domingo, 16 de abril de 2017

As HQs dos Trapalhões


Matéria de capa do jornal "Diário do Grande ABC".

sexta-feira, 14 de abril de 2017

As HQs dos Trapalhões


Matéria de hoje no jornal "Diário do Grande ABC": http://www.dgabc.com.br/Noticia/2616564/trapalhoes-em-tirinhas

terça-feira, 11 de abril de 2017

A Bruxa do Chocolate


"Rap da Bruxa do Chocolate". Letra e vocal: Zuzu Leiva. Produção musical e arranjos: Paulo Bira. Videoclipe: Ricardo Botini. Ilustração coelha: Guilherme Resende. Inspirado no livro "A Bruxa do Chocolate", de Rafael Spaca com desenhos de João Spacca. Editora Laços.



terça-feira, 4 de abril de 2017

As HQs dos Trapalhões


"As HQs dos Trapalhões" na TV Aparecida: https://www.youtube.com/watch?v=lVsFkEti2uw

sábado, 1 de abril de 2017

Os Trapalhões: a série


Hercilia Cardillo, editora de som de filmes como "Atrapalhando a Suate"; "O Trapalhão na Arca de Noé", "A Filha dos Trapalhões" e "Os Trapalhões e o Rei do Futebol" é a terceira convidada da série "O Cinema dos Trapalhões, por quem fez e por quem viu". A série é uma parceria da TV Cidade com a Editora Laços. Confira: https://www.youtube.com/watch?v=xlaZj1nes_s

Os Trapalhões: Benício


BENÍCIO
Cartazista, ilustrador


Como surgiu o primeiro convite para trabalhar com Os Trapalhões? Eles já tinham referência do seu trabalho. Por isso, o contato?
Surgiu devido ao meu trabalho com cartazes de cinema já estar consolidado.

Seu trabalho tem uma característica sensual muito forte. O senhor retratou grandes mulheres do cinema nacional em imagens definitivas que hoje se tornaram clássicas. Como é desenvolver cartazes para o público do cinema infantil? Quais as preocupações que se deve tomar, especialmente nos filmes dos Trapalhões?
Focar a ilustração mais para o lado da ação e evitar o erotismo.

Os Trapalhões fizeram mais de quarenta filmes. Destes, qual é o cartaz que considera o mais genial e o que menos gostou?
O que eu mais aprecio é de O Cinderelo Trapalhão. O de A Princesa Xuxa e Os Trapalhões não aprecio tanto, por ter havido interferência no meu trabalho.

Essa interferência foi da Xuxa?
A interferência foi administrativa. A Xuxa tinha um contrato cuja uma das cláusulas era que só podia ser ilustrada por um profissional determinado por ela.

A história que se conta – e só o senhor pode confirmar – é que o único Trapalhão que dava “pitaco” no seu trabalho era o Dedé Santana, pedindo, entre outras coisas, para deixá-lo mais bonito do que ele realmente era. Isso procede?
Ele não dava “pitaco”. Apenas sugeria que eu o deixasse mais bonito.

Neste mês de janeiro de 2015, Renato Aragão foi perguntado pela revista Playboy se mudaria algo em seus filmes se assim pudesse ser feito. E ele disse: “Eu mudaria, sim. Antigamente, nas fotos de cartaz, botávamos os heróis, os quatro Trapalhões, de revólver na mão. Hoje, eu nunca colocaria uma arma na mão dos heróis. Isso não pode jamais.” Gostaria que comentasse essa declaração dele.
Não me lembro de ter enfatizado em minhas ilustrações armas de fogo nas mãos dos Trapalhões.

O que significou em sua trajetória artística essa parceria com Os Trapalhões?
Grande parte do sucesso do meu trabalho devo aos Trapalhões.

