sábado, 4 de novembro de 2017

Os Trapalhões: Ivo Setta


Ivo Setta
Ator


Você trabalhou em dois filmes dos Trapalhões: Simbad, O Marujo Trapalhão e O Trapalhão no Planalto dos Macacos. Como e por quem recebeu o convite para trabalhar nesses filmes? Como foi a experiência?
Ivan, meu irmão, estava trabalhando em Simbad. Então, falou com o produtor Walter Webb; e eu começei logo, servindo água e café para a equipe. A experiência foi legal, era tudo de bom.

Que representou para você esses trabalhos com Os Trapalhões?
Aprendi muito, devido à exigência do diretor J. B. Tanko.

Simbad, O Marujo Ttrapalhão foi seu primeiro trabalho com Renato e Dedé. Quais as suas recordações desse trabalho?
As melhores possíveis. Foi filmado em um navio.

Simbad foi filmado onde?
Em um navio meio abandonado, em Niterói.

Já havia uma sinalização por parte de Renato e Dedé em ter mais componentes nos trabalhos?
Sim, pois já começavam a aparecer em pontas alguns amigos do dublê de Renato, que faziam cenas de lutas (por exemplo, Ted Boy Marino), dando muita ação ao filme.

Carlos Kurt, ator sempre presente na obra dos Trapalhões, atua nesse filme. Que tem a falar sobre ele?
Era um ator caricato; mas impecável no que fazia.

A produção e o figurino foram de Selma Paiva. Que tem a falar sobre o ela e o seu trabalho nesse filme?
Foi alugado, próximo ao set de filmagem, um apartamento onde as costureiras trabalhavam. Selma fez gol de placa, principalmente nos figurinos do filme O Trapalhão no Planalto dos Macacos.

Planalto dos Macacos foi a estreia de Mussum no cinema. Na sua ótica, como foi o desempenho de Mussum? Parecia nervoso?
Nem um pouco. Mussum ficou à vontade, sempre com seus bordões infalíveis. Contagiava todo mundo.

Antes de trabalhar com Os Trapalhões, você assistia aos filmes deles?
Nunca assisti.

Muitos comentam que os melhores filmes dos Trabalhões foram dirigidos por J. B. Tanko e que, com a chegada da TV Globo, que se associou a eles, se iniciou uma queda significativa no trabalho cinematográfico do grupo. Você concorda com essa opinião?
J. B.Tanko era um mestre, sabia o que queria; a TV Globo, não. Concordo.

Renato Aragão é um profissional que acompanha todo o processo de filmagem. Como era a sua sintonia com ele? Vocês conversaram bastante?
Simplesmente profissional. Não, nunca conversávamos.

Quais as lembranças de bastidores dos filmes?
As melhores possíveis. Tanko mandou construir um tubarão em uma casa no Horto Florestal, perto da TV Globo... Quando, finalmente, o imenso tubarão ficou pronto, tiveram que derrubar o muro para que entrasse no caminhão. Parecia, então, que tudo estava resolvido. O tubarão seguiu para Muriqui, litoral sul, onde seria realizado as filmagens. Depois de horas, colocaram o imenso bichão na água. Adivinhe o que aconteceu? O tubarão afundou.

Quem era o maior comediante do grupo?
Mussum, sem dúvida.

Dedé Santana é sempre subestimado por ser o “escada” do grupo. Comente o trabalho dele.
Dedé já entrou sendo “escada”. Mas era seguro e talentoso.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Por preconceito.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Humor ingênuo e descompromissado.

Gostaria que você falasse algo que nunca falou ou que poucos saibam sobre Os Trapalhões.
Difícil, pois todos sabem tudo. Dedé, de tanto subir escada, acabou caindo feio, pelas mãos de Didi.

Os Trapalhões: Hercília Cardillo


Hercília Cardillo
Edição de som


Como surgiu o primeiro convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Uma minha amiga e também profissional de cinema, Denise Kaner (ex-Fontoura), montadora de Atrapalhando a Suate, chamou-me para editar o som. Logo depois, Hélio Lemos estava editando o som de O Trapalhão na Arca de Noé e precisou de edição de som adicional e indicou-me para o trabalho, que fiz simultaneamente.

