” que “a ofensa era entre eles”. “O sucesso se tornou o oitavo pecado capital”, declara. “Você não pode fazer sucesso que as pessoas começam a inventar. Nunca tentei ofender ninguém. Ao contrário, eu quero é conquistar! Deus me livre fazer uma piada que vai afastar qualquer alguém. Eu amo os negros, homossexuais, os gordos.”

“Eu fui quem mais sofreu preconceito na vida como comediante e ator”, continua. “Eu sempre fui discriminado por fazer esse tipo de humor [mais simples]. Não liguei para isso, quanto mais criticavam, mais aumentava a bilheteria. O povo sempre teve carinho comigo e me defendeu. Alguém que ofende tem que ser criticado mesmo. Nem queria falar sobre esse assunto porque as pessoas gostam de levantar polêmica. Mas vou repetir mais uma vez: eu nunca ofendi negros, homossexuais, gordos, nem ninguém. Levantaram essa lebre contra mim.”

Quando os papéis se invertem e Aragão fala sobre se sentir ofendido por outras pessoas, é ele quem se revolta ao lembrar da repercussão da história-triste-que-virou-meme “no céu tem pão", um vídeo compilando as diversas ocasiões em que Renato Aragão narrou o episódio verídico de uma criança que, antes de morrer de fome, perguntou se no céu havia pão. E Aragão ainda não perdoou.

“Esse pessoal é muito maldoso, isso foi uma realidade que aconteceu. Deviam ir passar fome lá no Nordeste, ver uma seca...", diz Aragão, irritado. "Dois anos seguidos de seca e teve uma criança que falou isso para a mãe porque não tinha o que comer. Que maldade, que sacanagem, fiquei muito triste com isso, as pessoas ficarem zombando do falecimento de uma pessoa com fome.”

Saudade 
Nenhum tópico passa pela boca do ator sem que ele lembre da saudade que tem d’Os Trapalhões. Sempre categórico em afirmar que jamais retomaria o grupo sem Mussum e Zacarias, que morreram em 1994 e 1990, respectivamente, ele tenta imaginar como seria o programa da trupe hoje, uma época em que o humor é recebido de uma forma completamente diferente. E não se acanha em dizer: “Seria o maior sucesso da televisão hoje”. Mesmo em outros tempos? “Eu poderia sofrer preconceito, como sofremos”, diz, afirmando que seria tudo igualzinho. “O nordestino sofrido, o galã da periferia, que é o Dedé, o “negão” da mangueira, o Mussum, e aquele menininho mineiro que não queria crescer [Zacarias]. Era a cara do Brasil.”

Ele ainda lembra com nostalgia de uma das encenações preferidas daquele período. “Não sei contar piada, eu sei encenar piada. O Didi é sempre Didi, o que muda é a situação em volta dele. O que foi mais marcante para mim são aqueles clipes que fazia. Sidney Magal, Maria Bethânia, Ney Matogrosso”, relembra, afirmando que adoraria fazê-los de novo.

Passado e futuro
Se o legado de Renato Aragão após mais de meio século de carreira é imensurável e difícil de resumir, o aniversariante não tem dificuldade em apontar com precisão de onde vem a inspiração pessoal.

“Os maiores de todos os tempos? Oscarito, no Brasil. Universalmente, o [Charles] Chaplin. Eles são gênios. É a única definição que posso te dar. São gênios inimitáveis.” Já nos dias de hoje, Aragão reforça o apreço que tem pelo trabalho do grupo Porta dos Fundos. Eles são muito bons, maravilhosos! Falam tanto palavrão... é isso que digo quando falo que é pesado. Porque eles não precisam falar, são muito bons. Estão começando um novo marco de humor”, crava.