Os Trapalhões: Bárbara Mendonça


BÁRBARA MENDONÇA
Figurinista


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Comecei a trabalhar com figurino e direção de arte em 1982. Morava no Jardim Botânico; e a produtora do Renato Aragão era próxima à minha casa, antes de ele ter seus estúdios, a R. A. Produções, que anos depois seria construída na Barra. Na época, a profissão de figurinista nem tinha tanto destaque, era o começo de uma época de mais cuidado com a estética no filme brasileiro. Então, encontrei, na esquina de casa, um amigo, técnico de som, que estava saindo da produtora e falou que havia me indicado ao Del Rangel, que era o diretor e sobrinho de Renato. Fui chamada e entrevistada, juntamente com outros indicados, e fui contratada. Era o filme O Trapalhão na Arca de Noé.

Antes de iniciar essa parceria profissional com eles, você já acompanhava os seus filmes?
Olha, eu sabia do “fenômeno” de bilheteria que vinha acontecendo com os filmes dos Trapalhões, que eram dois por ano, um para as férias de verão e outro para as férias de julho. Eram filmes certos e cobiçados pelos profissionais freelances, pois a produção dava boas condições de trabalho e era bem paga. Mas, talvez porque meus filhos tinham menos de três anos, eu nunca tinha ido vê-los no cinema, ao escolher um filme. Acompanhava de longe, as histórias, o programa de televisão com os Quatro Trapas, como eram carinhosamente chamados. Mas O Trapalhão na Arca de Noé, segundo filme que assinei como figurinista, foi o primeiro que fui ver na telona, na pré-estreia para crianças, num domingo pela manhã no saudoso Cine Rian, na Avenida Atlântica, levando meus filhos, assim como os outros membros da equipe fizeram. Foi uma farra.

Quais as suas principais recordações dos bastidores de filmagens com Os Trapalhões?
Era literalmente muito divertido! As filmagens envolviam viagens. Eram produções com ótima estrutura, excelentes técnicos e boa remuneração. Lembro que, nesse primeiro filme que fiz, fomos para o pantanal mato-grossense e foi muito lindo o processo nesse lugar ainda bem inóspito. Lembro-me do Renato muito bem-humorado e ágil, subindo em árvores com uma facilidade que me espantou... Ele e os outros três Trapalhões tinham dublês; mas muitas vezes o Renato dispensava o dublê e tomava a frente da ação, encarava às vezes um jacaré, uma briga, uma corrida. E depois, nesse mesmo filme, que por sinal teve a primeira participação da Xuxa, seguimos para Pousada do Rio Quente, em Goiás. Tinha sempre bastante merchandising envolvido; e, nesse caso, ficamos muito bem instalados nessa espécie de resort no meio da floresta, além das paisagens incríveis para as tomadas. Posso dizer que foi uma experiência de trabalho que deixou saudades e ótimas lembranças. A equipe se divertia muito nos bastidores. Os técnicos das diferentes áreas acabavam ficando amigos, pois outros filmes aconteciam em seguida, muitas vezes repetindo equipe.

Você trabalhou como figurinista nos filmes dos Trapalhões. Como era o seu processo de trabalho nesses filmes?
Com esse primeiro filme que fiz aconteceu uma coisa bem atípica. Renato teve uma dissidência artística e profissional com Dedé, Mussum e Zacarias no processo de pré-produção. E essa crise gerou dois filmes: O Trapalhão na Arca de Noé, do Renato; e Atrapalhando a Suate, se não me engano era esse o nome, dos outros três, que criaram uma produtora à parte, a DeMuZa. Foi uma separação que não deu certo, rachou equipe, público, não foi bom para ninguém. Tanto que eles se entenderam e voltaram a filmar juntos. Comecei o processo de criação com um roteiro para uma história com os quatro. As coisas não se definiam, não tínhamos acesso aos outros Trapalhões, só ao Renato, que todos os dias estava na produtora. Eles finalmente abriram a situação, e entrou o Sérgio Mallandro. O roteiro foi alterado, pelo próprio Renato. Então, foi tudo bem corrido; mas o figurino teve todas as condições para cumprir cronogramas. Refizemos o projeto do figurino com as mudanças para posterior aprovação do Del Rangel e do Renato. O Renato se envolvia em todos os departamentos, sabia bem o que funcionava com os filmes em truques, piadas, e em relação às suas roupas e tipos também. Mas era uma interferência normal. O método de trabalho, nesse e nos outros filmes, era bastante artesanal. Fazíamos tingimento e envelhecimento das roupas no quintal das produtoras, que foram várias, pois nem sempre o Renato assumia o total controle de sede de produção e produção executiva. As roupas eram confeccionadas numa garagem, geralmente com duas costureiras. Era muito agradável e criativo.