Antes de iniciar essa parceria profissional com eles, você já acompanhava os seus filmes?
Um pouco, já que tinha filhos pequenos que gostavam dos Trapalhões.

Em A Filha dos Trapalhões, você trabalhou na edição de som. Naquela fase do cinema nacional não tínhamos ainda a estrutura existente hoje. Como foi para você trabalhar naquelas condições, onde tinha bastante externa?
Na verdade, na condição de editora de som, ou usava o som direto ou dublava alguma fala gravada com fundo muito alto, devido ao trânsito e ruídos normais da cidade. Contávamos com o recém montado estúdio da Rob Filmes, no Leblon, do casal Roberto e Cláudia.

Quais as suas principais recordações dos bastidores desse filme?
Foi uma época bastante produtiva, cheia de expectativas; e o clima da moviola era muito animado e feliz. Como não participava das filmagens, minhas recordações se resumem ao trabalho em si, bastante intenso, pois sempre tínhamos prazos exíguos para cumprir, com os filmes sempre com data de estreia nacional definida.

O filme aborda o problema social dos compradores de bebês por quadrilhas especializadas. Vendem recém-nascidos para famílias ricas, principalmente as da Europa. Nesse filme dos Trapalhões, Júlia (Myriam Rios) vende sua filha para o bando interpretado pelos atores Jorge Cherques, Vera Gimenez, Dino Santana. Não era um tema muito árido para o público infantil?
A proposta cinematográfica do grupo sempre foi abordar temas atuais, polêmicos e que tocassem o público no afetivo, conscientizando através da diversão. Os filmes tinham como público-alvo não só as crianças, mas também seus pais, avós, irmãos mais velhos; e, talvez por isso, alcançavam o sucesso de bilheteria.

Os Trapalhões moram no meio de uma lagoa (Lagoa Rodrigo de Freitas), em uma moradia que lembra muito uma palafita. O número da casa é o 36 (apesar de não terem vizinhos), contendo ainda a frase “Venha morar como você gosta.” Apesar de produzirem filmes para o público infantil, havia sempre uma preocupação em passar uma mensagem ou uma crítica social?
Sim. Uma característica “chapliniana” do Renato, quase sempre um dos roteiristas dos filmes.

O filme tem direção de Dedé Santana e Vitor Lustosa. Como era a sintonia da dupla durante as filmagens?
A edição de som era um trabalho bem afastado das filmagens, mas na moviola não chegou nenhuma informação sobre crise no set. E também não sei como era a divisão de trabalho dos dois diretores.

Quais as suas principais recordações dos bastidores desse filme?
Meu contato com o grupo era pequeno, já que trabalhava em um local fechado, isolado e geralmente sozinha. As recordações se resumem ao trabalho em si, sem nenhum fato pitoresco a acrescentar. Além disso, tenho quatro filhos; na época, eram bem pequenos. E eu corria da moviola para casa, para a escola, para os médicos. Enfim, época bem atribulada!

A fase mais polêmica da trajetória dos Trapalhões foi quando eles se separaram. Nesse momento, você integra a equipe do filme Atrapalhando a Suate. Gostaria que falasse desse trabalho.
Trabalhar com os Trapas, os quatro ou os três, era sempre muito bom. Equipe boa, dinheiro justo e pago corretamente, condições de trabalho decentes e garantia de muita risada no trabalho. A gente não aguentava e ria o tempo todo das cenas, enquanto cuidávamos do ponto de corte, fusões etc. Na verdade, quando integrei a equipe, o grupo já estava separado e o filme totalmente filmado, faltando apenas montar e editar o som.

Havia uma disposição de Dedé, Mussum e Zacarias de mostrar ao Renato que eles também sabiam produzir um filme?
Não havia essa disposição expressa, mas certamente era essa a intenção. Aproveitar o filão de dois filmes infantis por ano, fenômeno também presente com os filmes da Xuxa.

