domingo, 22 de outubro de 2017

domingo, 1 de outubro de 2017

Rafael Spaca


Concedi uma longa entrevista para a Revista MÚLTIPLO, onde conto parte da minha trajetória profissional.

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Os Trapalhões: Fatimarlei Lunardelli


Fatimarlei Lunardelli
Autora da pesquisa acadêmica Ô psit! O Cinema Popular dos Trapalhões


Por que os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Acho que existe preconceito em relação à cultura de massa e popular. A Academia e os críticos não se indentificam com esse tipo de filme. Por isso, a rejeição.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
De que perspectiva? Eu acho os filmes ótimos.

Qual o legado histórico que o cinema dos Trapalhões deixou para o país?
Legado histórico”? Não entendo a questão. Eles fazem parte da história do cinema brasileiro como uma das produtoras (R. A. Produções) mais bem-sucedidas de nossa história cultural.

Podemos considerar Renato Aragão um dos maiores e melhores produtores de cinema do país?
Sim.

Os Trapalhões sempre “brincaram” em parodiar filmes e clássicos estrangeiros de sucesso para o cinema. Que pensa a respeito dessa linha que eles seguiram?
A citação é um recurso tanto da arte pós-moderna quanto da arte popular e não é nova. No caso do cinema, é muito comum. Basta pensar na filmografia de Pedro Almodóvar. É um recurso estético e de comunicação ou até homenagem.

Quais foram os melhores momentos dos Trapalhões no cinema? Os melhores filmes?
Gosto de muitos filmes dos Trapalhões e isso é totalmente pessoal: Os Trapalhões o Mágico de Oróz, Os Saltimbamcos Trapalhões, O Cangaceiro Trapalhão, Os Mosquiteiros Trapalhões etc.

Quais foram os piores momentos dos Trapalhões no cinema? Os piores filmes?
Não sei... Piores filmes em termos de bilheteria? Verifique no meu livro as bilheterias de todos os filmes.

Os Trapalhões sempre se utilizaram de alguns recursos para angariar plateia que ia além do carisma do grupo, como atores famosos, grupos musicais famosos (Dominó, Trem da Alegria etc.) e artistas com forte apelo popular (Xuxa, Gugu etc.). Que acha dessa estratégia?
Eficiente.

Sua dissertação de Mestrado na USP, um estudo sobre o cinema dos Trapalhões, foi publicada em 1996 com o título de Ô Psit! O Cnema Popular dos Trapalhões. Quais as dificuldades que encontrou para realizar essa pesquisa? Que a motivou a fazê-la?
A motivação foi a percepção de que eles faziam um cinema popular e bem-sucedido como produto de mercado, mas sofriam o preconceito da crítica. Considerei importante investigar o que havia nesse cinema que fazia tanto sucesso de público, com um olhar científico, dentro de uma perspectiva acadêmica. Não tive dificuldades. Meu projeto foi muito bem acolhido na USP, pela profa. dra. Marília da Silva Franco, que compartilha comigo de uma visão positiva da cultura popular. A R. A. Produções disponibilizou, na época, a coleção completa de filmes em VHS para que eu pudesse assistir a filmografia completa.

Acredita que, pela importância que o quarteto possui no cinema, há pouca bibliografia a respeito deles?
Com certeza. Os Trapalhões têm uma grande importância para o cinema e a cultura brasileira; e o meu estudo, infelizmente, permanece como uma das raras pesquisas a se dedicar ao assunto.

Os Trapalhões: Fafy Siqueira


Fafy Siqueira
Atriz


Você atuou no filme Uma Escola Atrapalhada. Como e por quem recebeu o convite para atuar nesse filme? Como foi a experiência?
O convite partiu dos próprios Trapalhões. Eles eram meus amiguinhos. Na época, eu era caçula. Sou da geração seguinte à da Nair Bello. Consegui mostrar que sabia fazer humor. Os quatro deram muita força, principalmente o Renato. Eles gostavam, quando imitava o Golias. A TV Globo não gosta de colocar pessoas que não sejam da TV Globo, para ficar falando, promovendo; mas o Renato permitia isso no programa dele.