Você também trabalhou como diretora de arte. Conte sobre o seu trabalho nessa área.
Trabalhei na direção de arte em vários outros projetos, com Os Trapalhões. Eu adoro esses dois departamentos num filme, que caminham juntos e se complementam. Mas acabei preferindo o vestuário; e, desde 1990, só trabalho com figurino. Seria minha segunda escolha. E aprendi muito, exercendo as duas funções ao mesmo tempo, pois tive a visão da estética num trabalho em conjunto. Foi excelente para a meu trabalho com o figurino, deu-me uma abrangência que me vale muito em palestras e aulas que dou. Até porque é fundamental o entrosamento do figurino com a direção de arte e fotografia na narrativa visual do projeto. Foi fundamental para minha formação.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
É fato! Eles eram totalmente gaiatos. Havia o pulso do diretor, claro, que variava em cada filme e dava o tom. Mas eles eram bem divertidos e tranquilos de trabalhar.

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Renato se envolvia do roteiro ao cenário e figurinos, passando pela trilha. E havia sempre uma última palavra dele. Mas sempre foi legal, bastante tranquilo mesmo, lidar com todos eles. E, embora se envolvessem menos nos processos de criação e produção, especialmente Zacarias e Mussum, tenho ótimas lembranças. Era muito lúdico o trabalho com eles. Envolvia figurinos não realistas e sempre variando em relação ao tema do roteiro: circo, guardas florestais, cangaceiros, bandidos; enfim, bem diversificado e criativo.

Que representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Nossa, era a “menina dos olhos” dos técnicos de todas as áreas. Como se sabia serem dois bons trabalhos a acontecer com certeza, todo mundo queria entrar na produção. Era uma honra, uma sorte, um trabalho com muito prazer. Era isso: um prazer remunerado que, além do mais, dava visibilidade ao trabalho do profissional.

Quem era o maior comediante do grupo?
Meu predileto era o Mussum. Muito espirituoso, de uma forma nata. Mas o maior, mesmo, com certeza, é o Renato Aragão. Acho que ele nasceu com um dom muito dele e levou adiante até hoje.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Sim, sim, acompanhava tudo! O figurino ele tinha bem esboçado na cabeça. Eu ouvia muito ele, para entender o que ele queria; depois, sugeria detalhes que achava que iam enriquecer o personagem. Ele aceitava, mas dificilmente abria mão da camisa listrada e do sapato Kildare, que dava conforto e agilidade para ele.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Olha, eu acho que, até um certo tempo, ele trazia coisas bem originais, com equipe de qualidade artísticas. Havia essa preocupação. Era uma época bem diferente de agora, sabe; e ele navegou num filão do apelo das crianças. Mas, para mim, o que pegou foi roteiro, que eram medianos, apesar da intenção de entretenimento infantil e para a família. E também repetitivos. Vamos combinar que é muito difícil fazer dois longas de qualidade em um ano. Acho que o roteiro foi o grande vilão.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Acho que era um cinema feito em equipe, claro; mas como uma família. Até porque tinha muitas pessoas da família do Renato Aragão e de Marta, sua primeira esposa, que vieram do Ceará e se aventuravam em departamentos variados, com os quais tinham afinidade. Pode se falar num nepotismo temporal, pois muitos desses familiares não duraram por vezes dois filmes, encontraram outros rumos mais acertados; e nepotismo relativo, pois tinham sempre técnicos de excelência nos projetos. E, por mais que ele, Renato, variasse sempre nas parcerias com produtor executivo e diretor, nunca deixou de ser o mentor de tudo, com o riso e o entretenimento para as crianças em primeiro lugar, com pureza sempre como objetivo final. Então, vejo como um tipo de cinema que, apesar das variações dos colaboradores da equipe, se sustentou muito bem na proposta por bastante tempo, haja vista o sucesso de bilheteria. Só que esse tempo passou, os desenhos animados tomaram muito vulto nesse segmento. As crianças são sempre as crianças, mas o foco dos tempos atuais é outro. Por isso, não vejo mais espaço no mercado para o Renato e no caso, Dedé, os Trapas que ainda vivem. Ficou uma relação defasada; mas de carinho, com esse público. Foi bom, mas passou.