Como surgiu o convite para trabalhar em Atrapalhando a Suate? Em algum momento, Renato Aragão tentou demovê-lo da ideia de ingressar nesse projeto?
Em momento algum, já que, como autônoma era contratada, por prazo determinado (geralmente, três meses), e não tinha contrato de exclusividade. A produção do Atrapalhando a Suate me chamou primeiro, por indicação da Denise; e, ainda durante a edição de som do filme da DeMuZa, o produtor de O Trapalhão na Arca de Noé, Caíque Ferreira, chamou-me para integrar a equipe de edição de som do Hélio Lemos. Isso foi em 1983.

A DeMuZa Produções foi criada com o intuito de apenas gerir os negócios dos três humoristas (Dedé, Zacarias e Mussum)?
Sim. Era essa a ideia. O problema é que a grande estrutura administrativa dos Trapas estava nas mãos do Renato Aragão e sua família.

Na sua análise, por que a separação durou apenas seis meses?
Fazer cinema no Brasil é empreendimento complexo e arriscado, cheio de política e economia. A R.A. Produções já contava com uma grande equipe de produção, com estúdio próprio e uma administração gerida com mãos de ferro pelo Paulo Aragão, irmão de Renato. Poucos produtores são tão corretos com os trabalhadores como o pessoal da R. A. A DeMuZa nasceu de uma crise de relacionamento e de poder e fadada ao fracasso.

Houve sequelas da separação? Teve receio de ser retaliada?
De modo algum. Mesmo porque eu trabalhava com as duas produtoras sem problema algum; e, em nenhum momento, pediram informações sobre o filme da outra produtora.

Tião Macalé é substimado?
Creio que não, mas não tenho dados para passar.

Os Trapalhões tinham também outra proposta: inserir diversas atrações midiáticas do momento, com a intenção de atrair para as salas de cinema o maior número possível de espectadores dos mais diferentes gostos e faixas etárias. Por esse motivo, tornou-se frequente a presença de personalidades da tevê, como, por exemplo, Angélica e Gugu Liberato. Isso era o melhor a fazer, pensando na visão de um exigente e diversificado público infantojuvenil?
O último filme que editei para eles foi Uma Escola Atrapalhada, com a Angélica, o Supla e o grupo Dominó. Com certeza, era uma estratégia de acompanhar o crescimento do seu público e ampliar a bilheteria.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
Sobre a filmagem, nada posso acrescentar; mas quando nos encontrávamos nos corredores da R. A. Produções, na Barra da Tijuca (RJ), o contato era gentil, afetuoso e simpático. Mussum e Zacarias eram bem engraçados, sempre; mas Mussum era mais irreverente do que Zacarias, tímido e discreto no trato comum.

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Não era muito comum encontros na moviola, pelo menos em relação à edição de som. O relacionamento foi maior com Dedé, que dirigiu alguns dos filmes dos Trapalhões que editei. Fui, inclusive, montadora adicional do A Filha dos Trapalhões, auxiliando a Denise Kaner a cumprir o prazo e mixar a tempo de lançar nos cinemas na data agendada previamente.

Que representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
O melhor de tudo era saber que eles filmavam duas vezes por ano, com filmes de férias de julho e dezembro. E isso era certeza de bons trabalhos, com estrutura e organização quase industrial, sem perder o charme de fazer cinema para o grande público.

Quem era o maior comediante do grupo?
Na minha opinião, o Mussum era o maior deles! Iluminava tudo por onde passava, com seu enorme sorriso e contagiante simpatia.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Realmente, não sei dizer. Os filmes têm roteiro, são tecnicamente honestos; e o grande público aplaude e dá risada. Para o cinema nacional, é uma pena ter acabado a fase de dois filmes por ano. Para as equipes, faz uma grande falta e dá saudade da época em que a Xuxa e Os Trapalhões filmavam sem parar.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Cinema industrial. A produtora do Renato, com seu estúdio alugado até para clipe de Mick Jagger, tinha porte quase hollywoodiano, se você me permite exagerar um pouco. Tudo funcionava direito, com organização, segurança e eficiência.

Gostaria que falasse o que representou para você trabalhar com Os Trapalhões.
Profissionalmente, foi a melhor época para mim. Era certeza de trabalho constante e bem remunerado.