Que representava, naquele período, protagonizar um filme com Os Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Foi uma verdadeira faculdade. No cinema só trabalhei com Xuxa e Os Trapalhões. Chegava cedo, prestava atenção no Renato. Eu estava muito feliz de estar no set, senti-me no primeiro ano de faculdade. A única coisa chata no cinema é que se espera muito para entrar em cena.

Quais as suas lembranças do filme Uma Escola Atrapalhada? Onde esse filme foi filmado?
Foi filmado no Colégio São José, na Tijuca. Sou de lá, conheço bem. Colégio muito chique, católico, rico, limpo, animado. O Selton Mello atuou nesse filme, a gente já percebia que ele iria longe. Tinha visitas interessantes, a Cristiana Oliveira visitava a gente. Ela estava namorando o Rafael Ilha. Era uma festa. Direção cênica de arte muito bonita, o jardim do colégio era lindo, e a produção chegava até a colocar mais flores. Tem gente que vai, até hoje, ao teatro me ver só por causa desse filme.

Quais as lembranças de bastidores do filme? Como foi o seu contato com o quarteto?
A gente se visitava. Eles passavam nos estúdios da Escolinha do Professor Raimundo. Com Renato, era o que eu mais gostava de conversar. Ele me dava dicas, indicava filmes. Foi ele quem me falou do filme Assim Era a Atlântida.

O filme foi o último com a participação de Zacarias, que faleceu naquele ano. A aparição dele no filme é melancólica, muito magro, abatido, numa cena curta. Como foi o seu contato com ele? Ele já estava doente?
Ele estava ótimo. Ele estava doente, mas não passava isso. Fazia quarenta graus, durante as filmagens.

Como Didi, Dedé e Mussum compartilharam esse momento com o Zacarias?
Uma coisa normal. Ninguém ficava falando “coitadinho”. Hoje em dia, quem tem câncer é um evento. Mas, naquela época, ninguém ficava falando; a mídia não estava nem aí.

Quem era o maior comediante do grupo?
Não dá para fazer saber isso, é igual aos Beatles.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Ele é centralizador. Nessa parte burocrática, eu me identifico com ele. Ele lançava pessoas, deu ajuda para todos. Ele tem esse dom de produção, do fazer, da resolução.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Preconceito.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Diversão de primeira qualidade.

Gostaria que falasse alguma curiosidade desse filme.
A paixão maior que o Renato tinha por mim era por causa do Ronald Golias. O Golias era o maior ídolo do Renato, ele pedia para imitar o Golias. Às vezes era oito horas. Eu falava para ele: “Agora, não dá.” E ele dizia, dando risada: “Tudo bem.” Outra lembrança é que a produção pedia para ficarmos numa barraca, esperando a cena, com o sol rachando a cabeça. O Mussum ficava molhado de suor, parecia uma cachoeira.

Os Trapalhões: Fábio Villa Verde


Fábio Villa Verde
Ator


Quais as suas lembranças do filme Os Vagabundos Trapalhões?
Esse foi meu primeiro filme e já de cara com um dos maiores fenômenos da nossa história: Renato Aragão. Vale a lembrança que naquela época o cinema nacional era praticamente “nulo”, enquanto o Renato produzia dois filmes por ano.

Como surgiu o convite para trabalhar com o quarteto?
Fui escolhido através de testes e fiquei muito feliz e honrado em fazer parte do elenco do filme. Trabalhei com o Renato, e ele sempre foi muito carinhoso e atencioso comigo. O filme abordava, já naquela época, a temática do menor abandonado e sua preocupação com a adoção das crianças carentes

Como foi a sua participação no filme?
Fiz um menino de família rica, mas que, “empobrecida de amor”, acaba por fazer com que o menor fugisse para às ruas em busca de amor e atenção. O nome do personagem era Pedrinho, ele era fã de super-heróis e, sonhando em conhecer seu ídolo, o Super-Homem, acaba indo morar nas ruas. Então, conhece o Bonga (Renato) e seus amigos. Todos vagabundos, mas com um coração rico em amor, que era tudo que o Pedrinho buscava.