Os Trapalhões sempre “brincaram” em parodiar filmes e clássicos estrangeiros de sucesso para o cinema. Que pensa a respeito dessa linha que eles seguiram?
Essa foi a grande sacada do Renato, de trabalhar com os arquétipos e brincar com eles. Esse é o segredo do sucesso dos seus filmes. Considero um gancho bem popular.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
Várias coisas me chamaram a atenção. Mas acho que, de tudo o que presenciei, destaco a fidelidade do Renato aos atores que ele trazia para os filmes e manteve enquanto duraram seu programa. Os dublês, inclusive, pessoas de circo que tinham seu biotipo e dos outros Trapas, e os acompanharam por décadas nas sequências de acrobacia, cenas de perseguição etc; cenas que havia muito nos filmes. E também, especialmente num filme que fiz em 1991, com somente ele, Mussum e Dedé, houve um fato que me chamou demais a atenção. O simbolismo da coisa. Renato havia se separado da primeira esposa, e estávamos filmando em Manaus. Então, chegou a jovem, hoje esposa dele, que me contou na lancha camarim de Renato, enquanto eu preparava as coisas para uma próxima cena, que ele era o ídolo da infância dela. Quando adulta (coisa de quarenta mais jovem do que ele), encontraram-se profissionalmente num evento que ela produzia. Ela se apaixou por ele; e ele, por ela. E vivem felizes para sempre. Conto isso como exemplo dos Trapalhões, mitos de toda uma geração, que assistia a seus programas e, posteriormente, os filmes. E a penetração deles foi tão forte que se perpetuou, digamos assim, através da filha de Renato Aragão, hoje atriz também. Conto esse fato porque acho forte essa “mão do destino” ou o que quer que seja que determinou isso.

Os Trapalhões: Aurora Chaves


AURORA CHAVES
Continuísta


Você trabalhou junto à direção do filme Os Trapalhões e a Árvore da Juventude, como continuísta. Como recebeu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Já havia trabalhado com José Alvarenga Júnior em outros filmes em 1986; e, em 1987, ele me convidou para filmarmos pela primeira vez com Os Trapalhões em Os Fantasmas Trapalhões. A direção foi de J. B. Tanko, e Alvarenga foi o diretor assistente. Voltei a trabalhar com eles em: Os Trapalhões na Terra dos Monstros, com direção de Flávio Migliaccio. Depois, em A Princesa Xuxa e Os Trapalhões, O Mistério de Robin Hood e Os Trapalhões e a Árvore da Juventude, todos três dirigidos por José Alvarenga Júnior. O convite sempre partiu da direção. Continuísta é cargo de confiança da direção.

Você já trabalhou em outras produções cinematográficas, com outros diretores e outros atores. Que sigifica para a sua carreira esse trabalho com Os Trapalhões?
Sempre gostei muito de trabalhar com Os Trapalhões por muitos motivos: gostava de trabalhar para crianças, amava fazer humor com eles, as produções eram de excelente nível, a equipe com os melhores profissionais do mercado e o clima de trabalho sempre muito familiar e divertido. Tenho Renato, Dedé, Zacarias e Mussum como grandes amigos. Tenho muita honra e orgulho de ter participado dos filmes deles.