Os Trapalhões sempre “brincaram” em parodiar filmes e clássicos estrangeiros de sucesso para o cinema. Que pensa a respeito dessa linha que eles seguiram?
Penso positivamente, pois seu público era enorme. E aproveitava-se a oportunidade para difundir cultura, em um país tão desprovido dessas boas intenções.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
Na verdade, o que mais ficou gravado em mim foi a receptividade da família Aragão e o modo como tratam sua equipe. Em 1986, Renato abriu para nós a casa da Granja Comary e participou do jogo de futebol de salão. Meus filhos gêmeos, Yan e George Saldanha (eles são técnicos de som e possuem, junto com o pai, Jorge Saldanha, que também é técnico de som de cinema, a Casa de Som), então com dez anos de idade, e o priminho Pedro Saldanha (é filho de Luiz Carlos Saldanha, fotógrafo e montador cinematográfico, com quem aprendi muito do que sei da arte de montar), na época com onze anos, foram gandulas desse jogo. Isso tudo demonstra como o cinema brasileiro é baseado em “famílias”, mas isso não denigre nem um pouco o mérito do excelente trabalho executado. Ao contrário, valoriza a atividade como arte e como expressão verdadeira do inconsciente coletivo brasileiro.

Os Trapalhões: Heloisa Niemeyer


Heloisa Niemeyer
Assistente de câmera


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Fui trabalhar com Os Trapalhões porque o diretor de fotografia, Nonato Estrela, me convidou. Eu trabalhava na equipe dele. Tinha acabado de fazer um longa do Oswaldo Caldeira, e o Nonato me convidou para continuar na equipe dele.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já acompanhava os seus filmes?
Não. Eu trabalhava como repórter cinematográfica no Canal 100. Fui a primeira repórter cinematográfica do Brasil. Quando o Sarney, então presidente da República, acabou com o cinejornal, tentei trabalhar como repórter na televisão; mas caí nos longas-metragens.

Que representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Fazer cinema, como técnico, é a mesma coisa, tanto faz ser um clássico ou um filme comercial. Gostava de fazer os filmes de férias. Eram dinâmicos e divertidos, um set leve de se trabalhar.

Seu primeiro filme com Os Trapalhões foi em Os Heróis Trapalhões – Uma Aventura na Selva. Quais as suas principais recordações desse trabalho?
Filmar é muito bom. E, quando a equipe é boa, tudo que se faz fica bom.

Você era assistente de câmera nesse filme. Explique o que faz uma assistente de câmera.
Um assistente de câmera é responsável por todas as câmeras e pelo foco, mudança de lentes e manter o equipamento perfeito. É o coração do filme. Antigamente, tinha que trocar os chassis de negativo, mandar revelar etc. Hoje, não tem mais negativo, ficou mais fácil.

Como era o clima no set de filmagem?
Super descontraído. Era muito bom, sem frescura. O pessoal da técnica sofria com as brincadeiras deles. Por exemplo, o Mussum descobriu que eu tinha dispensado uma paquera de Belo Horizonte e estava começando a namorar um outro cara da equipe. Então, ele fazia música para alertar o cara. Fiz um filme em Belo Horizonte, e o indivíduo era de lá. Voltei para o Rio de Janeiro e deixei o cara lá. Um dia, quando cheguei em casa, o cara estava aqui; botei o cara de volta no ônibus. Mussum descobriu e fez a festa. Era muito engraçado. Botavam apelidos.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
Muito descontraídas, eram as melhores pessoas para se trabalhar. Era maravilhoso trabalhar com o grupo. E o cachê não era ruim.

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Conversava mais com o Mussum e o Zacarias. O Renato é comercial, e o Dedé um deslumbrado.

Por que diz que o Dedé era deslumbrado?
Porque ele não criava sozinho, ele sempre se fazia de bengala do Didi.

Quem era o maior comediante do grupo?
O mais engraçado era o Mussum, disparado. Eu adorava o Zacarias por afinidade, por ser gentil e carinhoso.