Os Vagabundos Trapalhões está inserido em um momento de preocupação com temáticas sociais do grupo. Isso ficou explícito, durante as filmagens?
O Renato sempre teve uma preocupação muito grande com a crianças e os menos favorecidos. Isso é o que vivenciei nos filmes dele. Todas as estreias eram destinadas às entidades e às crianças carentes de atenção. Algo que ele o faz até hoje, vide o Criança Esperança.

Renato Aragão retoma seu personagem Bonga, de Bonga, O Vagabundo (1969), agora acompanhado dos três Trapalhões, para narrar a história de um grupo de vagabundos (esse termo está associado à pobreza principalmente) que acolhe crianças abandonadas e que as direciona para famílias ricas. Recorda-se da repercussão do filme?
A lembrança que tenho é que o filme foi uma das maiores bilheterias da época, um grande sucesso.

A grande bilheteria desse filme confirma o grande potencial de comunicação com o público (através do humor e do auxílio do poder televisivo), até mesmo no tratamento de questões nacionais mais delicadas. É uma participação efetiva do quarteto num projeto de cinema que vai além da mera diversão e da atualização do cinema hegemônico. Na sua análise, qual é a importância histórica que Os Trapalhões possuem no nosso cinema?
Sem dúvida, o Renato Aragão é um dos nomes mais importantes da nossa história cinematográfica.

Quais as lembranças de bastidores do filme?
Clima de diversão com profissionalismo. Foi muito importante fazer parte dessa fase do nosso cinema e poder trabalhar com o Renato.

Que tem a falar do quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Todos eram muito amáveis comigo. Adorava o Mauro (Zacarias), o Mussum contador de piadas. O Dedé era mais sério; mas, ainda assim, um amor de pessoa. O Renato era muito carinhoso e atencioso, preocupava-se, em todos os detalhes, com meu bem-estar no set.

Onde esse filme foi filmado?
No Rio de Janeiro, Teresópolis.

Quem era o maior comediante do grupo?
O potencial de todos era enorme, e a química dos quatro funcionava que era uma maravilha.

Quem era o maior ator do grupo?
Acho que os quatro desempenhavam cada um o seu papel determinado para o sucesso do quarteto.

Você trabalhou com o quarteto em outras oportunidades. Renato Aragão sempre gostou de criar vínculo com determinados profissionais. Com você, não foi diferente. Conte como isso aconteceu.
Sou muito agradecido e tenho um carinho muito grande por ter tido a honra de contar com a confiança do Renato no meu trabalho. Agradeço a Deus cada passo na minha carreira.

Gostaria que falasse do cineasta J. B. Tanko, que dirigiu grandes clássicos do quarteto.
O J. B. Tanko representou um papel de grande importância no cenário cinematográfico nacional, sendo um dos maiores diretores dos filmes do Renato. Ele trabalhou na Cinelândia Filmes, na Atlântida e com o Herbert Richers. Com o Renato, foram mais de onze filmes.

Renato Aragão disse que O Trapalhão na Arca de Noé foi inspirado em Os Caçadores  da Arca Perdida, de Steven Spielberg. Procede essa informação?
Se ele mesmo disse isso, é claro que concordo.

O filme foi feito durante a separação dos Trapalhões, que durou apenas seis meses. Dedé Santana, Mussum e Zacarias fizeram, então, o filme Atrapalhando a Suate. Houve competição entre os dois filmes nos cinemas?
Nessa época foi muito interessante, pois a divisão do grupo, dividiu também a minha família. Enquanto eu filmava com o Renato, o meu irmão, Duda Villa Verde, fez o filme com os outros três. Participamos desse momento e torcemos muito para o retorno do grupo, para que todos ficassem bem, o que de fato acabou acontecendo meses depois. Nas bilheterias, o filme do Renato teve um retorno maior; mas é importante ressaltar que as duas produções foram bem-sucedidas.

Conte sobre o seu trabalho nesse filme.
Foi um filme lindo, ligado também às questões ecológicas. Isso no início dos anos 1980. Veja como o Renato sempre esteve à frente do seu tempo! Experiência maravilhosa!!!