Qual era o diferencial de Renato, Dedé e Mussum?
Renato Aragão é um grande artista e sempre soube ser um grande empresário. Reuniu um grupo excelente de humoristas brasileiros e desenvolveu um trabalho que agradava a todas as idades. Crianças e adultos assistiam Os Trapalhões em casa e no cinema, ele filmava para as férias de julho e de dezembro. Via o cinema com os olhos de cineasta, sabia que filme queria fazer. Teve uma das melhores produtoras de Cinema do Brasil, a R. A. e mantinha sempre excelentes profissionais nos seus trabalhos. Ajudou muito a indústria cinematográfica brasileira a desenvolver-se, mantendo-se sempre muito bem atualizado tecnicamente em excelentes produções. Desenvolveu com Os Trapalhões uma linguagem própria na televisão e no cinema, misturando um humor chapliniano a um trabalho único de cartoon do Zacarias, trazendo o urbano brasileiro com Dedé e a malandragem e ritmo do Mussum. Nenhum grupo de humor foi tão longe por tanto tempo.

No filme Os Trapalhões e a Árvore da Juventude, Os Trapalhões são guardas ambientais que tentam preservar a floresta amazônica da devastação. Em toda a filmografia de Renato há essa preocupação com o meio ambiente. Nesse filme, ela é ainda mais explícita. Ele mencionava essa preocupação para vocês?
Ele sempre participou do roteiro, escolhendo os temas e a abordagem. Sabíamos que ele aprovava tudo e todos; mas no set de filmagem ele se entregava totalmente ao humor, sendo muitas vezes indisciplinado como uma criança feliz e fazendo todos se lembrar que estávamos ali para fazer um lindo trabalho de humor. Ele sempre brincou com a fantasia e a realidade, misturando tudo e aproveitando para mandar seus recados. A ecologia era um deles.

Onde essa produção foi filmada?
No Rio de Janeiro e em Manaus, no Rio Negro.

Os filmes dos Trapalhões eram bem recebidos pelo público, mas poucos foram premiados. Nesse caso, em particular, vocês foram premiados no III Festival de Cine Infantil de Ciudad Guayana (Venezuela), em 1993. Qual foi a repercussão entre vocês dessa premiação?
Premiação é algo sempre muito político, mas também é o reconhecimento do trabalho. Foi muito bem-vinda e deixou todos felizes.

Esse foi o último filme dos Trapalhões com o trio remanescente, após a morte de Zacarias. Foi também o último filme de Mussum, falecido em 1994. Gostaria de saber se havia, nas filmagens, uma tristeza entre os integrantes (Renato, Dedé e Mussum) com a ainda recente morte de Zacarias.
Estávamos no Rio Negro, filmando uma sequência de ação; e reparei que uma borboleta estava há algum tempo entre nós na margem do rio. O Renato chegou, e essa borboleta pousou nele. Comentei com o Renato que ele tinha sido o único escolhido por ela. Ele me disse na hora: “É o Zacarias que está cuidando da gente. Vai trazer sorte.” Tive que segurar as lágrimas e admitir que pensava o mesmo. Zacarias era uma pessoa muito doce e espiritualizada.

Quais as lembranças que você possui do Mussum?
As mais alegres e divertidas. Mussum era uma pessoa muito querida, mas muito engraçada e nada escapava ao humor dele. Em O Mistério de Robin Hood, ele trabalhava no circo e limpava a jaula dos elefantes. Na hora de filmar, Mussum resolveu chamar a elefanta de Auroris; e a elefanta fazia a maior bagunça com ele e jogava com a tromba tudo em cima dele, inclusive água. Eu tive que me controlar para não rir em cena e estragar tudo. Toda a equipe se segurou e riu junto, assim que Alvarenga gritou “corta!” Ri muito e fiquei lisonjeada com a homenagem.

Que representou para você trabalhar no filme em que foi usado pela última vez o termo Trapalhões no título?
Foi o apagar das luzes da produção nacional. O presidente Fernando Collor havia acabado com a Embrafilme, e a produção de filmes ficou totalmente parada por alguns anos. Esse foi o último filme desse período e também dos Trapalhões. Hoje, vejo nessa coincidência uma parada brusca na produtividade cultural. Pessoalmente, foi o término da minha carreira no cinema; depois, migrei para a tevê, onde estou até hoje.