Você é muito bonita, foi paquerada por algum Trapalhão?
Não. Didi era discreto e só pegava famosas. Dedé adorava piriguetes. Mussum era simpático e super respeitador. Zacarias meu lindo, um doce de pessoa, discretíssimo. Ainda como retaguarda, eles tinham um camareiro, o Creuza, um fiel escudeiro.

Fiquei curioso com essa história do Creuza.
Era um homem, gay. Trabalhou bastante com eles.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Ele é o empresário, sabe o quanto precisa para conseguir continuar a fazer sucesso e manter. O grupo não tinha noção do futuro, o Renato sabia.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Porque são filmes comerciais e de férias. O Renato é um empresário e tem um vasto campo a explorar; e a Academia quer filme cabeça, que nunca vai dar a bilheteria dos Trapalhões.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?

Filme de férias. Aqui no Brasil, sessão da tarde. Todos adoram. Era uma época sem essa coisa chata de politicamente correto. Os filmes eram muito bem filmados e com um enredo de fácil compreensão.

Os Trapalhões: Gustavo Machado


Gustavo Machado
Quadrinhista


Você desenhou os quadrinhos dos Trapalhões, quando eles foram para a Editora Abril. Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Dois amigos meus, também desenhistas, estavam colaborando para o gibi dos Trapalhões, logo no início de sua publicação, em 1988. Eu estava afastado dos quadrinhos há uns cinco anos, período em que me dediquei aos desenhos animados. O setor de quadrinhos nacionais da Editora Abril Jovem estava procurando novos colaboradores. E foi uma boa oportunidade de voltar aos quadrinhos na linha infanto-juvenil. E eu já tinha experiência em quadrinhos infanto-juvenis. Alguns meses após desenhar como freelance, fui efetivado na empresa. Trabalhei na editora de 1988 a 1997, desenhando também outros títulos, como Gugu em Quadrinhos, Sérgio Mallandro, Zé Carioca e outros personagens da Disney, como o Corcunda de Notre Dame, Hércules, Mulan e Tarzan.

Você acompanhava o quarteto, seja no cinema e/ou na televisão, antes de trabalhar nas histórias em quadrinhos?
Quem viveu nos anos 1970 não pôde ficar imune a esse quarteto, principalmente a partir da contratação deles pela Rede Globo, em 1977. Eu era adolescente e assistia aos programas nos domingos na TV Globo, antes do Fantástico, mas não assiduamente; e não acompanhava seus filmes no cinema.

Quais as suas principais recordações dos bastidores de trabalho com Os Trapalhões neste período?
A revista em quadrinhos dos Trapalhões reuniu uma equipe de profissionais de primeira linha. Roteiristas, desenhistas, arte-finalistas, enfim, um pessoal que já era veterano na própria Editora Abril, como até alguns egressos dos estúdios de Mauricio de Souza e Ely Barbosa. Além de uma nova geração talentosa que surgia naquele final dos anos 1980. O ambiente de trabalho era muito bom, e a troca de experiências com os demais amigos quadrinhistas influenciou muito na minha carreira.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias o deixavam à vontade para desenhálos ou havia algum tipo de acompanhamento ou pedido especial para “caprichar” nas imagens?
Quem tinha os direitos de uso de imagem dos Trapalhões para os quadrinhos nessa época era o César Sandoval, artista e produtor que, inclusive, começou sua carreira dentro da Editora Abril, no setor de quadrinhos. Cheguei a trabalhar muito com o César antes, fazendo desenhos animados para o seu estúdio de animação, a Sketch Filmes. César criou as figuras mirins dos Trapalhões – assim como as de Sérgio Mallandro e Turma do Arrepio – e cedeu os direitos de produção e publicação de quadrinhos para a Abril Jovem. Nem ele, ou mesmo Os Trapalhões, jamais interferiram em nosso trabalho.