Devido à separação do quarteto, não temeu ser retaliado por algum grupo por aderir a um lado nessa questão?
Eu era muito criança para lidar com esses detalhes, mas a lembrança que tenho até hoje é a de que sempre fui muito respeitado e amado por todos.

Fruto de um breve divórcio na carreira dos Trapalhões, esse filme marca o único esforço individual de Renato Aragão, depois da marca dos Trapalhões estar concretizada. No mesmo ano, Dedé, Mussum e Zacarias montaram uma produtora que realizou o filme Atrapalhando a Suate. Como nenhum dos dois filmes atingiu os resultados desejados, menos de um ano depois da briga os quatro já estariam juntos novamente realizando filmes como Os Trapalhões. Esse foi o principal motivo para a volta do quarteto?
Não sei responder essas questões. Não entro nos detalhes, apenas relembro a minha torcida e amor por todos eles.

Os problemas desse Trapalhão na Arca de Noé são muitos. A começar por um enredo que tenta ser didático (sobre a importância da proteção dos animais, bem de acordo com a expansão do pensamento ecológico que marca a década de 1980), mas que é confuso. Qual a sua análise a respeito disso?
Discordo da sua colocação. Não se esqueça de que os filmes são feitos para crianças, e a didática tem que ser direcionada a elas e não aos críticos. Sendo assim, a lembrança que ficou desse filme foi a de um filme preocupado com as questões ecológicas, pesca predatória, matança de jacarés no Pantanal etc. Essas mensagens são atuais e deveriam ter sido levadas mais a sério, mesmo que abordadas de forma lúdica.

Didi parece completamente fora do ambiente. Não há os companheiros de cena com os quais interagir e dar sentido ao personagem. Tenta-se colocar Sérgio Mallandro como um contraponto cômico. Qual é a sua análise a respeito?
Não tenho essa visão tão crítica. A leitura que fica é a de que, ainda sem os outros companheiros, o Renato se cercou de profissionais de grande valor: Gracindo Júnior, Nádia Lippi, Sérgio Mallandro, Dari Reis, Milton Moraes e tantos outros.

Quais as curiosidades desse filme que lhe vêm à memória?
Orgulho em ter feito parte do elenco desse filme, mesmo com a opinião desses críticos e mesmo com possíveis equívocos. Ressalto a capacidade de produção e o carisma do Renato para seguir o “fenômeno” que ele é até os dias de hoje.

Os Trapalhões: Fabio Girão


Fabio Girão
Compositor


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Conheci o Caxa Aragão, filho do Renato, quando ainda éramos adolescentes. Tornamo-nos amigos e fomos crescendo juntos musicalmente. Caxa foi convidado por Silvio Tendler, diretor de O Mundo Mágico dos Trapalhões, para assumir a trilha sonora do filme e estendeu o convite para mim e Papito Melo, em 1991. Considero esse meu primeiro trabalho como músico profissional.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já acompanhava os seus filmes?
Claro, ainda mais tendo todo o convívio familiar como background...

Sua função no organograma dos Trapalhões era mais direcionada às trilhas sonoras. Correto?
Eu não fazia parte do “organograma”. Era contratado por demanda, freelance.

Você compôs (com Caxa Aragão e Papito Melo) a trilha sonora do filme O Mundo Mágico dos Trapalhões. Fale a respeito desse trabalho.
Foi meu primeiro trabalho oficial como músico profissional, um laboratório para o que viria pela frente. Assistimos o copião do filme algumas vezes, para entender as “cenas-alvo” e respectivas minutagens e partimos para o processo de composição. Com as músicas compostas, convocamos alguns músicos e fomos para o estúdio gravá-las. Com as masters prontas, Sílvio Tendler, o diretor, montou a trilha sonora no filme. Grande aprendizado!

Você participou também, como instrumentista das trilhas sonoras dos filmes Os Trapalhões no Reino da Fantasia e Os Trapalhões no Rabo do Cometa. Nesses trabalhos você contou com a parceria do renomado músico Lenine. Que tem a falar do desenvolvimento desses dois trabalhos?
Eu e Caxa Aragão já trabalhávamos com Lenine desde 1992. Inclusive, em seus shows. Nessas duas trilhas, participei basicamente como músico executante (baixista), mas sempre me envolvendo com os arranjos das faixas. Em Os Trapalhões no Reino da Fantasia, encontrei as músicas compostas pelo Caxa, Lenine e Lula Queiroga e foi só colocar meu baixo. Em Os Trapalhões no Rabo do Cometa, já trabalhamos juntos como a banda Xarada.