Renato Aragão, Dedé e Mussum tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
Sim, muito descontraídas. Nunca houve briga ou clima pesado. Ao contrário, a brincadeira imperava. Renato sempre escondia a claquete ou o microfone para na hora de rodar quebrar a tensão e fazer a equipe rir. Também provocava erros no final das cenas, para gerar uma nova piada ou brincadeira entre o elenco. Impossível contracenar com ele sem rir.

Havia muita improvisação?
Sim, ele provocava para ter cenas engraçadas com “erros”. Uma espécie de “falha nossa”.

Quais as recordações que possui do filme?
Navegar no Rio Negro por dias foi uma das melhores experiências. Na época, Manaus ainda era Zona Franca; e o consumo era uma das atrações. Walter Carvalho fez uma luz linda, e toda a equipe se uniu muito com a viagem. Foi muito prazeroso.

Quais as lembranças da direção do cineasta José Alvarenga Júnior, nessa produção?
Sempre me diverti trabalhando com o Alvarenga, ele ri baixinho durante a filmagem. Tem sempre objetividade, facilitando o fluir do humor. Nossos ensaios eram sempre democráticos, e somente quando todos estavam prontos ele rodava. Gosto muito de trabalhar com ele.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Os Trapalhões sempre tiveram apelo comercial; e, apesar de as produções buscarem técnicas novas, os filmes buscavam diversão para todas as idades e não críticas sociais ou propostas estéticas ousadas. Eram feitos para crianças de todas as idades.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Um produto de humor 100% nacional! Feito para todas as idades.

Gostaria que contasse alguma curiosidade desse filme, em especial do seu trabalho.
Tudo que posso me lembrar termina com uma boa gargalhada. Até mesmo quando tudo parecia poder gerar um problema, terminava com bom humor. Muita vezes precisei dar conta sozinha de duas ou três câmeras rodando simultaneamente. Mas, sempre que a situação me deixava tensa, Renato ou Mussum me faziam rir. Ganhei muita velocidade com esses filmes, mas ganhei também grandes amigos e muitas risadas.

Os Trapalhões: Andréa Faria


ANDRÉA FARIA
Atriz, paquita da Xuxa


Você trabalhou com Os Trapalhões no filme Os Trapalhões e a Árvore da Juventude. Como e por quem recebeu o convite para trabalhar com eles? Como foi a experiência?
Já trabalhava com eles na televisão. Foi meio que automático o Renato me convidar. Na realidade, teria sido o segundo filme, pois tinha sido convidada também para fazer Os Trapalhões na Terra dos Monstros. Então, ainda era paquita; e por alguns outros motivos não fiz.

Que representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Realizei um sonho, sem dúvida. O sucesso era uma consequência do histórico programa dos Trapalhões.

No filme, Os Trapalhões são guardas ambientais que tentam preservar a floresta amazônica da devastação. Em toda a filmografia de Renato há essa preocupação com o meio ambiente. Nesse filme, ela é ainda mais explícita. Ele mencionava essa preocupação para vocês?
Era e é uma realidade, sim; ele mencionava e muito.

Onde essa produção foi filmada?
Foi no estúdio da Cinédia, na Floresta da Tijuca e em Manaus.

Os filmes dos Trapalhões eram bem recebidos pelo público, mas poucos foram premiados. Nesse caso, em particular, vocês foram premiados no III Festival de Cine Infantil de Ciudad Guayana (Venezuela), em 1993. Qual foi a repercussão entre vocês dessa premiação?
Rapaz, nem sabia!! Estou sabendo por você!!! Que bom!

Esse foi o último filme dos Trapalhões com o trio remanescente, após a morte de Zacarias. Foi também o último filme de Mussum, falecido em 1994. Gostaria de saber se havia, nas filmagens, uma tristeza entre os integrantes (Renato, Dedé e Mussum) com a ainda recente morte de Zacarias.
Na realidade, no programa de televisão a morte dele foi sentida mais, porque o Zacarias se foi e o programa continuou, até que entrou Jorge Lafond, Tião Macalé e Conrado como personagens fixos e eu fazendo várias participações. Gravava- se toda semana. E Conrado, que participou do último filme do Zacarias, diz que já sentia ele debilitado...