Os gibis dos Trapalhões eram um sucesso de vendas. Como isso afetou sua carreira?
As revistas dos Trapalhões da Abril Jovem no seu auge vendiam mais de cem mil exemplares por edição. Um sucesso absoluto. Considero que um dos fatores mais importantes para nós, os profissionais que produzíamos os gibis, foi a oportunidade – naquela época uma coisa rara – de termos nossos nomes estampados nos créditos de todas as histórias em quadrinhos. Isso foi uma imposição do nosso chefe, Primaggio Mantovi, atendendo a uma antiga reivindicação dos profissionais da área, que, na maioria das publicações da Abril e de outras editoras, trabalhavam anonimamente, com seus nomes constando apenas nos expedientes de praxe. Com isso, não só começamos a ser reconhecidos na nossa área, como pelos próprios leitores, que nos escreviam muitas cartas com elogios e sugestões... e até eventuais críticas. Isso fez com que, pela primeira vez, nós, profissionais de quadrinhos de estúdio começássemos, inclusive, a disputar e ganhar prêmios e troféus, antes conferidos apenas para trabalhos autorais em quadrinhos.

Por que, após alguns anos, os quadrinhos pararam de ser produzidos?
Os quadrinhos, de um modo geral, tiveram um grande declínio a partir dos anos 1990. Alguns culpam os games, os computadores domésticos e a própria internet, todos em crescimento de vendas a partir daquele período. Sobraram apenas os títulos mais antigos (da Disney e do Mauricio de Sousa) e com público cativo.

Acredita que, se produzissem hoje, as histórias fariam sucesso?
Acredito que não. Não apenas porque os quadrinhos de banca “saíram de moda”, vendendo muito menos do que décadas atrás (no seu auge, o gibi do Tio Patinhas vendia mais de quinhentos mil exemplares por edição), como pelo fato dos Trapalhões já não estarem atuando na mídia.

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Não conheci nenhum dos quatro pessoalmente. Apenas o César Sandoval devia ter contato com eles, já que negociava a marca, não apenas para os gibis como para muitos outros produtos, como brinquedos, vestuário infantil, produtos alimentícios etc.

Em sua opinião, quem era o maior comediante do grupo?
Além do Didi, incontestavelmente um dos grandes comediantes do Brasil, tinha um apreço especial pelo Zacarias, com seu humor ingênuo e leve.

Os Trapalhões no Rabo do Cometa, parceria do quarteto com o Mauricio de Sousa, marcou uma ruptura no cinema popular dos Trapalhões. Essa parceria aconteceu nos anos 1980 e foi a primeira a apresentar os quatro em formato de desenho animado, numa época em que a animação nacional ainda engatinhava. Você assistiu a esse filme? Se sim, que achou?
Infelizmente, não assisti ao filme, apenas alguns trechos. Mas sei que foi produzido em 1986, ainda seguindo o estilo dos Trapalhões do gibi editado pela Bloch, em que eles são adultos. Diferente da versão que desenhei e que foi lançada em 1988.

Não existiu a possibilidade de você e Os Trapalhões realizarem outro filme de Animação à época do seu trabalho nos quadrinhos?
Quando desenhava Os Trapalhões na Editora Abril Jovem, não tínhamos qualquer vínculo com a área de Animação. Mas o César Sandoval produziu várias animações deles na versão mirim, tanto para comerciais quanto para a abertura dos filmes de cinema.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Penso que, principalmente, pelo apelo popular próprio do quarteto, assim como o era anteriormente o humor de Oscarito e de Mazzaropi no cinema, e tantos outros na televisão. Pessoalmente, no humor brasileiro sempre fui fã de Jô Soares, José Vasconcellos e Ronald Golias. Quanto aos estrangeiros, sou fã do Charles Chaplin, Jerry Lewis, Woody Allen e Monty Python.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Como disse anteriormente, um humor de apelo popular, pastelão e circense.

Qual o legado histórico que o cinema Os Trapalhões deixou para o país?
A regularidade na produção e lançamento dos longas-metragens durante muitos anos foi uma grande contribuição e incentivo para o cinema nacional, tanto pelos recordes sucessivos de bilheteria como pelo mercado de trabalho para os profissionais da área.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
Produzimos o gibi dos Trapalhões na Editora Abril Jovem durante seis anos e nunca tínhamos tido um aval do quarteto, sequer algum comentário. Em 1992, houve uma exposição na Gibiteca de Curitiba, onde apresentamos os originais de um álbum de luxo feito um ano antes e ganhador de sete prêmios em várias categorias, inclusive de melhor desenho. Era a “grafic TrapaDidi Volta para o Futuro, uma sátira em quadrinhos da trilogia do cinema De Volta para o Futuro. Para nossa surpresa, Os Trapalhões enviaram sua produtora (cujo nome, infelizmente, não lembro) para prestigiar o evento. E, numa conversa particular, ela nos contou que Os Trapalhões adoravam ler nossos gibis, mesmo nos intervalos das gravações. Enfim, o aval esperado!

