sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Os Trapalhões: Edson Lopes


Edson Lopes
Produtor executivo do musical


Como surgiu a ideia de levar para o palco Os Saltimbancos Trapalhões – O Musical?
Surgiu em um jantar com amigos em comum que nos apresentaram o Renato Aragão, de quem sempre fomos fãs. Logo veio a ideia de comemorar os oitenta anos do Renato com a sua estreia em teatro. Tudo correu rápido, e tivemos um encontro muito bonito e surpreendente.

Os Saltimbancos Trapalhões é o único filme do quarteto que podemos considerar um musical no sentido stricto sensu da palavra. Isso, de certa forma, facilitou o trabalho?
O formato do musical é bem diferente do filme. A história é outra, criamos uma série de personagens novos e tramas paralelas, todos os números são bem diferentes. No filme, os números aparecem como videoclipes e têm toda essa estética audiovisual da época. No musical, o desafio foi tornar os números como parte da peça, fazendo com que o roteiro e as histórias avançassem.

Antes de produzir o espetáculo, você assistia e acompanhava no cinema os filmes que Os Trapalhões produziam?
Com certeza. São filmes que fazem parte do inconsciente coletivo brasileiro.

Renato Aragão e Dedé Santana deixaram sua equipe livre para criar ou participaram da elaboração de todo o processo de produção do musical?
Tivemos total liberdade na criação, carta branca mesmo.

Quais são os grandes desafios de ter no elenco de uma produção desse porte atores notoriamente não-teatrias e musicais como Renato Aragão e Dedé Santana?
Renato e Dedé são dois de nossos grandes atores, entendem tudo do riscado e sabem ter uma plateia nas mãos como ninguém. Desde os primeiros ensaios, eles se jogaram completamente no processo. Tivemos um resultado espetacular.

Renato Aragão ficou surpreendido com a grandiosidade do espetáculo. Foi dito por ele o quão surpreso e encantado ficou. E Dedé Santana? Que ele comentou contigo?
O tamanho da produção impressiona mesmo, com dezenas de atores, técnicos, equipe criativa, produção, divulgação. O Rogério Falcão (cenógrafo) foi muito feliz e criou um cenário que também impressionava, assim como os figurinos da Luciana Buarque. O Dedé veio de circo, tinha um circo familiar. Encontrar aquele circo armado no palco da Cidade das Artes foi, sem dúvida, um momento de muita emoção.

Muitos fãs questionaram a não participação da atriz Lucinha Lins no musical. Além de ter participado do filme, ela possui experiência com canto e musicais. Que de fato ocorreu?
Lucinha é uma de nossas grandes atrizes e cantoras. É uma amiga antiga da dupla Möeller & Botelho. Fizemos juntos uma temporada inesquecível da Ópera do Malandro, em que ela arrasava como Vitória. Depois, criamos uma personagem para ela em Um Dia de Sol em Shangrilá. Em Os Saltimbancos Trapalhões – O Musical, a personagem Karina (interpretada pela Giselle Prattes) é uma grande homenagem à Lucinha e a tudo o que ela representou para uma geração inteira. Tivemos a honra de ter a Lucinha na estreia, que ficou muito emocionada e aprovou o trabalho da Giselle.

Roberto Guilherme (Sargento Pincel) é um profissional com participação ativa, mais na televisão do que nos filmes dos Trapalhões. São raríssimas as entrevistas que ele concede. Você conviveu com ele, durante todo esse processo. Gostaria que falasse da participação dele no espetáculo e falasse como Roberto é no dia a dia.
Ao contrário do Sargento Pincel, Roberto é figura doce e que adora trabalhar. Ator disciplinado, pontual, que gosta de chegar cedo, colocar o figurino e repassar as suas cenas. Todos os dias, ele fica escondido na coxia para assistir às cenas em que não está.

Renato Aragão disse em entrevista que, se vivo estivessem, Zacarias e Mussum também estariam no musical. Duas perguntas: imagina como seria o impacto do quarteto todo no palco? Haveria também, se vivo estivesse, um espaço para o Tião Macalé?
Seria, certamente, muito emocionante. O espetáculo os homenageia, e não tem um dia em que eles não sejam lembrados por todos que estão ali. Tião Macalé poderia estar também presente, com certeza.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Não são todos os críticos e nem todos os intelectuais, não podemos generalizar. De qualquer forma, existe – em todos os campos da arte – esse eterno preconceito contra os artistas populares. Fazer sucesso e vender ingresso ainda gera a desconfiança de muitos.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Um cinema popular e genuíno e muito benfeito, que se comunicava com todas as faixas etárias e sociais.

Você fez uma pesquisa para descobrir se o perfil do público que ia assistir a Os Saltimbancos Trapalhões – O Musical era prioritariamente de fãs saudosos dos Trapalhões, fãs de musicais ou uma mistura dos dois?
Tivemos uma plateia bem diversificada. O mais bonito foi ver os fãs antigos de Os Trapalhões levando seus filhos e netos. Os mais novos não conheciam Renato e Dedé e saíam de lá encantados. A reação das crianças, durante o musical, era incrível.

O que projetou antes da pesquisa para a produção do musical, suas expectativas em relação a este trabalho foram alcançadas?
Sem nenhuma dúvida, todas as expectativas foram alcançadas, conseguimos montar um espetáculo que emocionou e conquistou o público carioca, um grande sucesso!

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular, durante todo esse processo de construção e/ou realização do espetáculo.
Eu gostaria de ressaltar a generosidade do Renato Aragão. Poderia falar não apenas de uma, mas de diversas ocasiões em que me emocionei com suas atitudes, principalmente com o carinho e respeito que ele tem pelo público. Todos os dias, dezenas de pessoas aguardavam para falar, tirar uma simples foto, crianças e adultos todos misturados; e ele, mesmo cansado, atendia a todos e só depois entrava no carro para ir embora. Às vezes, ele chegava para trabalhar com uma camisa polo que tinha bordado no peito um Didi em caricatura. Eu achava aquilo o máximo: ver o Renato, aos oitenta anos, todo arrumado e com aquela camisa super descontraída. Era uma delícia. Um belo dia, eu não resisti e falei: “Renato, essa sua camisa é o máximo.”. No dia seguinte, eu tinha compromisso e não iria ao teatro; mas recebi uma ligação da minha assistente dizendo: “Seu Renato quer falar com o senhor, já o procurou duas vezes...” É claro que mudei tudo e fui para o teatro. Cheguei no intervalo do segundo ato e segui direto para o camarim. Quando entrei, ele estava com duas camisas na mão e me disse: “Para você, com todo meu carinho.” Naquele momento, eu lembrei-me de toda a minha infância e meus olhos encheram-se de lágrimas. Não resisti e chorei... São apenas camisas, mas as ganhei do Renato, de quem sempre fui fã. Ele é uma pessoa fantástica que consegue surpreender a todos a todo momento. Sua alegria é algo contagiante e inesquecível.