No filme Os Trapalhões no Reino da Fantasia, você foi o baixista da banda paródia de heavy metal Heavy Traps. Mas a banda que você, Lenine, Lula Queiroga e Caxa Aragão tinham era a Xarada. Por que houve a mudança de nome?
Heavy Traps foi o nome colocado na cena filmada. Nós só percebemos isso depois... A banda Xarada foi formada logo depois dessa trilha, basicamente com os músicos que participaram das gravações. Além do Caxa, Duda Aragão, outro filho do Renato, era membro da banda, como baterista.

Gostaria que falasse a respeito do seu trabalho como compositor e instrumentista de algumas músicas da trilha sonora do filme O Trapalhão na Arca de Noé.
Nessa época, nossa banda, que acompanhava Lenine & Lula Queiroga (inclusive na gravação de seu primeiro disco, Baque Solto em 1983), estava trabalhando bastante dentro dos estúdios e a batizamos como banda Grótex. O convite para a trilha foi feito pelo Del Rangel e pelo Paulo Aragão, diretor e produtor executivo do filme. Compomos vários temas, a maioria instrumentais, para as cenas-alvo.

Quais as suas principais recordações de bastidores de trabalhos das trilhas dos Trapalhões?
Fazer O Mundo Mágico dos Trapalhões foi muito emocionante, meu batismo no mundo profissional, cenas e sensações que carrego para sempre. Foi legal também sentir a evolução durante o processo das trilhas seguintes. E a cena da Heavy Trap, junto com os quatro Trapalhões, é absolutamente inesquecível. Foi uma tarde super divertida no Retiro dos Artistas...

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)? Eles chegavam a “palpitar” no seu trabalho como músico?
O meu contato extrapolou o caráter profissional, pois, como falei antes, eu era (e sou) muito amigo do Caxa Aragão e frequentava bastante a casa da família Aragão. O contato com o quarteto foi sempre muito cordial e com muita simplicidade daqueles artistas. Não havia palpites dos mesmos em relação ao meu trabalho como músico. Isso era tarefa mais dos respectivos diretores dos filmes.

Mussum era músico. Ele chegava a frequentar os estúdios onde as trilhas eram produzidas?
Não... nunca tivemos a presença de qualquer Trapalhão, durante as gravações.

Que representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Representava um fantástico início de carreira profissional, bem remunerado e trazendo bastante prestígio. Confesso que pairava uma sensação geral de orgulho bom no nosso ambiente.

Quem era o maior comediante do grupo?
Não vejo quem possa ser “o maior” comediante... Os quatro se encaixavam perfeitamente, com suas características particulares: o Renato Aragão, o líder-gênio, um pouco mais sério e reservado nos bastidores; Dedé, com uma bagagem extraordinária, fazia o time jogar direito; Mussum, talvez o mais espontâneo e bagunceiro, engraçado o tempo todo; e Zacarias, um artista (com “A” maiúsculo) super talentoso.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Não participei muito das filmagens. Mas a percepção que tenho é que o Renato Aragão tinha tudo absolutamente sob seu controle.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Sempre houve aquela certa rejeição ao popular que dava (muito) certo. Talvez o fato de produzir os filmes independentemente tenha também um certo preço político... Lembro de uma certa virada, quando alguns formadores de opinião, como o Caetano Veloso, passaram a mencionar Os Trapalhões, inclusive em música (isso bem na época de O Mundo Mágico dos Trapalhões). A super bem cuidada produção de Os Saltimbancos Trapalhões, com Chico Buarque envolvido, também serviu como um upgrade.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Brasileiro... popular...

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
O que me vem a cabeça são as inúmeras peladas que joguei com eles, principalmente com o Renato Aragão, um craque de bola... Excelente jogador! Lembro também que Mussum quase quebrou minha perna, obviamente de forma involuntária, ao cair sentado com seu “forevis” em cima de mim... A partida foi interrompida, ficaram todos assustados! Mas, por sorte, foi apenas um susto...