Os Trapalhões: Gisele Fraga


Gisele Fraga
Atriz


Você trabalhou com Os Trapalhões no filme O Mistério de Robin Hood. Como e por quem recebeu o convite para trabalhar com eles. Como foi a experiência?
Não lembro quem me convidou, mas me lembro de ter ido conhecer o diretor e de ter feito um teste. Na verdade, como eu já havia trabalhado com eles antes em shows e algumas participações, acho que a indicação veio da própria produção do Renato Aragão. A experiência foi muito marcante, pois eu tinha dezoito anos e estava no início da minha carreira como atriz.

Onde esse filme foi filmado? Quais as suas recordações desse trabalho?
Foi filmado onde hoje é o Rec 9, na Vargem Grande, no Rio de Janeiro. Na época, era a Renato Aragão Produções. Minhas lembranças são da linda tenda de circo que foi montada em um grande terreno; e das palhaçadas do Mussum, que era maravilhoso, além de ser um gentleman. Diverti-me muito com eles. Durante as filmagens, tive mais contato com o Dedé e o Mussum. Eles estavam sempre paquerando a minha personagem no filme, Greta Star .

Que representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Para mim, uma honra. Na primeira vez que fui ao cinema em minha vida, eu tinha oito anos de idade e fui assistir a O Trapalhão no Planalto dos Macacos. Achei o máximo e saí de la com a certeza de que seria uma atriz de cinema. Ironia ou não, anos mais tarde, vim a trabalhar com eles. Os Trapalhões sempre passaram uma mensagem muito importante para as crianças... Para elas nunca desistirem de seus sonhos.

Como foi o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Meu primeiro contato com eles foi em shows que eles faziam nas redondezas do Rio de Janeiro e em outras capitais. Na época, eu tinha um empresário que se chamava Herve Pereira. Foi ele quem me conectou com Os Trapalhões. Foi muito divertido. Eu era uma das garotas do Fantástico, e eles sempre brincavam com isso.

Xuxa foi uma figura presente nos últimos filmes do quarteto. Como era a relação dela com Os Trapalhões? E a sua com ela?
Não tive muito contato com a Xuxa. Fizemos, acredito eu, uma única cena juntas no filme. Ela era o ídolo das crianças, como é até hoje. Um dia, convidei meus sobrinhos para assistirem às filmagens. Ela foi uma fofa com eles e tirou uma linda foto junto com todos nós. Guardamos essa foto até hoje!!

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Não sei da fama dele. Mas, com certeza, ele sempre acompanhou tudo de perto. Ele é e sempre será uma eterna criança responsável

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Desconheço essa rejeição. Eu sempre amei assistir aos Trapalhões.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Muito positivo, principalmente para a formação das crianças. Eles sempre trouxeram ao nosso mundo a ilusão, os sonhos. Fizeram-nos acreditar que podemos realizar nossos sonhos. Isso é muito importante para o desenvolvimento de um ser humano.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato que tenha presenciado como testemunha ocular.
Tudo que vivi, enquanto tive o privilégio de contracenar com eles, foi alegria. Eles tinham alegria e prazer de trabalhar no que amam fazer: entretenimento. Aí, vive a alma do grande palhaço: nos fazer rir! eu ri muito!

Os Trapalhões: Flávio Porto


Flávio Porto
Ator


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Na época e já há algum tempo frequentava a padaria da Tupi, hoje a Real, lá no bairro do Sumaré (SP) O Adriano Stuart, tinha cadeira cativa, preservada pelos donos da padaria e ninguém sentava antes de ele ocupar, como um trono, à cabaceira da mesa. Depois de muitas discussões sobre o equilíbrio do mundo (e nosso), Adriano, que ia dirigir o filme, O Incrível Monstro Trapalhão, me convidou para uma ponta.