Que representou para você trabalhar no filme em que foi usado pela última vez o termo Trapalhões no título?
Com certeza, é um grande orgulho ter esse trabalho no meu currículo.

Renato Aragão, Dedé e Mussum tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
Procede. Era tudo muito divertido... Mussum era sem igual, e Renato Aragão sempre foi o “armador” de todas as brincadeiras!! Era muito bom!!

Havia muita improvisação?
Nós decorávamos o texto por obrigação; mas tinha que ficar ligado, porque havia mais improvisação do que o próprio texto... se você não estivesse na mesma sintonia, dançava.

Quais as recordações que possui do filme?
Uma das coisas interessantes do filme é que ficávamos em trailers, era bem que um acampamento mesmo. Tinha bastante ensaio, para não errar, pois película é cara. Tínhamos de acertar de primeira. Em dois meses estava tudo filmado.

Quais as lembranças da direção do cineasta José Alvarenga Júnior, nessa produção?
Alvarenga é um grande diretor. Amei poder trabalhar com ele e fico orgulhosa de ter ganho muitos elogios...

Tião Macalé era considerado o quinto Trapalhão. Quais as lembranças dele?
Tião era muito simples, sempre muito carinhoso comigo. Tive boas cenas com ele... e não podia comentar do Flamengo, que ele ficava xingando todo mundo.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Normalmente, humor e infantil brasileiros geram preconceito... Mas quem comanda mesmo é o público; e, para mim, isso é o que vale.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Olhar, gestos, atitudes totalmente infantis. O clássico besteirol dos Três Patetas!

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato que tenha presenciado como testemunha ocular.
Tudo para mim era encantador... Estava fazendo meu primeiro filme, com Os Trapalhões e com meu futuro marido junto. Já conhecia a Cristiana Oliveira (Krika) há tempo e também tive o prazer de conhecer a Glenda Kozlowski. Afinal, tenho isso no meu currículo!!!

Os Trapalhões: Arlindo Silva


“Dos 500 capítulos de Chaves foram aproveitados 400, que demoraram quase três anos para serem dublados, sonorizados e editados.  Quando tudo ficou pronto, Silvio (Santos) me perguntou o que eu estava achando do seriado. Respondi que se tratava de um produto barato, sem qualidades em termos de televisão atual, que pecava pela iluminação, pecava nas cores, sempre muito fortes; enfim, percebia-se que o cenário simples da vila era de papelão. Mas comentei que preferia ver minha filha de quatro anos assistindo a esse humor puro, de circo, como o que eu assistia no Piolim, ao humor que víamos nos Trapalhões, impregnado de erotismo desnecessário. Contei a Silvio que enviara cópias de alguns capítulos aos diretores de programas do SBT para opinarem, e todos tinham considerado o seriado uma droga, uma porcaria. Foi aí que Silvio determinou que se preparasse cinco capítulos para colocar no ar como experiência. Isso aconteceu em 1984”.

Página 112. Trecho do livro “A Fantástica História de Silvio Santos” (Arlindo Silva, Editora do Brasil).

Os Trapalhões: Alfredo Sternheim


RENATO ARAGÃO: 80 ANOS
Há décadas que o ator continua dono de um carisma e um vigor criativo raros de se ver por muito tempo entre os comediantes