Os Trapalhões: Fabio Camarneiro


Fabio Camarneiro
Crítico de cinema


Por que os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Acho que essa suposta rejeição não existe. Há um belo trabalho de Fatimarlei Lunardelli chamado Ô Psit! O Cinema Popular dos Trapalhões.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Trata-se de uma comédia popular, muitas vezes ingênua, que agrada muito também às crianças. Chaplin, Cantinflas (México) e Totò (Itália) são cômicos que se assemelham ao grupo.

Qual o legado histórico que o cinema dos Trapalhões deixou para o país?
Acho que toda uma geração começou a assistir a filmes brasileiros com Os Trapalhões. De alguma maneira, eles representavam uma cultura popular, que, depois, foi substituída pela cultura de massas. Os filmes de apelo popular passaram a ser a Xuxa etc. A origem dos Trapalhões é a televisão; mas é também o circo, o espetáculo popular em si.

Podemos considerar Renato Aragão um dos maiores e melhores produtores de cinema do país?
É sempre capcioso considerar alguém o “maior” ou o “melhor”. Mas é um ator cômico que teve um grande momento e uma grande comunicação com o público. Não me parece um gênio cinematográfico, mas um ator cômico com ótimos momentos em sua carreira.

Os Trapalhões sempre “brincaram” em parodiar filmes e clássicos estrangeiros de sucesso para o cinema. Que pensa a respeito dessa linha que eles seguiram?
É herança da Chanchada, como podemos ver em Matar ou Correr ou Nem Sansão nem Dalila. Os Trapalhões reatualizam (em chave menos irônica) as ideias das chanchadas, que também fizeram grande sucesso de público nos anos 1940 e 1950.

Ariano Suassuna disse que o filme Os Trapalhões no Auto da Compadecida era a melhor adaptação já feita da sua obra. Esse filme Renato disse que fez para os críticos o aplaudirem. Que acha?
A frase é uma provocação de Renato Aragão, bem como a de Suassuna. Existia (acho que não existe mais) uma divisão entre erudito e popular no cinema brasileiro. Sendo assim, um filme que adapta Suassuna consegue quebrar essa barreira e tornar-se popular e erudito ao mesmo tempo, agradando às “massas pensantes”. Suassuna sempre trabalhou com temas e personagens populares, o que não faz sua obra ser “menor” que a de outros dramaturgos brasileiros (vide seu vocabulário e a elegância de suas tramas). Os Trapalhões, de certa maneira, também partem desse mesmo imaginário popular que, de maneira geral, precisa ser melhor estudado e melhor pensado.

Quais foram os melhores momentos dos Trapalhões no cinema? Os melhores filmes?
Os Saltimbancos Trapalhões é talvez o melhor filme do grupo completo. Existem filmes apenas com Didi, alguns apenas com Didi e Dedé etc.

Quais foram os piores momentos dos Trapalhões no cinema? Os piores filmes?
A Princesa Xuxa e os Trapalhões é talvez um dos pontos mais baixos da cinematografia deles… ou A Filha dos Trapalhões.

Os Trapalhões sempre se utilizaram de alguns recursos para angariar plateia que ia além do carisma do grupo, como atores famosos, grupos musicais famosos (Dominó, Trem da Alegria etc.) e artistas com forte apelo popular (Xuxa, Gugu etc.). Que acha dessa estratégia?
É a velha estratégia de ter um gancho de sucesso para levar as pessoas ao cinema. Até hoje, isso é realizado em todo o mundo. O marketing cinematográfico sobrevive disso. Na época das chanchadas, as pessoas queriam ver os seus ídolos, que só podiam ser ouvidos e pelo rádio. Hoje, com o acesso à tevê e à internet, a curiosidade cai sobre outras coisas que não frequentam esses espaços. Daí, o apelo do sexo, como em Bruna Surfistinha (ver Deborah Secco em cenas que não são vistas na televisão). A estratégia pode ou não funcionar, mas o princípio básico é o mesmo.

