sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Os Trapalhões: João Bourbonnais


João Bourbonnais
Ator


Como surgiu o convite para trabalhar no filme Atrapalhando a Suate?
Que eu me lembre foi o Dedé Santana que me convidou, depois de ver um comercial que fiz em 1986 (passava nos intervalos das transmissões da Copa do Mundo). Era um comercial de lâmina de barbear e tinha uns mafiosos; eu aparecia ao lado do ator Alceu Nunes.

Antes de iniciar esse trabalho, você já acompanhava os filmes dos Trapalhões?
Sim, vi alguns filmes e via o programa na televisão, desde criança, com a primeira formação com Ivon Curi, Wanderley Cardoso e Ted Boy Marino.

O filme é uma sátira à série policial de tevê Swat, na qual um batalhão especial de polícia era destacado para missões perigosas. Os Trapalhões sempre se caracterizaram por fazer paródias. Como ator, que você achava dessa linha, da fórmula que eles imprimiram em seus filmes?
Embora tenha trabalhado mais em teatro, com dramaturgia e temas mais complexos, sempre simpatizei com essa linha mais popular do trabalho deles, mais ingênua, originária do circo.

Atrapalhando a Suate é o único filme que não consta oficialmente da filmografia dos Trapalhões. Quais as suas principais recordações dos bastidores desse filme?
Acredito que não conste, por não ter a participação do Renato Aragão e ter sido produzido pela DeMuZa, a produtora dos outros três. Tenho ótimas recordações! Fui muito bem recebido por eles. O Mauro Gonçalves era muito simpático e, parece-me, mais ator. Transformava-se, ao assumir o personagem Zacarias. O Mussum também era uma simpatia e tinha um humor incrível. E o Dedé era o líder e produtor do grupo. Sou amigo até hoje de alguns atores e atrizes do filme, como a Lucinha Lins, com quem gravei depois a novela Esmeralda no SBT. Sou também amigo do marido dela, Claudio Tovar, e alguns outros. Até meu irmão, Blaise Bourbonnais, participou do filme, como um dos agentes da Suate.

Onde esse filme foi realizado?
Foi todo rodado no Rio de Janeiro. Na cidade do Rio e principalmente em Angra dos Reis.

Como foi a experiência de atuar em uma produção envolta de tantas polêmicas, como a separação do quarteto? Eles comentavam algo com você?
Foi tranquilo, e as questões da separação não interferiram em nosso trabalho. Nada que a gente pudesse notar, e eles também não comentavam comigo.

Havia uma disposição de Dedé, Mussum e Zacarias de mostrar ao Renato que eles também sabiam produzir um filme?
Acredito que talvez pudesse haver, embora todos tivessem experiência de ter filmado bastante... antes.

A DeMuZa Produções foi criada com o intuito de apenas gerir os negócios dos três humoristas (Dedé, Zacarias e Mussum)?
Que eu saiba, sim. Lembro que era a produtora que agendava os shows dos três, quando o Renato não podia fazer.

Eles acreditavam que poderiam ser bem-sucedidos sem o Renato Aragão?
Não tenho como responder, mas creio que sim, queriam fazer um bom trabalho. Embora acho que acreditavam que a separação era temporária.

Na sua análise, por que a separação durou apenas seis meses?
Acho que porque perceberam que eram mais fortes juntos. Já havia a identidade dos Trapalhões com os quatro.

Havia, nos bastidores, um clima de tristeza pela separação?
Se havia, não chegava até mim, que era um ator convidado, que não os conhecia muito bem pessoalmente.

Tião Macalé, que atuou nesse filme, era considerado o quinto trapalhão. Quais as lembranças dele.
Lembro que ele fez uma rápida aparição, uma homenagem dos três. Mas foi numa cena em que eu não estava. Não tive contato com ele.

Tião Macalé é substimado?
Não creio que fosse subestimado por eles, era um grande amigo.

Os Trapalhões tinham também outra proposta: inserir diversas atrações midiáticas do momento, com a intenção de atrair para as salas de cinema o maior número possível de espectadores dos mais diferentes gostos e faixas etárias. Isso era o melhor a fazer, pensando na visão de um exigente e diversificado público infanto-juvenil?
Pelo que fui vendo nos filmes, essa é uma prática comum adotada por vários artistas e comunicadores (Xuxa, Angélica etc.) que fazem seus filmes. Acho que fazem isso por questões de mercado, orientadas pelos produtores e por amizade também.

Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
Eram, sim. Eram bastante divertidos, e o ambiente era muito bom.

Como foi o seu contato com o trio (Dedé, Mussum e Zacarias)?
Foi bom, restrito ao trabalho. O Dedé, muito atencioso e profissional. O Mauro, muito simpático e acolhedor. O Mussum, mais reservado.

Que representou para você trabalhar em Atrapalhando a Suate?
Foi muito importante. Uma das minhas primeiras experiências com cinema. Um personagem bom, ao lado de artistas muito populares.

Quem era o maior comediante do grupo?
Talvez, comediante, na acepção teatral do termo, fosse o Mauro Gonçalves, que fazia uma verdadeira composição com o seu Zacarias.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Acho que, principalmente, porque os críticos e acadêmicos já têm uma certa reserva em relação a tudo que é arte popular.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Antes de tudo, popular. Às vezes, ingênuo demais para o gosto de alguns. Mas não podemos esquecer que são dirigidos às crianças.

Gostaria que contasse alguma curiosidade da sua trajetória com Os Trapalhões, em especial do seu trabalho.
Acho que aconteceram várias coisas pitorescas. Lembro que, na luta com as tortas no final, eu achei que fosse escapar; mas, no momento final, levei uma torta na cara, enquanto beijava a Lucinha. Cena que está nos créditos do filme.