POR: ALFREDO STERNHEIM  /  16/01/2015 /  Revista da Cultura

Se o cearense Antonio Renato Aragão tivesse feito carreira fora do Brasil, o seu nome seria mais louvado, principalmente pela crítica. Mas esta, entre nós, há anos que geralmente demonstra certa ojeriza com a comédia e com os comediantes. Lembro que, ao reverenciar o talento de humorista e diretor de Jerry Lewis em crítica no jornal O Estado de S.Paulo quando do lançamento de O professor aloprado no final de 1963, quase fui linchado por colegas e intelectuais. Depois, já festejado pela consagrada revista francesa Cahiers Du Cinéma, o tratamento ao gênio americano aqui passou a ser outro. Quanto à rejeição aos nossos talentos na área do riso, ela existe e acho que já existia nos anos de 1930 em relação a Genésio Arruda, ator de alguns dos primeiros filmes sonoros nacionais. Na época da Atlântida, por volta de 1950, às produções com Oscarito e Grande Otelo também costumavam ser execradas sob o rótulo de chanchadas. Esse desprezo prosseguiu com as realizações protagonizadas por Mazzaropi. Em todos os casos, o Tempo acabou falando mais alto e a visão a respeito passou a ser positiva. Em especial com aqueles que já estão mortos: agora são cult.

Não é o caso de Renato Aragão. Ele chegou aos 80 anos no último dia 13 de janeiro fazendo o que mais gosta: atuar. Os festejos começaram no palco de um teatro onde trabalha ao lado da filha Livian. Já na mídia, houve menos destaque para um aniversário que precisava ser realçado; afinal, não é sempre que um comediante chega a essa idade oferecendo inalterável o carisma que o torna ídolo há mais de quatro décadas. Até no exterior, é difícil encontrar na comédia, atores como ele, com muita exposição na TV e no cinema, que conseguem ser criativos e aplaudidos por muitos e muitos anos seguidos.  O desgaste chegou para gente como Jerry Lewis, Jacques Tati e outros mestres do gênero.

Em vez de loas, nesta fase de questionamentos sobre o que é politicamente incorreto no humor, Aragão se viu em polêmica após certas afirmações suas sobre as piadas que fez, durante muito tempo, citando gays e negros. Sempre com a companhia do negro Mussum e do delicado ou desmunhecado Zacarias, seus companheiros junto com Dedé no grupo Os Trapalhões. O quase linchamento do ator só não prosperou porque ocorreu a tragédia com a revista Charlie Hebdo em Paris. Em defesa da liberdade de expressão e contra o terrorismo, muitos vestiram a camiseta com os dizeres Je Suis Charly. Não faria sentido insistir na condenação de Aragão que, junto ou não com o seu grupo, apresentou um humor criado em cima de protótipos, de características físicas. As situações em um contexto até delicado jamais acirravam o preconceito, o desprezo. Caso se considere ofensivas essas piadas, temos também que fazer barreiras contra aquelas que utilizam os portugueses, as loiras, os judeus e os muçulmanos.

Independente de se gostar ou não de Aragão, ele tem no cinema nacional uma grande importância. Mesmo com uma exposição contínua na televisão, vários dos mais de 50 filmes que protagonizou desde 1966 se incluem entre os vinte campeões de bilheteria da produção brasileira em todos os tempos. Em uma lista publicada em 2011, lá estavam (pela ordem) O trapalhão nas minas do rei Salomão (1978), Os saltimbancos trapalhões (uma obra prima lançada em 1981), o moderno Os trapalhões na guerra dos planetas (1978), Os Trapalhões na Serra Pelada (1982), O cinderelo trapalhão (1979),O casamento dos trapalhões (1988), Os vagabundos trapalhões (1982), O trapalhão no planeta dos macacos (1976) eSimbad, o marujo trapalhão (1976). 

Está certo, quase todos são com o quarteto dos Trapalhões. Mas, mesmo depois que, gradativamente, o grupo foi se desfazendo após as mortes de Zacarias e Mussum, os longas com Renato continuam atraentes para o grande público. E o ator-produtor, na sua intenção de parodiar, seguiu pegando carona nos êxitos internacionais e se preocupando com as encenações e com a escolha dos diretores. É verdade que, nesse sentido, foi mais feliz nos anos de 1970, quando se apoiou no talento de cineastas como J.B.Tanko e Adriano Stuart, artesões criativos e nada afeitos ao brilho fácil. Porém, acumulando a criação e outras tarefas, ele não deixou de respeitar o público no esmero das encenações e continuou com a graça e a simpatia que o transformaram em um legítimo ícone da nossa comédia, do nosso cinema. Por isso, parabéns pelos 80 anos.  Mais do nunca, je suis Renato.