Os Trapalhões: Evelise Aragão


Evelise Aragão
Assistente de edição


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
O convite para eu trabalhar com eles surgiu naturalmente, porque eu era de casa. Sou sobrinha do Renato. Eu estava estudando. Queria alguma coisa para ganhar dinheiro, enquanto eu estudava; e meu namorado trabalhava com ele. Trabalhei pouco, mas cresci convivendo com meu tio Renato. Ele é o irmão de meu pai com quem tive mais contato.

Antes de iniciar essa parceria profissional com eles, você já acompanhava os seus filmes?
Meu pai é um dos irmãos mais velhos dele. Foi para o Rio estudar Medicina, muito antes de ele chegar ao Rio. Inclusive, foi meu pai que os acolheu, quando ele chegou com a família ao Rio. Eles alugaram um apartamento na nossa rua, no Flamengo, em 1963. Eu tinha, então, seis anos de idade.

Quais as suas principais recordações dos bastidores de filmagens com Os Trapalhões?
Muita gente bacana, trabalhadora, divertida, uma escola de cinema para muitos.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
Sim, sem dúvida, as filmagens eram descontraídas e sérias ao mesmo tempo. Eu ia pouco ao set, porque trabalhava na montagem; mas o Mussum cuidava para que ninguém parasse de rir.

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Muito frequentemente eu ia nos fins de semana para a casa do meu tio. Eu via o Dedé com frequência. Virou um amigo. O Mussum e o Zacarias, eu encontrava menos, em ocasiões como festas. O Dedé era com um irmão para o meu tio. O Zacarias era o mais sério. Muito formal nas reuniões, educadíssimo, uma pessoa muito agradável.

Que representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Muito interessante. Fazíamos filmagens das filas, nos divertimos muito.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Procede. Chatíssimo, tudo tem que ser visto e revisto.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Elitismo. Eles eram um quarteto inspirado em figuras populares e faziam um gênero tipo pastelão, sem engajamentos políticos. Acho isso positivo. Se os críticos os rejeitam deve ser porque eles não suprem determinada expectativa de engajamento político ou artístico, mas faziam um humor espontâneo e franco. Ganharam os corações das crianças, que cresceram os respeitando e, hoje em dia, você ouve em todos os setores da sociedade: “Trapalhões? Um clássico!

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Cinema para crianças, também apropriado para adultos que ainda têm em si a criança que foi.

Renato Aragão tem como característica o vínculo com pessoas com quem ele gosta de trabalhar. Muitos profissionais o acompanham até hoje, formando uma grande parceria. Ele sempre foi assim?
Sempre. Parecia um grande família: Dedé Santana, Roberto Guilherme e outros trabalharam mais de quarenta anos juntos.

Renato costuma também convidar familiares para trabalhar com ele. No seu caso, como foi o processo?
Eu estava sempre na casa dele. Meu namorado, que trabalhava em cinema e era muito amigo do meu primo mais velho, Paulo Aragão Neto, começou a trabalhar com eles nos filmes; eu fui de quebra. Fiz assistência de montagem; mas, depois, não segui a carreira em cinema.

Acredita que a família contribui de maneira substancial para a composição do trabalho do Renato? Ele considera todas as pessoas envolvidas na produção de um filme como uma família?
Ele é um artista de um circo moderno. Mas, como no circo, onde se vive a arte, respira arte, convive-se com os colegas dia a dia em torno da arte, você acaba misturando família com colegas e vira rápido uma grande família, gente que trabalha junto e se gosta, gente dedicada. A intimidade é grande nesse tipo de trabalho; trabalha-se sem hora para terminar, pela noite adentro. Vira facilmente uma grande família.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
Não sou boa para contar histórias e ficava fechada na montagem, não ia muito ao set. Mas me lembro de algo que achei gozado. Foi quando, no estacionamento da produtora, o Dedé Santana passou por mim e meu marido (naquele tempo meu namorado) com um carro pequeno, esporte, de playboy. O carro estava entulhado de coisas: malas e alguns objetos de mobiliário. Um carro completamente inapropriado para mudanças. Ele tinha brigado com a mulher dele (acho que era a segunda, pelo menos a segunda que eu conheci) e disse para a gente que tinha saído de casa, pego algumas coisas que conseguiu carregar. Disse também que ia morar em outro lugar e que o resto da casa ficava para a mulher dele. Achei engraçado aquela cena de um carro esporte pequeno, moderno, sendo usado como caminhão de mudança. Ele era assim naquele tempo, um saltimbanco, uma graça de pessoa.

