segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Os Trapalhões: Marcos Flaksman


Marcos Flaksman
Diretor de arte


Você trabalhou em dois filmes dos Trapalhões: O Mistério de Robin Hood (1990) e Os Trapalhões e a Árvore da Juventude (1991). Como e por quem recebeu o convite para trabalhar nesses filmes. Como foi a experiência?
Eu participei da linha de shows da Globo. Na cenografia, que era no Teatro Fênix, no Jardim Botânico (RJ). Eu trabalhava com o Jô, no Viva o Gordo. Eles, Os Trapalhões, tinham o programa semanal lá; e eu cruzava com eles pelos corredores. Todos gravavam ali. Em 1984, eu acho, o cenógrafo dos Trapalhões, o Alfredão, que era cenógrafo de televisão (eu vinha do teatro e cinema), sujeito muito simpático, teve um problema no coração e convidou-me para fazer o programa. Ele, então, me falou: “Eu te dou, porque eu sei que você me devolve o programa. Se deixo em aberto, perco meu lugar, quando eu puder voltar.” Eu fiz o programa por menos de um ano. Divertia-me muito. Mussum ficou muito amigo meu. Zacarias era muito discreto. O Renato tinha o hábito, nessa época, de fazer dois filmes por ano. E, quando o cinema estava esperneando por falta de recursos, conseguiu fazer mais dois. Pela nossa parceria na tevê, fui convidado.

Você trabalhou com vários diretores de cinema, entre os quais Ruy Guerra, Carla Camurati e Walter Carvalho. Que representou para você esses trabalhos com Os Trapalhões?
Eu adorei fazer. Eu não considero a dramaturgia ou a filmografia do Renato Aragão menor, por ser Comédia. Ele não faz dramas filosóficos ou intelectuais. Sempre quis fazer cinema para o grande público, com um olhar especial para o público infantil. Não tinha sacanagem. O Renato era o supervisor dos roteiros dele, cuidadoso com tudo. Ele sempre foi muito caprichoso nos filmes dele. E o fato de ser popular, não implicava em fazer de qualquer jeito. Muito pelo contrário. Eram produções muito caprichadas.

É possível fazer algum tipo de comparação entre o trabalho dos Trapalhões e o dos diretores citados acima?
Não vejo grande diferença, não. Acho que é mais difícil realizar bem uma Comédia do que um Drama. Comédia é difícil, o roteiro é difícil. Tradicionalmente, é um gênero mais difícil, tanto no teatro, quanto no cinema e mesmo na televisão.

Esses dois filmes foram feitos logo após a morte de Zacarias. Como acompanhou essa repercussão, durante o trabalho com Renato, Dedé e Mussum?
Essa gente era muito profissional. Eu fiquei bastante próximo do Mussum, que era grande figura. Eu tinha um sítio em Jacarepaguá. E o Mussum estava interessado nele. Fiquei sabendo, então, pelo Mussum que o Zacarias era pai de santo e que tinha um sítio ali perto. Pai de Santo!

Renato, Dedé e Mussum estavam abalados com a ausência de Zacarias? Como era o clima entre eles nas filmagens?
Não diante de mim, eu os conhecia muito pouco. O fato era mais comentado pelos jornalistas, que iam ao set. Mas eu não vivi isso.

Antes de trabalhar com Os Trapalhões, você assistia aos filmes deles?
Vi. Não eram filmes que faziam parte do meu cardápio de procura; mas vi, sim. E vi alguns bem interessantes e muito bem produzidos. Engraçados e de muito sucesso.

Quais as suas lembranças do filme O Mistério de Robin Hood? Onde esse filme foi filmado?
O Renato tinha um grande amigo chamado Beto Carrero, que era empresário e dono de um circo. Tive contato com ele e seu pessoal para montagem de lonas. Renato era proprietário de um estúdio atrás do Barra Shopping, onde fica o New York Center, era uma concessão da Marinha ou do Exército. E o filme foi feito ali, no pátio dos estúdios. Montamos o circo em externa. Mas choveu muito nas semanas seguintes, e o terreno ficou inundado. Era uma loucura, um mar, um lamaçal! O Renato disse que não podia parar de filmar. Falou: “Tô fodido, separar.” E transferimos o circo para dentro do estúdio, enchi de terra ali no piso. Ninguém percebe isso no filme.

Os Trapalhões sempre se caracterizaram em parodiar clássicos da literatura universal. Em O Mistério de Robin Hood, Renato usa o circo como pano de fundo da trama. Como foi o seu trabalho para ambientar essa história?
O Renato Aragão sempre construiu esse personagem. O Robin Hood é o Didi Mocó. Renato sempre teve essa postura “chapliniana” na sua obra.

Robin Hood é o único personagem que Renato Aragão repetiu em toda a sua filmografia. Antes, ele havia filmado Robin Hood, O Trapalhão na Floresta. Ele tinha algum tipo de fixação pelo personagem?
Ele se acha um Robin Hood do cinema. O personagem Didi é assim, ele se identifica. Sempre estava do lado do mais fraco. O personagem do Didi sempre optou por isso: uma postura romântica, anárquica.

Renato Aragão é um profissional que acompanha todo o processo de filmagem. Como era a sua sintonia com ele? Vocês conversaram bastante?
Ele dava muito liberdade de criação, nunca questionou o que eu mostrava pra ele. Metia mais a mão no roteiro e na edição. Comédia é ritmo. Confiava no José Alvarenga Júnior e estava atento o tempo todo. E não perdia a espontaneidade, durante a filmagem. Sempre muito profissional e aplicado.

Quais as lembranças de bastidores do filme? Como foi o seu contato com o trio (Renato, Dedé e Mussum)?
Super relaxada, e eles eram sempre simpáticos. Tenho lembranças ótimas, já que conheci Myrinha, minha mulher, lá. Não posso deixar de ter essas filmagens na mais alta conta. Temos muito carinho por essa época.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
O cinema feito por eles é popular, brasileiro, um cinema que é também para crianças. Antes de mais nada, popular, inteligente e respeitoso com o público (imenso). Didi Mocó é um herói romântico e marcante do cinema brasileiro. Longa vida pra ele!