sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Os Trapalhões: José Joaquim Salles


José Joaquim Salles
Diretor de produção


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Foi logo após o Collor cancelar/destruir a Embrafilme... Ninguém acreditava... Marco Altberg, grande amigo, companheiro de trabalho e um dos diretores da Embrafilme, me deu uma carona de volta da Embra. Os dois estávamos arrasados. Ele me disse, então, que estava em negociações com Os Trapalhões. De imediato, coloquei-me à disposição dele, que tomou um susto e me disse: “Mas você é muita areia para o meu caminhão...” Eu respondi: “Mas nem caminhão eu tenho!!!” Foi aí que tive a oportunidade de trabalhar como diretor de produção, proposta que aceitei imediatamente. Pelo menos por um tempo, ganhei uma sobrevida no cinema. Tempos difíceis aqueles. Hoje, em pleno século XXI, as coisas continuam, por motivos absolutamente diversos, parecidas como antes. O bom cinema de longa-metragem para sala de cinema nacional se rarefaz enormemente. E eu sem caminhão ou areia.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já acompanhava os seus filmes?
Claro! Eram os heróis de meus filhos, conhecia praticamente todos seus filmes. Virei herói da família!!!!!

Quais as suas principais recordações dos bastidores de filmagens com Os Trapalhões?
Muito boas!!!!! Equipe excelente: direção do José Alvarenga Júnior (com assistência do Luís Henrique), produção executiva do Marco Altberg, fotografia do Walter Carvalho, direção de arte do Marcos Flaksman... Só esse time já é uma seleção... E o resto que conheci na produção e todos os outros que participaram transformaram nosso trabalho num prazer!!!!!

Por que os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos
Trapalhões?
Nunca dei importância à opinião dos recalcados. Para mim, o mais importante eram as opiniões de meus filhos e amigos!!!!!

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Sempre a tentativa de trazer entretenimento e brasilidade a seus trabalhos dirigidos inicialmente para as crianças. Mas eu, como pai, sempre tive prazer em assistir.

Qual o legado histórico que o cinema dos Trapalhões deixou para o país?
Só a história poderá responder essa pergunta... Na minha opinião, só tenho a agradecer seu esforço de trazer graça e divertimento a este mundo tão cruel!!!!

Os Trapalhões sempre “brincaram” em parodiar filmes e clássicos estrangeiros de sucesso para o cinema. Que pensa a respeito dessa linha que eles seguiram?
Acho que a maioria dos artistas citam, inspiram-se e, até mesmo, copiam outros grandes artistas. Anões em ombros de gigantes vão mais longe!!!!!

Acredita que, pela importância que o quarteto possui no cinema, há pouca bibliografia a respeito deles?
Como não conheço muito dessa literatura, não me considero apto a responder, a não ser dizer que deveria ter. Não se escreve a história do cinema nacional, sem um capitulo importantíssimo de sua história.

O cinema dos Trapalhões foi importante, fundamentalmente, por ter formado público e plateia para o cinema nacional?
Também!!!! Mas como formariam público e plateia, sem serem importantes? O público não é idiota!!!!

Uma Escola Atrapalhada foi o último filme com a participação de Zacarias, que faleceu naquele ano. A aparição dele no filme é melancólica, muito magro, abatido, numa cena curta. Como foi o seu contato com ele? Ele já estava doente?
Infelizmente, quando iniciei minha participação profissional, Zacarias já não estava entre nós. Mas não me esqueço das obras em que suas participações eram um dos ângulos do quarteto.

Como era o seu contato com eles?
Só participei de duas produções: O Mistério de Robin Hood e Os Trapalhões e a Árvore da Juventude. Sem Zacarias, minha relação era mais próxima do Dedé e Mussum. Didi era mais discreto e afastado da equipe, talvez até por ser o Renato Aragão, de certa forma, o chefe da turma!!!

Que representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Para quem gosta de trabalhar em cinema, ainda mais no Brasil, o que se precisa é ser picado pelo veneno do desejo artístico. Nunca fiz um filme tendo como alvo a sua bilheteria, e sim o prazer de com quem trabalhava... Mas sucesso, em princípio, não faz mal a ninguém...

Quem era o maior comediante do grupo?
O grupo!!!! Tire o pé de uma mesa. Ela pode continuar a se equilibrar, mas só com três pés?!?!?!