Os Trapalhões: Elizângela Vergueiro


Elizângela Vergueiro
Atriz


Como surgiu o convite para trabalhar no programa dos Trapalhões?
Sou contratada do canal. Às vezes, as produções da linha de shows nos convidam para fazer uma participação.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já acompanhava o programa e os seus filmes?
Não tive uma parceria, pois não fazia parte do elenco dos Trapalhões. Era participação como convidada. Mas, claro, era fã, como todo mundo.

Quais as suas principais recordações dos bastidores desse período de trabalho?
Era muito gostoso o clima de trabalho. O grupo era muito divertido.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
Sim, era muito divertido.

Como foi o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Foram e são colegas queridos.

Apesar da parceria que você firmou com o quarteto, nunca surgiu convite ou oportunidade de trabalhar também no cinema com eles?
Não foi uma longa parceria. Foram participações esporádicas. Nunca houve convite para participar dos filmes.

Tião Macalé era considerado o quinto Trapalhão. Quais as lembranças dele?
Nas vezes em que fui convidada, o Tião não partipava do programa. Lembro do Tião em outros programas da casa.

Que representava, naquele período, trabalhar com Os Trapalhões?
Para mim, era bom sair do clima das gravações de novelas, onde tudo é sempre muito corrido. Era dia de recreio. Divertia-me.

Quem era o maior comediante do grupo?
Todos eram maravilhosos.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Não sei. Imagino que sim.

Quais as suas lembranças do quarteto?
Era um grupo genial. Era como “circo na tevê”, alegrando pessoas de todas as idades.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
Eu aceitava participar do programa por ser muito divertido. E o improviso que sempre acontecia era o melhor. Mas não tenho muito o que contar, pois me convidavam para fazer apenas um “quadro”; o programa tinha outro formato.

Os Trapalhões: Eliana Ovalle


Eliana Ovalle
Atriz


Como surgiu o convite para trabalhar no programa dos Trapalhões?
Ao chegar de Paris, conheci, através da estilista Guta Teixeira, a Guta Matos, diretora de elenco da TV Globo. E ela me indicou para atuar na peça Não me Venhas com Indiretas”, no teatro Rival dirigida por Francisco Moreno, diretor presidente do Retiro dos Artistas. Surgiram, então, vários convites. E participei, durante uns quatro anos, dos humorísticos da Globo: Os Trapalhões e Chico Anysio Show.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já acompanhava o programa e os seus filmes?Sinceramente, não. Morava no exterior.

Quais as suas principais recordações dos bastidores desse período de trabalho (quase quatro anos)?
As gravações eram no Teatro Fênix, no Jardim Botânico. Época maravilhosa! Era muito divertido, sem fofocas. Todo mundo era amigo.

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
De camaradagem e muito profissional.

Apesar da longa parceria que você firmou com o quarteto, nunca surgiu convite ou oportunidade de trabalhar também no cinema com eles?
Fiz, sim, uma participação pequena em um filme.

Tião Macalé era considerado o quinto Trapalhão. Quais as lembranças dele?
Gente finíssima!

Quais as suas lembranças de Carlos Kurt?
Não tive muito contato com ele. Mas ele passava muita seriedade profissional.

Que representava, naquele período, trabalhar com Os Trapalhões?
Eu amava trabalhar com eles, pois a visibilidade era boa e era mais que divertido.

Quem era o maior comediante do grupo?
Os quatro. A integração dos quatro era que fazia toda a diferença.

Quais as suas lembranças de:

Renato Aragão
A gente tinha certeza de que ele amava o que fazia.

Dedé Santana
Alguém carismático.

Zacarias
Um fofo!!

Mussum
Muito querido!

Roberto Guilherme
Muito legal.