Quais são as suas principais lembranças desse trabalho?
Lembro que as filmagens pareciam a continuidade da mesa da padaria. O Adriano, imperador e absoluto, dando a última palavra; todo mundo falando e agindo. Eu ia entrar mudo e sair calado. Se não me engano, o Toninho Meliande, na câmera, rindo o tempo todo; e o Didi chegando de cara amarrada.

Como foi a sua convivência com a equipe?
Com a equipe técnica eu estava em casa. O assistente de câmera, Joaquim Moreiras, marido da maior continuísta do mundo, a Silvia Moreiras, era e é meu irmão de espírito inseparável. Conhecia um bando da técnica, desde a Boca do Lixo. Os astros ficavam distantes e preocupados com as atuações, menos o Mussum, que ficava com a gente. Parecia a continuidade da mesa da padaria, ou seja, uma alegria só.

O senhor trabalhou em diversas produções cinematográficas. Quais as diferenças e semelhanças que encontrou no set dos Trapalhões em comparação com outros filmes?
Bem, a diferença era que era uma grande produção. Eu estava acostumado com os kibes e esfihas dos almoços da Boca do Lixo. Estávamos no Rio de Janeiro, a um passo da TV Globo. E tudo era perfumado: as comidas, as roupas, os astros... tudo de primeira (argh!). Sobretudo a comida valeu a pena.

Pode nos contar alguma história de bastidor?
Duas coisas. Numa cena, meu personagem deveria sair correndo em fuga, virar à esquerda e sair de cena e quadro. Foi o que fiz. Mas com um detalhe: antes de sair de cena, fiz como Carlitos, que, ao mudar de rumo, o corpo vai para um lado e a perna para o o outro e dá uma pequena derrapada e... vai. Corta! Todo mundo deu risada. Terminada a tomada, cada um pro seu canto. O Dedé chegou perto de mim e falou: “Não sabia que você era tão engraçado!” Não respondi, mas entendi que graça era só com eles. Mas a cena ficou. Outra coisa inesquecível: o carro do Mussum. Era um Ford Galaxie, impecavelmente todo branco. Tudo branco, até o friso dos pneus. Aí, Mussum chamou a técnica e nos levou até o porta-malas do carro. Abriu. O porta-malas era uma geladeira especialmente construída. A porta do porta-malas era uma autêntica porta de geladeira e, lá dentro, só Deus sabe o que tinha. Cervejas mil, vinhos, várias qualidades e marcas de pinga, licores, acepipes para comer; enfim, uma fartura e com muito bom gosto. Foi uma festa. Não falei que a filmagem parecia ou era que nem a mesa da padaria?

Os Trapalhões: Fernando Fonseca


Fernando Fonseca
Assistente de mixagem


Como e por quem recebeu o convite para trabalhar com os Trapalhões? Como foi a experiência?
A produção contratou os serviços do estúdio onde trabalho. Foi muito tranquilo trabalhar com eles.

Que representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Para mim, era um trabalho normal, como todos os outros filmes que passaram pelo estúdio. Participei de outros sucessos da época, como Rádio Pirata, Rock Estrela, Kuarup. Cada um era uma nova experiência.

Que o cinema dos Trapalhões apresentou, à época, em inovação de linguagem?
Era um humor mais moderno para aquela época.

O senhor trabalhou na dublagem nos filmes dos Trapalhões. Quais eram as dores e as delícias desse trabalho com o quarteto?
Eu operava a mesa de dublagem, não era dublador. Nenhuma dor, e sim diversão. Eles entre si brincavam muito, como nos filmes.

Como era o seu trabalho nessas produções?
Eu operava a mesa de dublagem, transcrevia o som direto para a edição. E era assistente de mixagem.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Talvez achem o humor deles ultrapassado.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Comédia para crianças e adultos.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato que tenha presenciado como testemunha ocular.
Durante a gravação, aquele que errasse mais era sempre sacaneado pelos outros.